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sexta-feira, 30 de novembro de 2018

7 dicas para deixar sua horta mais produtiva




Plantar uma horta é uma tarefa recompensadora, mas que exige muita precaução para evitar o fracasso e o desperdício. O Projeto Interagir, patrocinado pelo programa Petrobras Socioambiental, preparou uma lista com cuidados que vão desde o trato das sementes ao uso do adubo correto. Veja abaixo:
1. Use sementeiras
Toda horta começa com uma sementeira, que são bandejas de isopor e plástico ou simplesmente copinhos descartáveis onde você vai produzir suas mudas. A terra , chamada de substrato, é diferente da terra das hortas e pode ser encontrada em lojas agrícolas. No substrato úmido devem ser plantadas, no mínimo, três sementes para garantir que pelo menos uma vingue.
2. Bom solo é fundamental
O local da implantação da horta deve ser plano, com disponibilidade de água e bem iluminado, o ideal é que fique exposto ao sol de quatro a cinco horas durante o dia. Para que a terra fique fofa, ela precisa ser revirada a cerca de 15 com de profundidade e precisa estar livre de pedras, mato e qualquer tipo de lixo.

Foto:©nixoncreative/iStock

3. Use brita e bidin
É aconselhado colocar uma camada de bidin (material que pode ser comprado em lojas agrícolas) sobre um pouco de brita no fundo do canteiro para melhorar a drenagem da água. Tomando essas preocupações, evita-se o endurecimento e o desmanche da terra.
4. Canteiros são práticos
Plantar as hortaliças em canteiros, ao invés de longas fileiras, é a maneira mais prática de cultivar sua horta. Os canteiros devem ser elevados entre 10 e 15 cm do chão e estar a, no mínimo, 40 cm de distância um do outro.
5. Plante na vertical
Se existe a possibilidade de plantar na vertical, não perca tempo.  Você pode apoiar frutas, legumes e vegetais como tomate, feijão, ervilhas, abóbora, melão em treliças, cercas e estacas. As plantas que crescem na vertical recebem mais circulação de ar ao redor das folhas, diminuindo assim a possibilidade de doenças provocadas por fungos.
6. Intercale culturas
Intercalar cultivos só traz vantagens ao jardineiro, uma vez que ele consegue colher variadas culturas em um mesmo canteiro. É preciso pesquisar, entretanto, quais plantios são compatíveis. Por exemplo, a colheita de alface pode ser seguida pela de rúcula, a de manjericão pode ser seguida por cebola e assim por diante.

Foto:©iStock/Zocchi2
7.  Use adubo orgânico
Para adubação de canteiros, os adubos químicos por serem prejudiciais à saúde e a natureza, portanto devem ser evitados. Recomenda-se o uso apenas de adubos orgânicos como húmus de minhoca, esterco curtido e terra vegetal.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Cálculo de Adubação nos Cultivos Orgânicos

Como o próprio nome indica, as hortaliças orgânicas não podem ser adubadas com fertilizantes minerais.

 A matéria-prima a ser utilizada é o adubo orgânico, cuja recomendação vai depender de uma coleta de amostra de solo e a análise desta amostra será a base para recomendar uma correta adubação orgânica. É necessária a reposição de nutrientes exigidos pelas plantas para crescerem e produzirem. A adubação orgânica pode ser de origem vegetal ou animal, e a matéria orgânica presente contribui para melhoria da estrutura do solo,
aumento da atividade dos microrganismos e  nutrientes essenciais às plantas.

Os tipos de adubos orgânicas são: composto, húmus de minhoca, esterco curtido e adubação verde pelo plantio de leguminosas que cobrem e protegem o solo, mantendo a umidade. O esterco de animais só deve ser aplicado quando curtido. O composto é uma mistura de materiais existentes na propriedade. No composto bem feito, a matéria orgânica é transformada em húmus. O húmus melhora as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, armazenando água, ar e nutrientes. O plantio continuado de uma mesma hortaliça e da mesma família, no mesmo canteiro, deve ser evitado. Há necessidade de fazer-se a rotação de culturas que ajuda no aproveitamento dos nutrientes e oferece maior resistência ao aparecimento de doenças e pragas. Uma sequencia de rotação é: folha, raiz, flor e fruto.

O plantio de leguminosas, chamada adubação verde, junto ou antes da cultura a ser instalada, melhora o solo, melhora a reciclagem de nutrientes que consiste no aporte de nutrientes das camadas profundas para a camada superficial, elimina nematoides, funciona como cobertura do solo e incorpora nitrogênio ao solo. As leguminosas mais usadas são o guandu, mucuna-preta, feijão de porco, leucena, etc. Nos solos compactados, as leguminosas devem ser utilizadas antes do plantio das hortaliças. As leguminosas são recomendadas para a descompactação de solos.

O Site Agrosoft Brasil publica um interessante vídeo sobre cultivo de hortaliças orgânica, que poderá ser visto, acessando o link abaixo:
Na adubação orgânica, a quantidade de nitrogênio (N), presente no adubo orgânico, deve ser considerada, pois o excesso de N pode causar desequilíbrios para a cultura e problemas ao meio ambiente pela lixiviação dos nitratos. A aplicação do adubo orgânico deve ser feita, no mínimo, 15 dias antes da semeadura ou transplante das mudas.
Os fertilizantes organominerais, que são a mistura de fertilizantes orgânicos com minerais, não podem ser utilizados no cultivo orgânico. Somente é permitido fertilizantes minerais naturais, que não sofram tratamento químico e térmicos, como acontece com os fosfatos naturais (escolher os reativos), os pós de rocha, como o pó de basalto, o calcário. Com autorização da certificadora poderão ser utilizados os termofosfatos, sulfato de potássio, sulfato de magnésio, micronutrientes, com restrição.

Calagem da área:
Num solo com características de acidez, deve-se proceder a calagem conforme a recomendação preconizada pela análise do solo. A quantidade de calcário deve ser limitada a 2 t/ha/ano.
Cáculo da adubação:
A adubação também deve seguir a recomendação da análise do solo e as quantidades de NPK serão aquelas previstas para a cultura no sistema convencional, cuidando, apenas, para que não sejam empregados fertilizantes minerais.
Por hipótese, a análise do solo recomenda para uma hortaliça de folhas a aplicação de 180 kg/ha de N, 280 kg/ha de P2O5 e 240 kg/ha de K2O
No quadro abaixo, os teores de NPK contidos na cama de frango e nas cinzas e mais um fertilizante fosfatado natural, através dos quais calcularemos a quantidade de cada um.
Vamos primeiro calcular em termos de kg/ha, e como as adubações na maior parte são feitas por m² de canteiro, no final converteremos os resultados para g/m².
a) calcular a quantidade de cama de frango para fornecer os 180 kg/ha de N
Em 100 kg cama de frango temos .......     3,5 kg N
Em X kg cama de frango teremos .......    180 kg N/ha
X= (180x100) / 3,5
X = 5.150 kg/ha de cama de frango
b) os 5.150 kg/ha de cama de frango fornecem também P2O5 e K2O
Em 100 kg cama de frango temos .................. 3,8 kg P2O5
Em 5.150 kg/ha cama de frango teremos........   X kg P2O5/ha
X = (5.150x3,8) / 100
X = 195 kg P2O5/ha
Por outro lado:
100 kg cama de frango temos .........................  3 kg K2O
Em 5.150 kg/ha cama de frango teremos ........  X kg K2O/ha
X = (5.150x3) / 100
X = 155 kg K2O/ha
c) reposição das deficiências de P2O5 e K2O em relação à recomendação
Vamos usar as cinzas para completar as faltas de fósforo (280-195=85) e potássio (240-155=85).
Em 100 kg cinzas temos .......10 kg de K2O
Em X kg cinzas teremos .......85 kg K2O/ha
X = (85x100) / 10
X = 850 kg/ha de cinzas
Em 100 kg cinzas temos ........ 2,5 kg P2O5
Em 850 kg cinzas teremos ........ X kg P2O5/ha
X = (850x2,5) / 100
X = 21 kg P2O5/ha
Há, ainda uma deficiência de fósforo igual a 64 kg/ha (280-195-21). Valos repor com fosfato natural reativo.
Em 100 kg fosfato natural temos ........ 24 kg P2O5
Em X kg fosfato natural teremos ........ 64 kg P2O5/ha
X = (64x100) / 24
X = 270 kg/ha de fosfato natural
Concluindo temos a seguinte composição de matérias-primas para fornecerem os nutrientes recomendados:
5.150 kg/ha de cama de frango
850 kg/ha
270 kg/ha de fosfato natural reativo.
No caso de utilizar a adubação em g/m² de canteiro, basta dividir as quantidades por 10, ou seja: 515 g/m² de cama de frango, 85 g/m² de cinzas e 27 g/m² de fosfato natural.
No caso de se aplicar o adubo na linha de semeadura e quisermos saber a quantidade em g/m linear, o cálculo é o seguinte:
g/m linear de sulco = kg/ha x espaçamento (m) / 10.
No caso da cama de frango é usando um espaçamento de 30 cm (0,3 m):
g/m liner = (5.150 x 0,30) / 10 = 155 g/m linear
O produtor deverá procurar uma assistência técnica de sua região para acompanhar a produção de hortaliças orgânicas, pois a adubação precisa de um controle sobre as quantidades necessárias para os cultivos seguintes, bem como cada Estado possui suas tabelas de recomendações de nutrientes, que são obtidas pela pesquisa no estudo dos diferentes tipos de solos e suas características físicas, biológicas e químicas. Afora isto, medidas a serem tomadas, e que são permitidas, no controle de pragas e doenças, em cultivos orgânicos.
OUTROS ARTIGOS PARA LEITURA
A importância e manejo da adubação orgânica
Leguminosas na descontaminação de solos
Importância das propriedades físicas do solo
Utilização da urina de vaca como fertilizante

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

O prazer de cultivar alimentos orgânicos na sua própria casa!

Tudo o que você precisa saber para ter uma horta orgânica em casa
27 de Outubro de 2014 • Atualizado às 12h26


A agricultura urbana vem despertando cada vez mais o interesse das pessoas que buscam viver de forma mais saudável. Além do prazer de cultivar alimentos orgânicos na sua própria casa, o cuidado com as plantas também ajuda a reduzir o estresse do dia a dia através do contato com a natureza.
O CicloVivo separou algumas dicas e processos de como cultivar alimentos em casa. Veja na lista abaixo quais são elas:
1- Antes de mais nada é preciso analisar se existe um espaço adequado em sua casa ou apartamento para abrigar as plantas. É necessário um local que tenha pelo menos quatro horas por dia de sol ou grande luminosidade. Porém, as plantas não devem ficar expostas ao sol o dia inteiro ou receber ventos fortes.

Foto: iStock
2- O primeiro passo para começar a plantar é a escolha do que será cultivado. É preciso saber que tipo de solo a espécie vive e se ela gosta de muita água ou não. Ervas como o alecrim e sálvia, por exemplo,  são provenientes do mediterrâneo e acostumadas com solo arenoso e seco, já o manjericão e a salsinha preferem um solo mais úmido com muitas regas. É importante categorizar as plantas para escolher quais compartilharão o mesmo vaso. Lembre-se de combinar plantas altas para fazer sombra para plantas menores. Quanto maiores os tipos de cultivos, maior resistência a fungos, larvas e pulgões. Existe uma tabela de plantas antagônicas e plantas que se combinam. (veja aqui)

Foto: iStock
3- Escolha onde vai plantar. Pode ser um caixote de madeira, vaso, lata de leite ou achocolatado, garrafa PET, caixinha de leite, cano de PVC, pneu etc. Existem muitas opções e você pode deixar a sua imaginação lhe guiar, contanto que o recipiente  tenha furos embaixo para que o excesso de água escoe. O tipo de raiz da planta também influencia na escolha do vaso. Caso ela seja profunda, procure recipientes mais altos para que a planta possa se desenvolver.

Foto: iStock
4- Caso escolha um vaso onde a água escoe com muita facilidade, como no caso do caixote de madeira, forre seu fundo com um tecido. Pode ser TNT, manta bigim fina (especial para jardinagem), saco de batata ou atémesmo uma camiseta velha (que não possa ser doada). O importante é que o tecido deixe a água passar.

Foto: Mayra Rosa/CicloVivo
5- Coloque uma camada de argila expandida para que a drenagem do seu vaso funcione. Ela pode ser substituída por brita, cascalho ou até tijolos ou telhas quebradas. Esta camada deve ocupar em torno de 10% do vaso.

Foto: Mayra Rosa/CicloVivo
6-  A próxima camada deve ser de areia de água doce, que servirá para não compactar demais a terra. Você deve cobrir a camada de pedras e deixar mais uma camada acima. Não pode ser utilizada a areia de praia, pois o sal não permite que as hortaliças e ervas cresçam.

Foto: Mayra Rosa/CicloVivo
7-  A última camada deve ser de uma mistura de terra argilosa, areia e húmus orgânico. A proporção básica é de 1/3 para cada ingrediente, porém, isso varia de acordo com o tipo de planta. Espécies de regiões secas geralmente gostam de mais areia, por exemplo. Já as que necessitam de mais água, gostam da terra mais argilosam, capaz de segurar a umidade. A terra argilosa pode ser reaproveitada de algum vaso antigo ou de algum terreno onde esteja bem compactada. Se você faz compostagem, pode aproveitar o húmus em sua horta. Não utilize adubos químicos ou de terras prontas já adubadas se quiser um cultivo orgânico.

Foto: Mayra Rosa/CicloVivo
8- Retire as mudinhas do local de onde vieram, solte um pouco a terra de sua raiz e transplante-a para seu novo lar. Deixe espaço para a raiz, preencha com a mistura de terra, depois cubra com uma camada de matéria orgânica, como algumas folhas. Elas funcionam como uma cobertura do solo, não permitindo que o nutriente vá embora. Além de comprar mudas, você também pode utilizar a técnica de estaquias. O método, utilizado com a cebolinha, salsa, coentro, capim cidreira etc, consiste no plantio de um ramo ou folha da planta, desenvolvendo uma nova planta a partir do enraizamento das mesmas. Quando for utilizar este método é importante retirar quase todas as folhas do ramo, cortar 2/3 dele e colocar em um recipiente com água para que as raízes se desenvolvam. Os bulbos, como batata e gengibre também viram novas plantas. Outra forma de cultivo que você pode utilizar, a exemplo da rúcula, é cortar as folhas rente ao pé. Assim, ela crescerá novamente por até sete vezes.

Foto: Mayra Rosa/CicloVivo
9- Os melhores momentos para rega são pela manha ou ao final da tarde. Não existe receita para isso. É preciso ter algumas informações prévias sobre cada espécie e observá-las. Pode-se também colocar o dedo na terra para ver se está úmido ou até mesmo deixar sempre um palito de sorvete espetado nela. Assim, quando você retirar, saberá se a terra precisa de água ou não.

Foto: iStock
10- Na hora de podar galhos, corte sempre na diagonal e próximo a nós. Caso você retire frutos ou folhas, é preciso cortar seu galho dois pontos de brotamento abaixo. Por exemplo, se você retirar uma pimenta de um galho, é necessário cortar parte deste galho para que a planta tenha energia para se desenvolver melhor.

Foto: iStock
11- Coloque uma camada de húmus a cada três meses. Não superestimule as plantas no inverno, neste período elas tendem a ficar feias. Porém, este processo faz parte de seu ciclo, onde ela ganha energia para florescer na primavera.

Foto: iStock
12- A lua influencia muito os fluxos das seivas das plantas, além das quatro fases, ela tem outros movimentos como a lua ascendente e descendente. Esses elementos influenciam a natureza. A agricultura biodinâmica estuda estes efeitos e existe até um calendário com os melhores momentos para colher e plantar. (saiba mais aqui)

Foto: iStock
As dicas foram dadas durante curso do projeto Composta São Paulo onde  duas mil pessoas famílias paulistanas receberam composteiras domésticas que decompõe os alimentos utilizando minhocas. O projeto foi desenvolvido pela Morada da Floresta e conta com o apoio da Prefeitura de São Paulo.
Por Mayra Rosa - Redação CicloVivo

sexta-feira, 11 de março de 2016

Projeto PANCs - Plantas alimentícias não-convencionais - video completo



Valdely Kinupp - Plantas Alimentícias Não-Convencionais
Para os que conhecem o Doce Limão de longa data, já sabem que em 2013 estamos empenhados em FACILITAR o consumo consciente de mais plantas não convencionais...
E olha a vida entrelaçando tudo: a nossa Assinante Rachel Zacharias nos enviou este material que está a partir de agora sendo compartilhado com todos os leitores do site. Mágico!!!
Leia abaixo esta entrevista do professor e biólogo Valdely Kinupp, que em sua tese de doutorado estudou cerca de 1.500 espécies de plantas e apontou cerca de 311 com potencial alimentício. E que pelo menos 100 delas podem (e devem) enriquecer nossa alimentação, gerar renda e ainda conservar a natureza.
O que de especial te motivou a trabalhar com as Plantas Alimentícias Não-Convencionais (PANCs)?
Foi a questão econômica e de sustentabilidade, mas também o prazer de fazer um trabalho novo, praticamente inédito, da forma como foi feito. 
Pensando numa alternativa, desde a sobrevivência na selva, na lida no campo, mas também numa perspectiva de geração de renda, empregos, conservação da natureza, porque hoje vivemos uma monotonia alimentar
As PANCs, e nossa biodiversidade como um todo, seja ornamental, medicinal, madeireira são, muitas vezes, negligenciadas. Especialmente as alimentícias aqui no Brasil.
Se olharmos nossas refeições caseiras, o cardápio nos restaurantes, as ofertas dosself-services, nas gôndolas dos supermercados e nas feiras, praticamente tudo é exótico, pouco é local, com baixa importância regional, estadual e nacional. 
O Rio Grande do Sul, mesmo sendo considerado um estado celeiro do Brasil, não está adaptado às futuras mudanças climáticas. Contudo, vários estudos internacionais vêm mostrando que as plantas regionais, as ditas plantas "daninhas", as plantas espontâneas, são muito mais adaptadas [até por rotas metabólicas e fisiológicas diferentes] ao aumento do gás carbônico e da temperatura no ar, em comparação com as commodities agrícolas. 
Não estamos preparados para catástrofes e desastres ambientais,
porque as pessoas não sabem mais o que comer do seu quintal. 
E isso é um ciclo vicioso. As crianças deveriam aprender desde cedo nas escolas e com os pais que existem milhares de plantas que podemos comer.  
Muitas vezes, nas saídas de coletas que realizamos periodicamente, sempre aparecem curiosos. Já aproveito para fazer uma educação informal, mostrando o que é comestível, e mesmo assim, alguns ainda pensam que sou uma pessoa que está passando necessidade, porque estou catando um frutinho qualquer ali no mato. 
Precisamos quebrar essa tabu.
Sabendo que determinada planta é comestível, você não mais a verá como mato. 
É preciso aprender isso: tudo foi mato um dia, até nossos ancestrais descobrirem que certas plantas eram comestíveis, inaugurando um novo paradigma alimentar para o reino vegetal. 
A preocupação da sociedade só ocorre quando secas drásticas (ou excesso de chuvas) reduz a oferta de uma planta folhosa local: precisamos trazer de outras regiões...  
Se, por exemplo, estivéssemos plantando bertalha (e.g., Anredera cordifolia, A. krapovickasii – Basellaceae), como hortaliça aqui no RS e não o alface, os agricultores não estariam passando tantos problemas, porque são plantas que toleram o período de estiagem e co-evoluíram neste ambiente.
A bertalha foi um dos carros-chefe na minha pesquisa, ou espinafre-gaúcho, como preferi registrar popularmente, que você pode comer as folhas, muito rica em zinco, ótimo para memória, uma planta perene, mas que possui outra boa vantagem: além das folhas como verdura, tem as batatinhas áreas e também os tubérculos subterrâneos na pequena batata que ela produz que são legumes, com usos similares ao da batata-inglesa. 
Destes órgãos amiláceos foi descoberta uma substância nova, em 2007, de proteção para cavidade gástrica, que inibe a ação de tripisina [“Ancordin”]. 
Alguns estrangeiros queriam comprar cerca de duas toneladas desta 'batata' da bertalha. Cadê o produtor? Não há cultivos racionais desta espécie no Brasil... 
E continuamos falando da nossa biodiversidade, mas comendo a biodiversidade dos outros continentes/países. Plantamos trigo, arroz, café, laranja, eucalipto e soja, e nada disso é nativo do Brasil. Cadê o plantio de bertalha, ália, crem, jacaratiá... 
A domesticação do pêssego-do-mato? E tantas outras hortaliças e frutíferas silvestres com grande potencial agrícola e nutricional? 
Não existe. As pessoas valorizam tanto suas tradições em cada um dos nossos estados, falam bastante da biodiversidade, mas não a conhecem, e isso é riqueza abstrata. 
Se fala que a Amazônia vale trilhões. Vale nada. As pessoas estão passando fome lá. Muita gente vivendo precariamente, como aqui, na famosa Porto Alegre, com sua periferia cheia de pessoas comendo mal, sentindo frio ao dormir. 
Não adianta termos uma biodiversidade imensa na Região Metropolitana se não a comemos ou a utilizamos de forma sustentável para outros fins. Muito menos geramos divisas e empregos, porque ninguém planta. 
Nós somos xenófilos, gostamos do que é de fora, quando aceitamos de pronto e não conhecemos o nosso, não mantemos as nossas tradições.
Meu intuito é fazer a extensão, a popularização, dessas plantas nativas e subsidiar outras áreas do conhecimento, não ficar uma ação isolada. 
Que a Agronomia possa estudar isso no aspecto fitotécnico e horticultural;
Que a Nutrição pesquise a parte bromatológica;
Que a Química, a Bioquímica, a Farmácia pesquise a parte toxicológica e fitoquímica. 
Trazer à tona, RESGATAR e propor novas plantas para serem incorporadas na dieta humana, o que conduz aos estudos transversais. E aí a importância, num trabalho básico desse como o nosso, de detalhar as plantas nativas. 
Mas friso que não se pode entender isso como uma verdade absoluta. Trata-se de uma proposta em construção, que começa desde as experiências individuais dos pesquisadores envolvidos, dos relatos de pessoas que fazem uso tradicional, por dados de etnobotânica antigos. 
E será apenas um segmento da pesquisa, que servirá como subsídio para outras áreas de conhecimento. E, o mais importante disso é ponderar o uso e ter diversificação. Por isso a ciência é dinâmica. 
Todas as plantas têm seus prós e contras, seus modos de preparo adequados, períodos de consumo, com maior ou menor sensibilidade das pessoas. Mas nós não podemos blindar as plantas não-convencionais por acharem que são mais tóxicas que as comuns que você tem no dia-a-dia. 
Há carência de pesquisa, pois o comum é pesquisar só aquilo que está badalado: o morango ou tomate. E não se pesquisa nosso juá nativo, que tem tanto ou mais licopeno que o tomate, porque nem se conhece. 
Por isso a necessidade da transdisciplinaridade e de fazer essa passagem para o uso real e efetivo da nossa flora diversa. Nós não sabemos nem quantas espécies temos no Brasil: 50 mil?Pior ainda: restrito à Botânica? 
Não há consenso, nem uma listagem garantida. Há hipóteses, mas nem isso sabemos. 
Não só a biodiversidade vegetal, mas animal também, que é mais paradigmática e cheia de tabus, com legislação cada vez mais engessada, necessitando ser revista com urgência, para que a nossa fauna alimentícia possa e deva ser criada de forma ecologicamente correta.
Estamos em uma área muito boa de se trabalhar. Eu pude fazer uma pesquisa aplicada e transferir isso para as pessoas. 
Esse é um tipo de trabalho que desperta bastante interesse, de compartilhar aquilo que você pode fazer no ponto de ônibus e dentro dele, na divulgação corpo-a-corpo, porque as pessoas entendem, sendo gratificante para o pesquisador poder conseguir explicar o que faz. 
Falo que trabalho com as plantas que existem por aqui no chão, em todo o lugar, que não são aproveitadas, mas que dá para comer, seja verdura ou frutíferas, condimentos e por aí vai. 
No entanto, uma área, infelizmente, carente de pesquisa e de editais de financiamento no Brasil. 
Nós temos uma biodiversidade muito grande, mas não a CUIDAMOS, CONSERVAMOS, VALORIZAMOS E NOS BENEFICIAMOS...

Fonte: www.docelimao.com.br

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Produção de morangos orgânicos no Sítio Nena Baroni - ITAPUÃ - RS


Maravilhosa produção de morangos neste sítio! Parabéns e ficamos felizes em ter a oportunidade de colaborar um pouquinho neste sucesso!

SOBRE


  • Nena Baroni
A propriedade tem 12 hectares, sendo que 8ha são aráveis e o restante são áreas de mata nativa preservada. Atualmente a área cultivada ocupa 2 ha num crescente a cada ano. A produção é feita em estufas e a céu aberto, dependendo da necessidade de cada cultura.

O solo nunca recebeu tratamentos químicos. Antes do cultivo de hortifruti, era ocupado por campo nativo na criação de gado em sistema de pastoreio livre e o gado acabava estragando a vegetação nativa. Atualmente a flora recupera-se naturalmente e a fauna local  (pássaros e insetos) é exuberante.

A marca Nena Baroni atende consumidores, restaurantes e chefs de cozinha que buscam produtos frescos e diferenciados, inclusive sob encomenda.


Rastreabilidade

A área cultivada é dividida em talhões ou lotes e dentro deles, cada canteiro recebe uma numeração. Toda vez que há novo plantio ou colheita, é realizado um registro que fica à disposição do cliente.


Certificação

Em 2011, quando a propriedade foi adquirida, foi acionado o instituto Biodinâmico de Botucatu (IBD) para iniciar o processo de certificação orgânica. Vem renovando anualmente a adesão de conformidade de produção vegetal primaria (BR 10831).


Contato

Para conhecer mais sobre a Nena Baroni e realizar encomendas, contate-os pelo email rdelgos1@uol.com.br

PRODUTOS
















FONTE: TEIA ORGÂNICA



sábado, 22 de agosto de 2015

Produção orgânica se viabiliza como garantia de soberania alimentar


Ainda modesta no país, atividade agrícola sem agrotóxicos cresce 35% ao ano e se viabiliza também modelo de negócio – solidário, sustentável e lucrativo.
18/08/2015
Por Eduardo Tavares

Vilmar Menegat não tem filhos. Mas se vê como "pai" de uma família numerosa de sementes nativas. São mais de 60 diferentes "filhotes" conservados com carinho em potes de vidro reciclados. Milho, feijão, trigo sarraceno, soja preta, chia são alguns dos nomes dessas crioulas – vistas pelo agricultor como sementes da preservação da biodiversidade do planeta. Vilmar, 42 anos, vive com os pais, descendentes de italianos, em um sítio de 50 hectares no interior de Ipê, município localizado na serra gaúcha, autointitulado "Capital Nacional da Agroecologia". A principal cooperativa da cidade, Eco Nativa, tem 67 produtores orgânicos associados que vendem diretamente em feiras de Porto Alegre e Caxias do Sul – o excedente vai para os supermercados. Ipê e a cidade vizinha Antônio Prado foram pioneiras da produção de alimentos orgânicos no Brasil. Toda semana levam quatro caminhões carregados às feiras de Porto Alegre. Normalmente retornam vazios.
 
Vilmar tem uma família de sementes nativas 
Esses produtores desafiam uma realidade assombrosa: o agronegócio brasileiro é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. A venda de agrotóxicos saltou de US$ 2 bilhões em 2002 para quase US$ 10 bilhões em 2012. O Brasil tem um quinto do mercado mundial, com a marca de 1 milhão de toneladas, equivalente a um consumo médio de 5,2 quilos de veneno agrícola por habitante. Seis empresas dominam o mercado no Brasil: Monsanto, Syngenta, Basf, Bayer CropScience, Dow AgroSciences e DuPont. As seis são também as maiores proprietárias de patentes de sementes transgênicas autorizadas no Brasil. A modificação, em grande parte, torna as plantas de soja, milho e algodão resistentes aos agrotóxicos, exigindo aplicações de doses maiores de veneno para controlar insetos e doenças.
O agricultor é obrigado a comprar o pacote semente/agrotóxico da mesma empresa e não pode ter suas próprias sementes. A legislação brasileira ainda permite a pulverização aérea e a venda de agrotóxicos já proibidos nos Estados Unidos e União Europeia, e oferece incentivos fiscais aos fabricantes. Um exemplo do que o controle do mercado por essas empresas é capaz: a Monsanto, repentinamente, quintuplicou o preço da semente resistente ao agrotóxico glifosato, produzido pela empresa. Agricultores gaúchos que sempre foram favoráveis à difusão da soja transgênica resistente ao glifosato se revoltaram e foram à Justiça contra o pagamento desses royalties.
"O fundamento do agronegócio é que essas seis grandes empresas, através de pequenas modificações genéticas inseridas nas plantas, estão obtendo direito de propriedade sobre aspectos fundamentais para a vida de todos. As plantas transformadas, agora com dono, estão substituindo as plantas naturais, cujas sementes deixam de estar disponíveis", resume o engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo, dirigente da Associação Brasileira de Agroecologia. "Já as sementes transgênicas estão ao alcance de todos que podem pagar por elas. Não é possível aos agricultores familiares, estabelecidos em regiões dominadas pelo agronegócio, optar pelo plantio do milho crioulo, porque os grãos de pólen do milho transgênico alcançam de forma inexorável as lavouras daqueles que insistem em trabalhar com a base genética comum, comprometendo diversidade, autonomia e segurança alimentar dos povos."
O modelo polui o solo, o ar, mananciais de água e lençol freático. Os agricultores padecem de intoxicação aguda, coceiras, dificuldades respiratórias, depressão, convulsões, entre outros males que podem levar à morte. E os consumidores – a maioria da população brasileira – podem ter intoxicação crônica, que demora vários anos para aparecer, resultando em infertilidade, impotência, cólicas, vômitos, diarreias, espasmos, dificuldades respiratórias, abortos, malformações, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer. A Fundação Oswaldo Cruz calcula que cada dólar gasto com agrotóxicos em 2012 corresponda a U$ 1,26 gasto no Sistema Único de Saúde (SUS).
Solução
 
Município de Ipê (RS) é considerado um dos pioneiros na produção de orgânicos 
A alternativa para esse panorama é o fortalecimento da agricultura familiar e do cultivo sustentável. Apesar do aumentos dos investimentos do governo federal nos últimos anos na agricultura familiar, o lobby do agronegócio dificulta avanços mais significativos. A bancada ruralista no Congresso é numerosa (cerca de 170 deputados e 13 senadores), enquanto o universo de 12 milhões de pequenos agricultores conseguiu eleger apenas 12 deputados. O agronegócio produz, principalmente, biocombustível, commodities para exportação e ração para animal, enquanto a agricultura familiar responde por 70% da produção de alimentos. A orgânica ainda é pequena, movimentou R$ 1,5 bilhão em 2013, mas está em expansão de, em média, 35% ao ano desde 2011, favorecida pela regulamentação do setor com a Lei dos Orgânicos.
A produção se concentra nos agricultores familiares organizados em associações ou cooperativas. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também incentiva do cultivo de orgânicos nos assentamentos. A Cooperativa Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), na Grande Porto Alegre, reúne 30 famílias assentadas numa área de 600 hectares, desde 1995. Segundo o diretor Airton Rubenich, o empreendimento produz por mês 40 mil litros de leite, e por ano 268 toneladas de carne de suíno e 2 mil toneladas de arroz. "Tudo orgânico. A maior parte da produção é adquirida pelas prefeituras de São Paulo e Porto Alegre para a merenda escolar e pelo programa Fome Zero."
O agricultor Gilmar Bellé, formado em Economia, dirigente da Cooperativa Aecia e vereador no município de Antonio Prado, vai toda quarta-feira de caminhão a Porto Alegre, levando sua produção e a de outros cooperativados para vender na Feira Cultural da Biodiversidade. Ele é pioneiro na produção de orgânicos. Participou da criação da cooperativa em 1989, junto com outros jovens atuantes na Pastoral da Juventude Rural. A iniciativa é sucesso comercial. Produz 500 toneladas de hortifrutigranjeiros e mais 500 toneladas de alimentos processados nas suas agroindústrias. Além das feiras, vendem para redes de supermercados, como Zaffari e Pão de Açúcar. Negociam tudo o que produzem pelo preço que estabelecem.
As 23 famílias da cooperativa têm bom padrão de vida. A de José Tondello comprova. Seus filhos Jonas, de 23 anos, estudante de Processos Gerenciais, e Neiva, 20 anos, dizem, enquanto colhem moranguinhos, que nem pensam em sair do campo. A mesma opinião tem Maiara Marcon, de 24 anos, que largou o curso de Educação Física para ajudar seu pai na produção de mudas e desenvolver um projeto de ecoturismo no sítio em Ipê.
Biodinâmicos
 
Airton: produção inclui leite, carne suína e arroz | Crédito fotos: Eduardo Tavares/RBA 
Na Fazenda Capão Alto das Criúvas, no município Sentinela do Sul, a 100 quilômetros de Porto Alegre, o engenheiro agrônomo João Volkmann produz, desde 1989, arroz orgânico e biodinâmico. Em 182 hectares, João extrai 5 toneladas por hectare. O arroz Volkmann foi o primeiro a receber certificado de biodinâmico no Brasil; abastece o mercado interno e é exportado para os Estados Unidos, Alemanha, Bolívia e Uruguai. Desenvolvidos por Rudolf Steiner, criador da Antroposofia, os preparados biodinâmicos usados pelo produtor são elaborados a partir de cristais e plantas medicinais, constituindo uma fitoterapia para que as plantas cumpram melhor sua função e tenham mais potencial nutritivo. "No sistema de produção biodinâmico, a propriedade é vista como um organismo agrícola vivo e espiritual. Os objetivos são a cura da terra, o bem-estar dos agricultores, a produção de alimentos sadios para o consumidor e o desenvolvimento da espiritualidade."
Sua fazenda promove cursos e estágios gratuitos. Um dos alunos, João Kranz, é diretor da agroindústria da Cooperativa Ecocitrus, em Montenegro, a 55 quilômetros de Porto Alegre. É a maior produtora brasileira de suco, polpa e óleo essencial de laranja e tangerina e exporta quase tudo para a Alemanha. Das 75 famílias associadas, 12 produzem com preparados biodinâmicos que, segundo Kranz, aumentam a produtividade e propiciam excelente relação custo/benefício.
As redes de supermercados vendem cerca de 70% da produção de orgânicos no Brasil, mas os preços são maiores que os de produtos da agricultura convencional. A alternativa são as feiras livres, onde o produtor vende direto para o consumidor e cria outros vínculos. As feiras estão presentes em todas as capitais brasileiras. Porto Alegre tem sete por semana. A mais antiga é a Feira Ecológica da Redenção – funciona há 25 anos todos os sábados. Anselmo Kanaan, veterinário e coordenador da Feira da Biodiversidade do Menino Deus, constata que tem aumentado o número de consumidores com problemas de saúde que buscam novos hábitos alimentares. A feira tem 24 módulos, e todos têm certificação de produtores orgânicos.
Entre eles está Gilmar Bellé, de Antônio Prado, com um avental, carregando caixas de tomates. Na banca ao lado, Alexandre Baptista, o Ali, é o mais novo produtor, e está iniciando um projeto bem-sucedido e consolidado na Europa e Japão: o CSA (da sigla em ingles A Comunidade Financia o Agricultor). São 30 famílias que pagam mensalmente R$ 93 e recebem toda semana uma cesta com oito produtos diferentes. Dessa maneira é garantido o escoamento da sua produção. A advogada Fabiane Galli é uma das apoiadoras. "As crianças não adoecem e têm muita vitalidade", diz Fabiane, mãe de três crianças e há nove anos consumindo produtos orgânicos.

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