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segunda-feira, 2 de abril de 2018

PALAVRA DO ESPECIALISTA | PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL Carlos Nabinger: fotossíntese e educação

FONTE: Jornal Zero Hora - caderno campo e lavoura 31/03/2018

Ensino direcionado para a natureza é vital se quisermos sobreviver às baratas, cupins e outros seres mais capazes de se adaptar ao novo equilíbrio, diz especialista

Imagine um processo que remova CO2 da atmosfera – diminuindo o efeito estufa – substituindo-o pelo oxigênio necessário à vida e ainda dando suporte a um fabuloso microbioma capaz de regenerar o solo, melhorar o teor de nutrientes nos alimentos, aumentar a disponibilidade de água limpa e a rentabilidade do agro.
Pois esse processo existe, chama-se fotossíntese e ocorre no interior das células nas folhas verdes das plantas e também em algas. As plantas interceptam a luz solar e utilizam sua energia para capturar o CO2 do ar, recombiná-lo com a água retirada do solo, formando açúcares simples e devolvendo oxigênio e água para a atmosfera. Esses açúcares simples - considerados os tijolos da construção da planta - são transformados em uma diversidade de outros compostos como amido, proteínas, ácidos orgânicos, celulose, lignina, óleos e ceras. 
A maioria dos compostos formados durante a fotossíntese também é essencial ao solo, pois fazem parte da matéria orgânica originada das plantas e onde reside um fantástico universo de seres microscópicos responsáveis pela vida desse solo. Portanto, sem fotossíntese não haveria matéria orgânica e sem ela o solo seria apenas um composto mineral inerte. De fato, mais de 95% das formas de vida do planeta residem no solo e a maior parte da energia necessária para fazer funcionar esse microbioma deriva do carbono contido nas plantas e retirado da atmosfera via fotossíntese. 
Daí a importância de mantermos o solo sempre coberto com plantas, juntamente com práticas que conservem o C (carbono) fixado e a vida microbiana do solo. Dessa forma  diminuiremos os atuais níveis de CO2 da atmosfera, devolvendo o equilíbrio climático, a fertilidade aos solos, a qualidade das águas, a sustentabilidade da produção agrícola e a qualidade da vida humana.
Darmos mais atenção e cuidado aos fenômenos básicos da natureza, dos quais a fotossíntese é o mais importante, deveria ser uma atitude lógica e consciente de cada ser humano. Infelizmente não o é, pois, em geral, nos falta conhecimento sobre as coisas mais triviais da vida. Por isso, educação direcionada para a natureza é vital se quisermos sobreviver às baratas, cupins e outros seres mais capazes de se adaptar ao novo equilíbrio que certamente ocorrerá, mas do qual muito provavelmente não faremos parte se continuarmos a atual escalada de destruição da natureza.
Carlos Nabinger é mestre em Fitotecnia e doutor em Zootecnia, professor da Faculdade de Agronomia da UFRGS
nabinger@ufrgs.br

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