fonte: plataforma de boas práticas
Os
técnicos do CETAP, ao realizarem um trabalho de assessoria com o
objetivo de contribuir para a afirmação da agricultura familiar e suas
organizações, com um princípio de construção baseado em uma agricultura
sustentável, dentro dos princípios da agroecologia, foram gradativamente
se dando conta da importância de ampliar os trabalhos com conservação e
uso da sócio-biodiversidade. Para além das espécies agrícolas já
conhecidas, a exemplo de variedades de milho, feijão, abóbora, batata
doce, ervilhas, morangas, entre tantas outras, buscou-se ampliar este
trabalho passando também a desenvolver ações de conservação e uso
da sócio-biodiversidade nativa.
A
promoção da agroecologia, como proposta de reconstrução de sistemas
agroalimentares promotores de soberania alimentar e protagonismo
popular, integrando campo e cidade numa perspectiva de interdependência
dentro de uma lógica de complementaridade entre rural e urbano, originou
o Projeto de " Valorização e Uso das Frutas Nativas na Perspectiva de
Associar Geração de Renda com a Conservação Ambiental e Soberania
Alimentar".
Portanto,
o trabalho de valorização e uso das espécies nativas surge dentro da
entidade CETAP, como um processo de amadurecimento e entendimento da
agroecologia, bem como do papel da entidade em se desafiar e desafiar a
sociedade na realização de inovações.
A - Informações gerais
INÍCIO: 01/2001 (em andamento)
ENTIDADE EXECUTORA: Centro de Tecnologias Alternativas e Populares - CETAP
PARCEIROS: Encontro de Sabores - Comercio de Produtos Orgânicos
APRESENTADO POR: Alvir Longhi
RECURSOS: Terceiros (provenientes de captação de recursos e/ou parceiros, sejam eles públicos ou privados, a fundo perdido ou reembolsáveis)
FAIXA DE VALOR: Acima de U$25 mil
CATEGORIA: Projeto
ÁREA TEMÁTICA PRINCIPAL: Inclusão Sócio-Produtiva
PALAVRAS-CHAVE: Fruticultura, Cooperação, Arranjos Produtivos, Cadeias Produtivas, Agricultura Familiar, Produção de Alimentos, Desenvolvimento Regional, Diversificação, Agregação de Valor, Preservação, Sistemas Agroflorestais e biodiversidade
PÚBLICO-ALVO: Agricultores familiares, empreendimentos urbanos de economia solidária e inciativas de empreendimentos sociais
LOCALIZAÇÃO: Área periurbana
ABRANGÊNCIA GEOGRÁFICA: Microrregional
ÁREA ESPECÍFICA DE IMPLANTAÇÃO: Municípios de Passo Fundo, Santo Antônio do Palma, Três Arroios, Aratiba, Itatiba do Sul, Sananduva, Ibiraiaras, Santo Expedito do Sul, Pinhal da Serra, Vacaria, Monte Alegre dos Campos e Campestre da Serra.
B - Descrição da prática
1- ANTECEDENTES
No
estado do Rio Grande do Sul, frutas como jabuticaba, butiá, guabiroba e
araçá, fazem parte da cultura local. Muitas pessoas as conhecem ou
lembram que na infância, de maneira lúdica, subiram em árvores para
poder degustar o sabor silvestre desses frutos. Contudo,
atualmente, a aquisição dessas frutas nativas ou de seus derivados é
restrita, principalmente pela baixa oferta nos mercados. Por isso, o
consumidor acaba adquirindo espécies exóticas, consideradas mais
produtivas pelos produtores e que são facilmente encontradas em locais
de comercialização de alimentos.
Existe
uma expressiva diversidade de espécies frutíferas, nativas do estado do
Rio Grande do Sul, e que historicamente foram negligenciadas ou pouco
utilizadas. Percebendo
isso, técnicos do Centro de Tecnologias Alternativas e Populares
(CETAP), Organização Não Governamental (ONG), com sede no município de
Passo Fundo (RS), identificaram a possibilidade de geração de renda para
os agricultores familiares ecologistas, situados em quatro regiões do
estado do Rio Grande do Sul, por meio da coleta de frutas das espécies
nativas existentes em suas propriedades.
Esses
produtores utilizam sistemas de produção de base ecológica, em pequenas
áreas de terra, com mão de obra familiar e produzindo hortaliças,
feijão, milho, mel, queijo artesanal e frutas nativas, as quais são
utilizadas para consumo próprio e o excedente comercializado em feiras.
O
principal objetivo da presente iniciativa, reside na proposição de
criação e, consequente estruturação de uma cadeia produtiva solidária,
surgida da percepção de preencher a lacuna de exploração, de um mercado
de frutas nativas.
Com
a adicional expectativa de promover desenvolvimento com geração de
oportunidades aos agricultores familiares ecologistas, acompanhados pelo
CETAP, além de levar aos consumidores alternativas para uma alimentação
natural e saudável, com sustentabilidade ambiental.
Objetivos Específicos:
- contribuir para a afirmação da agricultura familiar e suas organizações;
- construção de uma agricultura sustentável;
- preservação da biodiversidade local; e
- troca de conhecimentos, experiências e integração entre os meios rural e urbano.
3 - SOLUÇÃO ADOTADA
O
reconhecimento de que as frutas nativas estão pouco presentes nos
sistemas de produção de alimentos e na cultura alimentar, permitiu que o
CETAP desse início ao trabalho voltado à importância e ao potencial
socioeconômico dessas frutas, levando à conservação das mesmas, estando
estas em seus ambientes naturais, ou sendo cultivadas em sistemas
agroflorestais.
A
entidade contribuiu com ações que respaldaram o empreendimento
“Encontro de Sabores” para a formação da cadeia produtiva das frutas
nativas. Tal iniciativa colabora para a troca de conhecimentos,
experiências e integração entre os meios rural e urbano, propiciando
complementaridade entre ações desenvolvidas para uma ampliação de
oportunidades, associadas à preservação da biodiversidade local.
Os
fundadores do empreendimento “Encontro de Sabores”, do corpo técnico do
CETAP, avaliaram que, para obter um avanço da atividade econômica na
região de atuação, era necessário um articulador direcionado á
comercialização dos produtos procedentes dos sistemas agroflorestais ou
dos remanescentes florestais existentes nas propriedades dos
agricultores, a fim de motivá-los a cuidar e a cultivar as espécies
frutiferas nativas.
Assim,
o “Encontro de Sabores” foi constituído para fazer a conexão entre os
agentes da cadeia produtiva, a comercialização e a circulação de
produtos. Também foi identificado ser fundamental elaborar diferentes
subprodutos a partir das frutas nativas, para que o empreendimento
pudesse viabilizar-se economicamente, bem como criar mais demandas de
produtos (frutas e polpas) aos agricultores.
Com
o intuito de realizar a venda aos consumidores, foi desenvolvido um
trabalho de divulgação por meio de aulas de gastronomia, eventos de
degustação de novos produtos, para informar sobre a possibilidade de
produzir uma variedade de subprodutos a partir das polpas de frutas
nativas (amora, araçá, butiá, goiaba, guabiroba, jabuticaba, uvaia,
açaí-juçara, pinhão). devido a isso, a" Cadeia
das Frutas Nativas" foi eleita, em 2012, para participar do convênio
entre o estado do Rio Grande do Sul, por meio da Secretaria da Economia
Solidária e Apoio à Micro e Pequena Empresa do Estado do Rio Grande do
Sul (Sesampe), e a Fundação de Educação para o Associativismo –
(FEA/Colacot), no marco do projeto “Cooperação Internacional no Âmbito
da Economia Solidária entre o Rio Grande do Sul e Países da América
Latina e Caribe”.
Atualmente,
a cadeia produtiva das Frutas Nativas na região de atuação direta do
CETAP em Parceria com o Encontro de Sabores, conta com a participação de
cerca de:
- 150 famílias de agricultores familiares ecologistas, além de entidades parceiras, ONGs, associações, cooperativas, prefeituras e empreendimentos da economia solidária em 17 municípios do Rio Grande do Sul;
- 69 áreas com sistemas agroflorestais no estado;
- 05 unidades de processamento de polpas de frutas nativas instaladas;
- 03 unidades comunitárias de processamento de pinhão;
- instalação de 01 unidade de processamento para elaboração em produtos finais, no município de Passo Fundo;
- Os principais produtos desta cadeia produtiva a destacar são: A bolacha de pinhão, os picolés de frutas nativas, salgados (pastel de pinhão, croquete de pinhão, pastel de butiá), as polpas de guabiroba, araçá vermelho, goiaba, jabuticaba, butiá e bergamota crioula, e por fim, os sorvetes de frutas nativas;
- Do ponto de vista econômico, as referidas atividades fazem circular em média, pela comercialização dos produtos descritos, um valor total de: aproximadamente R$ 15.000,00 por mês ou R$ 180.000,00 por ano.
5 - RECURSOS NECESSÁRIOS
As ações de valorização e uso das frutas nativas juntamente com a implementação de propostas de implantação e manejo de agroflorestas desenvolvidas pelo CETAP, nestes 15 anos de trabalho, tem tido apoio de diversos atores em diferentes momentos, desde do Governo Federal e Estadual, entidades de cooperação internacional e inciativa privada. Mais recentemente buscam-se também apoios junto às Prefeituras, nos municípios onde o trabalho é desenvolvido.
Recursos Humanos
- 02 profissionais da equipe técnica do CETAP e do Encontro de sabores
em tempo integral. Número variável de técnicos para acompanhar as àreas
agroflorestais, bem como para a assessoria técnica no desenvolvimento
de produtos a partir de frutas nativas e na construção de alternativas
de comercialização.
Recursos Materiais
- o projeto ensejou a aquisição de diversos equipamentos, tais como:
despolpadeiras, freezeres, dosadores manuais, taques de lavagem,
seladoras, equipamentos direcionados á instalação de pequenas unidades
de processamento de polpas de frutas junto aos grupos e famílias de
agricultores. Também foram adquiridos equipamentos para o processamento
do pinhão, como trituradores/moedores elétricos, descascador de pinhão,
freezer e seladora.
Infra-Estruturas: Por
último, o projeto estruturou e equipou a instalação de uma unidade de
processamento para elaboração em produtos finais, das popas e da massa
de pinhão. Juntamente com o "Encontro de Sabores" foi adquirido um KIT
feira, ou seja, um conjunto de equipamentos que permite com que os
grupos e empreendimentos participem de diversas feiras para venderem
seus produtos.
Marketing: Anualmente são investido recursos em elaboração de material de divulgação como: cartilhas técnicas, manuais, folders e banners
6 - TRANSFERÊNCIA
A
experiência desenvolvida vem gerando diversos momentos de reflexão e
troca de experiências, no âmbito da Rede Ecovida de agroecologia, do
estado do Rio Grande do Sul. Resultado
direto disso, é que a partir do de 2014, foi elaborado um plano de
trabalho em 07 regiões do estado, de forma conjunta e entre diversas
organizações, a fim de implantar estas inciativas em outras regiões.
Além
disto, o CETAP e o Encontro de Sabores receberam inúmeras vistas de
grupos de agricultores, estudantes, universidades de diversas regiões do
estado e do Brasil, a fim de conhecerem e intercambiarem conhecimentos
sobre o tema.As
Inciativas desenvolvidas, também serviram de base para a formulação de
um programa do Governo Estadual, através do departamento de economia
solidária, para o período de 2011 a 2014, direcionado ao fomento e
articulação da Cadeia Solidária das Frutas Nativas do Rio Grande do Sul.
7 - LIÇÕES APRENDIDAS
Até ao momento, destacam-se como os principais fatores constatados pela iniciativa, as seguintes inferências:
- Os agricultores que possuem árvores nativas ou que implantaram sistemas agroflorestais, apesar dos desafios a serem enfrentados, sentem-se satisfeitos quanto ao retorno econômico demonstrado pela atividade;
- As entidades que prestam serviços de acompanhamento técnico às famílias e aos grupos vêm encontrando pouco apoio das políticas públicas estaduais e nacionais, no sentido de dar continuidade aos trabalhos e de aprimorar os processos já utilizados;
- Para os técnicos, é indispensável que haja um programa de financiamento ou uma forma de custeio que possibilite a aquisição de materiais e insumos por parte das famílias de agricultores, a fim de implantar o manejo de áreas de Sistemas Agroflorestais (SAFs) e melhorar os processos de colheita e estocagem de frutas. Os técnicos reforçam que tal programa deveria se estruturar em cima da premissa de que esta ação cumpre com uma função ambiental relevante e, portanto, é de interesse do conjunto da sociedade;
- Nas comunidades rurais, 80% das iniciativas de produção de polpa de frutas nativas, na área geográfica de atuação, são realizadas em espaços informais. A maioria dos participantes, entende que há urgência de formalização, porém sem que isso descaracterize o trabalho. São necessárias dinâmicas organizativas, infraestruturas e uma legislação adequada a esta realidade;
- A operacionalização atual é executada de forma a atender à pouca procura com estoques relativamente altos para o contexto apresentado, ou que são pouco comportados pela estrutura disponível.
- Acumulo de conhecimento técnico sobre manejo de agroforesta em diferentes situações;
- Conhecimento técnico sobre processamento de frutas Nativas. Não havia conhecimento sobre esta prática até o início deste trabalho, uma vez que não existia praticamente nada versando sobre este tema, e especificamente, na região sul do brasil. Com a realização deste trabalho foi possível organizar um procedimento sobre boas práticas de processamento de frutas nativas, a mesma encontra-se descrita em uma cartilha técnica de processamento de espécies nativas;
- Desenvolvimento de novas receitas – com a realização do trabalho em parceria junto ao Encontro de Sabores foram realizadas diversas receitas de pratos doces e salgados a partir das frutas nativas, o que permite hoje realizar atividades de capacitação junto a empreendimentos de alimentação (restaurantes, hotéis e lancherias), a fim de que os mesmos possem a utilizar os produtos compostos com frutas nativas em seus cardápios;
- O trabalho realizado e as experiências geradas possibilitaram que o CETAP elaborasse uma base metodológica que possa ser utilizada em diferentes contextos, a fim de promover a valorização e uso da sócio-biodiversidade. Esta base metodológica tem como principais elementos uma espécies de fluxograma de como montar uma "Dinâmica" regional de aproveitamento, processamento e comercialização de produtos da sócio-biodiversidade, com ênfase nas frutas nativas.
Trata-se como frisado anteriormente, de uma iniciativa original, não havendo até ao momento, referências apontando iniciativa similar no estado do Rio Grande do Sul.
A visitação decorre em qualquer época do ano, limitada a um número máximo de 30 pessoas.
Frutas_Nativas-2015 (1).pdf | [ ] | 3336 kB |