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Comprovada a eficácia da Physalis angulata, agora, o grupo irá pesquisar a capacidade produtiva da planta.
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por Amanda Pinho / Dezembro e Janeiro 2013
foto Alexandre Moraes
Espécie
de herbácea característica da Amazônia, a Physalis angulata produz um
fruto amarelo, o camapu, amplamente conhecido na região. A planta tem
propriedades curativas e já é, inclusive, estudada por produzir
substâncias que ajudam no tratamento da leishmaniose. Recentemente, o
Grupo de Pesquisas Bioprospecção de Moléculas Ativas da Flora Amazônica,
da Universidade Federal do Pará (UFPA), descobriu, também, a existência
de propriedades neurogênicas em substâncias produzidas pela planta.
“Descobrimos
que tanto o extrato aquoso da planta quanto a substância purificada
apresentam atividade neurogênica, ou seja, eles estimulam o crescimento
de neurônios”, explica o professor Milton Nascimento, integrante do
Grupo de Pesquisa.
Com apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa e
Pós-Graduação (PROPESP) e do governo do Estado, o grupo, que também é
composto pelos pesquisadores Alberto Arruda, Mara Arruda, Consuelo
Yumiko, Gilmara Tavares, Raquel Carvalho Montenegro e José Luiz do
Nascimento, além dos alunos de Pós-Graduação Danila Alves e Marcos
Vinícius Lebrego, busca convencer a indústria farmacêutica da
viabilidade da droga. O professor Milton Nascimento lembra, também, que
os responsáveis pela pesquisa já patentearam os processos de obtenção e
farmacológico, tanto no mercado nacional quanto no internacional.
Ao
relembrar o início da pesquisa, em 2011, Milton Nascimento compara os
resultados obtidos pela professora Gilmara Bastos com os de Alexander
Fleming, médico escocês que, acidentalmente, descobriu a penicilina.
“Você faz um experimento olhando para um lado e, de repente, o
experimento te revela outro, e foi o que aconteceu, especificamente, com
o extrato dessa planta”, explica.
Tratando-se de uma pesquisa
completamente inédita, a propriedade neurogênica da substância produzida
pela Physalis angulata pode vir a ser utilizada visando à elevação das
capacidades de raciocínio e de memória, além de sinalizar uma possível
reversão de morte neuronal que ocorre em pacientes com quadros de
depressão, já que a substância induz o nascimento de novos neurônios.
“Isso é uma coisa fantástica! O mundo vem buscando drogas capazes de
induzir o crescimento neuronal”, comemora o professor.
Do laboratório para a indústria farmacêutica
Com
a eficácia e a eficiência da droga comprovadas, os pesquisadores
aguardam a segunda fase da pesquisa que, segundo o professor Milton
Nascimento, é a saída da área acadêmica para a da indústria.
A
pesquisa também deve gerar publicações, o que, na avaliação do
professor, é bom para o pesquisador, para a instituição e para os
programas de pós-graduação envolvidos. “O grupo todo entende essa
pesquisa como algo importante para a nossa instituição e para o Estado
também”, afirma.
Apesar dos avanços, ainda há muito a ser feito
nessa segunda fase do projeto. No momento, os pesquisadores envolvidos
estão trabalhando para oferecer mais subsídios que irão agregar valor à
pesquisa. Depois de comprovados os efeitos da droga, foram levantados
questionamentos relativos à capacidade produtiva da planta e a sua
sazonalidade, assim como a necessidade da execução de testes clínicos.
Milton
Nascimento afirma que o processo se torna ainda mais delicado por se
tratar de um produto natural complexo, incapaz de ser sintetizado em
laboratório, por exemplo. “Hoje, estamos fazendo o estudo de
viabilidade, verificando a capacidade produtiva da planta e sua
sazonalidade, com o intuito de saber quanto material orgânico pode ser
gerado por hectare plantado”, exemplifica o professor.
De acordo
com o pesquisador, para o estudo sazonal da Physalis angulata, é
necessário avaliar o metabolismo da planta e identificar, por exemplo,
se a substância isolada está presente em todo o seu ciclo vegetativo, em
que momento do ciclo é atingido o auge da produção dessa substância e,
assim, como observar se há diferença de comportamento nessa produção
entre os períodos seco e chuvoso, típicos da região.
Grupo está “no limite da produção acadêmica”
O
grupo de pesquisa encontra-se “no limite da produção acadêmica”,
buscando responder aos questionamentos da indústria farmacêutica, quanto
à capacidade de produção anual, à quantidade de biomassa necessária
para se atingir tal produção e à área plantada exigida para se alcançar
tal quantidade de biomassa. Em laboratório, só se pode manusear alguns
miligramas, enquanto, para atender as demandas da indústria, a produção
deve chegar à casa dos quilogramas. De acordo com Milton Nascimento,
nesta etapa, o grupo pretende estabelecer parcerias, justamente para
superar tais dificuldades.
“Mais do que produzir a pesquisa,
queremos transformá-la em benefício: um produto da UFPA, um produto da
Amazônia. Por isso, estamos buscando parcerias para responder a essas
perguntas”, conclui.
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