Pesquisadores produziram um tomate transgênico reintroduzindo o gene GLK2 selvagem,
perdido durante o processo de domesticação e melhoramento do fruto – Foto: Marcos Santos/ Jornal da USP
.O gene responsável por amadurecer o
tomate uniformemente dando-lhe um aspecto mais atraente aos olhos do
consumidor é o mesmo que faz dele um fruto com menor valor nutricional.
Tomates vistosos encontrados nas feiras têm menos vitamina E e baixo
nível de açúcares, o que impacta, inclusive, na qualidade e densidade de
polpas, extratos e molhos. Os estudos que evidenciam este fato
envolvendo a transcrição da proteína GOLDEN 2-LIKE 2 (GLK2) foram tema de artigo científico publicado na PlosOne por pesquisadores do Laboratório e Genética Molecular de Plantas do Instituto de Biociências (IB) da USP. Segundo a bióloga Maria Magdalena Rossi,
coordenadora do projeto temático que trabalha com a compreensão e
manipulação do metabolismo vegetal, os pesquisadores produziram um
tomate transgênico reintroduzindo um gene GLK2 selvagem, perdido durante
o processo de domesticação e melhoramento do fruto. A experiência foi
feita com o objetivo de demonstrar que a mutação em GLK2, selecionada
para proporcionar amadurecimento uniforme ao fruto – uma demanda do
setor agroindustrial – comprometeu o sabor e suas propriedades
nutricionais. O tomate com o gene selvagem possui 25% mais vitamina E
que os convencionais, além de polpa mais densa.. Maria
Magdalena Rossi, pesquisadora da USP e coordenadora do projeto temático
GLK2 – gene que afeta a qualidade nutricional dos tomates – Foto:
Marcos Santos/ Jornal da USP.
Ao longo dos anos, o tomate passou por um processo de domesticação e
melhoramento até chegar ao que ele é hoje. Os tomates selvagens,
originários dos Andes Peruanos, são menores e, a maioria, não acumula
carotenoides (compostos de importância nutricional que conferem
coloração laranja/vermelha). E os que possuem carotenoides, não
amadurecem de forma uniforme, sendo o “ombro” ou a parte de cima do
fruto a última a ganhar cor avermelhada. Essa característica nativa
tornou-se um problema para a colheita mecanizada e fez com que os frutos
perdessem apelo do consumidor, relata a professora Magdalena. O foco do trabalho era saber se a mutação em GLK2 introduzida na
maioria das variedades cultivadas hoje estaria afetando os compostos
nutricionais, em particular os açúcares e a vitamina E. E se fosse
comprovada esta hipótese, os pesquisadores consideravam que se o GLK2
fosse reintroduzido ao fruto, se recuperaria o valor nutricional,
explica.
Tomate transgênico tem 25% mais
vitamina E que os convencionais
A solução foi sobre-expressar a proteína, ou seja, desenvolver uma
planta que produzisse fruto com maior quantidade de GLK2. Assim seguiram
as experiências e foram cultivadas mudas transgênicas, mutantes
(tomates convencionais) e outras com o gene selvagem. Depois, em
laboratório, foram feitas análises bioquímicas de amostras das três
variedades. A hipótese se confirmou: “Com a reintrodução do gene GLK2, o
tomate da planta transgênica apresentou tanta vitamina E quanto a
planta selvagem e 25% mais do que os tomates convencionais. Em relação
ao nível de açúcar, a planta geneticamente modificada teve grau Brix
(medida de conteúdo sólidos e solúveis) mais elevado que o tomate
selvagem e o convencional. O grau Brix é utilizado para identificar a
qualidade da polpa do fruto que influi na densidade de extratos, massas e
molhos, parâmetro de valor econômico bastante considerado pela
indústria alimentícia..
As
três variedades cultivadas no Laboratório de Genética Molecular do
Instituto de Biociências da USP – Foto: Marcos Santos/ Jornal da USP
.
A pesquisadora lembra que não é necessário produzir plantas transgênicas
para restaurar o conteúdo nutricional dos frutos para o consumo humano,
e que a planta transgênica produzida no IB serviu apenas de ferramenta
de pesquisa para demonstrar que as modificações feitas nos tomates ao
longo do tempo acabaram prejudicando a qualidade nutricional do fruto.
“Um tomate mais nutritivo pode ser obtido resgatando o GLK2 por meio de
cruzamentos”, reforça.
Mais informações: (11) 3091-7556 ou mmrossi@usp.br, com Maria Magdalena Rossi, ou bslbsl@usp.br, com Bruno Silvestre Lira
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