“Temos um problema muito importante. Quase 900 milhões de pessoas vão dormir com fome, o que é um desastre para a humanidade, para a ONU e para os Objetivos do Milênio.
Se as coisas não mudarem, teremos uma catástrofe alimentar. Temos que
intervir, agora, para resolver problemas que serão inevitáveis dentro de
50 anos”. O economista Gonzalo Fanjul foi o encarregado, neste meio dia, de dar voz para “O desafio da fome”, um relatório elaborado por Mãos Unidas, com a colaboração da AECID e que foi apresentado na Universidade Pontifícia Comillas.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada no sítio Religión Digital, 24-04-2013. A tradução é do Cepat.
Entre as propostas deste relatório, Mãos Unidas advoga por uma “mudança de sistema econômico”,
que elimine o consumo desenfreado e que incorpore decisões políticas
que freiem a destruição ambiental. “Urge enfrentar o problema orientando
os sistemas de produção de alimentos, as regras econômicas e as
decisões políticas para garantir o direito à alimentação, acima de
qualquer interesse”, destaca o relatório, que sustenta que “ao menos uma
em cada seis pessoas não tem alimentos suficientes para ser saudável e
levar uma vida ativa. A fome e a desnutrição são consideradas, em nível
mundial, o principal risco para a saúde, mais do que a AIDS, a malária e a tuberculose juntas”.
“Jogamos 30% dos alimentos produzidos, afetando tanto o meio ambiente
como o seu preço”, uma situação que é absolutamente inapresentável,
sustenta o relatório, que acrescenta que três quartas partes dos que
sofrem a fome vivem em áreas rurais, principalmente na Ásia e África, expostos a secas e inundações.
Por isso, Mãos Unidas propõe aplicar reformas
agrárias e outros mecanismos que garantam aos pobres o acesso a terra,
para que possam cultivar seus alimentos e gerar excedentes de maneira
sustentável.
Entre suas recomendações, inclui a de vigiar as novas gerações de
biocombustíveis, de maneira que não afetem a disponibilidade de terra
para os pequenos camponeses, além de limitar a possibilidade de que
investidores privados e governos estrangeiros adquiram grandes extensões
de terras cultiváveis nos países em vias de desenvolvimento.
Segundo o relatório anual da FAO, “O Estado de insegurança alimentar no mundo - 2012”, atualmente há 870 milhões de pessoas com fome.
Péssimas perspectivas
No mundo, há uma população de 7 bilhões de pessoas, sendo que na
metade do século poderá aumentar em outros 2 bilhões. No ano 2025, 1,8
bilhão de pessoas viverão em países ou regiões com escassez absoluta de
água, e dois terços da população poderão estar vivendo em condições de
carência, prenuncia.
Também lembra que, segundo a Agência Internacional de Energia,
os biocombustíveis poderão proporcionar, em 2050, 27% do total de
combustível para o transporte (em comparação aos 2% atual) e reduzir
notavelmente o uso de diesel, querosene e combustível de avião.
O ato foi aberto pela presidente de Mãos Unidas, Soledad Suárez, que defendeu que “somos nós os que temos que mudar o mundo, desafiando a fome, como aquelas mulheres fizeram há 54 anos”.
A apresentação serviu como motivação para que alguns especialistas
dessem sua opinião a respeito do atual estado das coisas. Estas foram
algumas das reflexões mais relevantes:
Imaculada Cubillo, membro da campanha Direito à Alimentação, Cáritas,
opina que “o documento me parece muito completo e expõe com toda
clareza os conceitos básicos para entender a magnitude da situação da
fome, num contexto de mudança climática. É imprescindível sua
compreensão para adotar a atitude solidária e a visão política de sua
solução. Os exemplos ilustram bem esta necessidade”.
Jerônimo Aguado, membro da Via Campesina - Plataforma Rural,
considera que o relatório resulta “muito bem elaborado e um bom
diagnóstico da questão da alimentação e do problema da fome em escala
global”.
Lourdes Benavides, da campanha CRECE, Intermón Oxfam,
destaca que “entre todos e todas, devemos conseguir mudanças urgentes
em políticas públicas, em práticas de empresas, em nosso modo de
consumir, para que todos nós, pessoas que habitamos o planeta, voltemos a
estar no centro de um mundo mais justo, mais equitativo e sustentável. E
Mãos Unidas, com seu relatório, contribui para esse fim”.
Marco Gordillo, coordenador do Departamento de Campanhas da Mãos Unidas,
que é o responsável da elaboração deste relatório e para quem o
documento “insiste que para garantir o direito à alimentação, é
necessário reorientar nossos sistemas de produção agrícola, recuperando
sua função social, ambiental e econômica, priorizando o acesso aos
alimentos para todos, especialmente para os mais pobres e vulneráveis”.
Além disso, através do Skype, houve a participação de Henry Morales, Movimento Tzuk Kim-Pop
(Guatemala), que lembrou como em seu país a maioria da produção
alimentar (80%) está nas mãos de apenas 2% da população, num país onde a
desnutrição infantil é um gravíssimo e secular problema.
Carlos García, do Instituto Socioambiental – ISA (Brasil), denunciou que, nos últimos anos, 100 povos indígenas desapareceram, 1.500 líderes foram assassinados e 700.000 quilômetros quadrados (uma Espanha e meia de superfície) da Amazônia foram desmatados.
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