quarta-feira, 29 de julho de 2015

Implantação e manejo de Sistemas Agroflorestais





A Embrapa está implantando, juntamente aos produtores da metade Sul do Rio Grande do Sul, Sistemas Agroflorestais. Os sistemas buscam uma agricultura mais sustentável, integrando produção de alimentos e preservação ambiental.

Pesquisa confirma: Bromélias e orquídeas ajudam na restauração ecológica.



Epífitas fornecem nutrientes, armazenam água e atuam na ciclagem de nutrientes

Pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, mostra que um dos métodos encontrados para promover o aproveitamento de material de florestas a serem desmatadas é o transplante de plantas epífitas, como bromélias e orquídeas, em regiões florestais durante o processo de recuperação ecológica. As epífitas são formas de vida de plantas que habitam árvores, denominadas forófitos, sem, contudo, parasitá-las.
Segundo a bióloga Marina Melo Duarte, pesquisadora no programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais da Esalq, a inserção dessa forma de vida em uma floresta é de grande importância para que ela recupere os processos ecológicos. “Além de serem capazes de fornecer microambientes e recursos como flores e frutos e armazenar água, as epífitas atuam na ciclagem de nutrientes. Contribuem, enfim, para o aumento de heterogeneidade de um ecossistema.”
No cenário mundial atual, mesmo com crescente preocupação ambiental, é possível observar que desmatamentos ainda ocorrem em taxas elevadas, reduzindo a cobertura florestal. Ainda que possa ser diminuído por diversos mecanismos, esse problema tende a permanecer, já que ele é necessário para que ocorram obras de infraestrutura e de outros interesses. A cada ano, mais de 500 hectares de florestas, em diferentes estágios de regeneração, são legalmente desmatados no Estado de São Paulo.
“A supressão vegetal, dentro de certas limitações, é permitida por lei. Apesar de não fazer com que uma floresta retorne exatamente ao que era no passado, a restauração ecológica pode contribuir para reduzir a agravante perda de cobertura vegetal no planeta”, comenta a pesquisadora.

Epífitas fixadas com barbante de sisal e fibra de palmeiras

Transplante viável
No Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal (LERF), a bióloga analisou duas florestas com 13 e 23 anos de processo de restauração, localizadas nas cidades de Santa Bárbara D’Oeste e Iracemápolis, ambas em São Paulo, respectivamente. “Os transplantes de epífitas foram considerados viáveis, especialmente quando realizados em estação chuvosa e utilizando-se barbante de sisal junto a fibras de palmeiras para fixar essas plantas nos trocos das árvores (forófitos). As taxas de sobrevivência das seis diferentes espécies, um ano após o transplante, quando ele foi realizado em estação úmida, variaram entre 63% e 100% das epífitas transferidas”, conta a pesquisadora.

Segundo Marina, a restauração florestal é comumente realizada pela inserção apenas de unidades de árvores em uma área. O chamado “enriquecimento com diferentes formas de vida” é, na maioria das vezes, fundamental ao desenvolvimento de florestas durante o processo de restauração. “Em paisagens fragmentadas devido às atividades humanas, existe uma perda considerável de diversidade biológica. Nesses locais, a dispersão natural é limitada, sendo necessárias intervenções para dar continuidade aos processos ecológicos fundamentais à permanência da floresta ao longo do tempo”, afirma.
Com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e orientação do professor Sergius Gandolfi, do Departamento de Ciências Biológicas (LCB), o estudo avaliou a possibilidade de transferência de epífitas, com a proposta de aproveitar o material que pode ser retirado de florestas a serem suprimidas, a partir desse desmatamento inevitável, e empregá-lo no processo de restauração ecológica. Foram analisados os transplantes de 360 unidades de seis espécies de epífitas, pertencentes às famílias Bromeliaceae, Cactaceae e Orchidaceae, para posições diferentes (tronco ou forquilha) de 60 unidades de forófitos que apresentavam distintos padrões de perda foliar e rugosidades de casca.
A pesquisadora afirma que há raríssimos trabalhos envolvendo transplantes de epífitas em florestas durante processo de restauração. “A inserção dessa forma de vida a uma floresta é de grande importância para que ela recupere processos ecológicos, sendo fundamental para que ela retorne à sua trajetória ecológica. É um dos trabalhos pioneiros no que se refere ao enriquecimento de florestas em restauração com diferentes formas de vida”, conclui.
Imagem: Marina Melo Duarte
Matéria de Raiza Tronquin, da Esalq / Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 13/06/2013
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terça-feira, 28 de julho de 2015

Sistema de agroflorestas é mais vantajoso na produção de orgânicos, segundo técnicos

A biodiversidade é grande e protege contra 

pragas no uso do sistema

A produção de alimentos orgânicos no sistema de agroflorestas vem ganhando destaque entre produtores rurais e pode ser mais vantajosa em longo prazo. Segundo o extensionista rural da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), Rafael Lima de Medeiros, a agrofloresta é um ambiente mais equilibrado do ponto de vista biológico e também um sistema mais vantajoso para o agricultor que sempre vai ter lucro com alguma colheita da área.
Para produzir alimentos orgânicos não é permitido ao agricultor o uso de fertilizantes sintéticos, agrotóxicos e transgênicos na lavoura, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. E mais que isso, o processo de produção deve respeitar as relações sociais e culturais e seguir os princípios agroecológicos, com o uso sustentável dos recursos naturais.
A produtora rural Silvia Pinheiro dos Santos adotou esse sistema em sua propriedade de 21 hectares no Núcleo Rural Alexandre Gusmão, na região de Brazlândia, no Distrito Federal. As verduras, frutas e madeiras de lei estão plantadas juntas, em consórcio, e, segundo Silvia, a biodiversidade é tão grande que evita muitas pragas e dá mais saúde para os vegetais. No terreno crescem, entre outras plantas, a hortelã, que afasta os insetos, e o feijão-guandú, capaz de fixar o nitrogênio no solo.
“Horta é a atividade que menos dá dinheiro, a que dá mais é a fruta e o mais rentável é a madeira. Então a ideia é aposentar com aquilo ali”, diz Silvia, apontando para as árvores. “Conforme a madeira vai crescendo vamos escolhendo o que vai ficando. As hortaliças são de imediato e é o que nós comemos”, completou.

Evolução do orgânico

Silvia conta que a propriedade está há mais de 40 anos na família e que até dez anos atrás a área era toda de pasto para o gado. “Hoje temos gado, ovelha e agrofloresta. O gado não é problema, o problema é tirar tudo para colocar o pasto. Nós fizemos a agrofloresta de um jeito que daqui a um tempo vamos criar o gado lá, porque plantamos inclusive a fruta que o gado gosta de comer”, disse.
Para Silvia, o sistema agroflorestal é uma evolução do orgânico. “No orgânico há ainda quem plante como na cultura tradicional, uma só espécie, e o produto fica mais caro porque não se pode aplicar nada, então precisa de muita gente para fazer a limpeza. No agroflorestal, você só induz a natureza, então vai poder ter um preço mais competitivo”, disse, acrescentando que utiliza a própria poda das árvores e o húmus produzido no sítio como adubos para as plantas.

Agroecologia prioritária

O engenheiro agrônomo da Emater-DF, Rafael Lima de Medeiros, conta que o mercado de orgânicos está crescendo e a Emater já trabalha o programa de agroecologia como prioritário. “No Distrito Federal, a produção está crescendo, mas as propriedades orgânicas ainda são uma parcela muito pequena. Temos mais de cinco mil propriedades rurais e pouco mais de 150 são orgânicas. Mas o número de feiras orgânicas está crescendo e mais agricultores querem aderir a essa venda”, observou.
Medeiros conta ainda que a Emater trabalha também para atingir o agricultor convencional, para que ele passe a utilizar práticas mais sustentáveis, diminuindo o uso de agrotóxicos. “Eles começam a se adequar e, no futuro, isso pode servir de incentivo para que passem definitivamente para a produção orgânica”, completou.
De 24 a 31 de maio é celebrada a Semana Nacional dos Alimentos Orgânicos em todo país. A Emater-DF disponibiliza uma lista com os pontos de venda de alimentos orgânicos no Distrito Federal.
Fonte e imagem: Agência Brasil
Veja também:

sábado, 25 de julho de 2015

Cultive saúde no jardim com plantas medicinais e temperos

Extraído do  blog Jardim de Helena em www.gaucha.com.br/jardimdehelena

Autoria: Eng. Agr. Helena  Schanzer

18 de abril de 20150
Sabia que você pode cultivar saúde no jardim com  plantas medicinais fáceis de cuidar?Alecrim,  manjericão, cidró, hortelã  são algumas delas.  Para cultivá-las é necessário sol direto, terra fértil, vaso ou floreira (ou pode plantar na terra direto), água para regar e  mudas  das plantas que se compra na floricultura ou no supermercado. Com poucos cuidados você terá folhas frescas e sem agrotóxicos para fazer seu chá medicinal a hora que quiser.  Estas plantas têm as folhas perfumadas. Se tiveres dúvida de qual planta se trata, pegue um raminho e amasse com os dedos. Pelo aroma exalado pela folha vai conseguir identificar a espécie. 
Foto: Helena Schanzer  - variedade de temperos em floricultura
Foto: Helena Schanzer – variedade de temperos em floricultura

alecrim (Rosmarinus officinales) é um arbusto ramificado que gosta de solo seco entre uma rega e outra, além de solo arenoso. É bastante resistente. Muito usado na culinária, na farmácia e perfumaria. Tem propriedades estimulantes, usado para dar força e ânimo para quem sente fraqueza e exaustão.
Rosmarinum officinallis - alecrim
Foto: Helena Schanzer – Planta adulta de Rosmarinum officinallis – alecrim

A *hortelã (Mentha spicata) é muito usadA para fins medicinais. Toda a parte aérea da planta é aproveitada.  É apropriada para  mal estar estomacal, descongestionante nasal e antigripal. O óleo essencial é amplamente usado na farmacologia e cosmetologia. Usam-se as folhas frescas para saladas e temperos.
Hortelã, menta
Foto: Helena Schanzer – Mentha spicata – hortelã

O *manjericão  (Ocimum basilicum) é uma planta herbácea de 30 a 50 cm de altura, cultivada em hortas para condimento e fins medicinais.  Na forma de chá, serve para tratar sintomas da gripe e para gargarejo. As folhas frescas são saborosas em saladas e como tempero.

Foto: Helena Schanzer – Manjericão
O *capim cidró ou capim limão (Cymbopogon citratus) é uma herbácea com folhas longas e perfumadas. Usada para fins industriais e medicinais. O chá das folhas tem ação calmante e relaxante, induzindo naturalmente ao sono. O óleo é usado como aromatizador e as folhas novas usadas na culinária oriental ( tailandesa).
Foto: Pixabay  - capim cidró ou capim limão
Foto: Pixabay – capim cidró ou capim limão

Escolha a espécie de planta medicinal que quer plantar.  Prepare um vaso com dreno  e uma mistura de terra com composto orgânico e areia.
Foto: Pixabay  - Para plantar  ervas é necessário  substrato e pá de jardim
Foto: Pixabay – Para plantar as ervas precisa de substrato e pá de jardim

Siga o passo a passo abaixo. Por fim coloque  a muda no centro do vaso, cubra com composto orgânico e firme ela com as mãos na terra.  Molhe bastante e aguarde a colheita das folhas perfumadas!


Como preparar o dreno do vaso:
Espécies das plantas medicinais com flores e detalhes: hortelã, alecrim, manjericão e capim cidró. Todas tem flores melíferas muito visitadas pelas abelhas e borboletas.

* Plantas medicinais no Brasil, Nativas e exóticas. Harry Lorenzi e F.J. Abreu Matos. Instituto Plantarum, 2002.
 http://wp.clicrbs.com.br/jardimdehelena/category/voce-e-o-que-voce-come/?topo=52,1,1,,171,e171

quinta-feira, 23 de julho de 2015

A criatividade dos produtores orgânicos no combate das ervas daninhas

Por: Joop Stoltenborg


O produtor orgânico se confronta com três grupos de pragas, incômodos que constantemente atrapalham o bom andamento das plantações.
Um deles são os fungos e bactérias. Eles gostam de calor e umidade para crescer e destruir as plantas. Na produção convencional se usa fungicidas para combater.
Outro grupo são os insetos e animais, os menores, só visíveis com lente de aumento, até os grandes do tamanho da capivara e vacas que invadem uma plantação. Os produtores convencionais usam todo tipo de inseticidas para matar os insetos.
O terceiro grupo são as ervas daninhas. Plantas que competem com as verduras e legumes ocupando espaços e alimentos. O combate é através do uso de herbicidas na agricultura convencional.

Erva daninha um aliado
Na agricultura orgânica o mato não é visto como erva daninha mas como aliado que tem importância para melhorar, proteger, adubar a terra e até equilibrar os insetos e fungos.
A grande arte é manejar o mato para não ter excesso no momento errado, prejudicando a produção. Por isso o mato que nasce junto com as plantas de verduras, deve ser controlado. Para cenoura e beterraba estamos usando um lança-chamas que queima o mato antes que a cenoura germine, por que o mato nasce mais rápido do que a cenoura,dando tempo para queimar o mato sem prejudicar a cenoura. A construção do lança-chamas foi possível graças a contatos via internet com outros produtores no mundo, que mandaram informações a respeito. O lança chamas ajuda muito mas não resolve o problema de uma erva daninha muito danada, a chamada tiririca.

A temida tiririca
Tiririca tem bulbos embaixo da terra. Muitas vezes o esterco vem contaminado com tiririca que se espalha então rapida-mente pela propriedade através das máquinas. Quando toma conta da terra, ela não permite plantas pequenas e frágeis nascer e crescer. O bulbo tem tamanho de um grão de feijão e, por isso, fica pequeno demais para ser retirado da terra. Mas quando você trabalha, afofando a
terra com arado ou enxada rotativa o bulbo vai nascer e forma redes de raízes em mais ou menos trinta dias. Com raízes formadas fica mais fácil retirá-las ‘peneirando’ a terra com ajuda de um rastelo que é um serviço manual e pesado. Aí surgiu a idéia de usar uma máquina de arrancar batatas (inglesas) e que é nada mais do que uma grande peneira mecanizada. Fizemos vários testes com a máquina e o resultado foi muito positivo.
É um alívio pois o serviço era muito pesado . A terra fica livre desta praga terrível por muitos anos. O pessoal está de parabéns com a brilhante idéia que permite produzir sem herbicidas.

http://www.aboaterra.com.br/produtor.php?id=49&A+criatividade+dos+produtores+org%E2nicos+no+combate+das+ervas+daninhas&busca=

Árvores Frutíferas em Brasília - Momento Ambiental





Basta um passeio pelas quadras residenciais de Brasília para descobrir uma característica típica da cidade: a presença de árvores frutíferas no perímetro urbano. A variedade é grande e vai de espécies do cerrado, como a cagaita, até outras mais comuns como a manga. O Momento Ambiental mostra o trabalho feito por uma arquiteta que mapeou as árvores desse tipo e fez um guia, no mínimo, diferente . Pouca gente sabe, mas o plantio feito há mais cinquenta anos, quando a cidade ainda era um canteiro de obras, teve como objetivo principal atrair pássaros para o planalto central.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Vermicompostagem: potencializando as funções das minhocas

Amauri Adolfo da Silva, agricultor de Espera Feliz (MG), coloca a questão: A diferença de um minhocário para um composto é a rede. Por quê? E responde: O tempo que eu estaria fazendo composto eu deito na rede e, enquanto as minhocas fazem a rede com os organismos, eu faço poesia.
É pouco provável que algum animal tenha desempenhado um papel tão importante na história do nosso planeta como o destas pequenas criaturas. (...) O arado é uma das invenções mais antigas (...) do homem, mas bem antes que o homem existisse, a terra já era regularmente arada pelas minhocas. 
Charles Darwin (1881)
Galão de armazenamento do vermicomposto na propriedade de Amauri Adolfo da Silva. Foto: Irene Maria Cardoso
Galão de armazenamento do vermicomposto na propriedade de Amauri Adolfo da Silva. Foto: Irene Maria Cardoso
Muitos agricultores reconhecem as minhocas como indicadores de qualidade do solo. Quantas vezes não ouvimos dizer se tem minhoca, a terra é boa? Mas nem todos reconhecem a importância ou as funções das minhocas para os solos. Como Darwin já havia percebido, uma dessas funções é de arar a terra.
Mas a aração realizada pelas minhocas não compacta o solo e nem gasta combustível. Outra função muito importante é a transformação da matéria orgânica. É por meio desse trabalho que as minhocas produzem um composto orgânico de alta qualidade, o vermicomposto. Como aponta Amauri, enquanto a minhoca faz composto, ele faz poesia! Entretanto, muitos agricultores não aproveitam esse trabalho realizado pelas minhocas. Por quê?
Procuramos resposta a essa questão enquanto desenvolvíamos ações voltadas a facilitar o acesso ao conhecimento sobre a produção de vermicompostos pelos agricultores. Dessa forma, procuramos reconhecer e valorizar os conhecimentos dos agricultores adquiridos a partir de seu cotidiano de trabalho.

Vermicompostagem

As minhocas e os microrganismos presentes no seu trato digestivo transformam material orgânico pouco degradado em matéria orgânica estabilizada. Chamado de vermicompostagem, esse processo proporciona o melhor aproveitamento dos resíduos orgânicos na agricultura, já que forma um composto com características físico-químicas e biológicas superiores às dos estercos. Quando os estercos são dispostos ao ar livre, situação frequente nas propriedades dos agricultores, suas qualidades químicas são deterioradas devido, sobretudo, à volatilização da amônia, uma substância rica em nitrogênio, um nutriente essencial para as plantas cultivadas.
Muitos agricultores reconhecem as vantagens do vermicomposto quando comparado com a utilização dos resíduos orgânicos sem o processo de compostagem. Reconhecem, portanto, sua superioridade com relação ao esterco. Entretanto, a prática não é comum entre eles, já que acreditam que o sucesso da técnica está condicionado à construção de instalações caras e complexas e ao acesso às matrizes de minhocas de qualidade (SCHIEDECK et al., 2007).
Essa era a percepção inicial dos agricultores que participam do projeto de pesquisa-extensão Animais para a Agroecologia, realizado em parceria por vários Departamentos da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em especial os Departamentos de Solos e Veterinária, pelo Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA) e por organizações dos agricultores, entre elas, sindicatos da agricultura familiar de alguns municípios. O projeto tem por objetivo aprimorar a integração ecológica da criação animal nos agroecossistemas familiares, incrementando a produção animal e melhorando a quantidade e a qualidade dos estercos nas propriedades (FREITAS et al., 2009). A vermicompostagem foi uma das estratégias adotadas para o aprimoramento dessa integração.

O despertar para a prática

Os agricultores participantes do projeto visitaram a propriedade de um agricultor com o objetivo de vivenciar a sua experiência de vermicompostagem a partir das práticas de uso e manejo do minhocário. Para alguns, esse foi o primeiro contato com a técnica. Esses mesmos agricultores participam de outros intercâmbios promovidos pelo CTA em alguns municípios da Zona da Mata mineira, como forma de estimular a troca de conhecimentos e criar ambientes propícios para a articulação horizontal entre os conhecimentos populares e conhecimentos técnico-científicos. Durante alguns intercâmbios, são realizadas oficinas sobre temas definidos em conjunto com os agricultores. Diante do interesse despertado, a produção de vermicomposto foi um dos temas priorizados para a realização das oficinas do projeto.
Em cada uma das 15 oficinas realizadas, os participantes foram organizados em grupos para responder às seguintes perguntas: i) Por que quero aprender mais sobre minhocas? ii) O que quero aprender sobre minhocas? iii) Onde já ouvi falar de minhocas? iv) O que ouvi falar de minhocas? Esse momento da oficina é importante para que sejam identificadas as motivações e resgatados os conhecimentos prévios dos agricultores sobre o uso de estercos e o manejo das minhocas.
A maioria dos agricultores já conhecia a importância das minhocas para a qualidade do solo, mas demonstraram interesse em aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto. Relataram ainda que esse conhecimento prévio havia sido adquirido em contato com familiares, amigos, vizinhos, bem como pela televisão e pela universidade. Os intercâmbios agroecológicos foram também identificados como importante canal de aprendizagem. Foi nos intercâmbios que muitos agricultores tiveram o primeiro contato com a técnica da vermicompostagem.
Vermicompostagem

Aprendendo e ensinando sobre o proceso de vermicompostagem

A reprodução das minhocas foi um dos aspectos que despertou a curiosidade nos agricultores. Elas colocam casulos que contêm em média três minhocas. Essa alta capacidade de proliferação e o rápido crescimento da espécie vermelha-da-califórnia permitem que os agricultores repassem para vizinhos parte das minhocas após a conclusão da vermicompostagem.
Quando comparam a outros processos de compostagem, os agricultores identificam duas vantagens da vermicompostagem: a) não precisa revolver o material, exigindo menos trabalho no seu preparo; b) é mais leve, facilitando o transporte (EDWARDS; ARANCON, 2004). Dessa forma, com pouco trabalho adicional, os agricultores melhoram seus solos com o aproveitamento de materiais orgânicos já disponíveis em suas propriedades (NGO et al., 2012).

Implanta ção dos minhocários

Após os debates iniciais sobre a biologia das minhocas, propôs- se a discussão relacionada às infraestruturas e ao manejo para a realização da vermicompostagem. Diferentes tipos de minhocários foram apresentados, destacando-se as vantagens e desvantagens de cada um, considerando as dificuldades de construção, bem como as condições adequadas para a sua estruturação, como a escolha do local, os cuidados no preparo do material e na separação do vermicomposto das minhocas. Cada família indicou o melhor local para construir o minhocário em sua propriedade guiando- se por critérios como a necessidade de sombreamento e a proximidade da fonte de água e dos substratos.
Pela simplicidade de construção e seu menor custo, decidiu-se pela adoção do modelo campeiro de bambu (AQUINO; MEIRELLES, 2006; SCHIEDECK et al., 2007). No período de março de 2011 a setembro de 2012, foram implantados 13 minhocários nos municípios de Acaiaca, Araponga, Divino, Espera Feliz, Visconde do Rio Branco, São Sebastião da Vargem Alegre, Leopoldina e Viçosa.

Avaliação dos minhocários

O funcionamento dos minhocários foi avaliado por meio de visitas nas propriedades, ligações telefônicas, internet e recados enviados pelos agricultores por intermédio de terceiros. Algumas das perguntas utilizadas na avaliação foram as seguintes: i) Quais foram as dificuldades encontradas para realizar a vermicompostagem na propriedade? ii) Por que não utilizavam a técnica do minhocário? iii) Quem irá continuar com o minhocário?
A avaliação constituiu uma forma simples e eficaz de gerar um conjunto de informações que permitiram captar a percepção dos agricultores. Embora tenham ocorrido problemas, a aceitação do minhocário foi grande, como ficou demonstrado pelo interesse de 75% das famílias em continuar com a atividade. Dentre os problemas, os agricultores relataram ataques de predadores, como sanguessugas e, principalmente, formigas. O uso de borra de café, farinha de osso ou de casca de ovo moída espalhada sobre o canteiro pode inibir o aparecimento das formigas, além de ser um complemento alimentar para as minhocas (SCHIEDECK et al., 2006). Já a presença de sanguessugas foi relatada em apenas um dos minhocários. Elas são visualmente muito parecidas com as minhocas e causam sérios estragos, mas canteiros bem drenados podem prevenir o seu surgimento.
A maioria dos agricultores não conhecia a técnica do minhocário. E mesmo aqueles que conheciam não sabiam como construir e acreditavam que seria difícil e caro implantá-la. No entanto, a construção do tipo campeiro de bambu torna-se ainda mais simples quando realizada com material disponível na propriedade (carcaça de geladeira ou caixa d’água velha, por exemplo), como alguns agricultores fizeram.
A aquisição das minhocas também foi uma limitação para utilizarem a técnica, uma vez que a espécie vermelha-dacalifórnia não é nativa do Brasil. Para suprir essa dificuldade, foram distribuídos kits contendo minhocas. Embora seja uma prática menos comum, as minhocas nativas também podem ser utilizadas.

Considerações finais

O processo participativo permitiu atender aos anseios dos diferentes atores envolvidos na experimentação com vermicompostagem, ao facilitar a interação entre os agricultores e pesquisadores e proporcionar um aprendizado mútuo. Além de possibilitar que os agricultores conhecessem e empregassem a técnica, o trabalho favoreceu a divulgação para familiares e vizinhos.
Por fim, a experiência aqui relatada nos permitiu fazer uma análise crítica sobre a prática da vermicompostagem na mesorregião da Zona da Mata e apontar outras demandas de pesquisa.
Maria Eunice Paula de Souza, Irene Maria Cardoso, André Mundstock Xavier de Carvalho, Andreia Paiva Lopes, Pedro Henrique Silva e Ivo Jucksch
Maria Eunice Paula de Souza
Doutoranda em Solos e Nutrição de Plantas – UFV
maria.paula@ufv.br
Irene Maria Cardoso
Prof. Departamento de Solos – UFV
irene@ufv.br
André Mundstock Xavier de Carvalho
Prof. Departamento de Solos – UFV
andre.carvalho@ufv.br
Andreia Paiva Lopes
Engenheira agrônoma
andreia.paivalopes@hotmail.com
Pedro Henrique Silva
Graduando em Agronomia – UFV
pedrohenrique.santos.ufv@gmail.com
Ivo Jucksch
Prof. Departamento de Solos – UFV
ivo@ufv.br
Agradecimentos
CAPES e a FAPEMIG, pela bolsa de pós-doutorado e a CAPES e ao CNPq pela bolsa de doutorado concedida à M.E.P SOUZA. Ao CNPq e ao ProExt suporte financeiro à pesquisa. Ao Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA-ZM) e às organizações locais dos agricultores pela oportunidade que nos deram de desenvolver a pesquisa.
Referências bibliográficas:
  • AQUINO, A.M.; MEIRELLES, E.C. Canteiros de bambu para a criação ecológica de minhocas. Seropédica: Embrapa Agrobiologia, 2006. 2 p. (Comunicado Técnico, 93).
  • EDWARDS, C.E.; ARANCON, N.Q. The use of earthworms in the breakdown of organic wastes to produce vermicomposts and animal feed protein. In: EDWARDS, C.A. (Ed.). Earthworm Ecology. 2. ed. Boca Raton: CRC Press,.2004. p. 345-380.
  • FREITAS, A.F.; PASSOS, G.R.; FURTADO, S.D.C.; SOUZA, L.M.; ASSIS, S.O.; MEIER, M.; SILVA, B.M.; RIBEIRO, S.; BEVILACQUA, P.D.; MANCIO, A.B.; SANTOS, P.R.; CARDOSO, I.M. Produção animal integrada aos sistemas agroflorestais: necessidades e desafios. Agriculturas, v. 6, n. 2, p. 31-35, jul. 2009.
  • MARCONI, M.A.; LAKATOS, E.V. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005. 312 p.
  • NGO, P.T., RUMPEL, C., DOAN, T.T., JOUQUET, P. The effect of earthworms on carbon storage and soil organic matter composition in tropical soil amended with compost and vermicompost. Soil Biology & Biochemistry, v. 50, p. 214-220, 2012.
  • SCHIEDECK, G.; GONÇALVES, M.M.; SCHWENGBER, J. E. Minhocultura e produção de húmus para a agricultura familiar. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2006. 11 p. (Circular Técnica, 57).
  • SCHIEDECK, G.; SCHWENGBER, J.E.; GONÇALVES, M.M.; SCHIAVON, G.A.; CARDOSO, J.H. Minhocário campeiro de baixo custo para a agricultura familiar. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2007. 4 p. (Comunicado Técnico, 171).

Óleos essenciais orgânicos - Ecocitrus montenegro

O Técnica Rural fala sobre a produção de óleos essenciais de citrus. Você vai conhecer o trabalho de uma cooperativa de produção orgânica em Montenegro no Rio Grande do Sul.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Carol Daemon: É impossível remover agrotóxicos dos alimentos

Carol Daemon: É impossível remover agrotóxicos dos alimentos: De vez em quando, as redes sociais desencavam uns assuntos mofados, um monte de gente curte e compartilha e com isso, certos mitos volt...

Apartamentos - Momento Ambiental - horta urbana





O espaço pode até ser apertado, mas isso não impede que atitudes sustentáveis sejam colocadas em prática. Hoje, 19 milhões de brasileiros vivem em apartamentos e nem imaginam que algumas mudanças de hábitos possam fazer tanta diferença. Dar um destino diferente ao lixo orgânico com o uso de sistemas compactos de compostagem é só um exemplo. As hortas verticais também ajudam a deixar a ambiente mais verde, agradável e ecológico.

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