quinta-feira, 26 de junho de 2014

Araucaria ,árvore adorna paisagem, sequestra carbono e dá retorno financeiro



Planta versátil e plural


Embrapa Florestas pesquisa espécie e difunde programas para tirar o pinheiro da lista das plantas ameaçadas de extinção

Originalmente, 200 mil km² de araucária (Araucaria angustifolia), também conhecida como pinheiro-do-
paraná, distribuíam-se de forma contínua nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e de forma esparsa e irregular na região Sudeste. Hoje, a floresta está reduzida a cerca de 1% de sua área original. É uma das espécies que mais sofreu devastação.
A exploração da espécie aconteceu por causa do avanço da fronteira agrícola, do crescimento das cidades, por possuir madeira de qualidade para fabricação de móveis e ser boa matéria-prima para papel e celulose. Por tudo isso, foi tão explorada que passou a figurar na lista das espécies brasileiras ameaçadas de extinção.
A proteção da lei acabou por prejudicar ainda mais. É o que acredita um grupo de pesquisadores da Embrapa Florestas. No Paraná, por exemplo, só pode ser cortada a araucária que foi comprovadamente plantada - isso quer dizer estar plantada em linha e com plano de manejo registrado no órgão ambiental. 
Araucárias que nascem por regeneração natural são consideradas nativas e não podem ser manejadas ou cortadas. “Mas como é espécie que se regenera bem, ou seja, nasce sozinha sem precisar que alguém a plante, muitas vezes a muda é arrancada logo que nasce, justamente por não poder ser manejada ou utilizada depois”, declara o pesquisador Ivar Wendling. “O produtor rural entende como algo que está tomando espaço na sua propriedade e a araucária se torna árvore indesejada”, completa.

Possibilidade - E se, ao contrário, o produtor rural enxergasse a possibilidade de manejo e renda, mesmo com aquelas que regeneram naturalmente? “Nesse caso, ele vai querer que aquela muda cresça e se desenvolva e pode também investir em plantios”, afirma. “É a melhor forma de garantir o desenvolvimento dos povoamentos de araucária”, avalia a pesquisadora Valderês de Sousa. 
Para isso, os pesquisadores têm-se dedicado a desenvolver tecnologias para que a araucária possa ser conservada e também gerar renda. É o conceito conservar pelo uso que está sendo defendido. “Mesmo com árvores sendo cortadas para usar a madeira, por exemplo, o interesse pela espécie pode crescer tanto que, em pouco tempo, o pinheiro provavelmente não vai mais estar ameaçado de extinção”, acredita Wendling.
Para isso, a pesquisa faz melhoramento genético e manejo florestal, passando pela clonagem e criopreservação (conservação por congelamento), até o incentivo a empresas para pagamento por serviços ambientais prestados por produtores. “Atuamos em diversas frentes com a intenção de viabilizar o uso da espécie e fornecer subsídios para a alteração na legislação”, salienta o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Florestas, Sergio Gaiad.


Árvore adorna paisagem, sequestra carbono e dá retorno financeiro



Preservar a araucária, aumentar a renda, auxiliar na redução do impacto das mudanças climáticas e colaborar com a pesquisa florestal. Um sonho distante? Não para 65 agricultores familiares da Lapa e Irati (PR) e Caçador (SC), que participam do projeto “Estradas com Araucária”, que incentiva o plantio da espécie em divisas de propriedades rurais com faixas de domínio de estradas. 
Os produtores rurais plantam 200 mudas de araucária por propriedade e recebem R$ 5 por cada uma, totalizando renda de R$ 1.000 fixos por ano, compreendendo desde o plantio até as árvores completarem seu desenvolvimento e começarem a produzir pinhão. É o chamado pagamento por serviços ambientais (PSA). “O pagamento é feito por empresas privadas, que utilizam as árvores principalmente para compensar emissões de gases de efeito estufa de suas operações”, explica Edilson Batista de Oliveira, pesquisador da Embrapa Florestas e idealizador do projeto. Em três anos, já foram plantadas cerca de 20 mil mudas de araucária.
Fruto de parcerias com órgãos estaduais e universidades do Paraná e Santa Catarina, o Estradas com Araucária é um dos únicos projetos no país que efetivamente realiza o pagamento por serviços ambientais. “Temos recursos garantidos para os próximos 10 anos para os produtores que já participam, graças à parceria com o grupo DSR”, comemora. Os plantios em fileiras simples nas divisas com estradas se integram bem com as atividades agropecuárias, podendo servir, por exemplo, como moirões vivos e para proporcionar conforto térmico para o gado. Além disso, araucárias plantadas em linhas são excelentes produtoras de pinhão. “Outro resultado positivo é que muitos produtores, por iniciativa própria, têm plantado araucárias nas divisas de suas propriedades pelas vantagens que estas árvores oferecem”, afirma. 
O retorno para a sociedade é garantido: o plantio da araucária também auxilia no paisagismo de estradas, na proteção ambiental, traz benefícios para a fauna local e atua na educação ambiental.


Manejo florestal




Ninguém melhor para conhecer uma árvore do que aquele que a observa e convive com ela. Essa é a premissa do manejo florestal participativo, ponto central do projeto Uso e conservação da araucária na agricultura familiar. Participam produtores de Bituruna, Cruz Machado e São Mateus do Sul (PR), e Canoinhas e Caçador (SC).
”Os produtores estão nos ajudando a identificar árvores com diferentes características: produção precoce e tardia de pinhão, com crescimento superior etc”, diz a pesquisadora e líder do projeto Maria Izabel Radomski. 
Anísio Rosa, assentado rural há 25 anos, conta que colhe o pinhão de árvores que plantou, além das que já existiam originalmente na região. “Estou aos poucos saindo da agricultura e investindo mais em floresta, em especial na araucária e erva-mate”, afirma. “A gente não pode pensar só no imediato, mas também no investimento prolongado”, complementa. 
O produtor está auxiliando na identificação de árvores matrizes com produção de pinhão em diferentes épocas do ano. “Já identificamos cinco árvores-matrizes aqui na minha propriedade. Esse é um jeito de a gente ajudar a ampliar o uso dessa árvore tão importante”, finaliza.

Análise - A análise da distribuição das árvores em áreas de floresta manejadas pelos agricultores é a novidade do projeto. São feitas imagens que funcionam como vista aérea da copa das árvores. Com esse recurso, o produtor entende melhor onde estão os vazios, as clareiras, as sobreposições em sua área. “Assim discute-se espacialmente o manejo, além de fazer a modelagem sem comprometer a área”, ressalta Radomski.
A primeira experiência dessa metodologia acontece em cinco propriedades. Serão discutidos modelos de integração da araucária aos sistemas tradicionais de produção, seja por meio de plantios puros ou sistemas agroflorestais, tendo na araucária fonte de diversificação da renda.

fonte: correio riograndense

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