Terra seca, pouco pasto, açudes e barreiros sem água. A estiagem não dá trégua. O semiárido da
Paraíba vem sofrendo com a forte estiagem desde o ano passado.
Em março, deveria estar em plena época de chuvas, o chamado inverno,
que vai até meados do ano. Deveria, mas o que choveu até agora ainda não
foi suficiente para animar os produtores para o plantio.
Os efeitos da pior seca dos últimos anos se propagaram por toda a
região. Foram sentidos em maior ou menor intensidade pelas famílias. Em
tempos difíceis assim, o que faz toda a diferença é a tecnologia.
Adaptada, simples, mas muito eficaz.
Arenilson de Souza e Marinalva moram em um lote de 12 hectares, em um assentamento em
Remígio.
Como muitos pequenos produtores da região, também sentiram os efeitos
da seca, mas estão conseguindo passar por esse período difícil graças às
técnicas que aprenderam em treinamentos com associações e trocas de
experiências com outros produtores.
Eles usam a palma pra alimentar os animais e a produção aumentou
bastante depois que Marinalva aprendeu em um curso que deixar a criação
de galinhas na lavoura só faz bem. “A vantagem é porque as galinhas
acabam adubando a palma. A galinha ficar no cercado dá uma qualidade de
vida melhor pra ela”, explica a agricultora.
Com a ajuda de uma associação, eles construíram duas cisternas - uma
para o uso da família e outra para os animais e para aguar as plantas.
Também em um curso, eles conheceram a técnica do canteiro econômico. Uma
camada de lona plástica é enterrada para reter a umidade por mais
tempo no solo. Assim, dá pra cultivar frutas e hortaliças usando menos
água. Também há canteiros que garantem o aproveitamento da água. “Eu
molho as plantas de cima, a água cai e já molha as debaixo”, explica
Marinalva.
Uma barragem é a principal fonte de abastecimento do sítio. Ela
conseguiu atravessar o longo período de estiagem e foi a salvação para o
casal de agricultores, Marinalva e Arenilson Souza, e de mais 14
famílias vizinhas.
Foi com a ajuda dos técnicos que Arenilson ampliou a barragem que hoje
atende tanta gente. Também foi assim com as outras técnicas que aprendeu
ao longo desses anos. Por onde se anda na região, tem um pouquinho do
conhecimento e de tecnologia. “A ajuda de algumas pessoas mostrou que
seria melhor usar essas tecnologias”, conta o agricultor.
Marinalva consegue melhorar ainda mais as coisas no sítio. Toda semana,
ela leva tudo que produz nas hortas para uma feira em Remígio. “Aqui
foi um meio de eu ter meu dinheirinho e melhorar a qualidade de vida em
casa, com meus filhos. Me sinto valorizada”, diz.
Os agricultores recebem orientação técnica de órgãos oficiais ou de
ONGs - Organizações Não-Governamentais, como a ASPTA, uma entidade de
apoio à agricultura familiar e a agroecologia.
“Os agricultores vêm demonstrando que a partir das suas experiências, a
melhoria da qualidade de vida vem acontecendo no campo. Estão
desenvolvendo estratégias que permitam a melhor convivência com essa
região seca”, avalia Emanoel Dias, agrônomo – ASPTA.
Os agricultores, Luiz Souza e Eliete, são outro exemplo de pequenos
agricultores que usam a tecnologia para enfrentar as dificuldades
causadas pela seca. Eles vivem em um sítio de 35 hectares, em
Solânea, onde plantam feijão e milho. Além da criação de gado, ovelhas e as cabras que dão o leite para o sustento da família.
Parte do alimento dado aos animais vem da palma que o agricultor
plantou consorciada com algumas árvores e plantas nativas. Só com essa
mudança de manejo, o resultado foi surpreendente.
“A palma é uma das plantas que requer um pouco de sombra, porque na
época em que a gente pega uma seca terrível, a palma fica quase
morrendo. Tendo essas outras culturas, mororó, feijão bravo e outras
diversidades de plantas nativas, faz com tenha uma produção maior de
palma no próprio terreno”, afirma o agricultor.
Luiz Souza aprendeu outra técnica para alimentar o gado em plena seca.
Uma silagem foi feita com palha de milho e sorgo, colhidos no ano
passado. Já está no fim, mas ainda garante comida no cocho enquanto a
chuva não chega no pasto.
Quando a água chegar, nada melhor do que manter o solo preparado. Por
isso, o agricultor aprendeu a técnica da cerca de pedra. “Ela serve de
barramento pra não entupir o depósito de água e também pra evitar
erosão. No decorrer do tempo, a propriedade vai ficando cheia de erosão e
sem esse manejo, nos traz prejuízo, porque a terra, a cada ano, vai
enfraquecendo cada vez mais”, comenta.
Outra técnica adotada no sítio é a cerca viva, com dupla função. “Ela
serve de quebra vento e de alimentação para os animais. Fica muito mais
barato e o meio ambiente agradece”, explica o agricultor.
Duas cisternas garantem o abastecimento de água da casa. Para o gado e a
lavoura, Luiz conta com imensos tanques de pedra, formados com a água
da chuva e adaptados para o armazenamento. Não tem bomba nem motor, a
água desce por gravidade para as torneiras da casa.
São tecnologias simples como estas que estão garantindo ao Luiz e
Eliete um bom estoque de comida na despensa. A mesa é farta, mesmo em
época de seca severa. “Se não fosse essa tecnologia e o trabalhado junto
às essas organizações, há doze anos, acho que a gente não tava nem
produzindo mais na própria propriedade, porque a terra já estaria
enfraquecida e a produção estaria a zero”, avalia Luiz Souza.
Apesar da chuva ter voltado em algumas partes do Nordeste, 198
municípios da Paraíba ainda estão em estado de emergência por causa da
seca, segundo o Ministério da Integração Nacional. Em todo o semiárido
nordestino, são quase 1.300 municípios.