Você sabia que das 20 frutas mais comercializadas no Brasil, apenas três são nativas de nosso país?
É contraditório pensar que um dos países mais ricos em biodiversidade
do mundo consuma tão poucas frutas nativas. O impacto disso é a ameaça
de extinção de diversas espécies, que aos poucos, estão sendo esquecidas
da memória e desaparecendo do mapa.
Para o botânico Ricardo Cardim, é preciso mudar a concepção cultural e
agronômica: “Podemos começar a divulgar e cultivar nas cidades os
frutos nativos, de forma a resgatarmos sabores esquecidos e ajudarmos no
reequilíbrio ecológico urbano. Plantar árvores frutíferas nativas da
região é um método eficaz de atrair a biodiversidade e tornar as cidades
mais acolhedoras”, diz o botânico em seu blog, Árvores de São Paulo.
Abaixo, Cardim lista dez frutas nativas dos biomas ameaçados Cerrado e
Mata Atlântica que poderiam entrar para o cardápio (e jardins) dos
brasileiros.
1. Gabiroba (Campomanesia pubescens)
Também conhecida como guabiroba, guavira ou araçá-congonha, é
um arbusto com fruto arredondado, de coloração verde-amarelada, com
polpa esverdeada, suculenta, envolvendo diversas sementes e muito
parecido com uma goiabinha. Ela pode ser consumida ao natural ou na
forma de sucos, doces e sorvetes e ainda serve para fazer um apreciado
licor. A gabiroba pode ser encontrada nos cerrados das regiões Sul,
Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. No sul do Brasil, na região norte e
oeste do Paraná além da variedade de cerrado, dissemina-se também a
variedade arbórea que alcança vários metros de altura, produzindo frutos
com sabor e aparência da variedade de campo, porém quando maduros
apresentam a cor amarela.
2. Tarumã-do-cerrado (Vitex polygama)
Também conhecida como tarumã-bori, tarumã-de-fruta-azul, maria-preta, marianeira, velame-do-campo ou mameira,
a árvore, proveniente do bioma do Cerrado, possui de seis a 20 metros
de altura. Seus frutos, adocicados e com sabor agradável, assemelham-se a
uma azeitona-preta e fazem a alegria de pássaros como periquitos e
papagaios. Podem ser utilizados para fazer bebidas como vinho, licor e
sucos, ou doces, como geleias ou caldas. Esta espécie é muito eficiente
se usada na recomposição de áreas degradadas e pode ser utilizada no
paisagismo de praças e jardins públicos.
3. Perinha-do-cerrado (Eugenia klotzschiana)
Também conhecida como pêra do campo, perinha do campo, cabacinha ou cabamixá-açú,
o arbusto é nativo dos campos e Cerrados de praticamente todo o Brasil.
Os frutos podem ser utilizados em sucos batidos com leite ou para fazer
sorvetes, bolos e geleias. A planta, dificilmente encontrada nos dias
de hoje, não pode faltar em projetos de recuperação dos Cerrados.
4. Grumixama (Eugenia brasiliensis)
Também conhecida como cumbixaba, ibaporoiti ou cereja-brasileira,
a árvore de até 15 metros de altura é nativa da Mata Atlântica e era
encontrada desde a Bahia até Santa Catarina. Seus frutos, que atraem
muitos pássaros, possuem até duas sementes, e seu sabor assemelha-se
bastante com o da cereja.
5. Uvaia (Eugenia uvalha)
A árvore, também conhecida por uvalha ou uvaieira,
tem de seis a 13 metros de altura. A espécie, proveniente da Mata
Atlântica, ocorre nos estados de Paraná, Rio Grande do Sul, Santa
Catarina e São Paulo. A uvaia tem aroma suave e agradável e possui alto
teor de vitamina C (até quatro vezes mais do que a laranja). É muito
utilizada para fazer sucos e largamente cultivada em pomares domésticos.
Sua casca, na cor amarelo-ouro, é ligeiramente aveludada e sua polpa
muito delicada. Um dos grandes problemas desta fruta é que ela amassa,
oxida e resseca com facilidade, por isso, não é muito encontrada em
supermercados.
6. Jerivá (Syagrus romanzoffiana)
Também chamado baba-de-boi, coqueiro-jerivá, coquinho-de-cachorro e jeribá,
a árvore é uma palmeira nativa da Mata Atlântica. Sua fruta, conhecida
como “coquinho”, é amarela, ovalada e não passa de três centímetros de
comprimento. O “coquinho” é muito apreciado por animais, como papagaios,
maritacas ou mesmo por cachorros. A fruta também pode ser consumido
pelos humanos batendo-se com pedras para alcançar as suas amêndoas, o
que era feito frequentemente por crianças no passado.
7. Sete-capotes (Campomanesia guazumifolia)
Também conhecido por guabiroba verde, sete-cascas, sete-capas, sete-casacas, capoteira, araçá-do-mato ou araçazeiro-grande,
o sete-capotes é uma importante árvore frutífera silvestre, com frutos
doces e comestíveis, apreciados pelo homem e pela fauna. Seu fruto, que
quando maduro possui coloração verde-clara, pode ser consumido
naturalmente ou aproveitados em doces e na elaboração de sucos e
sorvetes (neste caso deve-se separar a polpa da semente). A árvore, que
mede até seis metros de altura, é muito bonita, especialmente pela
exuberância de suas flores e folhas.
8. Cambuci (Campomanesia phaea)
O cambucizeiro, árvore da Mata Atlântica originalmente encontrada na
Serra do Mar, chegou a estar em perigo de extinção pelo uso excessivo
de sua madeira e pelo alto crescimento urbano da região. O cambuci era
muito abundante na cidade de São Paulo, chegando a dar nome a um de seus
bairros tradicionais. Após um forte movimento para trazer o cambuci de
volta para a região (veja aqui), a espécie está sendo preservada.
O nome cambuci é de origem indígena e deve-se ao formato de seus
frutos, semelhantes a potes de cerâmica, que recebem o mesmo nome. Ricas
em vitaminas, suas frutas têm um perfume intenso e adocicado, mas seu
sabor é ácido como o do limão. Por essa razão, poucos apreciam
consumi-la in natura. A fruta pode ser utilizada na produção de geleias,
sorvetes, sucos, licores, mousse, sorvete, bolo, além do tradicional
suco.
9. Cagaita (Eugenia dysenterica)
A cagaiteira é uma bela árvore, proveniente do Cerrado, que pode
chegar a ter oito metros de altura. Seu fruto é pequeno com casca
amarelo esverdeada, polpa suculenta e ácida e apresenta até quatro
sementes no seu interior. Apesar de seu agradável sabor ácido e textura
macia, a cagaita não deve ser consumida em grandes quantidades, pois tem
um forte efeito laxativo. Além das atribuições medicinais e de produzir
um suco muito saboroso, o fruto, rico em vitamina C e antioxidantes, é
utilizado na fabricação de sorvetes. A polpa, com ou sem a casca, é
energética, com baixo teor calórico.
10. Melancia-do-cerrado (Melancium campestre)
Também conhecida como melancia do campo, melancia-de-tatu, cabacinha do campo, cabacuí ou caboi-curai,
esta espécie rasteira que já foi muito comum no Cerrado, hoje já é
considerada rara. Seu fruto se assemelha muito com o da melancia por
fora, porém ela possui uma penugem em sua casca. Os frutos possuem casca
grossa, com aproximadamente 90 sementes envoltas numa polpa gelatinosa
amarelada (veja aqui).
Embora seja ácida, a fruta pode ser consumida in natura, ou utilizada
em forma de geleias e sucos. A planta não pode faltar em projetos de
reflorestamento de ambientes campestres dos Cerrados pois seus frutos
são muito apreciados pelos animais.
Que tal plantar um pé de uma árvore frutífera dessas em seu quintal? No site Colecionando Frutas você consegue encontrar estas e outras espécies nativas difíceis de serem encontradas.
Mayra Rosa – Redação CicloVivo
Arquiteta
e urbanista com formação em desenvolvimento sustentável pela University
of New South Wales, em Sidney, Austrália. Fundou o CicloVivo em 2010
com a proposta de falar sobre sustentabilidade de forma divertida e
descomplicada. Acredita que o bom exemplo é a melhor maneira de
influenciar pessoas e que a simplicidade é a chave para vivermos em
harmonia.