Fonte: site revista cultivar.
Foto: Alberto Marsaro Junior
O própolis produzido pela abelha-europeia (
Apis mellifera) possui ação contra o fungo
P. aphanidermatum,
microrganismo que causa a podridão do colo e tombamento de plântulas de
diversas culturas como milho, citros, tomate, beterraba e pimentão. A
descoberta científica fez parte do trabalho de doutorado de Wallance
Pazin pela Universidade de São Paulo (
USP), realizado com participação da
Embrapa Meio Ambiente (SP). Ele avaliou a ação de quatro tipos de própolis coletados em diferentes regiões do Brasil.
O produto desse inseto é chamado de própolis verde e suas ações
preventivas e terapêuticas são conhecidas pela ciência, que já comprovou
algumas propriedades antimicrobianas, antitumorais e antioxidantes.
Esse achado, voltado a aplicações agrícolas, abre caminho para o
desenvolvimento de defensivos naturais a preços acessíveis, o que o
torna valioso especialmente para pequenos produtores.
No trabalho na Embrapa, sob supervisão da pesquisadora Sonia Queiroz,
foi realizado o isolamento das substâncias bioativas do própolis verde
previamente selecionadas. “O própolis verde, conhecido como ‘ouro verde
da natureza’, é um verdadeiro presente para a nossa saúde. Ele é
produzido a partir da extração – feita pela abelha africanizada – da
resina de uma planta conhecida como alecrim do campo, que é abundante no
Brasil”, conta a cientista.
Conforme explica Pazin, com a pesquisa foi possível isolar e
identificar a substância ativa Artepilina C. Entre os compostos
encontrados no própolis verde, essa molécula foi a principal responsável
por diversos mecanismos de ação contra patógenos de várias espécies. A
pesquisa comprovou a importância farmacológica da molécula,
principalmente pelo seu potencial antioxidante, anti-inflamatório e
anticancerígeno.
Própolis
Entre todos os tipos de própolis existentes, o coletado pela espécie de abelha Apis mellifera, denominado
própolis verde, é o que goza de maior destaque mundial e que tem sido
comercializado e exportado para indústrias farmacêuticas, principalmente
no Japão. Ele se destaca por seu amplo espectro de ações preventivas e
tratamentos de doenças e propriedades anti-inflamatórias,
antimicrobianas, anticancerígenas e antioxidantes.
Os agentes
bioativos encontrados nesse produto dependem do tipo de vegetação ao
qual a abelha tem acesso na região e da seletividade específica de cada
espécie na coleta, possivelmente devido à necessidade de atividade
antimicrobiana no interior da colmeia. |
Após o isolamento da substância bioativa e avaliação da atividade
antifúngica, Pazin continuou sua pesquisa na USP de Ribeirão Preto
(SP), na Universidade do Sul da Dinamarca (
SDU) e na Universidade Tecnológica de Eindhoven (
TUE),
na Holanda. Ele observou também que os compostos presentes no própolis
com maior bioatividade são capazes de interagir com a membrana celular, a
película que envolve a célula. A Artepilin C se mostrou capaz de
alterar as propriedades da membrana, o que permite que a molécula seja
mais eficiente no controle da doença. Essa parte do trabalho foi
publicada no periódico científico
European Biophysics Journal.
Futuro produto sustentável e acessível
"A aplicação de um produto baseado no própolis para inibição do
crescimento dessa espécie de microrganismo está em fase de
desenvolvimento. Com um antifúngico acessível, pequenos agricultores
poderão ser beneficiados com a tecnologia para o controle de doenças
provocadas pelo fungo
P. aphanidermatum, com a vantagem que será um produto natural, não tóxico e seguro para o consumo humano e para o meio ambiente", prevê Pazin.
“Já foram identificadas no Brasil mais de 300 espécies de abelhas sem
ferrão, chamadas indígenas. O crescimento da população dentro dessas
espécies leva a uma potencial fonte de produtos farmacológicos naturais,
como os encontrados no própolis e no mel”, avalia o físico biológico,
esclarecendo que o própolis é totalmente diferente do mel.
Cada espécie de abelha é capaz de coletar substâncias de plantas e
formar diversos tipos de própolis, que são dependentes do ambiente em
que vivem e das fontes vegetais que esses insetos possuem para coletar. O
própolis tem a função de manter a ação antimicrobiana dentro das
colônias as protegendo, assim, de microrganismos nocivos.
O estudo também mostrou que a região do Cerrado é uma rica fonte de
biodiversidade e possui uma grande concentração da planta da espécie
Baccharis dracunculifolia,
conhecida como alecrim-do-campo, que tem uma constituição química
similar ao desse própolis. A descoberta também despertou o interesse
pela espécie vegetal como fonte de novos compostos bioativos naturais.
“Como os compostos encontrados em um ou em outro própolis diferem,
sugerimos que há novos compostos ainda não identificados no própolis da
abelha indígena que pode ter garantido essa ação antioxidante e que
precisam ser mais estudados", afirma Pazin. Em sua pesquisa, ele
descobriu que o própolis coletado pela abelha nativa Melipona
quadrifasciata anthidiodes, conhecida como mandaçaia, apresentou ação
antioxidante tão significativa quanto o produzido pela abelha-europeia.
Também participaram da pesquisa o professor da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto Amando Ito,
orientador do doutorado; o professor da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto da USP Ademilson Espencer Soares; e a pesquisadora
Andresa Berreta, da empresa Apis Flora.
- 06/11/2018 |
- Cristina Tordin
-
Foto: Alberto Marsaro Junior
O própolis produzido pela abelha-europeia (Apis mellifera) possui ação contra o fungo P. aphanidermatum,
microrganismo que causa a podridão do colo e tombamento de plântulas de
diversas culturas como milho, citros, tomate, beterraba e pimentão. A
descoberta científica fez parte do trabalho de doutorado de Wallance
Pazin pela Universidade de São Paulo (USP), realizado com participação da Embrapa Meio Ambiente (SP). Ele avaliou a ação de quatro tipos de própolis coletados em diferentes regiões do Brasil.
O produto desse inseto é chamado de própolis verde e suas ações
preventivas e terapêuticas são conhecidas pela ciência, que já comprovou
algumas propriedades antimicrobianas, antitumorais e antioxidantes.
Esse achado, voltado a aplicações agrícolas, abre caminho para o
desenvolvimento de defensivos naturais a preços acessíveis, o que o
torna valioso especialmente para pequenos produtores.
No trabalho na Embrapa, sob supervisão da pesquisadora Sonia Queiroz,
foi realizado o isolamento das substâncias bioativas do própolis verde
previamente selecionadas. “O própolis verde, conhecido como ‘ouro verde
da natureza’, é um verdadeiro presente para a nossa saúde. Ele é
produzido a partir da extração – feita pela abelha africanizada – da
resina de uma planta conhecida como alecrim do campo, que é abundante no
Brasil”, conta a cientista.
Conforme explica Pazin, com a pesquisa foi possível isolar e
identificar a substância ativa Artepilina C. Entre os compostos
encontrados no própolis verde, essa molécula foi a principal responsável
por diversos mecanismos de ação contra patógenos de várias espécies. A
pesquisa comprovou a importância farmacológica da molécula,
principalmente pelo seu potencial antioxidante, anti-inflamatório e
anticancerígeno.
Própolis
Entre todos os tipos de própolis existentes, o coletado pela espécie de abelha Apis mellifera, denominado
própolis verde, é o que goza de maior destaque mundial e que tem sido
comercializado e exportado para indústrias farmacêuticas, principalmente
no Japão. Ele se destaca por seu amplo espectro de ações preventivas e
tratamentos de doenças e propriedades anti-inflamatórias,
antimicrobianas, anticancerígenas e antioxidantes.
Os agentes
bioativos encontrados nesse produto dependem do tipo de vegetação ao
qual a abelha tem acesso na região e da seletividade específica de cada
espécie na coleta, possivelmente devido à necessidade de atividade
antimicrobiana no interior da colmeia. |
Após o isolamento da substância bioativa e avaliação da atividade
antifúngica, Pazin continuou sua pesquisa na USP de Ribeirão Preto
(SP), na Universidade do Sul da Dinamarca (SDU) e na Universidade Tecnológica de Eindhoven (TUE),
na Holanda. Ele observou também que os compostos presentes no própolis
com maior bioatividade são capazes de interagir com a membrana celular, a
película que envolve a célula. A Artepilin C se mostrou capaz de
alterar as propriedades da membrana, o que permite que a molécula seja
mais eficiente no controle da doença. Essa parte do trabalho foi
publicada no periódico científico European Biophysics Journal.
Futuro produto sustentável e acessível
"A aplicação de um produto baseado no própolis para inibição do
crescimento dessa espécie de microrganismo está em fase de
desenvolvimento. Com um antifúngico acessível, pequenos agricultores
poderão ser beneficiados com a tecnologia para o controle de doenças
provocadas pelo fungo P. aphanidermatum, com a vantagem que será um produto natural, não tóxico e seguro para o consumo humano e para o meio ambiente", prevê Pazin.
“Já foram identificadas no Brasil mais de 300 espécies de abelhas sem
ferrão, chamadas indígenas. O crescimento da população dentro dessas
espécies leva a uma potencial fonte de produtos farmacológicos naturais,
como os encontrados no própolis e no mel”, avalia o físico biológico,
esclarecendo que o própolis é totalmente diferente do mel.
Cada espécie de abelha é capaz de coletar substâncias de plantas e
formar diversos tipos de própolis, que são dependentes do ambiente em
que vivem e das fontes vegetais que esses insetos possuem para coletar. O
própolis tem a função de manter a ação antimicrobiana dentro das
colônias as protegendo, assim, de microrganismos nocivos.
O estudo também mostrou que a região do Cerrado é uma rica fonte de
biodiversidade e possui uma grande concentração da planta da espécie Baccharis dracunculifolia,
conhecida como alecrim-do-campo, que tem uma constituição química
similar ao desse própolis. A descoberta também despertou o interesse
pela espécie vegetal como fonte de novos compostos bioativos naturais.
“Como os compostos encontrados em um ou em outro própolis diferem,
sugerimos que há novos compostos ainda não identificados no própolis da
abelha indígena que pode ter garantido essa ação antioxidante e que
precisam ser mais estudados", afirma Pazin. Em sua pesquisa, ele
descobriu que o própolis coletado pela abelha nativa Melipona
quadrifasciata anthidiodes, conhecida como mandaçaia, apresentou ação
antioxidante tão significativa quanto o produzido pela abelha-europeia.
Também participaram da pesquisa o professor da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto Amando Ito,
orientador do doutorado; o professor da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto da USP Ademilson Espencer Soares; e a pesquisadora
Andresa Berreta, da empresa Apis Flora.