quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Pó de rocha como fertilizante é saída para agricultura, dizem especialistas


A utilização de pó de rocha como fertilizante e corretivo do solo é uma alternativa para o país reduzir custos de produção da agricultura e romper com a atual dependência de insumos importados, sem comprometer a produtividade das lavouras. A adoção da prática, conhecida como rochagem, foi defendida por todos os especialistas reunidos nesta terça-feira (7 de fevereiro de 2012) em debate na Comissão de Meio Ambiente (CMA).





Conforme explicaram os pesquisadores, rochagem é a incorporação de rochas moídas ao solo, como forma de tornar a terra menos ácida e mais fértil. Quando aplicados no solo, os diferentes minerais existentes nas rochas também ajudam a recuperar solos pobres e a renovar a fertilização das áreas de exploração agrícola.

Antes do plantio das lavouras em 2011, os agricultores brasileiros jogaram na terra cerca de 28,3 milhões de toneladas de fertilizantes químicos, sendo que mais de 70% foram importados. Essa dependência – em especial de nitrogênio, fósforo e potássio (NPK), base da adubação no modelo agrícola predominante no país – está no centro das preocupações dos especialistas e senadores que participaram do debate.

Conforme alerta da pesquisadora Suzi Theodoro, do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (CDS/UNB), qualquer interrupção nesse mercado de fertilizantes convencionais, seja por disputas comerciais ou por eventual envolvimento do Brasil em conflito geopolítico com países fornecedores, a produção agrícola brasileira estará comprometida.



A preocupação foi compartilhada pelos senadores Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), Jorge Viana (PT-AC), Sérgio Souza (PMDB-PR) e Ana Rita (PT-ES). Para Rollemberg, que preside a CMA, desenvolver a produção nacional de fertilizantes é uma estratégia de proteção da economia brasileira.



- Para um país que tem grande parte da sua balança comercial sustentada na agricultura, essa dependência afeta a soberania nacional.



Investir em alternativa como a rochagem, para substituir parte da fórmula de nitrogênio, fósforo e potássio, é condição para a segurança alimentar – disse Rollemberg.



Sustentabilidade

A favor da rochagem, Cláudio Scliar, Secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia (MME), destacou a grande diversidade geológica do país, com a presença em todas as regiões de rochas que se prestam à utilização como fonte de nutrientes para a produção agrícola.

No mesmo sentido, Carlos Silveira e Éder Martins, ambos pesquisadores da Embrapa, apontaram vantagens da utilização regional das reservas minerais para reduzir custos de transporte e dinamizar a agricultura local.

Martins disse considerar a rochagem uma alternativa não apenas frente à elevação do preço dos fertilizantes químicos, mas também por ser uma prática que aumenta a disponibilidade de um conjunto de nutrientes, e não apenas de NPK.

- A proposta da rochagem é repor minerais a partir das rochas que deram origem a esses solos, é recompor com minerais primários – disse.

Para os pesquisadores, o tempo maior de liberação de nutrientes a partir do pó de rocha, em comparação com adubos químicos, é uma vantagem da rochagem, e não um problema, como dizem os críticos.

Suzi Teodoro comparou as fórmulas de NPK com anabolizantes: geram o resultado imediato de tornar a terra produtiva para a safra, mas não sustentam a fertilidade nos anos seguintes. Já na rochagem, os nutrientes são retidos por mais tempo, sendo mais bem aproveitados pelas plantas e mantendo bons níveis de fertilidade.

Em resposta a questionamento de Rollemberg sobre impactos ambientais da rochagem, Suzi Teodoro ponderou que a prática pode ser um destino para rejeitos hoje produzidos pela exploração mineral realizada no país.

- Enquanto o problema da mineração é armazenar esses subprodutos, a agricultura tem carência de fertilizantes. Com a rochagem, o problema da mineração se torna a solução da agricultura – observou a pesquisadora.

Legislação

A expansão do uso do pó de rocha no Brasil esbarra na falta de normas para registro dos produtos. Rubim Gonczarovska e Mariana Coelho de Sena, fiscais agropecuários do Ministério da Agricultura, explicaram que o produto não se encaixa nos parâmetros existentes, sendo enquadrado com produto novo, que precisa passar pelos trâmites legais para ser passível de registro.

Para simplificar as normas de comercialização do pó de rocha, o governo estuda flexibilizar o Decreto 4.954/2004, que trata da fiscalização e do comércio de fertilizantes e corretivos de solo. Ao final do debate, Rollemberg informou que a comissão buscará contribuir no processo de atualização da norma.

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