FONTE: Jornal Zero Hora - caderno campo e lavoura 31/03/2018
Ensino direcionado para a natureza é vital se quisermos sobreviver às baratas, cupins e outros seres mais capazes de se adaptar ao novo equilíbrio, diz especialista
Imagine
um processo que remova CO2 da atmosfera – diminuindo o efeito estufa –
substituindo-o pelo oxigênio necessário à vida e ainda dando suporte a
um fabuloso microbioma capaz de regenerar o solo, melhorar o teor de
nutrientes nos alimentos, aumentar a disponibilidade de água limpa e a
rentabilidade do agro.
Pois esse processo existe, chama-se fotossíntese e
ocorre no interior das células nas folhas verdes das plantas e também
em algas. As plantas interceptam a luz solar e utilizam sua energia para
capturar o CO2 do ar, recombiná-lo com a água retirada do solo,
formando açúcares simples e devolvendo oxigênio e água para a atmosfera.
Esses açúcares simples - considerados os tijolos da construção da
planta - são transformados em uma diversidade de outros compostos como
amido, proteínas, ácidos orgânicos, celulose, lignina, óleos e ceras.
A
maioria dos compostos formados durante a fotossíntese também é
essencial ao solo, pois fazem parte da matéria orgânica originada das
plantas e onde reside um fantástico universo de seres microscópicos
responsáveis pela vida desse solo. Portanto, sem fotossíntese não
haveria matéria orgânica e sem ela o solo seria apenas um composto
mineral inerte. De fato, mais de 95% das formas de vida do planeta
residem no solo e a maior parte da energia necessária para fazer
funcionar esse microbioma deriva do carbono contido nas plantas e
retirado da atmosfera via fotossíntese.
Daí a importância de mantermos o solo sempre coberto com plantas, juntamente com práticas que conservem o C (carbono) fixado e a vida microbiana do solo. Dessa forma diminuiremos os atuais níveis de CO2 da atmosfera,
devolvendo o equilíbrio climático, a fertilidade aos solos, a qualidade
das águas, a sustentabilidade da produção agrícola e a qualidade da
vida humana.
Darmos
mais atenção e cuidado aos fenômenos básicos da natureza, dos quais a
fotossíntese é o mais importante, deveria ser uma atitude lógica e
consciente de cada ser humano. Infelizmente não o é, pois, em geral, nos
falta conhecimento sobre as coisas mais triviais da vida. Por isso,
educação direcionada para a natureza é vital se quisermos sobreviver às
baratas, cupins e outros seres mais capazes de se adaptar ao novo
equilíbrio que certamente ocorrerá, mas do qual muito provavelmente não
faremos parte se continuarmos a atual escalada de destruição da
natureza.
Carlos Nabinger é mestre em Fitotecnia e doutor em Zootecnia, professor da Faculdade de Agronomia da UFRGS
nabinger@ufrgs.br
nabinger@ufrgs.br