Ao compreender o solo como um organismo vivo, a autora foi responsável por avanços no manejo ecológico na agricultura
A engenheira agrônoma Ana Maria Primavesi, referência mundial em agroecologia e pioneira do tema no Brasil, morreu neste domingo (5) em decorrência de problemas cardíacos. O centenário da pesquisadora, nascida em 3 de outubro,
seria celebrado em 2020. Ela defende a compreensão do solo como um
organismo vivo e foi responsável por avanços nos estudos sobre o manejo
ecológico do solo.
O velório e o enterro ocorrem a partir das 10h no Cemitério de
Congonhas, no Jardim Marajoara, em São Paulo. O sepultamento será às
16h30.
Ao participar da segunda edição da Feira Nacional da Reforma Agrária, em 2017, na capital paulista, a autora defendeu
a relação entre homem e meio ambiente. "Sem a natureza não existimos
mais, ela é a base da nossa vida. Lutar pela terra, lutar pelas plantas,
lutar pela agricultura, porque se não vivermos dentro da agricultora,
vamos acabar. Não tem vida que continue sem terra, sem agricultura",
declarou enquanto autografava livros.
Trajetória
Primavesi nasceu e cresceu na Áustria, onde adquiriu os primeiros
conhecimentos no tema com os pais agricultores. Perseguida pelo nazismo,
ela foi presa em um campo de concentração durante a Segunda Guerra
Mundial.
Nos anos 50, veio para o Brasil, onde iniciou a carreira acadêmica e a
atuação militante. Nessa época, a chamada 'Revolução Verde' disseminava
novas práticas agrícolas que levaram ao crescimento desenfreado do
agronegócio nos Estados Unidos e na Europa.
No Brasil, Primavesi foi professora da Universidade Federal de Santa
Maria, onde contribuiu para a organização do primeiro curso de
pós-graduação em agricultura orgânica.
Foi também fundadora da Associação da Agricultora Orgânica (AOO) e ao
longo de sua carreira recebeu uma série de prêmios, como o One World
Award, da Federação Internacional dos Movimentos da Agricultura Orgânica
(IFOAM).
Em entrevista ao Brasil de Fato
em 2017, Carin Primavesi Silveira, filha da escritora, falou sobre a
resistência da mãe ao longo da história ao desafiar a lógica do capital
na agricultura.
“Teve muita resistência. Ela foi muito atacada. Agora, o que
acontece? A evidência é o que a natureza está mostrando, porque a gente
não pode ser contra a natureza, nós dependemos dela. Temos que trabalhar
em comunhão com a natureza”, disse à reportagem.
Obras
Entre as obras de Primavesi, estão "A Convenção dos Ventos -
Agroecologia em contos", "Manual do Solo Vivo", e "Manual Ecológico de
Pragas e Doenças", as quais fazem parte de coleção da editora Expressão
Popular.
A biografia da agrônoma, "Ana Maria Primavesi - Histórias de Vida e
Agroecologia", escrito pela também agrônoma Virgínia Mendonça Knabben,
também foi publicado pela editora.
Em 2018, a Knabben lançou, no dia 3 de outubro, um site dedicado à autora: anamariaprimavesi.com.br.
Homenagens
Nas redes sociais, o deputado federal João Daniel (PT-SE) declarou:
"Uma grande estudiosa, amou a natureza, cuidou da vida, estará presente
sempre e merece todas as homenagens. Sempre estará presente".
João Paulo Rodrigues, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST), lamentou a morte da escritora. "É com muita tristeza
que nós, do MST, recebemos a notícia do falecimento de nossa querida Ana
Maria Primavesi, nossa maior estudiosa em solos e Agroecologia, a maior
especialista em solos do mundo. Vai em paz e o MST continuará a
defender o seu legado, cuidando da nossa terra."
Em nota, o MST afirmou que em frases como “não existe solo rico ou
pobre; existe solo vivo ou morto”, a pesquisadora "ensinou ao homem e a
mulher do campo e, com isso, plantou sementes em cada canto deste chão".
O movimento diz ainda que "seguirá seu legado e seus ensinamentos na
luta pela Reforma Agrária Popular e pela agroecologia".
Edição: Camila Maciel