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sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

come-se: Ora-pro-nóbis Pode ser usado em saladas, refogados, arroz, carnes, sopas, omeletes, tortas, farinhas, doces, etc.

come-se: Ora-pro-nóbis: Basta uma temporada de chuva para o meu pé de ora-pro-nóbis ficar exuberante e, se deixar, indomável. Mas alguém tem que ter bom senso nesta...

Ora pro nobis... a carne vegetal


ORA PRO NOBIS (Pereskia aculeata), popularmente conhecida como "carne de pobre", pois suas folhas possuem 25% de proteína pura, das quais 85% acham-se numa forma digestível.

É um valor muito alto, mesmo se comparando com vegetais mais famosos, como o espinafre, que tem um teor de 2,2% de proteínas. Possui ainda vitaminas A, B e principalmente C, além de cálcio, fósforo.
Pode ser usado em saladas, refogados, arroz, carnes, sopas, omeletes, tortas, farinhas, doces, etc.
Além disso, seu valor medicinal é amplamente conhecido no combate às anemias.
Por ser arbustiva, com intensa brotação e enormes espinhos, é ideal para cercas intransponíveis.
O ora-pro-nobis (pereskia aculeata Miller), do latim “orai por nós”, é uma planta cactácea que nasce em formato de moita. Dizem que seu nome foi criado por pessoas que colhiam a planta no quintal de um padre, enquanto ele rezava o seu “ora-pro-nobis”.

Quem se interessou em consumir o Ora pro nobis e for de Porto alegre e região , tenho mudas para doação .

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Lemna: A planta que pode EVITAR A FOME!


Hoje vamos começar a experimentar o cultivo das lentilhas d'água (Lemna Minor) e Azzolas Carolinianas como complementos alimentares para nossos animais! Será que estas pequenas plantas tem potencial para garantir uma fonte de nutrição durante situações de crise até mesmo para humanos? Vamos pensar sobre isso! Conheça nossa área de assinantes com conteúdos exclusivos filmados com diversos especialistas: https://membros.sobrevivencialismo.com/ Adquira os produtos Sobrevivencialismo aqui: https://www.lojasv.com.br/ ARTIGOS CITADOS EM VÍDEO: https://www.frontiersin.org/articles/... https://www.sciencedirect.com/science... https://www.sciencedirect.com/science... https://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc... 𝗔𝗽𝗼𝗶𝗲 𝗻𝗼𝘀𝘀𝗼 𝗰𝗮𝗻𝗮𝗹: ✓ Seja membro do Sobrevivencialismo → https://apoia.se/sobrevivencialismo ✓ Curso de análise sobrevivencialista → https://go.hotmart.com/I15685946W ✓ Confira o livro "Receitas do Refúgio" → https://bit.ly/ebookprojetorefugio Nossos parceiros: ✓ PALACIO DAS FERRAMENTAS: https://bit.ly/pferramentas ✓ REAU: https://bit.ly/3Hpog8H ✓ INVICTUS: http://bit.ly/Invictusapoio 𝐂𝐨𝐧𝐭𝐚𝐭𝐨: ✓ 𝑨𝒏𝒖𝒏𝒄𝒊𝒆 → comercial@sobrevivencialismo.com Siga nossas mídias: ✓ Portal → https://sobrevivencialismo.com/ ✓ Podcast → http://bit.ly/PodcastSV ✓ Cortes SV → https://www.youtube.com/channel/UCJhi... ✓ Instagram → https://www.instagram.com/svivencialismo ✓ Facebook → https://www.facebook.com/blog.sobrevi... ✓ Twitter → https://twitter.com/svivencialismo O canal Sobrevivencialismo faz parte do portal de conteúdos "sobrevivencialismo.com" que visa ensinar as pessoas a reagirem de maneira efetiva em situações de sobrevivência e também se tornarem responsáveis pela própria vida. 00:00 Um experimento 02:17 Azolla Caroliniana e Lentilha d´agua 05:00 Avanço do crescimento 06:20 Berço das lentilhas 08:55 Reprodução após 11 dias 12:20 Mistura na ração das galinhas 15:35 A lentilha d´agua ganhou a batalha

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

É inadmissível que exista ser humano que passe fome!


Por ocasião do lançamento da Campanha mundial contra a fome, a pobreza e as desigualdades, Flávio Giovenale, bispo de Santarém e presidente da Cáritas Brasileira, publicou um artigo no jornal Correio Brazilense, 10-12-2013.
Eis o artigo.

Hoje, 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Cáritas Brasileira lançam a campanha mundial contra a fome, a pobreza e as desigualdades. Com o tema "Uma família humana, pão e justiça para todas as pessoas", queremos sensibilizar e mobilizar a sociedade sobre essas realidades responsáveis por grandes mazelas no mundo e no Brasil. A campanha faz parte de uma mobilização mundial da Caritas Internationalis, que articulou as 164 organizações membro para esse grande movimento em favor da vida, dos direitos humanos e da justiça social.

O papa Francisco, em sua primeira exortação apostólica, chamou a atenção ao dizer que "não se pode tolerar mais o fato de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isso é desigualdade social. Assim como o mandamento "não matar" põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, também hoje devemos dizer "não a uma economia da exclusão e da desigualdade social". Esta economia mata. Dessa forma, o Santo Padre reafirma a opção da Igreja pelos empobrecidos e a urgente necessidade de pararmos e prestarmos atenção à realidade que está em nossa volta.

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) diz que, hoje, 842 milhões de pessoas sofrem com a fome no mundo, ou seja, um em cada oito seres humanos não tem acesso a uma alimentação adequada e de qualidade. O Relatório da Riqueza Global, lançado este ano pelo banco suíço Credit Suisse, afirma que, se a riqueza produzida no mundo em 2013, que foi de US$ 241 trilhões, fosse distribuída em partes iguais entre as pessoas adultas do planeta, cada um iria receber US$ 56.600. Não podemos mais admitir esses dados: os 10% mais ricos controlam 86% da riqueza global, enquanto apenas 32 milhões de adultos, em um mundo com 7 bilhões de habitantes, possuem 41% da riqueza mundial. Além disso, dois terços dos adultos da humanidade — 3,2 bilhões — só conseguem dividir 3% da riqueza mundial.
O Brasil, como muito se tem divulgado, é a sexta economia mais rica do mundo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas 57 milhões de pessoas vivem em estado de pobreza, ou seja, sobrevivem com meio salário mínimo. Mesmo com programas de distribuição de renda promovidos pelo governo federal, como o Bolsa Família, 20% dos mais ricos ainda detém 63,8% da renda nacional, enquanto os 20% mais pobres acessam apenas 2,5% de toda a riqueza que é produzida pelo país. O Atlas de Exclusão Social: os ricos no Brasil mostra que o país tem mais de 51 milhões de famílias, mas somente 5 mil apropriam-se de 45% de toda a riqueza e renda nacional.

É fato que o Brasil tirou milhões de brasileiros da extrema pobreza, mas em que condições? É aceitável definir a pobreza a partir de uma quantidade de dólares ou reais por dia? Trata-se da superação efetiva das necessidades básicas ou apenas evitar a morte pela fome? A produção agropecuária pode garantir alimentação para 12 bilhões de seres humanos. Como somos pouco mais de 7 bilhões, há evidente desperdício e impedimento de que muitos tenham acesso aos alimentos. Vivemos em um país que teima em fazer reforma agrária ao inverso: aumenta a quantidade de terra sob controle de uma minoria e diminui a destinada aos pequenos proprietários, que são produtores de mais de 70% dos alimentos da nossa população.

A campanha mundial contra a fome e a pobreza, no Brasil, vai promover processo de escuta e diálogo com os grupos, comunidades e paróquias, com o intuito de identificar como os próprios empobrecidos enxergam a questão da pobreza e da miséria no país. Não vamos retratar a fome, a pobreza e a miséria apenas como números que colocam o ser humano em uma condição de estatística. Vamos retratar a verdadeira face dessa realidade e quem nos contará essa história serão os próprios rostos da pobreza, da fome e da miséria no Brasil. A expectativa é que, em setembro de 2014, um documento sistematizado com o resultado de todos esses diálogos seja lançado para a sociedade brasileira.

Alimentados e animados pela frase do nosso grande mestre fundador, dom Helder Câmara, que nos ilumina dizendo que "o verdadeiro cristianismo rejeita a ideia de que uns nascem pobres e outros ricos", vamos alicerçados na esperança e na confiança do Santo Padre, o papa Francisco, seguindo a nossa missão.

Nota da IHU On-Line: Veja o vídeo do Papa Francisco lançando a Campanha Mundial contra a Fome clicando aqui.
Veja também:

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Moringa, a árvore mágica que pode acabar com a fome no mundo




Suas folhas verdes contêm mais cálcio que o leite de vaca e mais ferro que o espinafre

HAROLDO CASTRO & GISELLE PAULINO (TEXTO E FOTOS)| DO VALE DO RIO OMO, ETIÓPIA
24/06/2015 - 15h46 - Atualizado 11/06/2017 13h20

Resultado de imagem para folhas moringa
Poucos brasileiros ouviram falar de uma
 planta chamada moringa. Originária da Ásia e da África, a árvore de até 12 metros de altura fornece abundantes galhos carregados de pequenas folhinhas verdes. Considerada como uma panaceia para muitos males – de tratamento da malária a dores de estômago – e um alimento com alto valor nutritivo e com uma excelente composição de proteínas, vitaminas e sais minerais, a moringa é uma daquelas árvore que todos habitantes dos trópicos deveriam ter no quintal de casa.
Das 14 espécies identificadas, duas são as mais populares. Nativa das encostas do Himalaia, a Moringa oleifera foi reconhecida pela medicina ayurvédica como uma importante erva medicinal há quatro mil anos. A planta indiana acabou sendo disseminada por todo o mundo e chegou até o Brasil.
Uma espécie próxima é a Moringa stenotepala, nativa do leste da África. Segundo pesquisadores da Universidade de Addis Ababa, da Etiópia, que pesquisam a planta há quase duas décadas, a moringa possui uma elevada capacidade para combater diferentes doenças tropicais, tais como a leishmaniose.
Mas o que assombra os nutricionistas é sua composição como alimento. Pesquisadores concluíram que, comparada grama por grama com outros produtos, a moringa possui sete vezes mais vitamina C que a laranja, quatro vezes mais vitamina A que a cenoura, quatro vezes mais cálcio que o leite de vaca, três vezes mais ferro que o espinafre e três vezes mais potássio que a banana. E mais: a composição de sua proteína mostra um balanço excelente de aminoácidos essenciais (aqueles que precisamos ingerir pois o corpo humano não os produz).
Árvores de moringa  (Foto: © Haroldo Castro/Época)
Em um país lembrado por imagens de subnutrição, observar que a moringa etíope – a espécie Moringa stenotepala – é fartamente plantada na zona tropical do país nos dá um grande entusiasmo. Na estrada que sai de Arba Minch em direção ao sul, a árvore está espalhada em diversos campos de cultivo de milho, assim como ao redor das cabanas de palha dos habitantes da região.
Cerca de 90 km depois, chegamos em Konso, a porta de entrada para o território nativo dos povos do vale do rio Omo. Os vilarejos tradicionais da etnia Konso foram proclamados Patrimônio Mundial pela Unesco em 2011 devido aos terraços criados para a agricultura e às muralhas de pedras que protegem os assentamentos humanos.
Como se não bastasse a engenhosidade dos Konso com seus terraços, possibilitando uma agricultura sustentável nas encostas áridas das montanhas, os líderes da etnia plantam, há muitas gerações, árvores de moringa ao redor de suas casas. Assim, a folhinha verde tão nutritiva não falta a ninguém na comunidade e traz um mínimo de elementos nutritivos a toda a população, principalmente às crianças.
Árvores de moringa entre as cabanas dos habitantes Konso (Foto: © Haroldo Castro/Época)
Graças à moringa abundante e aos cereais e as leguminosas plantados nos terraços Konso, o fantasma da subnutrição afasta-se cada vez mais do sul da Etiópia. De fato, em todos os mercados semanais da região, sempre encontramos pencas e pencas de moringa fresca sendo vendidas para aqueles que não possuem uma árvore em seu quintal.
Thamyres Matarozzi, uma fotógrafa paulistana que viaja com nosso pequeno grupo de brasileiros, já conhecia a fama da moringa desde 2011 quando vivia em Londres. Por ser vegana e buscar uma alimentação consciente, Thamyres comprara na Europa dezenas de saquinhos de pó de moringa para complementar uma possível falta de proteínas ou vitaminas durante sua viagem à Etiópia. Qual não foi sua surpresa ao ver que quase todos os restaurantes onde comemos ofereciam moringa – ou, no idioma local, aleko – nas mais variadas formas, de sopa a refogado!
Thamyres compra um quilo de moringa fresca (Foto: © Haroldo Castro/Época)
Mulher da etnia Banna, com uma cabaça sobre seu penteado tradicional (Foto: © Giselle Paulino )
Uma jovem da etnia Ari chega com um carregamento de folhas de moringa nas costas (Foto: © Haroldo Castro/Época)
A moringa oferece ainda mais um presente às comunidades rurais. Devido a uma composição particular dos óleos e das proteínas contidas nas sementes, quando trituradas e misturadas a uma água turva e não potável, uma reação extraordinária é produzida: a água fica limpa. Como isso acontece? O pó das sementes de moringa possui a propriedade de atrair argila, sedimentos e bactérias, os quais acabam indo para o fundo do recipiente e deixando a água clara e potável.
Tanto as sementes da espécie etíope (Moringa stenopatala) como da asiática (Moringa oleífera) possuem as mesmas características de decantar a água. Pesquisadores do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais comprovaram, em testes de laboratório, que as sementes da moringa asiática conseguem remover 99% da turbidez da água.
Com todos esses atributos, não é difícil considerar a moringa como uma das plantas mais generosas do planeta. Por isso, várias ONGs de desenvolvimento humano que combatem a pobreza e a fome a chamam de “super planta”, “árvore milagrosa” ou “folha que salva vidas”. 
Depois de saber tudo isso, nosso próximo passo será comprar sementes e plantar moringa em casa!
FONTE: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/viajologia/noticia/2015/06/moringa-arvore-magica-que-pode-acabar-com-fome-no-mundo.html

sexta-feira, 15 de maio de 2015

"Cultivar e preservar" Agricultura atual não é sustentável', afirma diretor-geral da FAO



"Cultivar e preservar". Esse terá de ser o modelo da agricultura nos próximos anos, o que exigirá uma mudança profunda nos modelos de produção. A afirmação é do brasileiro José Graziano da Silva, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que deixa claro que, hoje, o campo "não é sustentável". Candidato à reeleição em meados do ano, Graziano promoveu uma reforma interna na entidade e recolocou a erradicação da fome como sua prioridade. Mas insiste que o desafio ambiental será uma exigência.
A entrevista é de Jamil Chade, publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 14-05-2015.
Eis a entrevista.
Qual o motivo de a fome no mundo ainda atingir mais de 800 milhões de pessoas?
Por falta de vontade política. Infelizmente, muitos governantes ainda não dão prioridade à erradicação da fome e da miséria. Mas as coisas estão melhorando. Em primeiro lugar, é preciso dizer que a tendência da fome no mundo é de queda. De 1990 até 2014, o número absoluto de pessoas subalimentadas caiu de 1,015 bilhão para 805 milhões. Freamos o crescimento e reduzimos o total. A proporção de pessoas com fome também caiu cerca de 40% nesse mesmo período, de 19% para 11%.
E por que a fome continua?
Diversos fatores explicam a persistência da fome. O principal é a falta de acesso adequado a alimentos. Significa dizer que, no geral, não falta comida: faltam recursos às famílias pobres para produzi-la ou comprá-la. Daí a importância de medidas que favoreçam o acesso - caso do Bolsa Família e da alimentação escolar - e que deem aos agricultores familiares crédito, assistência e a acesso à terra.
Então não existe de fato uma falta de alimentos no mundo?
No nível agregado, não. Nos últimos 70 anos, a população mundial triplicou, mas a oferta per capita de comida aumentou em 40%. Tivemos um aumento significativo da produção a partir dos anos 70 graças à Revolução Verde, à introdução de sementes de trigo e arroz melhoradas e ao uso intensivo de insumos e recursos naturais. No ano passado o Papa Francisco esteve na FAO e lembrou como, em 1992, o então Papa João Paulo II já falava no "paradoxo da abundância": de um lado, alimentos suficientes; do outro, persistência da fome. O paradoxo segue.
O modelo agrícola atual é sustentável em termos ambientais?
Não, não é. Somos herdeiros da Revolução Verde, que intensificou o uso de insumos químicos e maquinário. Não podemos esquecer que a Revolução Verde ajudou a salvar a vida de centenas de milhões de pessoas no sudeste asiático, quando a fome era uma calamidade decorrente da falta de alimentos. Isso não pode ser minimizado. No entanto, o uso intensivo de recursos naturais também contribuiu para o avanço do desmatamento, a degradação de solos, a contaminação da água e a perda de biodiversidade e de recursos genéticos. Esses fatores mostram, claramente, os limites desse paradigma.
Que tipo de reformas deveria ocorrer no modelo agrícola para garantir sustentabilidade?
Hoje, não basta produzir alimentos, é preciso fazê-lo conciliando produtividade com sustentabilidade, resiliência às mudanças climáticas e inclusão social. Esses são os alicerces da agenda do desenvolvimento sustentável no século XXI. Não há um caminho único a seguir.
Muito se falou que o Brasil poderia ganhar com a agricultura. Mas os preços de commodities tiveram uma queda enorme. O Brasil precisaria pensar em um novo modelo agrícola?
O Brasil ganha com a agricultura. Ela é um dos motores de crescimento do País. A próxima safra de grãos deve atingir a marca histórica de 200 milhões de toneladas. Segundo dados do Ministério da Agricultura, o saldo da balança comercial agropecuária está na casa dos US$ 80 bilhões desde 2011. E, embora os preços das commodities agrícolas estejam em queda, eles subiram muito entre 2000 e 2011 e seguem acima da média histórica. As previsões de médio prazo indicam que isso deve continuar. A valorização do dólar frente ao real também favorece as exportações brasileiras. Além disso, a demanda mundial por alimentos continuará crescendo: segundo as previsões da FAOo planeta terá de produzir 60% mais de alimentos para alimentar a população em 2050. O Brasil ganhou mercados e liderança internacional na área de agricultura. Não devemos abrir mão desse espaço.
E quais são os desafios ?
O desafio agora - do Brasil e do mundo - é aumentar a sustentabilidade desse entrelaçamento e alavancar a produtividade dos pequenos produtores, além da logística de escoamento. É um desafio mundial, mas o Brasil, por estar na frente em esferas técnicas e sociais, tem muito a contribuir - já está contribuindo. Somos referência em agricultura tropical. Inúmeras tecnologias e variedades desenvolvidas pela Embrapa como plantio direto, integração lavoura-pecuária e sementes melhoradas estão sendo adaptadas e transferidas a outros países.
O sr. é candidato único à reeleição na FAO. Quais seriam as prioridades para um segundo mandato?
O desafio é consolidar o processo de transformação que está em curso. Vamos no caminho certo. Ao mesmo tempo, vamos aprimorando nossa forma de trabalhar. Essas não são questões meramente internas. Esse conjunto permitirá àFAO dar uma contribuição mais decisiva para superar os desafios do nosso tempo. O ano de 2015 é chave para isso. Marca o fim dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e o início da era dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Em 2015, a FAO também comemora seu 70.º aniversário. Nos seus primeiros 70 anos, a FAO deu uma contribuição importante ao aumento da produção agrícola no mundo. Agora, queremos erradicar a fome. E acredito que o mundo está pronto para assumir esse compromisso.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Fome: o ingênuo otimismo da ONU

 
"O modelo da FAO é afinado constantemente com pesquisas dirigidas à base de amostragem, com o objetivo de identificar grupos particularmente vulneráveis. Esse modelo é criticado pelos pesquisadores Bernard Maire e Francis Delpeuch por calcular calorias em termos de macronutrientes (proteínas, glicídios e lipídeos), sem levar em conta as deficiências da população em termos de micronutrientes – a carência de vitaminas, minerais e oligoelementos", comenta Juliana Dias, editora, em artigo publicado pelo portal Malaguetta, 25-09-2014.
Eis o artigo.
A indiferença glacial a respeito da fome no mundo contrasta com os dados do sociólogo Jean Ziegler, que considera a destruição anual de dezenas de milhões de homens, mulheres e crianças pela falta de comida como o escândalo do nosso século. No seu estado atual, a agricultura mundial poderia alimentar, sem problemas, 12 bilhões de pessoas, quase duas vezes a população mundial. No entanto, a cada cinco segundos, morre uma criança de menos de dez anos, num planeta que transborda riquezas. Os neurônios do cérebro humano formam-se entre zero e cinco anos. Se nesse período não receber uma alimentação adequada, suficiente e regular, a criança ficará lesionada pelo resto da vida.
Aos 80 anos, Ziegler é o pensador suíço contemporâneo mais conhecido no mundo. Com mais de 20 livros publicados, combina sua produção intelectual com uma resistente intervenção social e política. Atuou como o primeiro relator Especial sobre o Direito Humano à Alimentação e membro do Comitê Consultivo do Conselho de Direitos Humanos, da Organização das Nações Unidas (ONU), entre 2000 e 2012. Seu último livro, Destruição em massa – geopolítica da fome (Ed. Cortez) é dedicado ao médico brasileiro Josué de Castro, um dos fundadores da agência daONU para Alimentação e Agricultura (FAO), reconhecido internacionalmente por seu pioneirismo em denunciar o flagelo da fome.
A reflexão de Ziegler sobre as causas da escassez de alimentos é pertinente para avaliar o recém-lançado Relatório de Insegurança Alimentar no Mundo (SOFI, sigla em inglês), divulgado pela FAO. De acordo com o documento, na última década a redução de famintos chegou a 100 milhões. O número de pessoas “cronicamente desnutridas” chega a 805 milhões no período de 2012 a 2014. Nos países em desenvolvimento, a desnutrição caiu de 23,4% para 13,5%. O Brasil foi o destaque do relatório, apontado como o país que, oficialmente, superou o problema da fome.
Dados do referido relatório indicam que existem 3,7 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar, o que corresponde a 1,7% da população brasileira. O programa Bolsa Família, que atende 14 milhões de famílias e oPrograma Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), destinado diariamente a 43 milhões de estudantes da Educação Básica, são apontados como fatores relevantes para essa superação, cumprindo o primeiro ponto dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), previsto para 2016: eliminar a fome.
O otimismo do relatório, tanto em nível global, como na América Latina e Caribe, esbarra com as declarações deZiegler, embasadas na experiência de mais de uma década na linha de frente da defesa do Direito Humano à Alimentação. Ao destrinchar as causas da fome, ele aponta os “senhores dos trustes agroalimentares”, os dirigentes da Organização Mundial do Comércio (OMC), do Fundo Monetário Internacional (FMI), dos diplomatas ocidentais, dos especuladores de alimentos básicos; e dos que chama de “abutres do ouro verde” (produtores de agrocarburantes, ou combustíveis de base vegetal) como os que se empenham em naturalizar a fome.
Ziegler começa sua exposição explicando como os dados da FAO são coletados. O modelo matemático data de 1971 e é de extrema complexidade, a qual o autor se propõe a simplificar. O primeiro passo é fazer um recenseamento da produção de bens alimentares, exportação e importação, especificando o conteúdo calórico. A Índia, por exemplo, abriga a metade de todas as pessoas grave e permanentemente subalimentadas do mundo, mas exporta cerca de 17 milhões de toneladas de trigo[1].
Assim, a FAO obtém a quantidade de calorias disponível em cada país, de acordo com as variáveis: faixa etária, sexo, tipo de trabalho executado e situação socioprofissional. Na segunda etapa os estatísticos estabelecem a estrutura demográfica e sociológica da população. Ao correlacionar os dois agregados de indicadores, obtêm-se os déficits calóricos globais dos países e é fixada a quantidade teórica de pessoas permanentemente e gravemente subalimentadas. A crítica de Ziegler é que os dados não dizem nada a respeito da distribuição de calorias no interior de uma população determinada.

O modelo da FAO é afinado constantemente com pesquisas dirigidas à base de amostragem, com o objetivo de identificar grupos particularmente vulneráveis. Esse modelo é criticado pelos pesquisadores Bernard Maire e Francis Delpeuch por calcular calorias em termos de macronutrientes (proteínas, glicídios e lipídeos), sem levar em conta as deficiências da população em termos de micronutrientes – a carência de vitaminas, minerais e oligoelementos.
A confiabilidade dos dados também é posta a prova, pois se baseia inteiramente na qualidade das estatísticas fornecidas pelos Estados. Apesar das críticas, Ziegler reconhece a pertinência, e que o modelo dá conta, a longo prazo, das variações dos números dos subalimentados e das mortes pela fome no planeta, caso do relatório publicado no último dia 16 de setembro. Para o sociólogo e militante, os números subestimam o fenômeno, mas permitem conhecer o cenário árido dos famélicos em todo o mundo.
Os três grupos de pessoas mais vulneráveis são os pobres rurais, os pobres urbanos e as vítimas de catástrofes. A maioria dos que não têm o que comer pertence às comunidades rurais pobres dos países em desenvolvimento. Quem produz alimento está exposto à fome. É uma contradição a ser enfrentada. A escassez está nos campos onde se deveria tirar o sustento. Ziegler ataca a prática de que a segurança e a soberania alimentar sejam lideradas pelo jogo do livre mercado. A ideia que paira é que somente o mercado pode vencer o flagelo da fome.
Basta potencializar ao máximo a produtividade agrícola mundial, liberar e privatizar para se ter acesso a uma alimentação adequada, suficiente e regular para todos. “O mercado, enfim, liberado derramará, como uma chuva de ouro, seus favores sobre a humanidade” (p. 158). Para uma questão complexa como a alimentação, propaga-se uma solução unilateral e reduzida a uns poucos atores sociais.
A questão agrária é posta pelo ex-relator como um desafio para combater a fome. As terras são disputadas para o plantio de comodities da produção agrícola ou os agrocarburantes, também divulgados como biocombustíveis, dos quais, esclarece Ziegler, existem dois tipos: o bioetanol e o biodiesel. O prefixo bio (vida, vivo), indica que o carburante (etanol ou diesel) é produzido a partir de matéria orgânica (biomassa). Não há relação direta com uma agricultura biológica, como sugere o termo biocombustível. A confusão favorece a imagem desse carburante que se imagina limpo e ecológico. Também chamado de Ouro Verde, essa matriz de produção energética é considerada pelo sociólogo como a nova recolonização do território, devastando os recursos naturais e aprofundando mazelas sociais, culturais e econômicas.
No Brasil, o protagonista é a cana-de-açúcar. Matéria-prima de base do período colonial com a monocultura para a produção de açúcar, esse plantio retorna ocupando os campos de alimentos para a produção de agrocarburantes.Zielger critica duramente o programa brasileiro Proálcool: “além dos barões brasileiros do açúcar, o Proálcoolbeneficia as grandes sociedades transcontinentais estrangeiras (Louis DreyfusBungeNoble Group e Archer Daniels Midland)”.
Ao estabelecer a relação entre combustível e comida, ele relembra o dado com que inicia o seu livro: “queimar milhões de toneladas de alimentos em um planeta em que, a cada cinco minutos, morre de fome uma criança de menos de dez anos é evidentemente revoltante”. Para produzir 50 litros de bioetanol, é preciso destruir 358 quilos de milho. No México e na Zâmbia, o grão é a base da alimentação. Com essa quantidade daria para alimentar durante um ano uma criança nesses países. “Agrocarburantes: tanque cheio e barriga vazia”, sentencia Ziegler.
Na visão do geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves [2], a classificação adequada desde o início da colonização até os dias de hoje é “sistema-mundo moderno colonial”. O modelo agrário/agrícola, que se apresenta como o que há de mais moderno, sobretudo por sua capacidade produtiva, atualiza o que há de mais antigo e colonial em termos de padrão de poder ao estabelecer uma forte aliança oligárquica entre as grandes corporações financeiras internacionais; as grandes indústrias-laboratórios de adubo, fertilizantes, herbicidas e sementes; as grandes cadeias de comercialização ligadas aos supermercados; os grandes latifundiários exportadores de grãos [3].
Para se ter uma ideia de como a fome não pode ser subestimada, muito menos naturalizada, Ziegler cita dados sobre o controle do mercado sobre a produção de alimentos no mundo: “apenas dez corporações – entre as quaisAventisMonsantoPioneer e Syngenta – controlam um terço do mercado global de sementes, estimado em 23 bilhões de dólares por ano; e 80% do mercado de pesticidas, em torno de 28 bilhões de dólares. Dez outras corporações, entre as quais a Cargill, controlam 57% das vendas dos 30 maiores varejistas do mundo e representam 37% das receitas das 100 maiores sociedades fabricantes de produtos alimentícios e de bebidas (p. 152). Sobre a atuação dessas multinacionais, João Pedro Stédile, um dos principais dirigentes do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), afirma que “o objetivo não é produzir alimentos, mas mercadorias para ganhar dinheiro” (p. 153).
A forma como se produzem, distribuem e consomem alimentos – considerando a comida como uma mercadoria, regulada por um mercado voraz, e Estados enfraquecidos – é uma maneira de violar o direito à alimentação e de limitar a soberania alimentar das nações, destruindo os territórios, lugares de produção de alimentos, cultura, memória e saberes. Essa indiferença glacial, à qual se refere Zielger, é intolerável. Para vencer esse monstro, o autor se mostra esperançoso com o “formidável despertar das forças revolucionárias camponesas nas zonas rurais do hemisfério Sul. Sindicatos camponeses transnacionais [como a Via Campesina], associações de lavradores e criadores lutam contra os abutres do ‘ouro verde’ e contra os especuladores que tentam roubar suas terras. Essa é a força principal da luta contra a fome” (p. 28).

Ziegler cita um provérbio chinês que Che Guevara gostava de pronunciar para justificar sua esperança e incentivar a resistência: “Os muros mais sólidos desmoronam por suas fissuras”. Assim, ele convoca a provocar, o tanto quanto possível, fissuras na ordem atual deste mundo que “esmaga brutalmente os povos”. O inimigo, como o autor chama, está exposto nos relatórios da FAO. Há que questionar com essas estatísticas por que 805 milhões de pessoas morrem de fome no século XXI. A experiência do sociólogo e militante nos mostra que o gigante pode ser maior e os que deveriam eliminá-lo estão buscando estratégias para naturalizá-lo.
Ao comparar o relatório com o relato de Ziegler é relevante refletir as contradições e ambiguidades que o sistema alimentar produz. O que está evidente, talvez nas entrelinhas ou com a ajuda de autores como este em questão, é que se torna injustificável uma destruição pela falta de acesso à comida, de qualidade e em quantidade, respeitando a cultura, como estabelece o conceito de Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil.
Como é possível o homem travar uma guerra ambiciosa e inescrupulosa em favor do consumo e do lucro, contra sua própria espécie? Como explicar esse desejo autodestrutivo? Por que o outro é tratado com inferioridade se, na verdade, é a imagem refletida de seu semelhante? É necessário derreter essa indiferença glacial e compreender que comida não é produto de prateleira, é um direito básico à vida humana. Pensemos nos dados da FAO como uma tarefa que demanda esforços coletivos para provocar fissuras no muro sólido da mercantilização da comida, antes bem comum e de interesse público.
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Notas
[1] _ Período entre junho de 2002 e novembro de 2003.
[2] _ 2006
[3] 2006, p. 243
__
Referências Bibliográficas
Porto-Gonçalves, C.W. A globalização da natureza e a natureza da globalização. 2ª edição. Editora Civilização Brasileira. Rio de Janeiro, 2006.
Ziegler, J. Destruição em massa. Geopolítica da fome. Trad.: José Paulo Netto – 1ª edi. São Paulo: Editora Cortez, 2013.
____ The State of Food Insecurity in the World. Roma: Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, 2014.

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