Mais um artigo sobre esta valiosa planta forrageira e recuperadora de solos. No sítio em Montenegro RS, ela contínua crescendo e melhorando o solo no meio do pomar de citrus. (vejam as fotos) .Estou vendendo algumas mudas de amendoim forrageiro para localidades próximas a porto alegre.
atenciosamente
alexandre panerai
VALOR NUTRITIVO DO FENO DE AMENDOIM FORRAGEIRO EM DIFERENTES IDADES DE CORTE.
Publicado o: 28/08/2012
Qualificação:
Autor : GISELE MACHADO, ROSANA APARECIDA POSSENTI, EVALDO FERRARI JÚNIOR, VALDINEI TADEU PAULINO
Sumário
RESUMO: Realizou-se
este trabalho visando à avaliação do teor de matéria seca em relação ao
tempo de desidratação em galpão, o teor de proteína bruta, de matéria
mineral, de fibra em detergente neutro e ácido e a digestibilidade in
vitro da leguminosa Arachis pintoi cv. Belmonte, em três idades de
corte. O experimento foi instalado em área de 0,5 ha-1, já implantado
com Arachis pintoi cv. Belmonte no Instituto de Zootecnia, Nova Odessa,
São Paulo. O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso,
com seis repetições. Os tratamentos avaliados foram três idades de
corte (30, 60 e 75 dias de crescimento). Avaliou-se o teor de matéria
seca do Arachis pintoi cv. Belmonte, com amostras coletadas nos tempos
0, 2, 4, 6, 8, 24 e 30 horas de desidratação em galpão. As
características da forragem avaliadas foram fibra em detergente neutro e
fibra em detergente ácido que se elevaram com o avanço da idade da
planta. Houve decréscimo nos teores de proteína bruta e de matéria
mineral. As idades de corte não tiveram efeito sobre a digestibilidade
in vitro. Houve aumento no teor de matéria seca com o avanço na idade
dos cortes, sendo que a perda de água ocorreu com maior velocidade nas
primeiras horas de desidratação. O feno da leguminosa apresentou ótimas
características nutricionais, com elevados teores de proteína bruta e
teores de fibra adequados, sendo uma excelente opção de forrageira para
ruminantes, mesmo nas idades de corte mais avançadas.
A determinação da composição químicobromatológica e
da digestibilidade de forrageiras permite caracterizar a qualidade dos
alimentos utilizados em dietas para ruminantes. Em países tropicais,
como o Brasil, é de grande importância o conhecimento das forragens
consumidas pelos animais, pois na maioria das vezes, os sistemas de
produção adotados em explorações pecuárias são realizados à pasto.
A conservação das forrageiras é de extrema
importância já que pode garantir boa qualidade nutricional do alimento
mesmo em períodos secos. A fenação torna-se uma opção e tem como
princípio básico a conservação do valor nutritivo da forragem por meio
da rápida desidratação. REIS et al. (2001) afirmam que o uso do feno
como sistema de conservação de forragem tem como vantagens: a
possibilidade de armazenamento por longos períodos sem perdas no valor
nutritivo, a produção e o uso em grande e pequena escala, a
possibilidade de realizar processo mecanizado ou manual, além de
permitir que as exigências nutricionais de diferentes categorias animais
sejam atendidas.
O uso de leguminosas nas pastagens tropicais melhora a
qualidade nutricional da forragem, eleva a fertilidade do solo, pela
introdução de nitrogênio através da fixação biológica, reduzindo os
custos com fertilizantes, e por possuírem teor mais elevado de proteína
que as gramíneas tornam-se importante fonte proteica suplementar aos
animais (BENEDETTI, 2005).
Leguminosas consorciadas com outras forrageiras como
as gramíneas têm sido utilizadas na substituição de rações comerciais
para a suplementação de animais (OLTRAMARI e PAULINO, 2009). Sua
utilização como fonte de alimento para os ruminantes pode ser explorada
no pastejo direto, em forma de feno ou silagem, sendo que a
caracterização química dessas plantas pode auxiliar na escolha do melhor
uso das mesmas para alimentação animal (GODOY, 2007).
Dentre as espécies leguminosas, o amendoim forrageiro
(Arachis pintoi Krap. & Greg.) destaca-se pela alta produção de
forragem com boa qualidade, excelente adaptação a solos ácidos com baixa
fertilidade e/ou drenagem deficiente, além de persistência, alta
capacidade de fixação de nitrogênio e a densa camada de estolões
enraizados que protegem os solos de efeitos erosivos das chuvas fortes.
Possui alta tolerância ao pastejo devido a localização de seus pontos de
crescimento que, geralmente, encontram-se bem protegidos e
diferentemente de outras leguminosas tropicais que têm seus pontos de
crescimento removidos em pastejo intenso. Devido a sua tolerância ao
sombreamento tem sido muito estudada e o seu uso indicado em sistemas
silvipastoris. Esta leguminosa apresenta resultados para digestibilidade
da matéria seca entre 60% a 70%, com teores de proteína de 13% a 25%.
Sendo alta a aceitabilidade dos animais por essa leguminosa, que em
pastejo selecionam o A. pintoi durante todo o ano (SILVA, 2004). Sua
grande produção de forragem de boa qualidade confere-lhe importância
crescente entre as alternativas de melhorar a qualidade dos pastos
cultivados nos trópicos (LADEIRA et al., 2002).
FERNANDES et al. (2002) avaliaram a qualidade da
forragem de A. pintoi em área de várzea e encontraram valores médios
para proteína bruta e digestibilidade in vitro de 21,88% e 66,48%,
respectivamente. Segundo os autores, que avaliaram diversos cultivares
de Arachis, o cv. Belmonte foi uma das forragens que apresentou melhor
qualidade.
Com este trabalho objetivamos avaliar os teores de
matéria seca em relação ao tempo de desidratação, de proteína bruta, de
matéria mineral, de fibra em detergente neutro e fibra em detergente
ácido e a digestibilidade in vitro da leguminosa Arachis pintoi cv.
Belmonte em três idades de corte.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado em área de 0,5 ha-1, já
implantado com Arachis pintoi cv Belmonte no Instituto de Zootecnia,
Nova Odessa, São Paulo. O solo do local classificado como Argissolo
Vermelho-amarelo, recebeu adubação com superfosfato simples (400kg
ha-1), cloreto de potássio (250kg ha-1) após corte de uniformização
realizado com cegadeira de forragem em 07 de novembro de 2007.
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos
ao acaso com seis repetições. Foram estudadas três idades de corte (30,
60 e 75 dias de crescimento), além de curva de desidratação. Os cortes
para avaliação das forragens foram realizados nos dias 10/12/ 2006,
10/01/2007 e 25/01/2007. O corte para avaliação da forrageira para
produção de feno foi realizado por volta das 09:00 horas, com
moto-ceifadeira com lâmina frontal, regulada para altura de corte de 5
centímetros do solo aproximadamente. O material ceifado de cada parcela
foi levado para um galpão coberto sem paredes laterais e espalhado sobre
superfície cimentada para secagem. Escolheu-se utilizar o galpão para o
processo de secagem, visto ser este período muito sujeito a mudanças
climáticas.
Para determinação da curva de desidratação foram
tomadas amostras a cada 2 horas a partir do momento do corte e no dia
posterior, a saber: 09:00, 11:00, 13:00, 15:00 e 17:00 horas e 9:00 e
15:00 horas do dia posterior, as quais foram pesadas e colocadas em
estufa para determinação de matéria seca a 65º C. Em todas as amostras
foram estimados os teores de matéria seca (MS), matéria mineral (MM),
proteína bruta (PB), determinados de acordo com a A.O.A.C. (1995), fibra
em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA), segundo
metodologias descritas em SILVA e QUEIROZ (2009); digestibilidade in
vitro da matéria seca (DIVMS) conforme TILLEY e TERRY (1963).
Os dados foram submetidos à análise de variância e de
regressão, por meio do PROC GLM e PROC REG, respectivamente, do
programa Statystical Analyses System (SAS, 2006).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observou-se efeito quadrático para a variável matéria
seca nas diferentes idades de corte em relação ao tempo de
desidratação, havendo maior perda de água nas primeiras horas após o
corte (Tabela 1). No processo de fenação as primeiras horas são
essenciais, pois, quanto mais rápido ocorrer a secagem, menor será a
perda do valor nutricional da forrageira.
Tabela 1.
Resumo das análises de variância e de regressão do teor de matéria seca
de Arachis pintoi cv. Belmonte em diferentes idades de corte, em função
do tempo de desidratação em galpão
Na Figura 1 observa-se o efeito quadrático ocorrido
sobre o teor de matéria seca em relação ao tempo de desidratação de 30,
60 e 75 dias de corte. A exposição em galpão para produção de feno
mostrou-se eficiente e econômica na elevação do teor de matéria seca, já
que a rápida desidratação ocorrida no amendoim forrageiro evidencia a
importância do uso desta leguminosa. É uma boa alternativa para
utilização em regiões que apresentam precipitações acima das médias
normais esperadas, bem como em épocas que ocorrem incidências de chuvas
atípicas e além do normal, para uma determinada região.
Na Tabela 2 é apresentado o resumo das análises de
variância e de regressão para os teores de proteína bruta, fibra em
detergente neutro, fibra em detergente ácido, matéria mineral e
digestibilidade in vitro em relação às diferentes idades de corte. A
variável digestibilidade in vitro não apresentou regressão
significativa, levando a crer que não há grandes variações na
digestibilidade, independentemente da idade de corte, demonstrando,
assim a importância do acúmulo de biomassa nas diferentes idades de
corte.
Para os teores de proteína bruta e fibra em
detergente neutro o modelo matemático que melhor se ajustou foi o
quadrático, a 5% de probabilidade. No entanto, observamos efeito do
modelo linear (P<0 de="" mat="" mineral.="" o="" p="" para="" ria="" teor="">
0>
Observamos que o teor de proteína bruta sofreu
decréscimo com o aumento da idade da forrageira, estando de acordo com
VAN SOEST (1994) que cita odeclínio nos nutrientes da planta com o
avançar da idade. Os valores encontrados demonstram o elevado teor
protéico desta leguminosa, caracterizando-a como boa opção de forrageira
na alimentação de ruminantes. Comparando com dados da literatura,
oamendoim forrageiro apresenta teor de proteína superior ao das
gramíneas utilizadas como forrageiras, e superior também ao teor de
outras leguminosas, corroborando com pesquisa de FERNANDES et al. (2000)
que observaram média de 21,88% de PB. No entanto, demonstraram- se
superiores aos encontrados por LADEIRA et al. (2002), BAPTISTA et al.
(2007) e SILVA et al. (2009) com teores médios de 14,3%, 17,64% e 18,0%,
respectivamente. Superiores também aos resultados encontrados para
estudo com soja perene, avaliada por PADUA et al. (2006), obtendo teores
médios de 16,46%.
Figura 1.
Teores de matéria seca (%) do feno de Arachis pintoi cv. Belmonte em
função do tempo de desidratação em galpão (horas). Barras verticais
indicam o erro padrão (n=6, *P<0 .05="" p="">
0>
Tabela 2.
Resumo das análises de variância e de regressão dos teores de proteína
bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido
(FDA), digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) e matéria
mineral (MM) do feno de Arachis pintoi cv. Belmonte, em função das
idades de corte, com base na matéria seca
Os teores de FDN e FDA, como esperado, se elevaram
com a idade da planta, dificultando o consumo e a digestibilidade da
forragem, já que as mesmas expressam parte da fração indigestível
contida na parede celular vegetal: a lignina. SILVA et al. (2009)
encontraram valores semelhantes aos deste estudo com teores de 46,9%
para FDN e 30,7% para FDA. AFFONSO et al. (2007) obtiveram resultados
inferiores para FDN e semelhantes para FDA com idade de corte de 183
dias, ou seja, bem acima das idades avaliadas neste estudo. O teor de
fibra da forragem é determinante na qualidade da dieta fornecida ao
animal e tem a função de proteger o conteúdo celular e dar sustentação
às plantas (CARVALHO et al., 2003). Baixo teor de fibra em forrageiras
significa maior consumo, devido ao menor enchimento físico do rúmen, e
também maior digestibilidade pelo fato desta fração possuir a maior
parte dos componentes que não são digeridos (LADEIRA et al., 2002).
Portanto, torna-se necessário o seu conhecimento para a escolha da
melhor idade de corte para que seu fornecimento aos animais não limite o
consumo.
No presente estudo foram verificados maiores
concentrações de minerais do que os obtidos por BAPTISTA et al. (2007) e
MORGADO et al. (2009) respectivamente de 7,5 e 7,9%. Em relação as
outras leguminosas a cv Belmonte apresentou maiores teores de matéria
mineral. PADUA et al. (2006) avaliando feno de macrotiloma (Macrotyloma
axillare) kudzu tropical (Pueraria phaseoloides), e soja perene
(Neonotonia wightii) com médias de 4,3%, 5,5% e 5,1%, respectivamente.
CONCLUSÕES
O feno da leguminosa Arachis pintoi cv. Belmonte
apresentou ótimas características nutricionais, com elevados teores de
proteína bruta e teores de fibra adequados, sendo uma excelente opção de
forrageira para ruminantes, mesmo nas idades de corte mais avançadas.
O processo de fenação mostrou-se eficiente na conservação da forragem, mantendo o valor nutritivo do material fenado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A. O. A. C. Official methods of analysis. Washington: Association of Official Analytical Chemists, 1995. 1051p.
AFFONSO, A. B.; FERREIRA, O. G. L.; MONKS, P. L.;
SIEWERDT, L.; MACHADO, A. N. Rendimento e valor nutritivo da forragem
outonal de amendoim-forrageiro. Ciência Animal Brasileira, v. 8, n. 3,
p. 385-395, 2007.
BAPTISTA, C. R. W.; MORETINI, C. A.; MARTINEZ, J. L.
Arachis pintoi, palatabilidade, crescimento e valor nutricional frente
ao pastoreio de equinos adultos. Revista Acadêmica, v. 5, n. 4, p.
353-357, 2007.
BENEDETTI, E. Leguminosas na produção de ruminantes nos trópicos. Uberlândia: EDUFU, 2005. 118p.
CARVALHO, F. A. N.; BARBOSA, F. A.; McDOWELL, L. R. Nutrição de bovinos a pasto. Belo Horizonte: PapelForm, 2003. 438p.
FERNANDES, F. D. et al. Produção e qualidade da
forragem de Arachis spp. em área de várzea em Planaltina, DF. In:
REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 39., 2002, Recife.
Anais... Recife: SBZ, 2002. Disponível em:
GODOY, P. B. Aspectos nutricionais de compostos
fenólicos em ovinos alimentados com leguminosas forrageiras. 2007, 90p.
Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz".
Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2007.
LADEIRA, M. M. et al. Avaliação do feno de Arachis
pintoi utilizando o ensaio de digestibilidade in vivo. Revista
Brasileira de Zootecnia, v. 31, n. 6, p.2 350-2356, 2002.
MORGADO, E. S. et al. Digestão dos carboidratos de
alimentos volumosos em eqüinos. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 38,
n. 1, p. 75-81, 2009.
OLTRAMARI, C. E.; PAULINO, V. T. Forrageiras para
gado leiteiro. Nova Odessa: Instituto de Zootecnia, 2009. (Produção
Técnica do Curso de produção animal sustentável).
PADUA, F. T . et al. Produção de matéria seca e
composição químico-bromatológica do feno de três leguminosas forrageiras
tropicais em dois sistemas de cultivo. Ciência Rural, v. 36, n. 4, p.
1253-1257, 2006.
REIS, R. A.; MOREIRA, A. L.; PEDREIRA, M. S. Técnicas
para produção e conservação de fenos de forrageiras de alta qualidade.
In: SIMPÓSIO SOBRE PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE FORRAGENS CONSERVADAS, 1.,
2001, Maringá. Anais... Maringá: UEM/CCA/DZO, 2001. 319p.
SAS Institute, SAS/STAT version 9.1, SAS Institute, Cary, NC, SAS Institute, 2006.
SILVA, D. J.; QUEIROZ, A. C. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos,. 3. ed. Viçosa: UFV, 2009. 235p.
SILVA, M. P. Amendoim forrageiro - Arachis pintoi.
Fauna e Flora do Cerrado, Campo Grande, Novembro 2004. Disponível em:
SILVA, V. P. et al. Digestibilidade dos nutrientes de
alimentos volumosos determinada pela técnica dos sacos móveis em
equinos. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 38, n. 1, p.82-89, 2009.
TILLEY, J. M. A.; TERRY, R. A. 1963 A two stage
technique for the in vitro digestion of forage crops. Journal Brithish
Gassland Society, v. 18, p. 104–111.
VAN SOEST, J. Nutritional ecology of the ruminal. Ithac: Cornel University Press, 1994. 476p.
Uma pastagem que fecha mais rápido o solo e que se adapta bem a terrenos fracos é encontrada por acaso, em Dona Emma (SC). A variedade também apresentou alto teor de proteína, no primeiro teste. Confira!
Quer aprender a fazer mudas de pastagem perene de verão? Extensionita da Epari ensina a produzir mudas de capim Kurumi e Pioneiro. O método, desenvolvido pela Epagri, traz ótimos resultados no campo.
Teor proteico elevado contribui para ganho de peso
Marina Salles
Há oito anos, Francisco Militão Matheus Brito começou a ter
problemas com morte súbita de pasto em suas propriedades em Alta
Floresta (MT), onde cultivava braquiária brizanta, conhecida como
braquiarão. “No início era um ponto que secava aqui, outro ali, formava
uma reboleira, mas o problema se agravou”, diz.
Passados quatro anos, o pecuarista precisou intervir. Iniciou um
processo de reforma de pastagens quando já tinha em torno de 70% da área
sob estresse. De acordo com o que se apurou na época, a morte súbita de
pasto tem causas múltiplas, entre elas a ação de fungos, encharcamento
da terra, superpastejo e mudança de uso do solo. Segundo o Instituto
Centro de Vida, ONG que presta entre outros serviços assistência técnica
a produtores que precisam reformar a pastagem, diante do
comprometimento de 60% da área é necessário iniciar a substituição do
capim.
No caso de Francisco, outra motivação para trocar o brizantão pelo
mombaça, capim do gênero Panicum, mais resistente, foi a intenção de
aumentar a produtividade. Nos piores estágios de degradação, seu pasto
não suportava mais de 0,7 unidades animais/ha. Hoje, ele conta que já
alcança a média de 2,5 UA/ha nas áreas ainda em processo de reforma.
Feita gradativamente, a implantação do mombaça custou R$ 2 mil por
ha, incluídos custos com adubação e calcareamento. Não estão
contabilizados aí gastos com infraestrutura. “O mombaça é mais exigente
quanto aos nutrientes do solo, mas nos trouxe bons resultados e, agora,
queremos seguir investindo no uso sustentável da pastagem”, afirma. O
plano do criador é fazer testes com consórcios das gramíneas humidícola e
estrela africana com amendoim forrageiro. O objetivo é diversificar as
opções de pastagem e não ficar refém só de um capim.
“Consórcios de leguminosas com gramíneas são velhos conhecidos de
produtores do Acre”, comenta o pesquisador da Embrapa, Judson Ferreira
Valentim. No Estado, o surto da morte do braquiarão veio há mais tempo
e, hoje, o amendoim forrageiro já é adotado em mais de 138 mil hectares
de pastagem. A puerária, outra leguminosa, em mais de 450 mil ha. “Temos
que estar preparados para o ataque seja de fungos, cigarrinhas ou
lagartas. Fazer isso é ter alternativas para não perder todo o capim”,
diz o pesquisador da Embrapa Acre.
Os benefícios do consórcio vão além. “Ele reduz o risco de ataque por
pragas e doenças, mas também aumenta a qualidade da forragem, é
suprimento nitrogenado para o capim e ainda encurta o tempo de
terminação dos animais, diminuindo suas emissões de metano”, afirma
Judson. Com a implantação de consórcios assim, o aumento na produção de
carne e leite por hectare pode chegar a 40% em relação ao manejo
tradicional.
A principal explicação é a melhora na nutrição animal. Por mais bem
manejado que seja, o capim mombaça não apresenta teor de proteína bruta
maior que 14%. Nas condições ambientais do Acre, o amendoim forrageiro
cultivar Belmonte tem teor proteico entre 20 e 25%. Os animais engordam
mais rápido e são abatidos mais cedo. “Enquanto em pasto puro o criador
abate um boi Nelore após 36 meses, a pasto consorciado consegue abater
aos 30. Se for cruzamento industrial, o tempo cai de 30 para 24 meses na
média”, afirma Judson.
A alta digestibilidade da leguminosa reduz as emissões de metano em até
30%/kg/carne produzida e influencia no ganho de peso dos animais, diz o
pesquisador. Na safra 2013/2014, com o amendoim forrageiro presente em
10% da área de pasto de humidícola, observou-se um incremento de
produtividade de 18% no rebanho que ficou em pasto consorciado em
relação àquele que ficou em pasto puro, só de gramínea. Em termos reais,
o valor saltava de 278 kg/ha, em 101 dias de experimento, para 330
kg/ha. Já na safra 2014/2015, com a leguminosa tendo ocupado 25% da
área, o incremento de peso foi de 45% na comparação do primeiro com o
segundo grupo. O recomendado pela Embrapa é que a proporção entre capim e
leguminosa seja de 70% um, 30% outro, respectivamente.
As combinações de espécies são muitas. Judson explica que o amendoim
forrageiro, por exemplo, é mais indicado para a prática da pecuária
intensiva do que a puerária. Por ser rasteiro, o amendoim resiste mais
ao pisoteio e vai bem em sistemas rotacionados com taxas de lotação de 2
a 2,5 UA/ha. Também é uma planta que gosta de sombra e se desenvolve
melhor nos períodos de seca quando consorciada ao capim. “A puerária já é
diferente. Mais indicada para sistemas de pastejo contínuo com lotação
de 1,5 UA/ha, é uma trepadeira e, se não resiste tanto ao pisoteio, por
outro lado, pode ser consorciada com capins mais altos”, diz o
pesquisador.
Para fazer a manutenção do pasto, principalmente na pecuária intensiva,
o manejo do consórcio depende muito mais da altura do capim que de um
tempo fixo de descanso dado aos piquetes (ver tabela abaixo). Indicadores para uso consorciado de gramíneas com o amendoim forrageiro em sistemas de pasto rotacionado
Tipo de capim
Altura para entrada
dos animais
Altura para saída
dos animais
Brachiaria humidicola
30 cm
10-15 cm
Brachiaria brizantha
40-45 cm
20-25 cm
Estrela africana
40 cm
20 cm
Massai
60-70 cm
30 cm
O uso de variadas espécies é um trunfo com vantagens ilimitadas na mão
do pecuarista. “O capim humidícola aguenta bem o pisoteio, o solo
infértil, mas é menos nutritivo. Pode, então, ser uma boa opção para
colocar vacas secas. No caso de uma boiada de terminação, vale a pena
investir num Panicum, seja tanzânia, mombaça, ou cultivares novas, como zuri ou tamani”, indica Judson.
amendoim forrageiro
Quanto aos cuidados com o solo, as leguminosas acabam fazendo a maior
parte do trabalho. Fixadoras de nitrogênio, adubam o pasto e promovem
uma economia considerável. “Em uma pastagem com 30% de amendoim
forrageiro consorciado você consegue incorporar até 60kg/N/ha/ano, o
equivalente a 133 kg de ureia por ha”, afirma Judson. “Sem falar que
elas não trazem despesas extras com máquinas ou operadores para fazer
essa aplicação”, completa. Custos
Corrigido pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), o custo de um
hectare de pastagem consorciada (implantada em 2012) seria hoje de
aproximadamente R$1.500. O valor compreende gastos com correção do solo,
adubação, mão de obra e insumos. Plantio das leguminosas
Em se tratando do amendoim forrageiro, o mais comum é que o produtor
adquira as mudas e faça o cultivo em pequenos viveiros e sua posterior
distribuição na pastagem.
Espécies comumente dispersadas por sementes podem ser plantadas a lanço
ou direto no solo. Outra possibilidade é fazer a implantação com a
ajuda do gado. “Para o produtor que não tem máquinas ou quer diminuir
custos, uma prática válida é misturar sementes na ração. Ainda no rúmen
dos animais acontece a quebra da dormência da semente e quando o gado
defeca faz a distribuição delas ao acaso”, explica o pesquisador.
Havendo um pastejo uniforme das áreas, a técnica se mostra eficiente.
Pesquisador da Embrapa Acre destacou que área consorciada
produziu 11 arrobas a mais em um ano na comparação ao
piquete com Humidicola solteira
CRIADO EM 07/10/2021 ÀS 15H28 - ATUALIZADO EM 07/10/2021 ÀS 11H41
Episódio da série especial Embrapa em Ação que foi ao ar nesta quinta, dia 07, mostrou na prática os benefícios que o consórcio de capim com o amendoim forrageiro traz para dentro das porteiras das fazendas de pecuária do Acre. O sistema, conforme resumiu pesquisador da Embrapa Acre, pode dobrar o ganho de peso do gado na época seca e incrementar a produção em 11 arrobas por hectare ao ano.
Uma das áreas em que os efeitos desta integração estão sendo testados é na propriedade do pecuarista Luiz Augusto Ribeiro do Valle, que chegou ao Acre no início dos anos 80 e migrou do cultivo da seringueira para a bovinocultura de corte.
Conforme destacou o produtor, o sistema viabilizou a criação de animais meio-sangue na Região Norte. “Nós fazemos matriz Nelore e em cima dessa matriz
por conta dessa peculiaridade que você observou, a gente introduziu lá atrás,
inicialmente, puerária como consórcio de gramínea e leguminosa e depois,
sempre junto com a Embrapa, em parceria, […] a gente começou a introduzir
o amendoim forrageiro”, confirmou Luiz.
Leia mais em https://www.girodoboi.com.br/noticias/consorciar-capim-com-amendoim-forrageiro-pode-dobrar-ganho-de-peso-na-seca/
forneço mudas de amendoim forrageiro
Na propriedade de Luiz, o consórcio do capim é feito com a cultivar BRS Mandobi, desenvolvida pela Embrapa com foco na facilidade de propagação, por semente – ao passo que outras variedades de amendoim forrageiro só podem ser plantadas por muda.
“Nós passamos por um período de estabelecimento de uns dois anos com 7% da área com amendoim forrageiro. […] Nesse primeiro trabalho que foi feito, de avaliação e desempenho, a gente já conseguiu o diferencial de 10% de aumento no ganho de peso. […] Com três anos, a gente já estava aqui com 11% a 12% de amendoim forrageiro na área. Esse desempenho estava subindo, chegando em 15%. A gente estava no caminho certo. Mas a gente chegou num momento até 2015 que essa composição estabilizou e de certa forma estagnou. E a gente percebeu […] que os animais estavam superpastejando as linhas de plantio e o amendoim forrageiro não estava conseguindo se estabelecer passados aqueles 10%. Nós mudamos o manejo, foi o momento que nós colocamos o pastejo rotacionado. Nós começamos a dar descanso para as áreas. Com esse descanso, de um ano para outro, já subiu para 17%. Em 2016 foi a 23% e, de lá para cá, está estabilizado em 25% de amendoim na área. […] Em termos de produção média geral, nós conseguimos 11@ a mais por ano no pasto consorciado em relação a um pasto de Humidicola pura, sem amendoim”, apresentou o pós-doutor em agronomia Maykel Sales, pesquisador da Embrapa Acre.
Sales listou a série de benefícios que o consórcio traz para a propriedade, que ajudam a explicar o resultado final de 11 arrobas a mais produzidas no ano, exaltando também a redução do custo com fertilização da área. “A gente sabe que esse amendoim forrageiro nessa área está fixando algo em torno de 120 a 150 kg de nitrogênio por hectare. São mais ou menos seis a sete sacos de ureia por hectare/ano que ele está jogando naturalmente nessa fazenda. É mais um cálculo: quanto custam sete sacos de ureia por ano? Esse é o retorno que oamendoim forrageiro te dá. […] Em termos de desempenho, houve 47% de aumento no ganho em média. Durante a época da chuva, 30%, durante a época da seca, quase 100% de aumento do ganho de peso. Quase que dobra o desempenho dos animais na época da seca quando eles estão nesse ambiente. É um ambiente que traz uma oferta de forragem de melhor qualidade e aumenta a oferta também por causa da adubação nitrogenada. Nesse ambiente nós conseguimos aumentar a taxa de lotação em 20% em relação ao pasto que não tem amendoim. Nós conseguimos aumentar a produção porque esses animais, nesse ambiente, consomem mais alimento, mais pasto, mas o pasto produz mais, então a gente não teve redução de lotação, e sim aumento. Esse é uma compensação natural”, analisou o pesquisador.
DICA DO PRODUTOR
O pecuarista Luiz Augusto Ribeiro do Valle aconselhou os produtores que querem buscar soluções similares para os seus sistemas produtivos. “A pesquisa é uma parceira do produtor e ele deve ir atrás. Não fique esperando ela vir até você, não! Vá atrás que você vai obter conhecimentos muito bons para você aplicar na sua propriedade”, declarou.
Pasto de pequeno proprietário nas
imediações da Floresta Nacional do Tapajós, Pará, com a área de
preservação ao fundo; na região amazônica, 60% a 80% das áreas
desmatadas são ocupadas por pastagens – Foto: Leandro Fonseca de
Souza/Cena-USP
.
Recuperar a cobertura vegetal de
áreas degradadas utilizadas como pastagem tem potencial de reduzir o
impacto da atividade pecuária na emissão de gases de efeito estufa, em
especial o metano. A conclusão é de pesquisa do Centro de Energia
Nuclear na Agricultura (Cena) da USP, em Piracicaba, realizada na
Amazônia, região onde é comum a substituição da floresta por pastos. O
estudo traz indícios de que áreas com a vegetação degradada, com falhas
na cobertura de pasto, emitem mais metano e mostra que medidas adotadas
para melhorar a qualidade do solo favorecem o crescimento das plantas
usadas para pastagem e reduzem a presença de micro-organismos que
produzem metano.
O metano é um dos gases de efeito estufa, responsáveis pelo
aquecimento global. “Quando há a floresta, esse gás é retirado da
atmosfera e retido abaixo das árvores, por meio de micro-organismos
presentes no solo”, afirma o biólogo Leandro Fonseca de Souza, que
realizou a pesquisa. “Com o desmatamento e a substituição da floresta
por pastos, há emissão de metano para a atmosfera, produzido inclusive
por micro-organismos, o que agrava o efeito-estufa”.
O biólogo foi até a região amazônica para medir as emissões e o fluxo
de gases no solo, comparando o que acontece na floresta e nas áreas de
pastagem. “Os solos amazônicos são naturalmente ácidos. A queima da
floresta e incorporação das cinzas no solo reduzem essa acidez”, relata.
“A medição aconteceu em áreas diferentes, no Pará e em Rondônia. Foram
feitas várias medições ao longo do ano, para avaliar os períodos de seca
e de chuva. Ao mesmo tempo, houve a coleta de amostras de solo para
analises microbiológicas, que serviram para entender o comportamento dos
micro-organismos em cada uma das áreas.”
A análise das emissões de gases confirmou que a floresta retira o
metano da atmosfera, o qual é retido por micro-organismos que ficam no
solo, e também demonstrou a importância dos micro-organismos junto às
raízes das gramíneas neste processo. “O estudo identificou quais são
esses micro-organismos e como muda sua abundância com as mudanças no
ambiente”, explica Fonseca de Souza. “O objetivo é entender como o
manejo da pastagem pode reduzir as emissões de metano.” .
Ao
fundo, área vizinha à propriedade de pastagem, com uma mata secundária,
já explorada; recuperação de áreas degradadas exige melhoria da
qualidade do solo e recolocação de plantas – Foto: Leandro Fonseca de
Souza/Cena-USP
.
Manejo de pastagem
+ Mais
Infografia: Jornal da USP
. .
Maisinformações: e-mail leandro_fonseca@usp.br, com Leandro Fonseca de Souza
Elevação
da temperatura média pode fazer com que as forrageiras fiquem mais
fibrosas e menos proteicas, quando o gado precisará de mais alimento e
produzirá mais metano
Para
manter o mesmo nível de produção, os pecuaristas precisarão
complementar a alimentação do plantel e regar as pastagens, com impacto
significativo nos custos de produção – Foto: Divulgação via Fapesp
O aumento das temperaturas médias esperado para as próximas décadas,
de no mínimo 2º C, pode ter um impacto inesperado no bolso dos
pecuaristas. Novos estudos sugerem que um dos efeitos da mudança no
clima será a redução na qualidade da pastagem, que se tornará menos
proteica, mais fibrosa e, portanto, de digestão mais demorada.
Como consequência, disseram os pesquisadores, o gado precisará
consumir mais alimento para alcançar o peso de abate e passará a
produzir mais metano, um potente gás causador do efeito estufa.
As conclusões têm como base experimentos feitos pela equipe de Carlos
Alberto Martinez y Huaman, professor do Departamento de Biologia da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da
USP. Participaram do estudo pesquisadores do Instituto de Botânica de
São Paulo, da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, da
Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Jaboticabal e do Instituto
Federal Goiano, campus Rio Verde.
“Buscamos entender como as pastagens forrageiras responderão
fisiológica e produtivamente às condições futuras do clima, que envolvem
aumento na temperatura média e na concentração de dióxido de carbono
(CO2), além de redução da disponibilidade de água”, disse Martinez à
Agência Fapesp.
As principais espécies vegetais cultivadas são classificadas em C3 e
C4, nomenclatura relacionada à via usada pela planta para fixar carbono
na fotossíntese. Soja e feijão, por exemplo, usam a via C3. Gramíneas
tropicais, como cana-de-açúcar, milho e forrageiras, desenvolveram um
sistema complementar à C3 chamado de via C4.
Na tentativa de determinar com precisão as mudanças fisiológicas que
as forrageiras deverão sofrer no futuro, Martinez evitou realizar
experimentos em estufas – locais considerados limitados para fazer as
simulações necessárias.
Como explicou o pesquisador, as plantas em estufas são cultivadas em
vasos e, desse modo, têm o crescimento das raízes limitado.
Consequentemente, crescem menos do que em campo aberto. Outras variáveis
impossíveis de serem reproduzidas na estufa são a intensidade e a
variação da luminosidade e da temperatura, causadas pela ação do vento
sobre as folhas, além da profundidade do solo, no qual as raízes podem
penetrar à procura de água.
“Para alguns experimentos, o modelo de vasos é válido, mas para
simulações de clima futuro também são necessários experimentos de campo.
Conseguimos aquecer as plantas ao ar livre com aquecedores
infravermelhos. Além disso, enriquecemos o ar com CO2 em ambiente
aberto, graças a uma infraestrutura denominada Trop-T-FACE, instalada em
campo com apoio do Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças
Climáticas Globais”, disse Martinez.
Experimentos em campo aberto – Foto: Divulgação via Fapesp
Os experimentos foram realizados em campo aberto, onde as plantas
estão submetidas a condições normais de temperatura, luminosidade, vento
e umidade e o solo é profundo, podendo as raízes se estender em busca
de água.
A espécie empregada foi o capim-mombaça (Panicum maximum),
uma forrageira tropical de origem africana que realiza fotossíntese pela
via C4. Amplamente usado no Brasil como pasto, por sua alta qualidade
nutricional, o capim-mombaça é comum em São Paulo e em outros Estados.
“Colocamos aquecedores infravermelhos em 16 canteiros, aquecendo as
plantas 2º C acima da temperatura ambiente. Os equipamentos são capazes
de detectar a temperatura ambiente a cada 15 segundos, ajustando os
valores de acordo com a necessidade”, disse Eduardo Habermann, bolsista
da Fapesp e primeiro autor dos trabalhos publicados nas revistas Physiologia Plantarum e Plos One.
“O experimento foi realizado em novembro de 2016, período de grande
calor. A temperatura ambiente estava em 38º C e, nos canteiros, chegou a
40º C”, disse Habermann.
Ao longo do experimento, os pesquisadores aferiram as condições de
trocas gasosas das plantas com a atmosfera, as condições da
fotossíntese, a fluorescência da clorofila, a produção de folhagem
(biomassa) e a qualidade nutricional do pasto.
“Vimos que, em condições de seca, as plantas tentam economizar a água
do solo. O controle é feito pelos estômatos, pequenas estruturas
presentes nas folhas, que se abrem para absorver o CO2. Mas, ao fazê-lo,
perdem água. Com pouca água no solo, a raiz se ressente. A planta fecha
os estômatos e transpira menos. O efeito da economia de água é a
redução da fotossíntese, com a consequente piora na qualidade da
planta”, disse Habermann.
Além do apoio da Fapesp, o trabalho também contou com financiamento
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e
da Agência Nacional de Águas (ANA).
Folhas mais fibrosas
Outras respostas do capim-mombaça ao estresse hídrico, detectadas
pelo estudo, foram o aumento na quantidade de fibras das folhas e a
redução no teor de proteína bruta – fatores que representam perda de
qualidade nutricional.
Os pesquisadores estimam que, nas condições futuras de temperatura, o
aumento na quantidade de fibras resultará em uma digestão mais difícil e
demorada para o gado. A consequência direta será a produção de maior
quantidade de metano pelos animais.
“O gado precisará consumir mais pasto até atingir o peso de abate.
Para manter o mesmo nível de produção, os pecuaristas precisarão
complementar a alimentação do plantel e regar as pastagens, com impacto
significativo nos custos de produção”, disse Martinez.
Outra alternativa, nem sempre possível, é a expansão das áreas de
pastagem, o que pode favorecer o desmatamento ou fazer com que o
produtor abra mão de outros cultivos.
A equipe também realizou experimentos com plantas C3, como a leguminosa estilosantes campo grande (uma mistura das espécies Stylosanthes capitata e Stylosanthes macrocephala),
forrageira rica em proteína e que executa a função de capturar o
nitrogênio da atmosfera e fixá-lo biologicamente no solo, reduzindo os
investimentos em insumos agrícolas, contribuindo para a redução dos
impactos ambientais e possibilitando maior ganho de peso aos animais.
“Os experimentos de mudanças climáticas realizados com a leguminosa
C3 deram o mesmo resultado. A qualidade nutricional é reduzida”, disse
Martinez.
O artigo Increasing atmospheric CO2 and canopy temperature
induces anatomical and physiological changes in leaves of the C4 forage
species Panicum maximum
(https://doi.org/10.1371/journal.pone.0212506), de Eduardo Habermann,
Juca Abramo Barrera San Martin, Daniele Ribeiro Contin, Vitor Potenza
Bossan, Anelize Barboza, Marcia Regina Braga, Milton Groppo e Carlos
Alberto Martinez, está publicado em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0212506.
O artigo Warming and water deficit impact leaf photosynthesis and decrease forage quality and digestibility of a C4 tropical grass
(https://doi.org/10.1111/ppl.12891), de Eduardo Habermann, Eduardo
Augusto Dias de Oliveira, Daniele Ribeiro Contin, Gustavo Delvecchio,
Dilier Olivera Viciedo, Marcela Aparecida de Moraes, Renato de Mello
Prado, Kátia Aparecida de Pinho Costa, Marcia Regina Braga e Carlos
Alberto Martinez, está publicado em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/ppl.12891. Peter Moon / Agência Fapesp
Em períodos de grandes discussões sobre os cuidados e a preservação do meio ambiente, novas fontes de energia renovável ganham destaques e são alvos de pesquisa. O capim-elefante, além da aplicação na nutrição para bovinos , principalmente para vacas em período de lactação, é também uma opção de fonte alternativa de energia. Originário da África, ele possui grande variabilidade genética e o seu alto rendimento e qualidade são um dos aspectos mais estudados na cultura.
Nutrição animal
De acordo com a Embrapa Gado de Leite, com sede em Minas Gerais, o capim-elefante é utilizado como base da alimentação de vacas leiteiras mantidas a pasto durante o período de menor crescimento do capim, pois há necessidade de suplementação com volumosos, como o capim-elefante verde picado.
Devido ao alto potencial de produção de matéria seca, o capim-elefante é a forrageira mais utilizada em sistemas de produção de leite e na produção de capineiras. O produtor pode produzir silagens de média a boa qualidade com o uso deste tipo de cultura. Depois do milho e o sorgo, o capim-elefante se encaixa no grupo de forrageiras tropicais com melhores características para ensilar por conta da alta produtividade, do elevado número de variedades, grande adaptabilidade, facilidade de cultivo, além da boa palatabilidade e aceitabilidade pelos animais.
Fonte de energia renovável
Por ser uma espécie de rápido crescimento e de alta produção de biomassa vegetal, o capim elefante apresenta um alto potencial para uso como fonte alternativa de energia. Além disso, deve-se destacar que o capim elefante, por apresentar um sistema radicular bem desenvolvido, poderia contribuir de forma eficiente para aumentar o conteúdo de matéria orgânica do solo, além de aumentar o sequestro de carbono.
O pesquisador e entusiasta do uso de capim-elefante como fonte de energia renovável, Vicente Mazzarella, afirma que a gramínea semelhante à cana-de-açúcar foi trazida da África há cerca de um século e, desde então, tem sido usada como alimento para o gado. O interesse energético surgiu depois que sua alta produtividade tornou-se uma característica reconhecida por pesquisadores mundo afora.
“Enquanto que para produzir celulose e carvão vegetal o eucalipto fornece 7,5 toneladas de biomassa seca por hectare ao ano, em média, e até 20 toneladas nas melhores condições, o capim alcança de 30 a 40 toneladas”, afirmou o técnico que estuda a espécie desde 1991 no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), do governo do Estado de São Paulo.
De acordo com Mazzarella, o cultivo da planta ainda é muito incipiente no Brasil, mesmo sendo o país que possui as melhores condições climáticas e geográficas para o plantio da espécie. “A produção em nosso país ainda é muito tímida, por inúmeras razões. Uma delas é que ninguém quer correr o risco. Além disso, as agências de fomento não completaram o ciclo, mas não tenho dúvidas de que a implantação vai levantar voo, minimizando erros e atuando de forma planejada”, garante o especialista.
Existem mais de 200 variedades de capim elefante e as plantações variam de lugar para lugar. O ideal é que o interessado procure saber quais são as variáveis mais adequadas a cada microrregião do país para só então iniciar o plantio. “As variedades dependem muito das condições edafoclimáticas. Para essas e outras análises existem pequenos projetos-piloto que estudam a variedade aconselhável para determinada região”, esclareceu Vicente.
Cultivo
Normalmente a primeira colheita pode ser feita seis meses após o plantio – o que permite duas colheitas anuais - mas também pode ser feita somente após um ano. “Ainda não existem dados práticos e econômicos em uma escala maior que comprovem qual o tempo ideal para colheita. Se são colheitas semestrais ou anuais, mais uma vez vai depender da região e respectivas condições climáticas e resposta do solo”, explicou Mazzarella.
Como pesquisador, Vicente desenvolveu trabalhos em parceria com a Embrapa Seropédica e o Instituto de Zootecnia do Estado de São Paulo, todos voltados a estudos sobre bioenergia. “Creio que em 2013 a questão do capim elefante deve deslanchar, pois não dá pra esperar que os outros avancem, temos que entrar nesse barco agora e fazer um trabalho bem feito”, pontuou.
Promissor
O pesquisador garante que essa fonte renovável tem o potencial de suprir entre 5% e 10% do consumo energético brasileiro nos próximos dez anos. Segundo pesquisas desenvolvidas por Mazzarella e as instituições parceiras, a produtividade energética do capim elefante - que cresce 5 metros ao ano – é muito superior ao da cana-de-açúcar e tem um bônus: capta ainda mais carbono da natureza.
E não para por aí, o futuro do capim-elefante mostra-se tão promissor a ponto de a planta poder competir com o eucalipto no segmento de carvão. “Já existem projetos em andamento para sua utilização como lenha em fábricas de cerâmica e como substituto do carvão mineral”, afirma. Para finalizar, Mazzarella aponta mais uma vertente para o uso da espécie. “Ele [capim] pode ser usado ainda em usinas termelétricas, em indústrias e o bagaço serve para a produção de álcool”, conclui.
Outro lado da moeda
De olho nos benefícios da espécie, o proprietário Sérgio Fernandes, da Cerâmica União, localizada em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, começou a cultivar o capim elefante há quatro anos, na queima de biomassa vegetal para produção de tijolos. Ele conta que viu no capim uma alternativa à queima de carvão e fonte de energia renovável. Por outro lado, no meio do caminho o empresário descobriu uma grande dificuldade no cultivo da planta. “Aqui ainda estamos em processo de implantação, pois descobrimos que a densidade do capim elefante é muito baixa e como o calor é gerado a partir do peso, a baixa densidade não ajuda muito. Por isso aqui na minha cerâmica eu misturo o capim elefante com o cavaco de madeira”, esclarece.
Densidade baixa e a dificuldade no cultivo
Ainda de acordo com o produtor é necessário que um trabalho mais intenso seja feito e pesquisas apontem o caminho do êxito na utilização do capim elefante. “Hoje nossa maior dificuldade em relação ao plantio é a densidade muito baixa que a planta possui. Outro ponto negativo é a falta de equipamentos adequados para colher o capim. Para isso é imprescindível o uso de maquinário agrícola adequado que faça a colheita de maneira que facilite o trabalho de secagem”, pontuou.
O capim elefante também possui alto teor de umidade e por essa razão precisa de um trabalho de desidratação muito bem elaborado – o que pode gerar gastos excessivos. “Se for gerar energia para tirar toda a água dele o custo pode ficar muito alto”, analisa Fernandes em referência aos aspectos da espécie que ainda precisam ser estudados com certa cautela.
O empresário é dono de uma propriedade no interior do Rio de Janeiro com cerca de 30 hectares plantados com capim elefante. “Precisamos de uma área maior plantada, mas também tenho necessidade que os estudos em torno da espécie se multipliquem e que as conclusões sejam positivas para quem tem interesse em cultivar. Precisamos de uma segurança maior”, afirma.
Plantio recomendável?
Questionado se recomenda o plantio de capim elefante, apesar de todos os aspetos positivos apresentados ao longo da matéria e do futuro um tanto quanto promissor que ele apresenta, Sérgio é enfático. “O plantio ainda não é aconselhável, pois é necessário calcular os riscos. Eu acredito que se conseguirmos aumentar a densidade da espécie o resultado será rentável, pois eu já investi muito dinheiro no cultivo e até agora minhas experiências não tiveram resultados tão lucrativos”, garante.
O produtor deixa claro que, apesar das características positivas e sustentáveis que o capim elefante oferece, os estudos são recentes e as formas de plantio ainda não apresentaram nenhuma descoberta sobre o ganho de densidade – isso tornaria o plantio extremamente recomendável – pois é a densidade que produz o calor necessário para gerar a energia que se espera da gramínea.
Em suma, tanto o pesquisador Vicente Mazzarella quanto o produtor Sérgio Fernandes, concordam em um aspecto: O Brasil ainda levará algum tempo para aprimorar a cultura e viabilizar o plantio.
Em área degradada, pesquisadores conseguiram aumento de 46% no ganho de peso médio por novilha usando a tecnologia
Marina Salles
Foto:Embrapa Pecuária SudesteAmpliar fotoFeijão guandu é opção
Imagine uma área de braquiária com alta degradação, em solo arenoso, infestada de grama batatais e outras ervas daninhas. Que eficiência ela teria como pastagem? Pois foi numa área assim que dois anos depois de plantar feijão guandu BRS Mandarim, a pesquisadora Patrícia Anchão, da Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP, conseguiu alcançar lotação média de 3,4 novilhas/ha e ter ganho de peso médio diário de 429 g/ animal.
De acordo com ela, enquanto isso, a área de controle registrou lotação de 1, 8 novilhas/ha e proporcionou ganho de peso médio diário de 293 g/dia no final do biênio.
O incremento no ganho de peso com os animais tratados no pasto consorciado foi de 46%. E os benefícios foram além.
Consórcio x pastagem degradada - “Com a implantação da leguminosa, foi possível ainda dispensar o uso de fertilizantes nitrogenados, que são aqueles de maior custo para o produtor”, afirma a pesquisadora.
Ela explica que isso acontece porque o guandu é capaz de fixar nitrogênio no solo e funciona muito bem como adubo verde, especialmente após o segundo ano de sua introdução na pastagem.
“No primeiro ano o que a gente tem é o efeito da leguminosa por si só”, conta Patrícia, “que embora seja positivo, vai se potencializar no segundo ano, com a massa verde que fica depositada no pasto”, diz. A matéria orgânica enriquece o solo, enquanto o guandu rebrota.
No entanto, a dispensa no uso de fertilizantes se restringe aos nitrogenados. “Para ter sucesso no uso da tecnologia, é preciso fazer uma calagem e correção dos níveis de fósforo e potássio no solo”, afirma Patrícia. “A recomendação fica a cargo de um engenheiro agrônomo, sempre mediante análise de solo”.
Responsável pelo desenvolvimento da cultivar da Embrapa, o pesquisador Rodolfo Godoy lembra de outros benefícios: “Por ter um sistema radicular grande e profundo, ela também melhora as características físicas do solo, e permite que nutrientes que não estariam disponíveis para outras espécies passem a estar”, diz, o que se estende durante o período de sua permanência, que é de até três anos.
Segundo Patrícia, também vale destacar que a leguminosa permite a eliminação do gasto com sal mineral proteinado. “Além de melhorar o desempenho de ganho de peso dos animais, ela supre a demanda por esse tipo de suplemento e permite ao produtor fazer uso do sal mineral comum”, afirma a pesquisadora.
No balanço geral, com a cultivar sendo plantada em consórcio com uma pastagem de braquiária Marandu e decumbens o resultado foi de ganho de peso, por novilha, de 475 kg/ha/ano no primeiro ano e de 661 kg/ha no ano seguinte. Isso variou de 306 kg/ha/ ano para 244/kg/ ha/ ano, no caso da pastagem degradada. “A diferença é maior no segundo ano por conta daquele efeito da massa sobre o solo”.
Para Patrícia, mesmo tendo sido desenvolvida como técnica para recuperação de pastagens, a tecnologia pode ser aplicada para proporcionar redução de custos e aumento de produtividade em sistemas semi-intensivos.
Abaixo, conheça a época adequada para fazer a semeadura do guandu e o passo a passo da técnica de manejo: