A adubação dessas hortas é feita de forma limpa, sem o uso de
agrotóxicos, com fertilizantes naturais oriundos de composteiras
formadas com restos de alimentos das próprias casas. “É privilégio ter
acesso a esse tipo de alimento, especialmente em termos de segurança
alimentar, pois o agricultor sabe o que produz e como”, afirma Claudinei
Moisés Baldissera, da Emater.
Baldissera cita exemplos do RS, que tem tradição nesse tipo de cultivo,
com o desenvolvimento de alimentos de cadeias curtas, com redução de
perdas e gastos energéticos. As sementes são quase sempre crioulas.
Muitos optam pela utilização de mudas. “Assim são criadas hortas
comunitárias acessadas por moradores”, observa.
Projeto promove inclusão social em áreas urbanas
No bairro Mathias Velho, o maior de Canoas (RS), a população demonstra
como a cooperação pode trazer excelentes resultados. Uma horta
comunitária de apenas um hectare é utilizada por cerca de 100 famílias,
que conseguem produzir alimentos saudáveis e garantir sua soberania
alimentar.
A horta conta com produção de alimentos bastante diversificada:
hortaliças, leguminosas e grãos, como o milho. Uma parcela é utilizada
pelas famílias da Associação Horta Comunitária União dos Operários, que
foi fundada há mais de 20 anos por moradores do bairro. Cada família
integrante possui o seu canteiro na horta e é responsável pela sua
manutenção.
Outra parte do espaço é utilizada por beneficiários do Programa Bolsa
Família. “No caso deste grupo, o trabalho é realizado de maneira
conjunta e os alimentos são repartidos entre todos, de forma coletiva”,
detalha técnico da Emater de Canoas, Roberto Schenkel. O projeto é
conveniado com a Prefeitura.
De acordo com a assistente social e coordenadora do projeto da horta
comunitária, Genildes da Silva Paim, geralmente são as mães que ajudam
no plantio. “O trabalho em conjunto resulta em uma alimentação mais
balanceada para as famílias, além de diminuir suas despesas”, diz. O
excedente da produção é comercializado em feiras de economia solidária
e, no fim do ano, o valor arrecadado é dividido ou investido em
atividades para o benefício de todos.
Produção sustentável ocupa pouco espaço e harmoniza ambiente
As hortas domésticas aproveitam pequenos espaços e mantêm o equilíbrio
ambiental. Com esse enfoque, técnicos da Emater/RS ensinam a preparar
hortas e a utilizar o Sistema de Produção Agroecológica Integrada
Sustentável (Pais).
O Pais propõe a integração entre hortaliças, frutas, plantas
condimentares e aromáticas, plantas alimentares não convencionais e
animais. Dessa forma, é possível que, com a introdução de galinhas no
sistema, seja utilizado o esterco como adubo. Além disso, a produção de
diferentes hortaliças gera menos dependência de insumos vindos de fora
da propriedade, o que diminui a ocorrência de pragas, diversifica a
produção, incentiva a prática sustentável e permite a produção em
harmonia com os recursos naturais.
O aproveitamento de espaços também permite que qualquer pessoa possa ter
uma horta doméstica. É preciso escolher um local arejado e ensolarado. O
cultivo pode ser feito em vasos, jardineiras, pneus ou canos de PVC,
com 30 cm de diâmetro, cortados ao meio. No caso das hortaliças, elas
precisam de, no mínimo, cinco horas diárias de luz solar, por isso devem
ficar próximas a janelas ou varandas.
Indicação - As hortaliças com raízes curtas são as mais indicadas, como
alface, coentro, cebolinha, salsa, pimentão, couve-folha, tomate-cereja e
morango. Após a semeadura, é necessário que se tenha alguns cuidados
com a umidade da terra (verificar todas as manhãs e controlar para que
não esteja nem seco, nem encharcado), verificar se há presença de
insetos e acompanhar o desenvolvimento das plantas. Segundo a
nutricionista da Emater/RS, Leonice Maria Kreutz, o objetivo é trabalhar
a segurança alimentar e a sustentabilidade. “É preciso saber o que
estamos comendo, como é produzido, se é sem agrotóxico ou não, e se é um
alimento limpo e preparado de forma saudável”, destaca.
Trabalho é multidisciplinar
Nas cidades, ainda existem famílias de baixa renda e em situação de
insegurança alimentar e nutricional que buscam melhor condição de vida
com o apoio da Emater. Uma das saídas são as hortas. Elas contribuem
para a subsistência da família, com produtos frescos e saudáveis, e
funcionam como terapia ocupacional. O trabalho multidisciplinar dos
escritórios também envolve cursos, oficinas, receitas fáceis e cartilhas
educativas sobre alimentação saudável, higiene e aproveitamento
integral dos alimentos. Em feiras, como a Expointer, a Emater mantém
espaço cativo detalhando forma de cultivos, insumos, compostagem e
outras informações para hortas urbanas.
Para as famílias beneficiadas, não tem nada melhor que ter uma horta do
lado da porta de casa. O que não é consumido, é distribuído ou até
levado para vender. “Uma das principais vantagens da horta doméstica é o
aproveitamento de qualquer espaço e, dessa forma, a produção de
alimentos saudáveis, sem a presença de agrotóxicos”, frisa o
extensionista da Emater Mário Jesus Padilha.
CORREIO RIOGRANDENSE 23 DE ABRIL
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