Fonte: jornal da USP
Estudo observou a relação entre arborização, material particulado e casos de câncer de pulmão em São Paulo
Árvores
diminuem a quantidade de material particulado no ar pois agem como
filtros de captação e absorção – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
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Pesquisas
feitas no exterior já têm mostrado como as árvores urbanas afetam a
qualidade do ar. Um estudo da Universidade de Birmingham, no Reino
Unido, por exemplo, concluiu que prédios cobertos por plantas poderiam
diminuir em até 30% a poluição de uma cidade.
Agora a bióloga Bruna Lara de Arantes
mostra, em seu mestrado, defendido na Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, a relação entre arborização, material
particulado e casos de câncer de pulmão em idosos na cidade de São
Paulo.
O estudo aponta que a presença de árvores
diminui a quantidade de material particulado no ar. Em consequência
disso, foi observada também uma redução nos casos de doenças
respiratórias.
Para chegar a esse resultado, a
pesquisadora cruzou dados da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
(Cetesb) e da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), através de um
convênio firmado com a professora Thaís Mauad e a médica Tiana Lopes.
“Basicamente nós escolhemos as estações de
monitoramento do ar da Cetesb que estavam medindo material particulado
em 2010”, explica Bruna. “O material particulado é um dos poluentes que
mais afetam a respiração humana e também um dos mais absorvidos pelas
plantas. Isso acontece porque ele tem um tamanho microscópico, de 10
microgramas por centímetro cúbico (µg/cm³), o que permite que ele passe
pela nossa respiração sem ser filtrado.”
Além dos dados coletados pela Cetesb, Bruna
passou a analisar como o entorno das estações de monitoramento é
ocupado. Verificou se havia mais asfalto, construções, árvores ou
gramado, identificando as espécies de plantas que habitam um raio de 100
metros da estação.
Em seguida, Bruna usou programas
estatísticos para observar como as mortes por câncer de pulmão em idosos
estavam distribuídas pela cidade e se tinham alguma relação com os
dados atmosféricos encontrados pela Cetesb.
Mortes pela poluição
“Os dados apontam que a forma como você
ocupa o solo na cidade influencia em 17% os casos de morte por câncer de
pulmão em idosos”, afirma Bruna. Outros fatores de risco que devem ser
considerados são a genética e o estilo de vida dos idosos.
O estudo também encontrou uma relação entre
a ocupação da cidade por relvado ou asfalto e a região no município.
Regiões mais centrais são mais ocupadas por construções, enquanto que
regiões mais afastadas têm mais árvores. “Esse padrão já era observado
na literatura da área, mas não havia dados quantitativos como os desta
pesquisa”, ressalta.
Com os dados, foi possível concluir também
que quanto mais afastado do centro da cidade e quanto maior for a
quantidade de plantas no local, menos casos de câncer de pulmão são
encontrados. “A saúde dessa população é favorecida”, pontua Bruna.
Ainda sim, a pesquisadora lembra que, pelo
caráter exploratório da pesquisa, são necessários novos estudos sobre o
assunto para afirmações mais concretas.
Segundo uma pesquisa publicada pela revista The Lancet, a poluição do ar foi responsável por mais de 70 mil mortes no Brasil.Soluções
Além da importância acadêmica, o estudo
também é de interesse da gestão pública. “Esses dados nos trazem
evidências que, ao aumentar as áreas urbanas de gramados e árvores, há
uma diminuição significativa da poluição do ar por material
particulado”, defende a pesquisadora.
Segundo o estudo, o aumento de 1% de
gramado na cidade é capaz de diminuir 0.45 μg/cm³ de material
particulado. Já o aumento de um metro quadrado de copa de árvore reduz
0.29 μg/cm³.
“A ação dos gramados está relacionada à
possibilidade de maior circulação do ar, levando em conta que essas
partículas são muito leves e facilmente dispersas”, explica. “Já as
árvores agem como filtros de captação e absorção.”
A bióloga ainda destaca que regiões com
muitas construções verticais ou bosques fechados podem ter pouca
ventilação. Nesse caso, é interessante a substituição de prédios
inutilizados pela construção de áreas de gramado, como parques, jardins e
canteiros.
Mais informações: Bruna Lara de Arantes, e-mail blarantes@usp.br
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