Matéria extraída do Diário Catarinense
http://dc.clicrbs.com.br/sc/estilo-de-vida/noticia/2017/10/projeto-quer-distribuir-500-kits-de-compostagem-com-minhocas-para-os-moradores-de-florianopolis-9920847.html
Acúmulo
de lixo e o que fazer com ele tem se tornado cada vez mais um problemão
para as cidades. Só em Florianópolis são produzidos 183 mil toneladas
de lixo convencional por ano, mô quirido. E só 6,85% desse
total, segundo estudos da Comcap, são desviados do aterro sanitário, ou
seja, que puderam ser reciclados. Ainda há um mundaréu de resíduo que poderia ter um destino melhor. E o lixo orgânico tem tudo para ser um deles.
Os
moradores da Capital geram 65 mil toneladas por ano de lixo orgânico, o
que corresponde a 35% do total. Desses, 24% são de restos de alimentos e
11% de resíduos verdes como podas, restos de jardinagem e folhas
varridas durante a limpeza pública. Bom, com esses números em mãos e com
experiências positivas desenvolvidas pela própria Comcap em escolas e
associações de moradores, como o trabalho de compostagem de lixo
orgânico, por que não ampliar a ideia e atingir ainda mais moradores?
Imagina, quirido, uma cidade inteira reciclando seu próprio
lixo orgânico e o transformando em adubo, que poderá ser utilizado em
hortas comunitárias, hortinha de apartamento e pomares?
Equipe da Comcap promoverá oficinas para treinamentoFoto: Diorgenes Pandini / Diario Catarinense
Como
sonhar não é proibido, a direção da Comcap recebeu um desafio e
repassou aos demais encarregados: era preciso trazer ideias inovadoras. O
gerente da divisão de informática da autarquia, Marildo Peixe, lançou
uma ideia que praticava em casa: vamos distribuir kits de composteiras
com minhocas para mais pessoas, e ensiná-las a como reaproveitar seu
próprio lixo e, assim, diminuir o envio desse material ao aterro.
Pronto.
Estava criada a proposta Minhoca na Cabeça (criada pelo Peixe, que
ironia, hein?), e que agora está tendo seu projeto metodológico
desenvolvido pela engenheira sanitarista e gerente do departamento de
planejamento de gestão e projetos, Karina da Silva de Souza. A ideia é
distribuir 500 kits de compostagem com minhocas californianas – que são
as ideais para a proposta – para o processo de compostagem de orgânicos.
E tudo isso de forma gratuita.
— Estamos montando o projeto e
abriremos um cadastro para inscrição no site da Comcap. Os interessados
devem se inscrever para receber os kits. Mas não só isso: vamos avaliar
se a pessoa já pratica alguma atividade em prol do meio ambiente, se tem
esse perfil. Porque não podemos entregar o kit para uma pessoa e ela
não usufruir do benefício que ele traz — explicou Karina.
Moradores selecionados passarão por um curso preparatório
Os
inscritos serão chamados para uma oficina de compostagem na Comcap, com
os educadores ambientais Gilson Kiyzanoski e Guilherme Carioni, que já
desenvolvem a atividade no Jardim Botânico de Floripa, no Itacorubi.
Segundo Karina, estima-se que serão realizadas em torno de 25 oficinas
para os 500 inscritos.
Kits serão entregues para pessoas que tenham perfil de reciclagem de lixo Foto: Diorgenes Pandini / Diario Catarinense
—
Os moradores vão fazer sua composteira na oficina e sairão daqui com
elas prontas. A ideia é que elas repassem também o conhecimento para
outras pessoas. Que isso se transforme num ciclo — complementou Karina.
O
projeto será todo acompanhado por uma equipe de especialistas que será
montada pela Comcap. Porque a ideia não é só ensinar a prática, mas sim
observar o sucesso dela e contabilizar, ao fim do ano, o quanto foi
possível desviar de lixo orgânico dos aterros.
A ideia será
apresentada nesta semana ao prefeito Gean Loureiro e o objetivo, contou o
presidente da Comcap, Carlos Alberto Martins, é transformar o projeto
Minhoca na Cabeça numa política pública. Se tudo ocorrer conforme o
desejado pela equipe, e com base na produção média de 1,6 quilo de
resíduos orgânicos por família por dia na cidade, os 500 moradores vão
desviar 292 toneladas de resíduos orgânicos por ano com uma economia
direta de R$ 43 mil em transporte até o aterro e redução de 70% na
emissão de carbono. Côsa linda, não?
Como funciona a ideia da composteira
Peixe
já realiza a compostagem de seu lixo orgânico há cerca de dois anos em
casa. Aprendeu a técnica na própria Comcap e afirma: o adubo e o chorume
da composteira têm deixado sua horta verdinha, verdinha. Cascas de
frutas, restos de comida – sem temperos – casca de ovo, tudo vai para a
composteira – que pode ser uma caixa de plástico ou até baldes. Para a
mágica acontecer, deve-se misturar o material com folhas secas, por
exemplo. E colocar ali as minhocas californianas. Elas são as
responsáveis pelo serviço.
Objetivo é reduzir a quantidade de lixo orgânico que vai parar no aterroFoto: Diorgenes Pandini / Diario Catarinense
—
Como elas comem o material ainda vivo, ou seja, ela não precisa esperar
as cascas apodrecerem para comê-las, o processo é mais rápido. Em torno
de três meses elas transformam o material em um riquíssimo adubo e, em
seguida, em um líquido que contém uma porção de nutrientes importantes —
contou Peixe.
O chorume, o líquido do material orgânico, cai para
a terceira caixa da composteira, e para usar como adubo, ele deve ser
misturado com uma grande porção de água. São tantos nutrientes, que se
jogado purinho na terra, pode até matar as plantas. A medida é de 1 por
10, ou seja, para um litro de chorume, misture 10 litros de água, e aí
sim, aplique na terra que quiser.
— A gente vê todos os dias como a
compostagem é importante. E se as pessoas começarem a fazer isso em
suas casas, será um ciclo. Elas vão ver como é bom cuidar do seu próprio
lixo, vão ver a ação da natureza acontecer. E, assim, terão até, quem
sabe, vontade de montar uma hortinha — avalia o educador ambiental
Gilson.
Segundo Karina, até quem mora em apartamento poderá ter
uma composteira do projeto Minhoca na Cabeça. Claro, o ideal é que seja
um apezinho com uma sacada ao menos. E não precisa ficar receoso. O
adubo e o chorume não possuem cheiro ruim. Com este método, com as
minhocas californianas, dificilmente se atrai outros bichos como ratos e
baratas.