Novo
método é uma estratégia inovadora que pode reduzir as aplicações de agroquímicos para o controle do ácaro rajado, melhorar o desenvolvimento
das plantas de feijão e de morango, além de ser inofensivo ao meio
ambiente e à saúde humana – Foto: Gustavo-Mansur via Flickr
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Um dos
grandes desafios para os agricultores brasileiros é o controle de pragas
e a estratégia de combate mais utilizada por eles tem sido o uso de
agroquímicos, que podem causar consequências graves ao meio ambiente e
aos seres humanos. Buscando inovações para uma agricultura sustentável,
pesquisadores da USP e da Universidade de Copenhague (Dinamarca)
utilizaram meios naturais para diminuir a população de organismos
considerados prejudiciais às plantações. Inocularam fungos
entomopatogênicos (que podem atacar os insetos) em plantas de feijão e
de morango para combater o ácaro rajado (Tetranychus urticae), que atinge além destas duas culturas mais outras 200 espécies diferentes.
Fernanda Canassa, autora da pesquisa que usa fungos entomopatogênicos para o controle do T. urticae – Foto: Arquivo pessoal
Segundo a autora da pesquisa, a bióloga
Fernanda Canassa, do Laboratório de Patologia e Controle Microbiano de
Insetos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da
USP, em Piracicaba, esses fungos já são utilizados para combater pragas
em outras plantações, porém, são pulverizados sobre as plantas com o
objetivo de atingir determinada praga alvo. No estudo em questão, as
sementes de feijão e as raízes de plantas de morango foram inoculadas
(mergulhadas) em suspensões de fungos. “Este novo método é uma
estratégia inovadora que pode reduzir as aplicações de agroquímicos para
o controle do ácaro rajado, melhorar o desenvolvimento das plantas de
feijão e de morango, além de ser inofensivo ao meio ambiente e à saúde
humana.”
O ácaro rajado ataca as folhas das
plantações provocando amarelecimento destas, reduz capacidade da planta
de realizar a fotossíntese e como consequência há perda acentuada da
produção e da qualidade dos frutos. No morangueiro, por exemplo, quando
há grande infestação, a produção de frutos fica comprometida em até 80%.
O controle da praga é realizado com a aplicação de acaricidas ou
através da liberação de ácaros predadores. Fernanda explica que quando
inoculados, “os fungos dos gêneros Metarhizium e Beauveria (os
“fungos do bem”) são capazes de colonizar o interior dos tecidos das
plantas e conferir proteção contra algumas espécies de pragas”, diz.
Os estudos foram realizados conjuntamente
na Dinamarca e no Brasil. Na Universidade de Copenhague, os testes foram
feitos com feijão cultivado em casa-de-vegetação. A ideia foi analisar
os efeitos da inoculação de sementes de feijão em suspensões de Metarhizium e Beauveria
no crescimento populacional do ácaro rajado, no desenvolvimento e
produção da leguminosa e no comportamento e taxa de predação de uma
espécie do ácaro predador (Phytoseiulus persimilis).
Cultivo do feijão – Foto: Arquivo pessoal Fernanda Canassa
No Brasil, os experimentos foram feitos com
morangos em casa-de-vegetação na Esalq e em quatro áreas de produção
comercial, sendo três em Atibaia, em São Paulo, e uma em Senador Amaral,
Minas Gerais. Nesse caso, as raízes de morangueiro foram inoculadas em
suspensões fúngicas. Aqui, foram avaliados o crescimento populacional do
ácaro rajado, o desenvolvimento das plantas e a produção de frutos. Em
campo, foram também observados os efeitos contra fitopatógenos
(micro-organismos que causam doenças nas plantas) e ácaros predadores
presentes nas áreas experimentais.
Cultivo do morango – Foto: Arquivo pessoal Fernanda Canassa
Mais frutos e leguminosas sem agredir o meio ambiente
Os resultados da pesquisa confirmaram redução significativa na população de T. urticae
e melhor desenvolvimento das plantas. Segundo Fernanda, a produção das
vagens do feijão e dos frutos de morango foram superiores nas plantas
inoculadas em relação às não inoculadas. No campo, foram observadas
populações significativamente menores de T. urticae, menos sintomas de doenças e não houve efeito negativo na população natural de uma espécie de ácaro predador (Neoseiulus californicus).
Como perspectiva prática, Fernanda afirma
que há a possibilidade de, no futuro, haver o desenvolvimento de
produtos comerciais, como um biopesticida à base de fungos
entomopatogênicos para uso como inoculantes. “A associação desses
produtos biológicos com outros inimigos naturais (parasitoides e
predadores) certamente contribuirá para o manejo integrado de pragas de
diversas culturas no campo”, completa.
Mais informações: e-mail fernanda.canassa@usp.br, com Fernanda Canassa
.
Arte: Cleber Siquette/ Jornal da USP
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