Produto feito à base de bactérias naturais da cana-de-açúcar
promove maior crescimento da lavoura e reduz uso de fertilizantes
químicos, o que gera benefícios para os agricultores e o meio ambiente.
Por: Camille Dornelles
Publicado em 04/11/2013
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Atualizado em 04/11/2013
Biofertilizante produzido a partir de bactérias presentes na
cana-de-açúcar promete melhorar a produção brasileira dessas
plantações, hoje a maior do mundo. (foto: Secretaria de Agricultura e
Abastecimento de São Paulo/ Flickr – CC BY 2.0)
O Brasil se consagra como o maior produtor mundial de cana-de-açúcar,
com 426 milhões de toneladas por ano, e é responsável por mais da
metade do açúcar refinado comercializado no mundo, segundo o Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Para atingir o patamar de
produção esperado, a cana-de-açúcar necessita de doses crescentes de
fertilizante nitrogenado.
Pensando em melhorar os resultados dessas plantações, a agrônoma
Verônica Reis, do Centro Nacional de Pesquisa de Agrobiologia da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Agrobiologia), desenvolveu
um biofertilizante a partir das bactérias que fazem a captação de
nitrogênio do ar e o transferem para a planta. O uso do produto pode
minimizar o emprego de fertilizantes nitrogenados.
A novidade do produto está na mistura de cinco bactérias de espécies
diferentes, todas obtidas a partir da própria planta. “No Brasil, já se
usam bactérias fixadoras de nitrogênio com essa finalidade, mas de
maneira isolada”, afirma Reis. “Foi a partir de estudos com as
combinações dos microrganismos que verificamos a eficiência de unir
cinco estirpes diferentes”, revela.
Estudos mostraram um aumento médio geral de 14% na produção das lavouras que levaram uma dose do biofertilizante
Os pesquisadores testam diferentes bactérias fixadoras de nitrogênio desde a década de 1990. A combinação de
Gluconacetobacter diazotrophicus,
Herbaspirillum seropedicae,
Herbaspirillum rubrisubalbicans,
Azospirillum amazonense e
Burkholderia tropica foi a que se mostrou mais eficaz.
Reis explica que o processo de produção do biofertilizante é bastante
simples: “as bactérias são isoladas da própria cana e multiplicadas em
meios de cultivo em laboratório”. Para a aplicação, as cinco espécies
são misturadas em água. A inoculação do produto deve ser feita no
plantio da cana e após cada corte.
Segundo a agrônoma, estudos mostraram um aumento médio geral de 14%
na produção das lavouras que levaram uma dose do fertilizante em
comparação com plantações que não receberam o produto. “As plantas
germinam mais rápido, acumulam biomassa mais cedo e suas raízes são
estimuladas a crescer mais depressa”, garante.
- O uso do novo
biofertilizante promove maior crescimento da raiz, das folhas e do caule
da cana-de-açúcar em comparação com a aplicação de nitrogênio ao solo.
(fotos: Willian Pereira e Renan Pedula Oliveira)
Os resultados prometem aos agricultores uma economia anual de 30
quilos de nitrogênio (normalmente usado nas lavouras para acelerar o
processo de crescimento) e 50 mil toneladas de fertilizantes químicos
(que podem ser danosos ao meio ambiente).
Mas ainda não há previsão para a comercialização do novo
fertilizante. Para chegar ao mercado, o produto ainda precisa passar por
testes industriais e ser aprovado pelo Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento. “Os testes demoram, mas são necessários para
se obter um produto que realmente faça a diferença”, conclui.
Camille Dornelles
Ciência Hoje On-line