quinta-feira, 2 de abril de 2015

Manejo de pragas e doenças no cultivo orgânico: práticas culturais e inimigos naturais

Por que surgem as doenças e pragas nas plantas cultivadas? a maneira como trabalhamos na agricultura convencional ou “moderna” é uma das maiores criadoras de pragas e doenças para as plantas. A monocultura (cultivo de apenas uma espécie) é uma das principais causas de criação de doenças e pragas. Numa floresta nativa com muitos tipos de plantas, as doenças e as pragas existem, mas não causam maiores problemas.  Uma doença ou inseto-praga se espalha muito mais fácil com um único tipo de planta ofertada em grande quantidade. O excesso de oferta de comida “chama” as doenças e as pragas para as plantas. Os adubos químicos e agrotóxicos deixam as plantas mais suculentas para as doenças e pragas. E o que é pior, os agrotóxicos destroem os inimigos naturais (seres que se alimentam das doenças e insetos-pragas) e ainda prejudicam a vida do solo. Com o tempo, os agrotóxicos matam as doenças e insetos-pragas mais fracos e vão ficando só os mais fortes. Pior ainda, alguns insetos que não eram pragas passam a causar prejuízos aos cultivos (Ex.:a larva minadora das folhas). Lavrar a terra seguidamente, manter o solo sem plantas de cobertura e sem matéria orgânica diminui a vida do solo. Com o tempo, o solo fica duro, seco, compactado, pobre em vida e nutrientes. As plantas que crescem em solo desgastado se tornam mais fracas e mais fáceis de serem atacadas por doenças e pragas.
O manejo eficiente das doenças e pragas na agricultura orgânica é baseado no seguinte princípio básico: É impossível controlar totalmente as pragas e doenças, por isso o que se recomenda é manejar a cultura com medidas que incluem diversas práticas que reduzem ao mínimo os danos causados, suficientes para evitar danos econômicos às culturas e, principalmente que  beneficiam os inimigos naturais. Dentre as práticas, destacam-se:
. Controle mecânico: através de visita diária a lavoura, eliminar e destruir (enterrio ou uso em compostagem)  plantas  doentes (ramos, folhas e frutos doentes) e/ou atacadas por pragas, evitando-se a disseminação rápida de doenças e pragas; através da irrigação por aspersão,  pode-se reduzir a ocorrência de pulgões, ácaros, tripes e lagartas do cartucho do milho, pragas que aparecem mais em condições de estiagem; a colocação de sacos de aniagem, umedecidos com leite,  entre os caminhos  da horta, no final do dia, atrai lesmas e caracóis. Deve-se fazer o recolhimento  pela manhã, combatendo-os com cal virgem ou sal.
. Manejo cultural: é o manejo de pragas  através de espécies que as atraem ou repelem.Broca das cucurbitáceas (pepino) e vaquinha (patriota) – o cultivo de abobrinha caserta (abobrinha de moita) atrai estas pragas. O porongo verde cortado ao meio e a raiz de tajujá ou tayuyá, cortada em  fatias (10cm), espalhadas na horta também atraem a vaquinha. A seiva ou o líquido existente na raiz do tajujá atrai a vaquinha, fazendo com que não ataquem a planta cultivada. Tanto no caso do porongo como na raiz de tajujá deve-se renovar as iscas regularmente; Borboleta da couve -  a hortelã e o alecrim rep elem a borboleta da couve que põe os ovos dando origem às lagartas que comem as folhas; Insetos e nematóides – o cravo-de-defunto ou tagetes, devido às suas glândulas aromáticas, repele muitos insetos e mantém o solo livre de nematóides; Ratos e formigas – a hortelã, quando plantada na bordadura dos canteiros e em volta da casa e/ou paióis, repele essas pragas. Um bom método natural para espantar as formigas é espalhar sementes de gergelim em torno dos canteiros. Para as formigas cortadeiras recomenda-se cortar e distribuir folhas de gergelim em locais de passagem das mesmas, próximos aos olheiros do formigueiro;  as formigas carregam as folhas para o formigueiro e intoxicam os fungos que servem de alimento para elas; Insetos em geral – alho, manjerona, camomila e mal-me-quer plantados no meio da horta inibem a presença de insetos; Moscas brancas – o uso de plantas repelentes como  cravo-de-defunto, hortelã e arruda, quando o ataque é pequeno, tem boa eficiência;
. Manejo de pragas com auxílio dos inimigos naturais: os inimigos naturais são insetos, fungos, bactérias, vírus, nematóides, répteis, aves e mamíferos pequenos. Os animais que comem insetos na forma larval e adulta, não são poucos, daí a importância da não contaminação do meio ambiente com agroquímicos. Todas as pragas têm seus inimigos naturais que as devoram ou destroem. Daí a importância de diversificar os cultivos (rotação, sucessão e consorciação de culturas) e  preservar refúgios naturais como matas, cercas vivas e capoeiras para manter a diversidade natural da fauna (ácaros predadores, aranhas, insetos, anfíbios, répteis, aves e mamíferos). Todos fazem parte do grande conjunto natural e contribuem para  manutenção do equilíbrio na natureza. Entre as espécies de plantas que servem de refúgio dos inimigos naturais, destacam-se: o menstrato (Ageratum conyzoides),  a beldroega (Portulaca oleracea), o caruru (Amaranthus viridis), o nabo forrageiro (Raphanus raphanistrum) e o sorgo granífero (Sorghum bicolor). No caso do sorgo, suas panículas em flor favorecem o abrigo e a reprodução do percevejo Orius insidiosus que é predador de lagartas, ácaros e tripes da cebola. Há no entanto, plantas que são desfavoráveis à preservação e ao aumento de inimigos naturais das pragas, como: mamona, guanxuma, tiririca e picão branco.  
Entre os insetos, os inimigos naturais mais conhecidos são as joaninhas (Figura 1) e as vespinhas que parasitam especialmente pulgões, cochonilhas e lagartas. Outros exemplos de inimigos naturais e os principais depredados ou destruídos são:
percevejos -  destroem lagartas e seus ovos; moscas – lagartas, seus ovos e outras pragas; coleópteros – lagartas e percevejos; louva-a-Deus,  joaninha e vespinhas -   pulgões; peixes – larvas de pernilongos; fungos – larvas e nematóides; garças – moluscos e insetos; pica-pau – insetos; tamanduá –  come formigas e cupins; outros animais que se alimentam de insetos – galinha d’angola,  morcegos, lagartas, sapos, rãs, tatus e pássaros (andorinhas, bem-te-vis, corruíras e beija-flor).

Nas próximas matérias abordaremos sobre os principais produtos alternativos que podem serem utilizados no manejo de pragas e doenças na agricultura orgânica.

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