Transformar o lixo orgânico em adubo é uma opção para diminuir o
volume de resíduo destinado aos lixões, além de reduzir emissões que
causam efeito estufa
A
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)
prevê algumas metas importantes para minimizar problemas ambientais,
sociais e econômicos provocados pelo manejo inadequado do lixo. O
fechamento de lixões e a construção ou a modernização de aterros são
medidas do Estado que podem melhorar a relação do brasileiro com seu
lixo. No entanto, algumas mudanças de hábitos também são contribuições
importantes para o meio ambiente.
Quando o lixo é destinado de maneira incorreta e fica a céu aberto,
pode ocorrer contaminação de lençóis freáticos com chorume, emissão de
gases do efeito estufa (que causam seu
desequilíbrio) , como o gás metano (CH4 - 20 vezes mais prejudicial na atmosfera do que o CO
2 )
e ainda atrai insetos e animais, que podem transmitir doenças ao homem.
Um grande parcela do volume de resíduos produzido anualmente no país é
lixo orgânico, que poderia ter um destino muito mais correto do que um
lixão.
A
compostagem doméstica
é uma das saídas para solucionar esse problema. Esse método faz com que
você tenha um local para reutilizar o lixo orgânico dentro de casa,
onde você irá tratá-lo para produzir adubo. Deixar o lixo em casa ainda é
um tabu para a maioria das pessoas, pois aprendemos que tudo que não é
necessário ou que não queremos mais deve ser jogado fora. No entanto,
essa é uma forma de minimizar de maneira sustentável os impactos
ambientais do seu consumo diário, ao diminuir volume de resíduos
destinado aos lixões e aterros (clique
aqui
e veja mais sobre como reduzir todos os tipos de lixo
doméstico). Existem duas maneiras de fazer isso: a vermicompostagem e a
compostagem seca.
A
eCycle apresenta abaixo um passo-a-passo com a explicação
do funcionamento de cada um dos métodos de compostagem para
desmistificar o processo e te ajudar na escolha. Depois, basta colocar
em prática essa atitude que une sustentabilidade, tecnologia e consumo
consciente de um modo simples e barato.
Vemicompostagem (minhocário)
-Procedimento
O processo será realizado por microrganismos presentes no solo e
acelerado por minhocas, que irão se alimentar dos resíduos e
transformá-los em
húmus.
Essa população de minhocas pode aumentar ao longo do tempo (a
quantidade inicial é de 200 a 250), mas geralmente, de acordo com o
espaço e a disponibilidade de alimentos, elas mesmas fazem o controle.
Algumas pessoas podem ficar com nojo ou ter algum receio em ter tantas
minhocas em casa, mas elas não saem das caixas, não exalam cheiro e
muito menos transmitem doenças (veja mais
aqui).
Você também não precisa sair por aí procurando minhocas. Existem
produtos no mercado que vêm prontos para o uso, inclusive com as
minhocas do tipo californianas vermelhas, que se adequam melhor a esse
fim.
Esse
sistema de compostagem é formado por uma tampa, três ou mais caixas empilháveis de plástico opaco
(a quantidade depende da demanda familiar, assim como a dimensão dos contêineres),
sendo duas digestoras, com furos no fundo, uma coletora para armazenar o
chorume produzido no processo (é a que forma a base da composteira).
Calma! Esse resíduo não é aquele tão prejudicial ao meio ambiente e
produzido nos lixões. O chorume orgânico ou biológico é um
biofertilizante líquido, rico em nutrientes e sais minerais. Basta
dilui-lo em água, em uma proporção de 1/5 até 1/10, e borrifar nas
folhas de sua hora caseira ou das plantas de sua casa. Nos lixões, a
origem do chorume é diversa, contendo inclusive metais pesados, por isso
é um contaminante do ecossistema.
-Manutenção
Supondo que você adquiriu uma composteira de três caixas, a de baixo
será a que acumulará o biochorume e a do meio e a de cima serão as
digestoras. É no compartimento do meio que as minhocas serão colocadas,
tendo cerca de três dedos de altura de húmus no local. A caixa de cima
também terá a mesma quantidade de húmus (mas sem nenhuma minhoca),
enquanto a coletora de biochorume ficará vazia.
A partir de então, coloque uma pequena quantidade de resíduo orgânico (saiba
aqui o
que vai e o que não vai para a composteira) na caixa digestora
intermediária. O recomendado é alimentar a composteira todos os dias. Da
primeira vez, deposite aproximadamente meio copo (100 mL) e aumente 50
mL a cada quinze dias até atingir a quantidade de 1 L por dia. Os
primeiros resíduos não devem ser espalhados pela caixa, basta
concentrá-los em uma parte e cobrir com o dobro de volume de material
seco (serragem de madeira virgem, palha, folhas secas, grama seca) para
as minhocas começarem os trabalhos.
Essa mistura de material orgânico (rico em carbono) com o material
seco (rico em nitrogênio) é importante para manter o pH do sistema, além
de permitir uma boa ventilação da mistura e de controlar a umidade. Se
houver uma boa aeração, o processo de decomposição será mais rápido e o
húmus produzido terá melhor qualidade.
Com o passar do tempo, a caixa digestora intermediária irá se encher
de húmus, chegando bem próxima à caixa de cima. A partir de então, as
minhocas passarão para o outro recipiente e você poderá repetir o
processo, agora com a caixa superior. Quando isso ocorrer, espere o
processamento completo do húmus e a migração total das minhocas para a
caixa superior. Quando isso ocorrer, retire o húmus da caixa
intermediária e a inverta de posição com a que estava na parte de cima
(mais detalhes serão explicados no decorrer da matéria). Utilize o húmus
para fortificar suas plantas e repita o processo.
-Dicas
O excesso de água é um dos fatores mais prejudiciais, pois as
minhocas têm dificuldade de se locomover (em razão de o composto se
tornar mais escorregadio), além de afetar a aeração do sistema. Faça um
teste simples: aperte a mistura e verifique se há gotejamento de
líquido. Se isso ocorrer, coloque mais material seco, de preferência a
serragem, e revolva a mistura para solucionar esse problema.
Fique atento quando você colocar frutas nas caixa digestoras, como
cascas de banana e mamão. Elas são responsáveis, dependendo da regulação
de umidade do seu conjunto de caixas, pelo eventual aparecimento de
mosquinhas de fruta, da espécie
Drosóphila.
Elas são inofensivas, mas o problema é o incômodo que a grande
quantidade delas causa. Resíduos como cascas de frutas podem conter ovos
de moscas que eclodem quando inseridos na mistura. Não use qualquer
tipo de veneno para espantar esses insetos
, pois eles podem afetar as minhocas. Regule a umidade. Se não resolver, faça um chá concentrado de
capim limão e borrife na mistura.
Também pode acontecer de algumas minhocas caírem na caixa coletora de
chorume e morrerem afogadas após um tempo, por não terem como subir de
volta à caixa digestora. A colocação de um pequeno pedaço de tijolo
encostado nas paredes da caixa pode solucionar o problema ao servir como
uma escada.
É importante não deixar a vermicomposteira exposta ao sol e à chuva.
Água e calor no sistema podem provocar a fermentação da mistura, que
eventualmente irá exalar mau cheiro. Caso isso aconteça, retire a tampa
por um tempo, remexa o conteúdo, acrescente um pouco mais de material
seco e não coloque novos resíduos por dois dias.
-Minhocas
As minhocas também precisam de uma certa atenção. Respeite a dieta e
as limitações delas. Os restos de comida são geralmente bem aceitos, mas
evite as cascas de frutas cítricas, gordura animal, restos de alimentos
salgados, cinzas de churrasqueira, alho, cebola, fezes de animais
domésticos, carne de qualquer espécie, laticínios (em excesso), papel
higiênico e madeira tratada com pesticidas ou verniz (nem mesmo como
material seco). A presença desses resíduos provoca lentidão no processo,
gerando problemas com pragas e até a morte das minhocas (clique
aqui e saiba o que fazer com o que não vai para a composteira).
Podem ser colocados na caixa digestora restos de alimentos cozidos,
borra de café (em pouca quantidade), erva mate, saquinhos de chá,
frutas, legumes, grãos, sementes e casca de ovo. É recomendável
picar
esses materiais para facilitar e acelerar a ação das minhocas. O papel
marrom e o papelão também são bem-vindos, mas sem exagero. As páginas de
revistas e jornais (sobretudo as páginas coloridas) são tratadas com
cloro e têm muita tinta, por isso não é aconselhável colocá-las na
composteira.
-Húmus
Uma caixa digestora média (50cm x 35cm x 65cm), indicada para duas
pessoas pode receber cerca de 1 L de resíduos orgânicos por dia e deverá
ficar completamente cheia em um mês (como existem dimensionamentos
diferentes de acordo com a demanda familiar, esse tempo pode variar de
acordo com o modelo do produto). Após esse período, retire o húmus da
caixa do meio (veja mais abaixo) e faça a troca de posição (a de cima
vai para o meio e a do meio vai para cima). Dessa forma, o processo
continuará sendo realizado enquanto a outra caixa coletora receberá os
próximos resíduos. As minhocas migrarão pelos buracos no fundo do
compartimento para esse recipiente, após se alimentarem de todo o
material orgânico que havia sido depositado. Em aproximadamente dois
meses, você terá produzido húmus de minhoca em sua casa, além de ter
reciclado todo o lixo orgânico.
A retirada do húmus precisa ser cuidadosa para não machucar as
minhocas. Ao constatar que todo o alimento depositado na caixa virou uma
terra úmida marrom escura e homogênea, deixe a caixa exposta ao sol.
Dessa forma as minhocas irão fugir da luz migrando para o fundo, por
isso que as caixas precisam ser de plástico opaco. Essa movimentação
ocorre em poucos minutos. Em seguida, raspe o húmus com uma pá. Caso
encontre mais minhocas, deixe mais um tempo a luz e retome a retirada.
Não se esqueça de deixar cerca de três dedos de húmus no fundo para que a
caixa receba novos os resíduos e também as minhocas.
Compostagem seca
Esse método possui inúmeras opções de manejo. O segredo dele é a
forma que você irá utilizar para aerar a mistura. A produção de adubo é
um pouco mais demorada, porque apenas os microrganismos presentes no
solo, fungos e bactérias, serão responsáveis pela decomposição da
matéria orgânica. Por isso é importante manter a umidade e o calor da
mistura sob controle.
-Procedimento
É possível fazer a compostagem seca em um recipiente específico ou
então sobre o próprio solo. O processo padrão é basicamente colocar uma
porção de material orgânico, rico em carbono, para duas porções de
material seco (palha, folhas secas, serragem de madeira virgem, grama
seca), rico em nitrogênio, em seguida, misturar bem para aerar e
facilitar a ação dos microrganismos. No mercado existem produtos com uma
boa capacidade para o processamento dos resíduos, neste caso haverá
algum mecanismo para revolver essa mistura. Esses modelos são os mais
adequados para o uso em ambiente residencial.
Se você optar pela compostagem seca sobre o próprio solo, é
necessário um pouco mais de atenção. Faça um buraco com cerca de 40 cm
de profundidade e 60 cm de diâmetro, no fundo coloque galhos secos ou
palha para permitir a circulação de ar. Ou então faça com o lixo e o
material seco um monte de aproximadamente dois metros de diâmetro por um
de altura. Nos dois métodos é preciso manter a proporção de uma parte
de resíduo orgânico para duas de material seco e revolvendo a mistura a
cada acréscimo de lixo. Quando o sistema chegar ao seu limite de volume
deixe descansar por cerca de dois meses, após esse período você terá
produzido em sua casa um adubo orgânico de excelente qualidade.
-Cuidados e dicas
Na compostagem seca é fundamental remexer o conteúdo com frequência
para oxigenar a mistura, favorecer a evaporação do excesso de umidade e
aumentar a quantidade de ar. Na primeira semana é recomendável que
revolva bem a mistura todos os dias, depois uma vez por mês. A
quantidade de umidade, calor e ar no sistema precisam ser controladas,
pois os microrganismos são sensíveis a essas variações e a compostagem
pode ser afetada, mas não precisa ficar preocupado. Existem alguns
truques para saber se está tudo certo.
Basta espremer com a mão um pouco do conteúdo para avaliar a umidade.
Se estiver tudo certo, a palma da mão deverá ficar suavemente molhada.
Se gotejar água, isso indica excesso de umidade na mistura, que é
prejudicial para a proliferação e atuação dos microrganismos. Basta
revirar a mistura e acrescentar um pouco mais de material seco para
solucionar o problema. Quando estiver muito seca, basta borrifar um
pouco de água e mexer.
No caso da temperatura, uma barra de ferro fincado na mistura pode
funcionar como termômetro. Um sistema eficiente tem uma temperatura em
torno de 60°C. Esse calor é resultado da decomposição aeróbica da
matéria orgânica que é transmitido à barra. Se a temperatura estiver
muito abaixo disso estará indicando que o processo está muito lento.
Isso pode ser provocado por pouca umidade ou pouco resíduo orgânico.
Faça o teste de umidade. Caso não seja essa a deficiência, o sistema
possivelmente está com pouco material orgânico. Coloque mais resíduos e
mexa para resolver o problema.
O aparecimento de pragas está relacionado à presença de algum
alimento que não é de fácil decomposição e que costuma atrair insetos ou
animais, como carne, ossos, gordura e açúcar (o que ocorre muito na
compostagem ao ar livre, diferentemente dos modelos de composteiras
disponíveis para venda - nesses últimos, tais riscos tendem a não
existir). Basta retirar esses resíduos, parar a colocação de mais lixo
por três dias e colocar mais material seco. Dessa forma, o problema será
solucionado.
-Húmus
Na compostagem seca, o húmus ficará pronto entre dois e três meses,
dependendo do tamanho da composteira. Após esse período, os resultados
da compostagem serão um resíduo marrom, sem cheiro e homogêneo. Nesse
caso, não há recolhimento do chorume.
Eficiência
Ambos os métodos para compostagem doméstica são eficientes e
ecológicos. Eles contribuem com a redução das emissões de gás metano
para a atmosfera, evitando desequilíbrio causado pelo
efeito estufa.
Isso sem contar que, se elas forem tratadas da maneira correta,
produzem adubo de boa qualidade, não emitem cheiro, ocupam pouco espaço,
não atraem insetos e animais, além de reduzirem o volume de lixo
doméstico substancialmente. Com pouco esforço é possível dar um destino
correto ao que iria poluir o ecossistema e sobrecarregar lixões e
aterros urbanos. O adubo produzido ainda pode ser um incentivo para ter
uma horta orgânica. Se você não quiser plantar ou adubar alguma planta
em sua casa, é só aplicar o húmus em qualquer árvore de uma praça,
parque ou no canteiro da rua para fazer bem à natureza.
http://www.ecycle.com.br/component/content/article/44-guia-da-reciclagem/1318-como-o-que-compostagem-composteira-composto-compostar-minhocario-seca-lixo-residuos-restos-comida-organico-humus-domestica-residencial-dicas-duvidas.html