As características fisico-químicas e biológicas de
um solo influenciam grandemente a qualidade final dos produtos
alimentares provenientes da agricultura, pois as culturas agrícolas só
poderão produzir em quantidade e qualidade se, além de condições
climatéricas favoráveis, tiverem à sua disposição durante o período de
crescimento, os vários nutrientes e fauna edáfica
(minhocas, insectos,...) nas proporções adequadas, o que implica, em
muitos casos, o recurso a fertilizantes químicos para aumentar a
fertilidade do solo.
A lentidão de formação de húmus natural para restabelecer a fertilidade de um solo, o
elevado custo dos fertilizantes químicos e a contaminação consequente
das águas e solo, têm conduzido à procura de outros fertilizantes
produzidos biologicamente. Uma
das opções de melhoria da qualidade do solo passa pela aplicação, na
terra, ou directamente junto às plantas, do húmus produzido pelas
minhocas ou vermicomposto.
A
minhoca ingere terra e matéria orgânica equivalente ao seu próprio peso
e digere e expele cerca de 60% do que comeu sob a forma de excrementos
(húmus), em muito menos tempo que a natureza. A minhoca recicla assim restos de comida e outra matéria orgânica, produzindo
um adubo orgânico muito rico em flora bacteriana (cerca de 2000
milhares de bactérias vivas e activas, por cada grama de húmus
produzido) e devolvendo à terra cinco vezes e meia mais azoto,
duas vezes mais cálcio, duas vezes e meia mais magnésio, sete vezes mais
fósforo e onze vezes mais potássio do que contém o solo do qual se
alimenta.
A
importância das minhocas para a fertilização e recuperação dos solos já
era reconhecida pelo filósofo Aristóteles, que definia estes seres
como "arados da terra", graças à sua capacidade de escavar os terrenos
mais duros. Os antigos egípcios atribuíam poderes divinos às minhocas,
protegendo-as por lei. A grande fertilidade do solo do
vale do Nilo deve-se não só à matéria orgânica depositada pelas
enchentes do rio Nilo, como também à sua humificação pelas minhocas que
ali proliferam em enormes quantidades.
Animal
extremamente útil para a agricultura e que passa quase todo o seu ciclo
de vida debaixo da terra, a minhoca melhora as propriedades fisicas,
químicas e biológicas do solo: perfura-o, formando galerias subterrâneas
e descompacta-o.
Algumas das vantagens da utilização do húmus de minhoca como adubo natural incluem:
· não
agressivo para o ambiente e fonte de nutrientes para as plantas,
especialmente de azoto, fósforo, potássio, cálcio e magnésio.
· Controlo da toxicidade do solo, corrigindo excessos de alumínio, ferro e manganês.
· Contribuição para um pH mais favorável ao desenvolvimento das plantas.
· Redução da lixiviação e volatilização dos nutrientes das plantas.
· Entrada de água e ar facilitada.
· Drenagem controlada, evitando encharcamentos.
· Alteração da estrutura do solo, suavizando efeitos de erosão, compactação, impermeabilização e desertificação.
· Promoção da agregação de solos arenosos.
· População microbiana fixadora de azoto abundante.
· Aumento da resistência das plantas a pragas e doenças.
· Absorção favorecida dos nutrientes pelas raízes das plantas.
· Aplicação possível em contacto directo com raízes, não queimando plantas novas.
A vermicompostagem, isto é, a compostagem realizada quase exclusivamente por minhocas,
surge como opção simples de reciclar os restos de resíduos alimentares
(cascas, gomos,...) e de obter húmus com excelentes propriedades.
Poupam-se recursos, preserva-se o ambiente, evita-se o uso desmesurado
de fertilizantes sintéticos e aproveita-se para conhecer melhor este ser
vivo.
Para além da produção de húmus, as minhocas podem também ser usadas como isco para a pesca e para produzir farinha, dado o seu elevado teor de proteínas (78%). Além disso, têm uso na medicina, pela sua grande capacidade de cicatrização e regeneração dos tecidos e também na farmacologia, no tratamento de bronquite, asma e hipertensão.
O
comércio de minhocas como isco vivo tem sido o grande responsável pelo
desenvolvimento da minhocultura (criação de minhocas) na maioria dos
países criadores.
A
minhoca é um animal invertebrado, aeróbio, pertencente à classe dos
anelídeos, visto possuir um corpo segmentado em partes iguais; tem
respiração cutânea (respira pela pele) e, apesar de hermafrodita (possui
os dois sexos), a minhoca não se auto-fecunda, necessitando de outra
minhoca para se reproduzir.
As
minhocas, após atingida a maturidade sexual, reproduzem-se durante
grande parte do ano, acasalando-se normalmente à noite durante 2 a 3
horas, na superfície do solo. Os óvulos fecundados são libertados no solo no interior de um casulo, dando origem cada um deles a uma minhoca. Oito
minhocas adultas podem originar 1500 minhocas em 6 meses desde que as
condições de humidade, oxigénio, luminosidade e nutrientes sejam
favoráveis.
A
boca da minhoca está situada na extremidade que fica mais perto do
clitelo (a parte mais espessa do corpo) e como não tem dentes (não
morde), só se pode alimentar de material de pequeno tamanho, amolecido
pela humidade e pelos microorganismos. As minhocas são capazes de
regenerar a cauda mas não a cabeça, ou seja, se uma minhoca tiver sido dividida em duas partes, apenas a parte que contém a cabeça regenera uma nova cauda.
As
minhocas são saprófagas, isto é, alimentam-se de matéria orgânica
morta, especialmente vegetais, que normalmente transportam para dentro
das suas galerias.
As
minhocas não possuem olhos, mas os seus fotoreceptores são sensíveis à
luminosidade, particularmente à luz do sol. A epiderme que abriga as
células fotoreceptoras possibilita à minhoca distinguir a luz diurna da
nocturna, perceber pequenas vibrações, seleccionar alimentos e parceiros.
Estes saprófagos podem viver 5 anos ou mais, em condições favoráveis, e quando adultos pesam 1 g, podendo chegar ao tamanho máximo (12 a 20 cm) aos 7 meses. Quando uma minhoca morre, o corpo é rapidamente degradado.
http://www.confagri.pt/Ambiente/AreasTematicas/Pages/minhocaagricultura.aspx
Agradecimentos: a Sandra Barbosa, Dir. Deptº Meio Ambiente, Brasil, pelos esclarecimentos prestados.