O solo argiloso, formado por pelo menos 30% de argila, apresenta desafios e vantagens. Sua baixa circulação de ar e dificuldade para drenar a água podem causar encharcamento em períodos chuvosos e formação de uma camada compactada em épocas de seca. Apesar disso, esse tipo de solo é rico em nutrientes, extremamente fértil e amplamente utilizado na agricultura. Se você planeja cultivar plantas nesse solo, algumas espécies se adaptam muito bem a esse terreno. Confira nossas sugestões em meio a esse artigo.
5 plantas ideais para solo argiloso
Amarílis (Hippeastrum hybridum)
Também chamada de açucena ou flor-da-imperatriz, essa planta ornamental tem flores vistosas em diversas cores e é fácil de cuidar.
Milho (Zea mays)
Esse cereal nutritivo é perfeito para quem deseja incluir uma planta de uso culinário no quintal. Pode ser cultivado a partir das sementes crioulas ou compradas e completa o ciclo entre 90 e 120 dias, formando novas espigas para consumo.
Mosquitinho (Gypsophila paniculata)
Com pequenas e delicadas flores brancas, essa planta ornamental é ótima para trazer beleza e leveza ao ambiente.
Hemerocallis (Hemerocallis spp.)
Muito parecidas com os lírios, as diversas variedades trazem cor e beleza aos jardins. Pode ser usada como forração ou bordaduras em jardins tropicais.
Árvores frutíferas em geral
Assim como as plantas de lavoura, as árvores frutíferas apreciam os solos argilosos para crescerem, em função da boa disponibilidade de nutrientes e condições para pleno desenvolvimento.
Cuidados com o solo argiloso
Cuidar de um solo argiloso requer atenção especial para garantir que ele seja saudável e produtivo. Esse tipo de solo tem partículas finas que retêm muita água, mas podem dificultar a drenagem e a circulação de ar. Para melhorar sua qualidade, é fundamental incorporar matéria orgânica, como composto ou esterco bem curtido, o que ajuda a aumentar a porosidade e a fertilidade. Outra dica é evitar o pisoteio ou o uso de máquinas pesadas quando o solo estiver muito úmido, pois isso pode compactá-lo, reduzindo ainda mais sua capacidade de drenagem. Além disso, a prática de plantio direto, que mantém o solo coberto com palha ou plantas, ajuda a evitar a erosão e a manter a estrutura do solo.
Para lidar com as características do solo argiloso e facilitar o plantio, o perfurador de solo a combustão STIHL BT 45 é um grande aliado. Essa ferramenta é ideal para criar covas com precisão, ajudando no plantio de mudas. O perfurador de solo BT 45 também economiza tempo e esforço em terrenos compactados, que demandam a instalação de um sistema de drenagem, como os argilosos.
Agora que você conhece as espécies que melhor se adaptam ao solo argiloso, você está pronto para aproveitar o rico potencial de desenvolvimento desse solo para essas plantas.
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O Sistema Agroflorestal (SAF) ou, popularmente, agrofloresta, combina o plantio de árvores ou arbustos com cultivos variados para consumo e comercialização.
Essa diversidade tem como objetivo o maior aproveitamento dos recursos naturais, como solo, água e luz.
Então de maneira simplificada, uma agrofloresta é um sistema de multicultivo adensado onde são plantadas de uma só vez 30 ou mais espécies.
Preferencialmente mais, com vários estratos de crescimento e ciclos de vida, dirigidas pela sucessão natural.
Onde ao longo de sua evolução uma planta ajuda a outra, todas ajudam a natureza e esta ajuda o homem que aprende a respeitá-la.
Ou seja, uma agrofloresta é uma forma de produzirmos alimentos ao mesmo tempo em que conservamos ou recuperamos a natureza.
Isso é possível porque nessa forma de produção, ao invés de retirarmos toda a vegetação original e plantarmos apenas uma cultura em uma larga extensão de terra, procuramos entender o funcionamento da natureza e imitá-la.
Utilizando assim as relações entre os seres vivos a nosso favor e estimulando a biodiversidade.
Nas agroflorestas utilizamos culturas agrícolas, árvores e animais em um manejo que leva em consideração o tempo e o espaço.
E dessa forma, é muito importante o conhecimento das características de cada espécie utilizada e sua relação com as demais.
A adubação é feita de forma natural.
Ou seja, com os recursos disponíveis e com a dinâmica de ciclagem de nutrientes típica das florestas.
Por meio da poda das árvores e da adubação verde.
Não é utilizado agrotóxicos nem adubos químicos.
Já que agrotóxicos e demais químicas vão contra a técnica da agrofloresta (que propõe um controle natural das pragas através do restabelecimento do equilíbrio ecológico).
Assim, é importante entendermos que, quando retiramos a mata e degradamos o ambiente, a natureza tenta a todo custo se regenerar.
E quando isso acontece, aparecem as “pragas” e as “ervas daninhas”.
Isso nada mais é, do que a natureza tentando restabelecer seu equilíbrio natural, atrapalhado pelo ser humano.
Ou seja, essa é a forma da natureza de expressar que algo está errado.
E devemos interpretar estes sinais e utilizá-los a nosso favor, para nos auxiliar com o manejo.
Assim, se os insetos estão em uma quantidade que pode danificar a colheita, devemos aumentar a biodiversidade e buscar o controle biológico.
Ou quando há o surgimento de ervas espontâneas, devemos retirar ou podar aquelas que porventura estiverem competindo com as culturas e estimular o crescimento das outras.
Dessa forma, o mais importante em um manejo agroflorestal é o conhecimento do ambiente natural que nos cerca.
Além da consciência de que o ser humano faz parte da natureza e deve se relacionar com ela de uma forma harmoniosa.
Vantagens da agrofloresta
1) A agrofloresta alia a produção de alimentos com a conservação do meio ambiente
Sem o uso de agrotóxicos e químicos.
Ou seja busca não contaminar as águas, o solo e os alimentos
Uma agrofloresta ajuda a controlar a erosão dos solos
Diminuem a necessidade de derrubar a floresta para abrir áreas cultiváveis
Grande eficiência na ciclagem de nutrientes
Ajudam a manter a fauna e biodiversidade
Uma terra na agricultura convencional produz bem durante poucos anos, após os quais há uma queda na produção, enquanto que na agrofloresta a durabilidade é contínua.
2) Agroflorestas são importantes na recuperação de áreas degradadas
São utilizadas espécies poucos exigentes quanto a qualidade do solo, capazes de melhorar a terra para as espécies mais exigentes
No consórcio de espécies, uma planta ajuda a outra a se desenvolver
Ao longo do tempo, a terra vai se recuperando naturalmente
A sucessão natural é o trabalho da própria natureza pra se recuperar
Cumprem duas funções ao mesmo tempo, pois durante a recuperação da área são produzidos alimentos e outros produtos;
3) Segurança alimentar
Melhoria da alimentação das populações rurais e dos consumidores
O alimento produzido sem adubos químicos é mais rico em nutrientes e mais saudável
O alimento produzido sem veneno não faz mal à saúde
Melhoria da qualidade de vida de quem come e de quem produz
Consumindo alimentos das agroflorestas, estamos colaborando diretamente com a preservação da natureza
4) Benefícios econômicos
Aumenta a renda familiar
Custos de implantação e manutenção são acessíveis aos pequenos agricultores
Intensificação do grau de utilização da área
Menor risco aos produtores, devido a maior diversificação da produção
Construção de capital “em pé”, para o caso de emergências
Diminui o custo com insumos externos
Desvantagens dos SAFs
1 ) O manejo é um pouco mais complicado
Os conhecimentos dos agricultores e técnicos sobre sistemas agroflorestais ainda é muito limitado
Pouco conhecimento sobre alelopatias
Distanciamento e espaçamento deve ser decidido pra cada espécie
Utilização de espécies que podem ser novas aos agricultores
Requer maior capacidade de observação e maior cuidado
Os efeitos benéficos da agrofloresta dependem da qualidade e periodicidade do manejo
2) Desvantagens econômicas
O custo inicial para a implantação da área pode ser mais elevado
O retorno do capital pode ser mais lento
O manejo incorreto pode diminuir o rendimento dos cultivos agrícolas
Atualmente os produtos gerados por agrofloresta têm mercados limitados (necessidade de organização em associações e cooperativas)
3) Outras
Aumenta a competição por luz, água e nutrientes
Difícil mecanização com as máquinas atuais
As árvores, quando grandes e velhas, podem causar acidentes
Graduada em Ciências Biológicas (licenciatura) pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais, Mestre em Ciências (ênfase Ensino de Biologia) pela Universidade de São Paulo. Trabalha com biologia geral, com ênfase em estratégicas didáticas e linguagem.
Apesar de ameaçadas de extinção, descoberta é comemorada pelos cientistas - Divulgação/Jardim Botânico do Rio de Janeiro
Rio - Duas espécies de árvores frutíferas, ameaçadas
de extinção, foram descobertas em áreas de proteção ambiental nos
municípios fluminenses de Niterói e Maricá. A descoberta foi feita por
pesquisadores do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de
Janeiro, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ),
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e Universidade Federal
do Ceará (UFCE), que encontram exemplares das espécies em localidades no
Parque Estadual da Serra da Tiririca (Niterói e Maricá), Parque Natural
Municipal de Niterói, Monumento Natural Municipal da Pedra de Itaocaia
(Maricá), e na Área de Proteção Ambiental do Morcego (Niterói), da
Fortaleza de Santa Cruz, dos Fortes do Pico e do Rio Branco (Niterói).
As
espécies foram nomeadas de Eugenia delicata (uvaia-pitanga) e Eugenia
superba (cereja-amarela-de-niterói). Ambas pertencem ao gênero Eugenia,
um dos mais diversos da flora brasileira, e produzem frutos comestíveis e
saborosos para o ser humano, e também para a fauna silvestre, que
dispersa suas sementes.
Ambas são árvores altas e emergentes de
florestas secas existentes nos morros da Região Metropolitana do Rio de
Janeiro, no domínio do bioma Mata Atlântica. A uvaia-pitanga tem o
tronco marrom e fissurado, padrão semelhante ao de diversas outras
espécies de Eugenia. No entanto, a copa pode ser reconhecida pelos ramos
longos e pêndulos, com folhas relativamente pequenas e delicadas, sendo
por isso nomeada de Eugenia delicata.
Já a
cereja-amarela-de-niterói tem o tronco avermelhado ou creme dependendo
da estação do ano, com casca esfoliante, lembrando o tronco das
goiabeiras. É uma espécie de tronco reto, copa larga e caducifólia
(perde as folhas durante o período seco). Devido ao majestoso porte das
árvores observadas, os pesquisadores deram o nome de Eugenia superba.
As
descobertas foram descritas em um recente artigo publicado na revista
científica inglesa Kew Bulletin, periódico do Royal Botanic Gardens,
Kew. No texto, os pesquisadores alertam que as espécies
recém-descobertas já devem ser consideradas ameaçadas de extinção,
segundo os critérios da União Internacional para Conservação da Natureza
(IUCN), organização global que dispõe das diretrizes para avaliações de
risco.
"A uvaia-pitanga é conhecida por apenas seis pontos de
ocorrência, e foi categorizada no estudo como Em Perigo (EN). Já a
cereja-amarela-de-niterói é ainda mais rara, sendo conhecida apenas por
três localidades, e foi classificada na pesquisa como Criticamente
Ameaçada (CR). Os frutos comestíveis e saborosos dessas espécies podem e
devem servir de apelo para sua conservação. Além disso, também são
peças-chave na dinâmica ecológica da Mata Atlântica, participando, por
exemplo, na manutenção da fauna silvestre", destaca o pesquisador Thiago
Fernandes, doutorando da Escola Nacional de Botânica Tropical do Jardim
Botânico do Rio de Janeiro.
Apesar de ameaçadas de extinção, a descoberta é comemorada pelos cientistas.
"As
descobertas mostram a importância das unidades de conservação
municipais e estaduais que protegem as florestas urbanas do Estado do
Rio de Janeiro. São florestas riquíssimas, que certamente abrigam muitas
outras espécies ainda não descobertas pela ciência", afirma Thiago
Fernandes.
De acordo com o pesquisador, as duas espécies já
tinham sido coletadas e depositadas em coleção científica (herbário),
durante um inventário florístico – estudo que visa a identificar
espécies de flora de uma região, em 2008, no Parque Estadual da Serra da
Tiririca, em Niterói. Porém, na ocasião, não foi possível
identificá-las, uma vez que o material disponível para estudo era
insuficiente.
Depois, a partir de um esforço colaborativo entre
pesquisadores de diferentes instituições nacionais, as árvores foram
monitoradas entre 2021 e 2022.
"Foi então possível acumular
material completo, desde os botões florais até os frutos maduros. Após a
coleta dos materiais e exame minucioso de amostras em coleções
científicas, conseguimos confirmar que, de fato, se tratava de espécies
novas para a ciência", conta Thiago Fernandes.
Ainda segundo o
pesquisador, estima-se que o Brasil abrigue cerca de 50 mil espécies de
plantas, o que corresponde a aproximadamente 18% de todas as espécies de
plantas do mundo. Essa estimativa, porém, pode estar longe de
contemplar a real diversidade de plantas do país, uma vez que ainda há
muitas regiões consideradas lacunas amostrais.
"Como demonstrado
pelas descobertas recentes, até mesmo as florestas urbanas do litoral
fluminense possuem pontos específicos pouco amostrados que podem abrigar
muitas outras espécies desconhecidas para a ciência", conclui.
Image captionNo sentido horário (da esq. para a dir.): cereja-do-rio-grande, grumixama, bacupari-mirim, ubajaí e araçá-piranga, candidatas a novas "superfrutas", segundo cientistas Foto: Sítio Frutas Raras / Severino de Alencar
Se você já bebeu um suco de ubajaí, degustou um araçá-piranga ou já provou uma cereja-do-rio-grande, parabéns. É um dos felizardos que conhece estas frutas raras da Mata Atlântica, com efeitos tão positivos para a saúde que cientistas brasileiros apostam nelas como candidatas a novas "superfrutas" da moda.
Pesquisas feitas em parceria pela Unicamp e pela USP, determinaram que cinco espécies nativas do Brasil são ricas em antioxidantes e têm alta eficiência anti-inflamatória no organismo - comparável à de estrelas do mercado de alimentos saudáveis, como o açaí e as frutas vermelhas tradicionais (morango, mirtilo, amora e framboesa).
Mas para conseguir estudar o araçá-piranga (E. leitonii), a cereja-do-rio-grande (E. involucrata), a grumixama (E. brasiliensis), o ubajaí (E. myrcianthes) e o bacupari-mirim (Garcinia brasiliensis), os pesquisadores precisaram da ajuda de "colecionadores de frutas" do interior de São Paulo, já que elas são tão pouco conhecidas e consumidas que, em alguns casos, estão ameaçadas de extinção.
Um deles é o "frutólogo" Helton Josué Muniz, que cultiva quase 1,4 mil espécies de frutas raras e exóticas em sua fazenda em Campina do Monte Alegre, à oeste da capital paulista.
"Queríamos trabalhar com frutas nativas e foi uma dificuldade encontrar onde elas estavam plantadas", disse à BBC Brasil Severino Matiasde Alencar, do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição da Escola Superior de Agricultura (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), um dos autores do estudo.
"Hoje, o mercado para este tipo de superalimentos é o que mais cresce no mundo, principalmente o americano. E os pesquisadores de lá ficam assustados quando veem que a gente tem uma grande biodiversidade de frutas que poderíamos apresentar ao mundo e ainda não apresentamos."
Uma análise das folhas, das sementes e dos frutos destas cinco espécies - que ocorrem em toda a Mata Atlântica, mas têm sido mais encontradas no Sudeste e no Sul - mostrou que elas podem ser consideradas "alimentos funcionais", também conhecidos como superalimentos.
Além de altos teores de substâncias antioxidantes, elas também possuem ação anti-inflamatória no organismo.
Image captionPesquisadores acreditam que espécies nativas pouco conhecidas podem trazer resultados científicos e econômicos para o Brasil Foto: Cesar Maia| FOP | Unicamp
"Os alimentos funcionais são aqueles que, além da função nutritiva, podem ajudar a prevenir doenças crônicas, como problemas do coração, diabetes e câncer", disse à BBC Brasil Pedro Rosalen, da Faculdade de Odontologia da Unicamp em Piracicaba, também autor do estudo.
Estudos sobre as espécies, financiados pela Fapesp, já foram publicados nas revistas científicas Plos One e Journal of Functional Foods.
O principal objetivo da pesquisa com novas frutas, segundo Rosalen, era encontrar "novos açaís" - frutas nativas e altamente nutritivas que pudessem trazer resultados científicos e econômicos para o Brasil.
"Nosso alvo eram as propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias por que esta é uma grande necessidade da indústria farmacêutica. No futuro, queremos isolar e identificar as moléculas ativas que fazem parte dessas frutas, que podem se tornar medicamentos importantes", afirma.
Substâncias antioxidantes inibem a formação de radicais livres - moléculas reativas de oxigênio que são geradas naturalmente pelo organismo ou estimuladas por fatores externos, num processo que causa envelhecimento e morte celular.
Ao longo do tempo, o bombardeio de radicais livres em algumas estruturas orgânicas pode contribuir para doenças como câncer, e artrite. O corpo humano produz antioxidantes naturais, mas não o suficiente para neutralizar completamente o processo.
A ação dos radicais livres também está relacionada com inflamações no organismo - daí a importância de substâncias que também atuem como anti-inflamatórios, explica Rosalen.
"Quando há uma inflamação, o corpo libera uma série de sinalizadores que atraem as células brancas do sangue para fazer a defesa. Mas geralmente essa migração é exacerbada e aumenta o processo inflamatório, produzindo mais destruição."
"Descobrimos que as substâncias químicas presentes nas frutas impedem que uma quantidade exagerada de células de defesa cheguem ao local da inflamação. Por conta disso, temos um processo mais controlado. Não é que o corpo se defende menos, mas se defende na medida certa", diz.
De acordo com os pesquisadores, a ação das frutas - se consumidas frequentemente - pode retardar os processos inflamatórios que causam doenças como diabetes, arteriosclerose e mal de Alzheimer, por exemplo.
Image captionEm parceria com colecionadores de espécies exóticas, projeto quer tornar frutas estudadas mais populares Foto: Arquivo pessoal
'Berries' brasileiras
Segundo Alencar e Rosalen, a grumixama e a cereja-do-rio-grande, frutas pequenas e vermelhas, se destacam em relação às demais nas propriedades antioxidantes.
"Elas são como berries (como algumas frutas silvestres vermelhas são chamadas em inglês) brasileiras. São fusões da cereja com a amora. Doces, mas com um teor de ácido ideal. São minhas preferidas", diz Severino Alencar.
A cor vermelha ou arroxeada das frutas, explica, é dada por um grupo de compostos, as antocianinas, cuja presença normalmente indica a eficiência no combate aos radicais livres.
Já o araçá-piranga - amarelado e mais ácido que os demais - tem o maior potencial anti-inflamatório, de acordo com Pedro Rosalen. "Ele reduziu a migração de células de defesa em 62%, um índice muito alto para uma fruta."
As cinco espécies estudadas são consideradas raras atualmente, e o araçá-piranga é considerado ameaçado de extinção. Há outras 14 em estudo pela equipe coordenada pelos pesquisadores.
"Poucas das frutas que consumimos hoje são nativas do Brasil: abacaxi, maracujá, caju e goiaba. E a Mata Atlântica já está no limiar do seu equilíbrio ecológico. É urgente estudarmos as frutas deste e de outros biomas", justifica Alencar.
Agora, a equipe de cientistas quer expandir o cultivo das cinco frutas entre pequenos agricultores e, com mais ambição, para o agronegócio. Para isso,pretendem se dedicar ao melhoramento genético das espécies.
"Compramos maçãs iguaizinhas umas às outras porque em determinado momento foi feita a domesticação da fruta. Isso é necessário para que, no futuro, elas sejam produzidas com qualidade e em quantidade."
Procura
Para aumentar o número de produtores das novas superfrutas, os cientistas acreditam que a parceria com o Sítio Frutas Raras, do colecionador Helton Muniz, e com outro sítio no interior de São Paulo, é essencial.
"Depois que apresentamos as pesquisas, várias pessoas já nos ligaram perguntando onde podem encontrar essas frutas para consumir. Elas ainda têm um mercado muito pequeno, a ciência tem que mostrar que elas têm um diferencial", diz Alencar.
Muniz, cujo trabalho já foi mostrado em reportagem da BBC Brasil, conta que a paixão por frutas exóticas se transformou em hobby, ganha-pão e até fisioterapia - ele nasceu com um distúrbio neuromotor que dificulta seus movimentos.
Image captionDesde os 14 anos, Helton Muniz se dedica a cultivar espécies pouco conhecidas em seu sítio, no interior de São Paulo Foto: Arquivo pessoal
No sítio, ele cultiva 1.390 espécies, cujas mudas vende para os interessados. O objetivo, segundo ele, é espalhar pelo Brasil moderno as frutas esquecidas pela história da culinária nacional.
"As pessoas até podem ter no quintal, mas não sabem que são frutas comestíveis. Na vida cotidiana, a pessoa pisa em cima da fruta e acha que é veneno. A fruta para elas fica na prateleira do supermercado", disse à BBC Brasil.
Desde os primeiros resultados de Alencar e Rosalen, o "frutólogo" diz que vem aumentando a procura por informações sobre as espécies por e-mail e pelas redes sociais - Muniz responde pessoalmente a todas as mensagens na página do sítio no Facebook.
Ele diz usá-las frequentemente em sucos, geleias, bolos e até bebidas fermentadas caseiras. Mas tem dificuldade de apostar naquela que pode cair no gosto da população como o novo açaí.
"É uma cilada me perguntar qual a minha preferida, porque gosto de todas. Acho que a grumixama é minha favorita. Mas eu também aprecio muito o araçá-piranga, que as pessoas desprezam, porque tem sabor forte. Mas dá para fazer um sorvete delicioso."
O que os cientistas da USP e da Unicamp acabam de descobrir, no entanto, Muniz afirma que já sabia.
"Pelo tipo de fruta já dá para saber se ela é boa ou não. A pesquisa preenche as formalidades do ser humano. É para comprovar isto ou aquilo. Mas pela própria cor da fruta já dá para saber se ela tem antioxidante, se é boa para a saúde. A gente vai aprendendo com o tempo."