Experimentos
conseguiram aumentar a produtividade do gado leiteiro e ao mesmo tempo
minimizar as emissões de gases causadores do efeito estufa.
Por
Editorias: Ciências Agrárias -
Encontrar o equilíbrio entre uma
produção rentável e sustentável. Nessa tênue divisa caminha a produção
agropecuária que tem em seu escopo auxiliar no desafio de alimentar uma
população crescente, preservando as reservas ambientais. E a ciência
pode contribuir. Uma pesquisa
nesta linha foi o pós-doutorado de Marília Barbosa Chiavegato na Escola
Superior de Agricultura de Luiz de Queiroz (Esalq) da USP. Ela analisou a
qualidade da forragem, o desempenho animal e emissões de gases de
efeito estufa em capim-elefante (Cameroon) submetido a estratégias de
pastejo rotativo. “Foram testadas maneiras de manejar os animais nas
pastagens buscando minimizar as emissões de gases de efeito estufa –
metano entérico CH4
– e aumentar a produtividade de leite”. A partir dos resultados dos
experimentos, concluiu-se, entre outros pontos, que um melhor resultado é
obtido ao se colocar os animais nos pastos de capim-elefante (Cameroon)
quando eles atingem altura de 100 cm (correspondente à interceptação de
95% da luz incidente).
Segundo a Marília Chiavegato, o
capim-elefante é bastante utilizado no setor, mas usualmente o foco do
produtor está no período fixo de descanso antes de colocar o animal no
pasto. “Nosso objetivo foi determinar o momento certo de disponibilizar o
pasto para os animais para que as emissões fossem diminuídas e a
produtividade de leite aumentada”.
E estudo foi supervisionado pelo professor Sila Carneiro da Silva, Departamento de Zootecnia da Esalq.
Experimento com rebanhos
A engenheira agrônoma conduziu na
Esalq experimento com vacas leiteiras e alterou o foco para altura do
capim, desconsiderando o período de descanso fixo. “Ocorre que seguindo
um período fixado em dias de descanso, o produtor pode não ter a melhor
forragem dependendo de condições de clima e solo. O pasto vai crescendo e
pode passar do ponto. Por exemplo, pode ficar fibroso e o animal ter
problemas na digestão, o que interfere na produção de leite e nas
emissões de gases do efeito estufa, especificamente do metano entérico,
que é o mais produzido pelos animais ruminantes”, detalha Marília.
Assim, buscando ajustar a dieta, os
pesquisadores conduziram um experimento com dois rebanhos, monitorando
24 vacas leiteiras. “Foi um projeto bem grande, realizado em parceria
com a Embrapa Pecuária Sudeste e Embrapa Meio Ambiente. E concluímos que
é possível obter um equilíbrio entre produção de leite e emissão de
gases”.
De acordo com a pesquisadora, colocar
os animais nos pastos de capim-elefante (Cameroon) quando eles atingem
altura de 100 cm “resultou em forragem de melhor qualidade, e o
resultado foi um aumento de 30% no número de animais por unidade de
área, ganho de três quilogramas por dia de leite por animal e diminuição
em 20% das emissões de CH4
entérico por quilograma de leite produzido”. Desse trabalho resultaram
ainda duas teses. Uma delas conduzida por Camila Delveaux Araujo
Batalha, com orientação do professor Flavio Augusto Portela Santos, e
outra de autoria de Guilhermo Francklin de Souza Congio que, assim como
Marília, foi orientado pelo professor Sila.
Outras teses
A tese da Camila apontou que o manejo
baseado com interceptação luminosa (IL) de 95% permitiu que as vacas
acessassem pastos com maior relação folha/colmo, resultando em uma
forragem com melhor composição química.
“Os animais pastejando forragem
colhida aos 95% IL, ou altura de entrada nos piquetes de 100 cm, tiveram
maior consumo de matéria seca e energia, com maior produção de leite
por vaca e taxa de lotação, resultando em maior produção de leite por
unidade de área. Além disso, a estratégia permite a diminuição das
emissões de metano por consumo de energia líquida quando comparado à
entrada dos animais nos piquetes com máxima IL, ou altura de entrada de
135 cm”, descreve a pesquisadora, que ainda avaliou os efeitos do
período de início pastejo (manhã ou tarde) na produção de leite,
variáveis ruminais e eficiência de uso de nitrogênio (N) de vacas
leiteiras no terço médio da lactação.
Segundo Camila, o maior teor de
carboidratos não fibrosos da forragem ao final do dia possibilitou o
aumento da síntese de proteína microbiana, redução do nitrogênio uréico
no leite e apresentou tendência para aumento da produção de proteína e
caseína do leite em comparação às vacas que iniciaram o pastejo no
período da manhã.
“Ao longo dos estudos desta tese
houve uma melhora no valor nutritivo da forragem adotando o critério de
entrada nos piquetes com 95%IL (ou 100 cm de altura) e a troca de
piquetes no período da tarde. Assim, o pastejo no período da tarde deve
ser adotado juntamente com a altura de 100 cm para entrada dos animais
nos piquetes como ajuste fino em sistemas intensivos de produção de
leite à base de capim-elefante (Cameroon)”, aponta.
Os trabalhos de Guilhermo Congio
corroboram os resultados obtidos por Marília e Camila. “O manejo do
pastejo com base na meta de 95%IL é uma prática ambientalmente segura
que melhora a eficiência de uso dos recursos alocados por meio da
otimização de processos envolvendo plantas, ruminantes e sua interface, e
aumenta a eficiência da produção de leite”.
De acordo com o professor Sila, o uso
do critério de IL para manejar pastos permite que uma série de
processos fisiológicos importantes e determinantes das respostas de
plantas e animais em pastagens sejam integrados em uma simples e única
variável de campo, a altura em que os pastos são mantidos e ou
manejados. “Dessa forma, é possível transferir conhecimento e tecnologia
ao produtor de forma simples, transformando ciência em prática. O bom
manejo do pastejo aumenta a produção e a produtividade animal e reduz a
intensidade de emissão de gases causadores do efeito estufa,
contribuindo para uma pecuária cada vez mais produtiva, eficiente e
sustentável”, considera o docente.
Congio teve ainda como objetivo
descrever e medir a influência de dois horários de alocação de novos
piquetes aos animais sobre a composição química da forragem, consumo de
matéria seca (CMS), produção e composição do leite, e emissões de metano
(CH4)
entérico de vacas HPB × Jersey. “Os resultados indicaram que a alocação
de novos piquetes à tarde pode ser uma estratégia de manejo simples e
útil que resulta em maior partição de nitrogênio (N) para produção de
proteína e menor excreção de nitrogênio ureico no leite. A associação da
meta pré-pastejo de 95% IL (ou altura de 100 cm) e a alocação do
rebanho para um novo piquete à tarde poderia trazer benefícios
econômicos, produtivos e ambientais para a intensificação sustentável de
sistemas baseados em pastagens tropicais”.
Seguindo na linha para continuar
obtendo melhores índices de produtividade de leite, com baixo impacto
ambiental, Marília Chiavegato antecipa futuras pesquisas. “Os próximos
estudos envolverão outras pastagens, a questão da dieta, e também iremos
olhar para as pastagens degradadas, que é um grave empecilho na
produção. Testaremos uma estratégia de recuperação de pastagens
degradadas também buscando aumentar a produtividade e diminuindo o
impacto ambiental”, finaliza.
Com informações da Divisão de Comunicação da Esalq
Nenhum comentário:
Postar um comentário