por
Tadeu Montanaro Silva | Itumbiara, GO
Ora-pro-nobis: folhas cruas servem para saladas; secas e moídas, vão em tortas, refogados, massas e pães
Apesar
de tradicionais e, muitas vezes, vinculadas à cultura de determinadas
comunidades, ao longo do tempo muitas plantas caíram no esquecimento dos
brasileiros. Sem contar com cultivo comercial em escala nem com uma
cadeia produtiva organizada, acabaram sumindo da mesa dos consumidores.
Mas, graças ao projeto de multiplicação de materiais genéticos realizado
por instituições de pesquisa, a perspectiva é resgatar a popularidade
de folhosas, raízes, leguminosas e frutas abandonadas nos últimos anos.
Inhame: para cozimento e fabricação de farinha
Jacatupe: raiz comida crua ou como polvilho
Para
o pesquisador da Embrapa Hortaliças Nuno R. Madeira, várias dessas
plantas tornaram-se raras no mercado como reflexo da urbanização e do
crescente consumo de produtos alimentícios industrializados. Jacatupé,
araruta, almeirão, azedinha, beldroega, bertalha, cará-moela,
chuchu-de-vento, inhame, jambu, mangarito, mostarda, ora-pro-nobis,
physalis, peixinho, taioba e vinagreira são alimentos que estão com o
cultivo em processo de recuperação pela Embrapa Hortaliças e pela
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas
Gerais (Emater-MG), em parceria com o Ministério da Agricultura,
Abastecimento e Pecuária (Mapa) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária do
Estado de Minas Gerais (Epamig). Essas instituições têm estabelecido
campos de multiplicação de sementes com o objetivo de disseminar as
plantas pelo país. Como estratégia de difusão, faz-se o repasse de
sementes e mudas das culturas pela implantação de unidades de
observação, atuando de forma coletiva, com o acompanhamento do órgão de
extensão rural local ou com organizações de agricultores (associações ou
cooperativas).
Physalis: fruta pode ser consumida in natura ou em compotas, geleias e até licores
SAIBA COMO PRODUZIR ALGUMAS DAS PLANTAS TRADICIONAIS
Jacatupé (Pachyrrhizus tuberosus)
- Seu consumo é comum na Amazônia Ocidental, especialmente entre as
populações indígenas. Herbácea trepadora, pode atingir até três metros
de altura quando tutorada. Rústica e de cultivo simples, é de fácil
adaptação às diferentes regiões do país. O próprio agricultor pode
produzir sementes do jacatupé, também conhecido como feijão-macuco ou
feijão-batata. Com propriedade diurética e muita proteína, a raiz da
planta serve para produção de farinha ou polvilho para pães e biscoitos.
O solo para o plantio deve ser profundo, arenoso, bem drenado e com bom
teor de matéria orgânica. A semeadura é realizada no espaçamento de 0,4
a 0,5 metro entre plantas, e de 0,8 a um metro entre leiras, com duas
sementes por cova. Em cinco meses, pode ser iniciada a colheita.
Inhame (Dioscorea spp.)
- Rico em vitaminas do complexo B, possui sais minerais, carboidratos e
contém baixo teor de gordura. Fevereiro e abril são os melhores meses
para se obter mudas para plantios de sequeiro no Nordeste. Julho e
agosto são ideais para o cultivo irrigado. O terreno deve ser arenoso,
profundo, bem drenado, rico em matéria orgânica e com pH de 5,5 a 6. A
planta tem bom desenvolvimento sob clima quente e úmido, com temperatura
média de 24 a 30 graus célsius (ºC). Em plantios domésticos, o cultivo é
feito em covas altas (matumbos), com cerca de 30 centímetros de altura.
A muda é colocada no alto e no centro da cova e em profundidade de dez
centímetros. Recomenda-se espaçamento de um a 1,2 por 0,8 metro. A
maturação completa se dá em cerca de 270 dias. Pode ser colhido quando
as folhas da parte superior da planta estiverem amareladas e secas.
Ora-pro-nobis (Pereskia aculeata)
- Pertencente à família das cactáceas, tem fácil manejo e adaptação a
diferentes climas e tipos de solo. Na medicina popular, as folhas são
indicadas para aliviar processos inflamatórios e na recuperação da pele
em casos de queimadura. Também podem ser misturadas à ração animal. Para
consumo, somente é indicada a variedade que produz flores brancas. A
planta em forma de arbusto e com espinhos pontiagudos nos ramos é uma
excelente cerca viva.
Desenvolve-se em ambientes com incidência de sol ou à meia-sombra. O
plantio deve ser realizado no início do período das chuvas. A propagação
ocorre por estacas de 20 centímetros. Um terço deve ser enterrado em
substrato composto de uma parte de terra de subsolo e outra de esterco
curtido. Após o enraizamento, as mudas devem ser transplantadas para o
local definitivo com espaçamento de um a 1,30 metro entre fileiras e de
40 a 60 centímetros entre plantas. Em três meses inicia-se a colheita,
depois da poda dos galhos.
Physalis (Physalis angulata)
- Também conhecida como camapum, saco-de-bode, mulaca e joá-de-capote, a
physalis é uma fruta pequena, redonda e de cor verde, amarela, laranja
ou vermelha. Nasce em arbusto de caule ereto e ramificado – que chega a
2,5 metros de altura se tutorado. É rica em vitamina A e C, fósforo e
ferro. Folhas, frutos e raízes são usados na medicina popular no combate
a diabetes, reumatismo, doenças de pele, bexiga e fígado. Pode ser
plantada em qualquer época do ano e adapta-se bem ao clima quente, com
tolerância ao frio. Não gosta de excesso de umidade e é vulnerável a
doenças fúngicas. A propagação é feita por sementes, colocadas em
substrato para hortaliças, em bandejas de isopor com 128 células, copos
de plástico de 300 mililitros ou saquinhos de polietileno de 13 por 13
centímetros. Com 20 a 30 centímetros de altura, transfira as mudas para
local com solo rico em matéria orgânica e pH de 5,5 a 6. O plantio deve
ser em duplas, lado a lado, com 30 centímetros de distância. Ao atingir
80 centímetros de altura, faça o tutoramento. Em quatro ou cinco meses,
produz de um a três quilos de frutos por planta.
Taioba (Xanthosoma sagittifolium)
- É rústica e de plantio fácil. As folhas, ricas em vitamina A e amido,
são consumidas em refogados e em recheios de tortas e bolinhos, mas
nunca cruas. Os talos maiores podem ser fritos ou empanados. É
originária da América Central e do norte da América do Sul. Em hortas,
cresce bem quando disposta em linha de divisa ou beirando muros,
tolerando meia-sombra. Pode ser usada como planta ornamental. Os rizomas
utilizados no cultivo são obtidos de plantas maduras. Apresenta bom
desenvolvimento em regiões de clima quente e com temperaturas acima de
25 ºC. Indicada para solo fértil, rico em matéria orgânica, bem drenado e
com pH entre 5,8 e 6,5. As folhas são colhidas a partir de 70 dias,
quando totalmente abertas. Os rizomas estão no ponto entre sete e oito
meses, quando as folhas secarem. |
CONSULTORES: NUNO R. MADEIRA, pesquisador da Embrapa Hortaliças, BR-060, Km 09, Caixa Postal 218, CEP 70359-970, Brasília, DF, tel. (61) 3385-9000,
sac@cnph.embrapa.br;
e Georgeton S. R. Silveira, extensionista da Emater-MG (Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais), Rua Raja
Gabaglia, 1626, Gutierrez, CEP 30441-194, Belo Horizonte, MG, tel. (31)
3349-8000,
portal@emater.mg.gov.br
MAIS INFORMAÇÕES:
Mapa, Emater-MG, Embrapa Hortaliças e Epamig estão lançando o Manual de
hortaliças não convencionais; informações sobre a edição podem ser
obtidas na Emater-MG, portal@emater.mg.gov.br ou tel. (31) 3349-8000