A crise de abastecimento de água, pela qual ainda passam algumas
regiões brasileiras, sempre foi o alvo de debates ao longo dos últimos
anos, mas outro “personagem” da agricultura ganhou força em 2015, em um
ano escolhido, internacionalmente, para discutir seus problemas: o solo.
Diante da preocupação, especialistas têm se dedicado a propor
alternativas, principalmente para recuperar áreas degradadas de
pastagens. Uma delas é a adubação verde.
Pesquisadora da Embrapa Cerrados (Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária), Arminda Moreira de Carvalho explica que o
método corresponde ao uso de plantas de cobertura em sucessão, rotação
ou em consórcio com outras culturas, com o intuito de proteger a
superfície, mantendo e melhorando as propriedades físico-hídricas,
químicas e biológicas do solo, em todo seu perfil.
“Partes das plantas usadas podem ser aplicadas para outros fins,
como: produção de sementes e de fibras e na alimentação animal.”
Para aplicá-la no campo, Arminda explica que é necessário o cultivo
de plantas específicas para a recuperação e/ou manutenção da matéria
orgânica e, consequentemente, das propriedades físicas, químicas e
biológicas do solo, ou seja, “buscando a melhoria da qualidade do solo e
sustentabilidade dos agroecossistemas”.
A adubação verde, informa a especialista, pode ser aplicada em
qualquer tipo de cultivo (lavoura). “Desde que o uso de associação de
cultivos (rotação, sucessão e consórcio), que constitui a adubação
verde, aumente a diversidade de espécies, a quantidade e a qualidade dos
resíduos vegetais e da matéria orgânica, além da agregação do solo,
minimizando os impactos ambientais negativos de agroecossistemas”,
alerta.
VANTAGENS
Segundo a pesquisadora da Embrapa Cerrados, os adubos verdes
colaboram para a elevação da diversidade de espécies e de resíduos
vegetais em sistemas agrícolas. Além disso, o incremento de nitrogênio
no solo, seja por meio da fixação biológica seja mediante incorporação
de biomassa, principalmente no caso das leguminosas, “é uma das
contribuições de maior relevância dos adubos verdes, proporcionando
economia de fertilizantes nitrogenados”.
Outra vantagem é o incremento da matéria orgânica do solo e melhoria
de sua qualidade, com consequente potencial para estocar C e N no solo;
recuperação e/ou a manutenção da matéria orgânica e consequentemente,
das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.
“A adubação verde ainda promove o controle de insetos-pragas,
doenças, fitonematoides e plantas invasoras, reduzindo as aplicações dos
vários pesticidas. Também serve para controlar a erosão – hídrica ou
eólica, minimizando as perdas de solo e, consequentemente, de água,
nutrientes e matéria orgânica.”
Arminda também destaca que o produtor poderá reduzir ou até
mesmo eliminar a aplicação de pesticidas e fertilizantes. “Ou seja, a
adubação verde tem impactos ambientais e socioeconômicos altamente
positivos, diminuindo os riscos de poluição do solo e dos mananciais
hídricos.”
Em contrapartida, informa a pesquisadora da Embrapa Cerrados, os
efeitos negativos do método podem ocorrer caso não sejam respeitadas a
compatibilidade de cultivos entre as culturas e espécies vegetais para
adubação verde como, por exemplo, “utilizar plantas em consórcio,
rotação e/ou sucessão que sejam suscetíveis aos mesmos patógenos, como
pragas, doenças ou nematoides”.
INVESTIMENTO
Como a maioria das mudanças relacionadas à sustentabilidade no campo,
o produtor rural terá de investir. “Seria o custo adicional, porque,
apesar dos inúmeros benefícios econômico-ambientais, principalmente, com
a redução da aplicação de fertilizantes nitrogenados, esta prática
consiste em um sistema complexo no qual há necessidade de o agricultor
dispor de aporte financeiro para realizar os investimentos iniciais com
sementes, implantação e manejo das espécies vegetais cultivadas com
objetivo da adubação verde”, salienta Arminda.
Para começar a utilizá-la, também é necessário passar por uma
capacitação profissional: “Esta prática consiste em um sistema mais
complexo no qual há necessidade de o agricultor dispor de aporte
financeiro e estrutura extra para implantação e manejo das espécies
vegetais cultivadas com objetivo da adubação verde”.
LIVRO COM ORIENTAÇÕES
Em julho do ano passado, a Embrapa lançou o livro “Adubação Verde e
Plantas de Cobertura no Brasil: Fundamentos e Prática – Volume 1”, de
autoria do pesquisador da Embrapa Solos (RJ), Luis Carlos Hernani, em
parceria com outros sete pesquisadores. Na obra, são abordadas variadas
espécies vegetais com propriedades que trazem melhorias para o meio
ambiente. Também já foi lançado o volume dois, que dá continuidade ao
mesmo assunto.
De acordo com a Embrapa, entre os temas da publicação estão a
história do uso da adubação verde no Brasil, a situação atual e
perspectivas futuras da técnica, os cuidados com as espécies, os
exemplos de rotação de culturas, melhoramento genético e aspectos
ecofisiológicos. O livro também inclui informações técnicas e práticas
sobre semeadura e manejo da biomassa de adubos verdes.
Outro aspecto importante é a evolução do conceito da adubação verde e
suas modalidades, o ciclo das espécies, os sistemas de cultivo e a
recuperação de área degradadas. Além de aspectos nutricionais e fatores
químicos, físicos e biológicos, que condicionam a fertilidade do solo e o
crescimento vegetal, são tratados de forma bastante abrangente em
vários capítulos. Capítulos específicos tratam da fitossanidade,
incluindo pragas, doenças, fitonematoides e plantas daninhas.
Para adquirir os dois livros que tratam da adubação verde, acesse: http://vendasliv.sct.embrapa.br.
Por equipe SNA/RJ