Se existe uma cultura fácil de ser adaptada ao sistema orgânico de
produção é a bananeira. "Cerca de dois terços de toda a fitomassa da
bananeira retorna para o solo, ou seja, ela restitui quase 70% do que
produz", afirma Ana Lúcia Borges, pesquisadora da Embrapa Mandioca e
Fruticultura (BA) e representante da Empresa na Comissão de Produção
Orgânica da Bahia, fórum composto por membros de entidades
governamentais e não governamentais.
No
Brasil, estima-se que apenas 0,5% da área colhida de banana esteja sob
monocultivo orgânico, ou seja, em torno de 2.400 hectares. De acordo com
dados de 2014 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), dentre todas as frutas produzidas no Brasil, a banana ocupa o
segundo lugar em área colhida (aproximadamente 485 mil hectares),
produção (cerca de 6,9 milhões de toneladas) e consumo aparente por
habitante (30 kg/ano).
Para ser considerado
orgânico, o produtor deve usar técnicas ambientalmente sustentáveis e
não pode utilizar agrotóxicos nem adubos químicos solúveis, que devem
ser aplicados rigorosamente de acordo com as instruções para que não
haja excesso em relação à capacidade de absorção das plantas e, a longo
prazo, não tragam danos ao ecossistema.
Para
ser regularizado, existem três opções: certificação por um Organismo da
Avaliação da Conformidade Orgânica (OAC) credenciado pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), organização em grupo ou
cadastramento no Mapa para realizar a venda direta sem certificação.
Além disso, pode seguir o sistema orgânico de produção para a cultura da
banana, organizado pela Embrapa, que está na segunda edição. A
publicação reúne informações técnicas sobre estabelecimento da cultura,
preparo da área, seleção de variedades e mudas, práticas culturais,
manejos de doenças, nematoides, insetos e ácaros, além dos manejos na
colheita e pós-colheita, com base nos regulamentos aprovados para a
produção orgânica.
Mercado
Por ter princípios bem definidos pelas certificadoras, o mercado de
banana orgânica diferencia-se do convencional devido às peculiaridades
dos processos ‘antes da porteira' e ‘depois da porteira'. "Os cuidados
nas fases de comercialização são maiores e, por isso, o percentual de
perda do produto é menor que os cerca de 40% encontrados para as bananas
convencionais, embora não haja estudos com dados percentuais mais
próximos da realidade", declara a pesquisadora Áurea Albuquerque,
doutora em Economia Agrícola.
No momento sob
forte expansão, o mercado brasileiro de banana orgânica está concentrado
em centros de distribuição especializados (atacados), redes de
supermercados com processos de logística que englobam produtos orgânicos
e feiras livres especializadas – com vendedores cadastrados em
associações ou cooperativas. "Tanto nas feiras especializadas quanto nas
redes de economia solidária a rentabilidade do produtor, que muitas
vezes é o próprio vendedor, é maior, pois a maximização do lucro é
relegada a segundo plano", salienta Áurea.
Segundo a pesquisadora, a exportação de banana orgânica brasileira vem
crescendo nos últimos anos. O destaque fica para produtos processados,
como a banana passa proveniente do Projeto Jaíba, em Minas Gerais, e
exportada, principalmente para a União Europeia e os Estados Unidos.
"Além das exigências que os agricultores devem atender para exportação,
somam-se os requisitos para certificação orgânica, institucionalizados
por órgãos internacionais, o que confere garantia adequada ao
produto".
Para o consumidor, a certificação é
a garantia da procedência e da qualidade orgânica de um alimento
natural ou processado. Para o produtor certificado, agregação de valor
ao seu produto é um diferencial de mercado que estabelece uma relação de
confiança com o consumidor. Além disso, por não utilizar agrotóxicos, a
saúde dos próprios agricultores é preservada.
Nutrientes
Fertilizantes, corretivos e inoculantes somente podem ser usados se
permitidos pela Instrução Normativa 17, de 18 de junho de 2014, do Mapa.
Os nutrientes podem ser supridos por meio de fontes orgânicas (adubo
verde, esterco animal, torta vegetal ou cinza) ou minerais naturais
(calcário, fosfato natural e pó de rocha) ou da mistura das duas fontes.
O ideal é que o produtor aproveite resíduos da sua propriedade
(fitomassa da bananeira e outras culturas), para reduzir custos com
transporte, e utilize coberturas vegetais apropriadas para o ecossistema
da região. "A agricultura orgânica é mais adequada e viável ao pequeno
agricultor porque ele pode usar tudo da sua área. Se ele tem um animal,
até mesmo uma galinha, pode usar o esterco, fazer o composto e colocar
na bananeira", exemplifica a pesquisadora. Outros resíduos que podem ser
usados no composto são bagaço de laranja ou de cana-de-açúcar, cinzas
de madeira, polpa de sisal, raspa de mandioca, torta de algodão, cacau
ou mamona. Também existem no mercado produtos certificados.
O composto orgânico demora cerca de três meses para liberar os
nutrientes. "No sistema orgânico o fruto realmente cresce menos. Como o
nutriente não está prontamente disponível, a liberação é lenta, mas
observamos que isso tem uma vantagem. O fruto cresce devagar, concentra o
brix [a doçura], fica com tamanho adequado, em torno de 90 a 100g, e
mais saboroso. Para o consumidor, isso pode ser importante", informa.
"Particularmente, a bananeira é uma planta muito fácil de produzir de
forma orgânica porque anualmente não é necessário colocar tanto adubo já
que ela restitui ao solo dois terços da sua fitomassa. Da bananeira, só
saem os frutos. Então, tem que se repor os nutrientes que saíram com o
cacho. Tudo volta, até o engaço [estrutura que segura os frutos]'.
crotalária |
Conservação do solo
Uma preocupação constante do produtor orgânico precisa ser com a
conservação do solo, que deve ser mantido sempre coberto. Por isso, na
fase de formação do bananal é recomendável o plantio de leguminosas e
não leguminosas nas entrelinhas do bananal. "As plantas utilizadas como
adubo verde devem ter crescimento inicial rápido, para abafar as plantas
espontâneas e produzir grande quantidade de massa verde", explica José
Egídio Flori, pesquisador da Embrapa Semiárido (PE). Ao serem cortadas,
as plantas de cobertura devem ser deixadas sobre a terra. Esse material
orgânico se decompõe, liberando nitrogênio – principalmente as
leguminosas – e outros nutrientes.
Nos experimentos em área de produtor, as leguminosas que trouxeram melhor resultado foram feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), crotalária (Crotalaria juncea), guandu ou feijão-de-corda (Cajanus cajan) e cudzu tropical (Pueraria phaseoloides). Perene e tolerante à sombra, o amendoim forrageiro (Arachis pintoi)
deve ser usado apenas em regiões de boa pluviosidade ou em bananais
irrigados. "O produtor pode consorciar a bananeira com uma cultura que
ele pode vender também e ter uma renda a mais, como o guandu", salienta
Ana Lúcia.
Pragas e doenças
De acordo com a Instrução Normativa 17 do Mapa, nos sistemas orgânicos,
deve-se priorizar a utilização de material adaptado às condições locais
e tolerantes a pragas e doenças. "O grande problema do sistema orgânico
é a mão de obra. No sistema convencional, o monitoramento é feito para
avaliar se precisa fazer o controle. No orgânico, tem que ser o tempo
todo. Quando aparecer uma praga, o produtor tem que retirar antes que se
alastre. A vistoria precisa ser constante", alerta Ana Lúcia. Por isso,
a melhor alternativa para o controle é a utilização de estratégias de
manejo integrado de pragas (MIP).
"Não existem
variedades de bananeira desenvolvidas especificamente para plantio em
sistemas orgânicos de produção, mas as variedades utilizadas para o
sistema convencional vêm sendo cultivadas com sucesso, adotando-se as
práticas recomendadas para o sistema orgânico. A Embrapa tem uma série
de variedades resistentes, que permitem o cultivo sem a utilização de
agrotóxicos", esclarece. Para verificar o comportamento de oito
variedades de bananeira no sistema orgânico, dois experimentos foram
implantados em locais com condições e climas distintos: no Perímetro
Irrigado Pedra Branca, localizado nos municípios de Curaçá e Abaré (BA),
e outro na Unidade de Pesquisa de Produção Orgânica (UPPO), na área da
Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas (BA). As variedades
foram Prata Anã, Pacovan, BRS Platina, BRS Princesa, BRS Japira, BRS
Preciosa, BRS Vitória e Galil-18. No primeiro ciclo, destacaram-se, no
ecossistema Semiárido, a bananeira BRS Preciosa e, no ecossistema Mata
Atlântica, a BRS Platina. No segundo ciclo, destacou-se a BRS Princesa
no Semiárido e a ‘Galil 18' na Mata Atlântica.
"A resistência a doenças importantes e a rusticidade, em especial, das
variedades BRS Platina e BRS Princesa facilitam a adoção e o cultivo em
áreas onde o uso de tecnologia ainda é incipiente", confirma o
pesquisador Edson Perito Amorim, líder do Programa de Melhoramento
Genético de Bananas e Plátanos da Embrapa.
Em
Pedra Branca, além do experimento de competição de variedades de
bananeira na área do produtor João Conceição, foi conduzida, de 2010 a
2013, uma área com a cultivar Pacovan orgânica, cujo acompanhamento foi
feito por técnicos da assistência técnica Projetec, contratada pela
Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba
(Codevasf). "Na área de Pacovan obtivemos bom resultado de produção, que
foi em média de 23 t/ha. O desempenho de produção e qualidade dos
frutos da bananeira orgânica foi bom", completa José Egídio Flori.
O agricultor João Conceição, que já cultivava hortaliças orgânicas,
teve bons resultados com a banana orgânica. "A produtividade foi muito
boa. Eu segui todas as recomendações do pessoal da Embrapa e da
assistência técnica porque acho que o produtor não pode fazer as coisas
só da cabeça dele. Fiz até análise do solo. Só não pude ganhar mais
porque não sou certificado e precisei vender as bananas para o
atravessador junto com as convencionais", salienta.
Léa Cunha (MTb 1633/BA)
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