quarta-feira, 3 de junho de 2020

As plantas e o efeito outonal


Por: Equipe PhenoGlad

 

O amarelo exuberante da folhagem de extremosa indica a preparação da planta para o inverno.

    Em locais de clima subtropical e temperado, algumas espécies vegetais perenes, principalmente as caducifólias, proporcionam belo efeito outonal com a mudança de cores na folhagem. Isto ocorre porque as plantas, com a chegada do outono, sofrem processos fisiológicos estimulados pelas noites mais longas e com temperaturas mais baixas. Os sinais visíveis ocorrem quando as folhas passam da cor verde para diferentes tons de amarelo ao vermelho. Fisiologicamente, estas mudanças são sinais de estratégias que essas plantas estão realizando para sobreviver às temperaturas baixas durante o inverno, quando elas entram em dormência. No final do verão, o fotoperíodo (período de luz ou duração do dia) é mais curto e as noites mais longas, e esse encurtamento do fotoperíodo é o gatilho para desencadear as mudanças hormonais e fisiológicas, que levam à mudança na coloração das folhas. O verde exuberante do verão é trocado pelo amarelo, seguido pelo laranja e, por vezes, o vermelho, e finalmente o marrom, quando as folhas senescem e se desprendem da planta.

Folhas secas nos gramados próximos de árvores caducifólias é o resultado de vários processos fisiológicos que aconteceram na planta antes da queda das folhas.

    Este processo de mudança de coloração das folhas ocorre devido à mudança gradativa de pigmentos existentes nas folhas. No verão, os pigmentos predominantes são as clorofilas, cujas moléculas são ricas em nitrogênio. No final desta estação, pelo estímulo fotoperiódico, inicia a degradação das clorofilas e a consequente translocação de nitrogênio das folhas para o caule e as raízes. Com isso, a concentração de clorofilas diminui drasticamente nas folhas, permanecendo em maior concentração os pigmentos denominados carotenóides, de cor amarela, laranja e vermelha. A coloração das folhas ainda pode evoluir para o vermelho devido a predominância do pigmento antocianina, sintetizado nas folhas em temperaturas ainda mais baixas. Por isso, algumas árvores como o plátano (Platanus spp.), o liquidambar (Liquidambar stiracyflua) e a extremosa (Lagerstroemia indica) não têm as folhas com coloração alaranjada ou avermelhada em todos os anos no Sul do Brasil, pois nem sempre a temperatura outonal é baixa o suficiente para promover a síntese de antocianina. O próximo passo na evolução da cor das folhas é a coloração marrom, quando os pigmentos são totalmente degradados.

O efeito outonal causa mudança de cores na folhagem, proporcionando dinamismo sazonal na paisagem.

    Durante este processo de mudança de cor na folhagem, na base do pecíolo da folha acontece a preparação de uma zona de abscisão, de modo que a separação da folha da planta aconteça sem perda de água e nutrientes. Assim, quando notamos a presença de folhas caídas sob a copa das árvores caducifólias, todos estes processos fisiológicos aconteceram na planta. Nas partes permanentes da planta (caule/tronco e raízes), a translocação dos nutrientes minerais móveis como o nitrogênio, o fósforo e o potássio, antes da caída das folhas, garante que não ocorrerá o congelamento da água no interior da planta em regiões temperadas, onde a temperatura atinge valores inferiores a -10oC no inverno.

    O efeito outonal sobre a mudança de cores na folhagem proporciona dinamismo na paisagem ao longo do ano. Por isso, em paisagismo, a escolha de espécies caducifólias para a composição de um jardim é uma ótima estratégia para marcar a passagem do tempo e das estações do ano, reproduzindo, assim, o dinamismo temporal nas paisagens naturais. As plantas caducifólias são o ponto focal do jardim no outono. O tapete de folhas secas que se forma sob as árvores caducifólias também é uma característica nestes jardins.

 

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