Bruno Almozara Aranha (contato@mudacerta.com.br)
Introdução e Objetivos do Post
Hoje eu vou escrever sobre um tema que não tem relação direta com a
botânica, mas é uma dúvida ou uma dificuldade recorrente entre
profissionais que trabalham com restauração da vegetação nativa. Você já deve ter se perguntado sobre:
– Qual é a adubação correta/necessária para plantios de espécies nativas, ou seja, qual é a recomendação de adubação?
A adubação é uma etapa fundamental para o sucesso de qualquer plantio,
mas para espécies nativas ainda há muita desinformação (Foto 1). Neste
artigo eu vou buscar esclarecer alguns pontos e apresentar algumas
fontes relevantes para que você possa tomar a melhor decisão quando se
deparara com essa demanda.
Foto
1 – Mudas nativas em desenvolvimento no Viveiro Árvores Brasileiras,
integrante do Programa
Muda Certa (Fonte: Suzana Aleixo).
As dificuldades de adubação nos plantios mistos de espécies nativas
Antes de qualquer coisa eu vou delimitar o que eu quero dizer com
plantio de espécies nativas. Aqui estamos nos referindo a espécies
arbustivo-arbóreas nativas plantadas em consorciação com outras espécies
congêneres, compondo um plantio com alta riqueza de espécies, com
finalidade de restauração da cobertura vegetal e biodiversidade ou
produção de madeira.
Quando falamos “plantio de espécies nativas”, por exemplo, podemos
estar nos referindo a um plantio, de mandioca, que é uma espécie nativa
plantada em monocultura. E o que eu quero mostrar aqui é que a
dificuldade de se ter informações precisas sobre a recomendação de
adubação para plantio de espécies nativas é justamente por esse plantio
não ser uma monocultura de espécies comerciais.
Uma espécie plantada em uma monocultura com fins comerciais em
primeiro lugar é uma espécie domesticada, e a intenção de seu plantio é
que ele produza o máximo com o mínimo de adubação. Para isso há diversos
estudos para desenvolver a melhor variedade para cada região e a melhor
recomendação de adubação. Assim, para essas culturas há uma série de
informações que propiciam uma adubação ótima, com recomendações muito
precisas para cada tipo de variedade e tipo de solo. Já para o plantio
de espécies nativas o quadro é bastante diferente.
As espécies nativas utilizadas para a restauração ou para a
recomposição de Reservas Legais com vistas à produção de madeira são
variedades selvagens e a intensão, principalmente no caso do plantio de
restauração, é que tenhamos a menor mortalidade possível e que as mudas
se desenvolvam e recuperem a cobertura vegetal.
Observem que o objetivo não é a máxima produção, ele é bem mais
prosaico: que ao menos as mudas sobrevivam! O plantio é, na imensa
maioria das vezes, composto por muitas outras espécies e não uma
monocultura. Consequentemente, temos plantadas no mesmo espaço espécies
selvagens de linhagens evolutivas muito distantes. Como, por exemplo,
espécies da família Lauraceae, a família das canelas, e espécies da
família Bignoniaceae, dos ipês, cujo último ancestral comum viveu a 179
milhões de anos atrás! Dessa maneira o que menos teremos é uma uniformidade na exigência nutricional.
Outra diferença importante do plantio de espécies nativas é seu
objetivo de longo prazo. Para a produção de madeira, o tempo estimado é
de 20 a 30 anos e de forma muito mais duradoura, quando queremos
restaurar a cobertura vegetal e a biodiversidade. Assim, além de querer
reduzir a mortalidade, queremos que as mudas se desenvolvam e que os
indivíduos plantados suportem as intempéries climáticas, a herbivoria e
as dificuldades nutricionais que virão.
A adubação para plantios de espécies nativas, então, visa dar
suporte ao desenvolvimento inicial das mudas e o resto tem que ser com
elas mesmas, pois, afinal, elas terão que suportar por conta própria o
local onde foram plantadas num processo natural de rustificação.
É claro que essa estratégia de adubação pode ser relaxada quando nosso
objetivo é produção madeireira. Ou seja, podemos considerar um reforço
na adubação para conseguirmos uma melhor produção de madeira, mas mesmo
assim a resposta não é rápida e tão direta, porque ainda estamos
tratando com variedades selvagens.
Portanto, a adubação para espécies nativas deve levar em consideração que:
i) há uma grande heterogeneidade de exigências nutricionais, pois
estamos plantando diversas espécies e cada qual pertencente a uma
linhagem evolutiva e com diferentes estratégias de nutrição;
ii) estamos lidando com variantes selvagens, ou seja, não
domesticadas e melhoradas para apresentar uma melhor resposta à
adubação; e
iii) não estamos visando indivíduos produtivos, mas sim indivíduos
rústicos que estejam aptos a suportar as condições ambientais e se
estabelecerem permanentemente no local.
Isso posto, fica mais fácil entender o porquê de não existirem muitas
recomendações de adubação específicas para o plantio de espécies
nativas. O que temos é uma recomendação genérica que visa dar um suporte
nutricional inicial para as mudas até que elas consigam “pegar”. Porém,
qual é a melhor adubação “genérica” para o meu plantio (Foto 2)?
A seguir, vou dar algumas dicas valiosas sobre nutrição vegetal.
Foto 2 – Plantio compensatório de restauração da cobertura vegetal nativa em Santa Isabel, SP,
no domínio Mata Atlântica.
Conceitos básicos em nutrição vegetal
Existem dois tipos de nutrientes que são essenciais para o desenvolvimento das plantas: os macronutrientes e os micronutrientes; classificados de acordo com a quantidade exigida pelas plantas.
Os macronutrientes são: Nitrogênio (N), Fósforo (P), Potássio (K),
Cálcio (Ca), Magnésio (Mg) e Enxofre (S). E os micronutrientes são: Boro
(B), Cloro (Cl), Cobre (Cu), Ferro (Fe), Manganês (Mn), Molibdênio (Mo)
e Zinco (Zn).
Todas as plantas precisam desses elementos químicos para se
desenvolver, além de, é claro, Carbono (C), Oxigênio (O) e Hidrogênio
(H). E por todos serem essenciais, a pequena quantidade ou a
indisponibilidade de um só elemento limita o crescimento da planta,
independentemente se todos os demais estiverem disponíveis em
abundância.
Os macros e micronutrientes estão disponíveis para as plantas no
solo, mais precisamente na solução do solo. E essa disponibilidade, ou
melhor, o acesso a esses nutrientes pelo sistema radicular das plantas
depende da acidez do solo, porque a acidez do solo influencia na
Capacidade de Troca Catiônica (CTC). Não vou me estender muito aqui, pois não é o foco do artigo, mas se alguém se interessar sobre o assunto tem mais informações
aqui.
O problema é que os solos tropicais são muito ácidos,
pois nos trópicos há muita umidade e consequentemente muita lixiviação e
intemperismo. Esse processo está associado a uma transformação profunda
associado ao desgaste das rochas e dos solos, através de processos
químicos, físicos e biológicos. Em outras palavras, os solos tropicais
são muito lavados e estão muito alterados física e quimicamente.
Assim, quanto mais ácido o solo, menor a disponibilidade de nutrientes para as plantas. É por isso que dizem que os solos tropicais têm baixa fertilidade.
Então, você pode me perguntar: “Mas se as espécies nativas estão
acostumadas a sobreviver em solos de baixa fertilidade, por que elas
precisam de adubação então”?
Na verdade funciona assim: a maior parte da nutrição das espécies
arbustivo-arbóreas vem da camada superficial do solo. Essa camada está
coberta pela serrapilheira, que são folhas e demais restos vegetais em
decomposição. É esse o processo de decomposição dos restos vegetais que
disponibiliza os nutrientes para as plantas.
A
ciclagem de nutrientes entre planta/solo/planta é
regido através dos ciclos biogeoquímicos e são eles que permitem
florestas tão exuberantes em solos tão inférteis. É por isso, também,
que a avaliação da camada de serrapilheira é um indicador muito
importante para se classificar o estágio de regeneração das florestas J.
Veja mais nas Resoluções CONAMA disponíveis para a classificação do
estágio de sucessão de vegetação de cada Estado
aqui!
No entanto, áreas em restauração com plantio de mudas não possuem
camadas de serrapilheira formadas e, então, parte do ciclo biogeoquímico
se encontra em ruptura na sua dinâmica. Dessa forma, devemos fornecer
nutrientes pela via da adubação para as espécies arbustivo-arbóreas que
plantamos. E, portanto, a adubação é necessária porque vai fornecer o
suporte nutricional até que a vegetação se desenvolva ao ponto de
iniciar a ciclagem nutricional e se tornar autossustentável. O que
acontece mais ou menos quando há o fechamento das copas no caso de
ecossistemas florestais.
Embora quando tratamos de um plantio de espécies nativas estamos
lidando com uma grande heterogeneidade de espécies e de exigências
nutricionais, é possível organizar a exigência nutricional em dois
grupos: pioneiras e não pioneiras. As espécies pioneiras, de crescimento
mais rápido, são aquelas que demandarão maiores quantidades de
nutrientes nos anos iniciais de desenvolvimento da vegetação em
restauração.
Ao passo que para as não pioneiras a demanda é mais distribuída ao
longo do tempo. Dessa maneira, a adubação deve prever o suporte
nutricional para os dois grupos, visando um alto consumo inicial pelas
pioneiras e evitando a perda ou a imobilização de nutrientes que
faltarão quando a demanda das não pioneiras aumentar.
Recomendações básicas de adubação nos diferentes domínios de vegetação do Brasil
– Mata Atlântica
A referência clássica para a recomendação de adubação para espécies nativas da Mata Atlântica é:
Gonçalves, J.L.M.; Raij, B. van e Gonçalves, J.C. Florestais. In:
Raij, B. van; Cantarella, H.; Quaggio, J.A. e Furlani, A.M.C., eds.
Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo.
Campinas, Instituto Agronômico e Fundação IAC, 1996. p. 247-259.
Essa referência, entretanto, é um capítulo de livro, por isso não está disponível facilmente.
Para a nossa sorte, o professor Leonardo Gonçalves escreveu
praticamente o mesmo texto em 1995 e essa publicação está disponível
aqui.
Recomendo que leia essa publicação na integra, pois estão apresentadas a
fórmula para a recomendação de calagem (aplicação de calcário) e a
tabela de referência com intervalos de valores dos parâmetros obtidos na
análise do solo e a respectiva recomendação da quantidade de nutrientes
que deve conter na adubação.
As tabelas de recomendação diferem entre as duas publicações, dessa
forma vou reproduzir, mais abaixo, as tabelas de recomendação da
publicação de 1996.
Visto tudo isso, vamos para o passo a passo da adubação. A primeira coisa que se deve fazer é uma
análise do solo. Existe disponível na internet diversos manuais de como se fazer a análise de solo, esse
aqui
apresenta as informações de maneira bem sucinta e clara. A análise do
solo é que vai indicar quais os parâmetros para sabermos a quantidade de
nutrientes que devemos ter nos adubos.
Com os parâmetros da análise de solo nas mãos, o próximo passo é fazer a calagem. Aplicar calcário na área tem dois objetivos:
- i) reduzir a acidez, e assim aumentar a disponibilidade dos nutrientes e
- ii) aumentar a saturação por bases do solo (chamada de V%), fornecendo mais Ca e Mg para as plantas.
A indicação é aplicar um tipo de calcário chamado dolomítico, pois
ele possui um teor maior de Mg. Geralmente os valores de calcário
aplicados giram em torno de 1,5 a 2,5 toneladas por hectare, mas podem
chegar até 3,0 toneladas por hectare. A calagem deve ser feita por toda a
área ou somente nas linhas de plantio, sem a incorporação no solo e em
um dia sem chuva.
Após 30 dias, tempo necessário para que a calagem alcance os seus objetivos, iniciamos a adubação junto com o plantio das mudas.
A adubação deve ser feita ao redor dos berços (ou covas, como preferir)
também em um dia sem chuva. Os principais componentes do adubo são o
Nitrogênio (N), o Fósforo (P) e o Potássio (K) e sempre associado às
formulações vem o Enxofre (S). O N, P e K possuem comportamentos
diferentes no solo.
O P é facilmente imobilizado, isso quer dizer que ele muito
facilmente se torna indisponível para as plantas. Já o N e o K são muito
voláteis e, assim, são facilmente lixiviados. Você se lembra de que na
adubação para espécies nativas nós temos que prever as demandas para as
espécies pioneiras e não pioneiras? Para isso, a recomendação de
adubação prevê o fornecimento de quantidades de nutrientes que não serão
aproveitadas de imediato e vão ficar no solo a espera do consumo das
plantas.
Porém, como o N e o K são muito voláteis se toda a quantidade
recomendada fosse aplicada de uma vez só haveria muita perda desses
nutrientes. Por isso a adubação é dividida em duas etapas: a adubação de base e a adubação de cobertura.
A adubação de base é realizada antes do plantio e a adubação de
cobertura, que pode ser dividida em mais aplicações, é executada depois
das mudas plantadas.
Na adubação de base são aplicados 100% do P e de 20 a 40% de N e K.
Consequentemente, na adubação de cobertura são aplicadas doses de 80 a
60% do N e K recomendado de acordo com a análise do solo. O que vai
definir as doses da adubação de cobertura é a quantidade de chuva que
tem a região.
Quanto mais chuvosa for a região menor e mais dividida serão as doses
da adubação de cobertura. Por outro lado, quanto mais operações de
adubação mais caro ficará o plantio. Dessa maneira, recomenda-se a
divisão da adubação de cobertura em duas etapas. A primeira em três
meses após o plantio e a segunda em seis meses após o plantio.
Vamos fazer um exemplo, considerando um plantio de restauração da
cobertura vegetal e biodiversidade no domínio Mata Atlântica e
utilizando as espécies florestais nativas desse domínio.
Após a análise do solo na profundidade de 0 – 20 cm encontramos os seguintes resultados:
V% = 35;
CTC a pH 7 = 75 mmol.dm-3;
Teor de Matéria Orgânica (M.O.) = 14 g.dm-3;
Teor de P = 4 mg.dm-3;
Teor de K = 0,5 mmol3.dm-3; e
Teor de argila no solo = 20%.
Conforme o mencionado, o primeiro passo é fazer a calagem. Na prática
a calagem visa aumentar o V% para 50%. Para saber a quantidade de
calcário para isso devemos aplicar a seguinte fórmula:
N.C. = [T x (V2 – V1) x p] / (10 x PRNT)
Onde:
N.C. – Necessidade de calcário (t.ha-1);
T – Capacidade de Troca de Catiônica (CTC) a pH 7 em mmol.dm-3;
V2 – Saturação por Base do solo desejada;
V1 – Saturação por Base encontrada no solo;
p – Fator de profundidade de incorporação do calcário no solo: 1,0 para 0 – 20 cm; e 1,5 para 0 – 30 cm;
PRNT – Poder Relativo de Neutralização do calcário (fornecido pelo fabricante do calcário).
Assim, dado PRNT = 85%:
N.C. = [79 x (50 – 35) x 1] / (10 x 85) => 1.185 / 850 => N.C. = 1,39 t.ha-1 ou 1,5 t.ha-1
De acordo com as tabelas de recomendação, temos:
Tabela 1. Recomendação de adubação com Nitrogênio (N) de acordo com o teor de Matéria Orgânica (M.O.) no solo. Adaptado de Gonçalves et al. 1996.
Dose de N |
Teor de Matéria Orgânica (M.O.) no solo (g.dm-3) |
0 – 15 |
16 – 40 |
> 40 |
kg.ha-1 |
60 |
40 |
20 |
Tabela 2. Recomendação de adubação com Fósforo (P) de acordo com o teor de argila e de P disponível no solo. Adaptado de Gonçalves et al. 1996.
Teor de argila no solo |
Teor de Fósforo (P) por resina no solo (mg.dm-3) |
0 – 2 |
3 – 5 |
6 – 8 |
> 8 |
% |
Dose de P205 (kg.ha-1) |
< 15 |
60 |
40 |
20 |
0 |
15 – 35 |
90 |
70 |
50 |
20 |
> 35 |
120 |
100 |
60 |
30 |
Tabela 3. Recomendação de adubação com Potássio (K) de acordo com o teor de argila e de K trocável no solo. Adaptado de Gonçalves et al. 1996.
Teor de argila no solo |
Teor de Potássio (K) trocável no solo (mmol3.dm-3) |
0 – 0,7 |
0,8 – 1,5 |
> 1,5 |
% |
Dose de K2O (kg.ha-1) |
< 15 |
50 |
30 |
0 |
15 – 35 |
60 |
40 |
0 |
> 35 |
80 |
50 |
0 |
Dose N = 50 kg.ha-1; Dose P = 70 kg.ha-1; e Dose K = 60 kg.ha-1.
Portanto, nesse exemplo para a adubação de espécies nativas
florestais do domínio Mata Atlântica devemos fazer a calagem do solo com
1,5 toneladas de calcário dolomítico por hectare e aplicarmos, por
hectare:
– 180 kg de adubo;
– 50 kg de N,
– 70 kg de P e
– 60 kg de K.
Sendo que o N e o K devem ser parcelados em três adubações: a de base
(40%) e as duas de cobertura (60%). Também se recomenda a aplicação, na
adubação de cobertura, dos micronutrientes Boro (B) e Zinco (Zn) nas
concentrações de 0,3 e 0,5% ou 0,33 e 0,55 kg.ha-1.
– Cerrado
No caso do Cerrado a lógica de adubação voltada para vegetações
florestais não se aplica. Embora os solos do Cerrado sejam tão inférteis
como os solos florestais, a quantidade de nutrientes acumulada na
biomassa é muito diferente entre uma floresta e uma savana.
Assim, o ciclo biogeoquímico é distinto entre as fisionomias abertas e
as florestais. Ademais, as espécies típicas do Cerrado são adaptadas à
alta toxidade de Alumínio (Al) existente no solo. Algumas espécies
chegam a absorver grandes quantidades de Al no seu processo nutricional.
Dessa maneira, procedimentos de correção do solo via calagem quando
se deseja restaurar a vegetação original do Cerrado é um erro grosseiro.
Da mesma maneira, é um erro introduzir espécies florestais em locais
onde a fisionomia é savânica. Esse é um dos motivos de se escolher a
Muda Certa para os locais apropriados!
As espécies típicas do Cerrado possuem menor exigência nutricional do
que as espécies florestais. Então não há necessidade de doses
cuidadosas de nutrientes. A recomendação é que a adubação seja feito com
adubos orgânicos (esterco curtido ou lodo de esgoto), sobretudo em
locais com solos arenosos. A matéria orgânica dos adubos orgânicos em
solos arenosos irá contribuir com a formação de agregados no solo e isso
contribui como o aumento na CTC e, consequentemente, no aumento da
disponibilidade de nutrientes para as plantas.
Outro detalhe importante. Quando se trata da restauração do Cerrado,
muitas vezes a melhor opção não é plantar mudas, mas sim conduzir e
estimular a regeneração natural. Contudo, como nem sempre é possível
contar somente com a regeneração natural, a restauração deve ser
executada somando o potencial de regeneração natural com a introdução de
espécies nativas.
Desconheço publicação que apresente recomendação de adubação para
espécies do Cerrado como há para as espécies da Mata Atlântica. No
entanto, essas publicações
aqui e
aqui
recomendam utilizar de 20 a 30% do volume do berço de adubos orgânicos
ou uma combinação de adubação orgânica com adubação química, utilizando
2,5 litros de esterco curtido com 200g de adubo formulado NPK 4-14-8 por
berço.
– Amazônia e Caatinga
Também desconheço publicações semelhantes a existente para
recomendação de adubação para espécies da Mata Atlântica voltada para
espécies dos domínios Amazônico e da Caatinga.
No entanto, como a Amazônia é um ecossistema parecido com a Mata
Atlântica, as mesmas recomendações de adubação podem ser utilizadas sem
prejuízo. Por outro lado, a Caatinga é um ecossistema que apresenta
solos com razoável fertilidade. Por conta da baixa precipitação típica
do clima semi-árido, os solos da Caatinga são menos intemperizados que
os demais solos tropicais. Dessa maneira, esses solos não são muito
ácidos, possuem argilas mais reativas as quais permitem uma maior CTC e,
assim, maior disponibilidade de nutrientes.
O maior estresse das plantas da Caatinga não é nutricional, é
hídrico. Infelizmente não tenho informações seguras para compartilhar a
respeito de adubação para plantio de espécies nativas da Caatinga. Caso
você conheça compartilhe conosco no campo dos comentários!
Considerações finais
Com esse artigo, eu espero ter ajudado você a compreender melhor essa atividade tão fundamental para a restauração que é a adubação.
Há muitos outros assuntos para abordar sobre esse tema, tais como: a
regulação da CTC, como são as perdas de nutrientes, o papel das
micorrizas na absorção de nutrientes e etc. Se trabalhássemos esses
temas aqui, o artigo ficaria mais extenso do que já está. A ciência do
solo é uma disciplina muito interessante que tem bastante relação com a
botânica, vale a pena dar uma aprofundada nesse tema.
Espero, também, que tenha ficado clara a importância de se considerar
as espécies corretas para a restauração da vegetação nativa. Ou seja,
plantar espécies da Mata Atlântica na Mata Atlântica, espécies de
Cerrado no Cerrado e assim por diante. Apenas as espécies originais do
domínio têm as adaptações necessárias para se estabelecer no ecossistema
que se deseja restaurar.
Introduzir espécies da Mata Atlântica para restaurar uma área de
Cerrado pode até trazer bons resultados iniciais – quando aplicado todos
os procedimentos de adubação – mas no longo prazo o projeto está fadado
ao insucesso.
Dessa maneira, além de saber como executar um projeto de restauração é
importante a fase do diagnóstico inicial, no qual é importante saber
reconhecer qual formação vegetal e fitofisionomia se enquadra a área que
se deseja restaurar. É importante um conhecimento botânico das espécies
que você vai introduzir na área para não introduzir espécies erradas.
Para auxiliá-lo(a) nessas etapas, o
portal eFlora e o
Curso “O Segredo da Identificação de Plantas”
são excelentes oportunidades para você saber mais sobre caracterização
da vegetação e identificação de plantas. E no âmbito do portal eFlora há
iniciativas correlatas bem aplicadas à Restauração Ambiental, como o
Programa Muda Certa, o qual auxilia viveiros florestais e restauradores a
selecionar as espécies mais indicadas, com identificação adequada e
revisada pela equipe especializada, para serem introduzidas no local que
se deseja restaurar.
Leituras recomendadas
Gonçalves, J.L.M.; Raij, B. van e Gonçalves, J.C. Florestais. In:
Raij, B. van; Cantarella, H.; Quaggio, J.A. e Furlani, A.M.C., eds.
Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo.
Campinas, Instituto Agronômico e Fundação IAC, 1996. p. 247-259.
Haridasan, M. Nutritional adaptations of native plants of cerrado
biome in acid soils. Brazilian Jornal of Plant Physiology. 20(3):
188-195, 2008.
Neto, A.E.F.; Siqueira, J.O.; Curi, N. e Moreira, F.M.S. Fertilização
em reflorestamento com espécies nativas. In. Gonçalves, J.L.M e
Benedetti, V. eds. Nutrição e fertilização florestal. Instituto de
Pesquisas Florestais, Piracicaba, 2000. p. 351-353.
Toledo, M.C.M.; Oliveira, S.M.B. e Melfi, A.J. Intemperismo e
formação do solo. In: Teixeira, W.; Toledo, M.C.M.; Fairchild, T.R. e
Taioli, F., eds. Decifrando a Terra. Oficina de Texto, São Paulo, 2000.
p. 139-166.