Hoje, 217 espécies de ervas são resistentes a pelo menos um herbicida, segundo a Pesquisa Internacional de Ervas Resistentes a Herbicidas.
Do New York Times
A
depender do ponto de vista, o capim-arroz é um pesadelo ou uma
maravilha. Isso porque é uma planta extremamente triunfante. O
capim-arroz é particularmente devastador em arrozais, onde os prejuízos
às vezes chegam a 100%. Ele desenvolveu resistência a muitos herbicidas
usados por agricultores para controlar ervas daninhas, e cada planta
pode produzir até 1 milhão de sementes, que se alojam no solo esperando a
chance de crescer.
No fim das contas, o capim-arroz e as muitas outras ervas daninhas do
mundo resultam em uma redução de 10% na produtividade das lavouras. Só
nos EUA, causam um prejuízo estimado em US$ 33 bilhões por ano. Os
herbicidas podem reduzir o dano, mas a resistência se desenvolve em
poucos anos a partir da introdução de um novo defensivo químico. Agora,
alguns cientistas argumentam que podemos encontrar formas mais eficazes
de combater as ervas daninhas estudando sua evolução.
“São plantas incrivelmente bem-sucedidas. Elas evoluíram para tirar
proveito de nós”, disse Ana Caicedo, da Universidade de Massachusetts. O
capim-arroz mudou drasticamente em relação a seus ancestrais,
desenvolvendo tolerância ao solo encharcado dos arrozais. Ele também
evoluiu para ficar parecido com o arroz.
“O pessoal da biotecnologia não tem nem ideia sobre como fazer uma
planta se parecer com outra planta”, disse R. Ford Denison, biólogo
evolucionista da Universidade de Minnesota. “No entanto, mil anos de
seleção em um pedacinho da Terra foram suficientes para dar ao
capim-arroz a capacidade de mimetismo com a lavoura -e a tolerância à
inundação.”
Certos traços ajudam as espécies selvagens a se tornarem ervas
daninhas -elas crescem rapidamente, por exemplo, e produzem muitas
sementes.
Outras ervas evoluem a partir da união de plantas selvagens com
cultivos agrícolas. Na década de 1970, beterrabas selvagens da Europa
lançaram pólen que fertilizou beterrabas açucareiras cultivadas em
fazendas. Também cultivos agrícolas podem virar ervas daninhas.
“Domesticamos uma planta a partir do estado selvagem, e ela, de alguma
forma, se ‘desdomestica’ -o que eu acho bastante interessante”, disse
Caicedo.
Entre esses cultivos desgarrados está uma erva daninha conhecida como
arroz vermelho. O arroz domesticado foi selecionado geneticamente de
modo a reter suas sementes quando colhido. Já o arroz vermelho
desenvolveu sementes frágeis, que caem no chão ao serem colhidas, às
vezes ficando dormentes. Essas sementes dormentes podem posteriormente
brotar. “É um traço fantástico para uma erva daninha”, disse Caicedo.
O DNA das ervas “desdomesticadas” adquire novas mutações em
diferentes genes. “Você tem um novo conjunto de truques genéticos”,
disse Norman Ellstrand, da Universidade da Califórnia, em Riverside.
O último século trouxe uma série de herbicidas químicos que
logo se tornaram ineficazes. Hoje, 217 espécies de ervas são resistentes
a pelo menos um herbicida, segundo a Pesquisa Internacional de Ervas Resistentes a Herbicidas.
Na década de 1970, havia grande esperança
em torno de um novo herbicida chamado glifosato, vendido pela Monsanto
como Roundup. Os primeiros estudos revelaram que as ervas daninhas não
desenvolviam resistência a ele, o que despertou a expectativa de que
finalmente os agricultores haviam escapado da evolução.
Na década de 1980, a Monsanto ampliou a popularidade do glifosato
lançando cultivos agrícolas geneticamente modificados que portavam um
gene que lhes conferia resistência ao herbicida. Em vez de usar diversos
herbicidas diferentes, muitos agricultores poderiam agora usar apenas
um. No entanto, por meio da evolução, as ervas daninhas acabaram se
tornando resistentes ao glifosato.
Meses atrás, a consultoria agrícola Stratus informou que
metade das fazendas americanas tinha em 2012 ervas daninhas resistentes
ao glifosato. Em 2011, eram 34%.
Alguns pesquisadores argumentam que as ervas daninhas podem ser
combatidas com a combinação de dois genes de resistência em uma só
planta cultivada, de modo que os agricultores poderiam aplicar dois
herbicidas ao mesmo tempo. A chance de que uma erva tenha resistência
aos dois produtos químicos seria minúscula. Mas na revista “Trends in
Genetics”, uma equipe franco-americana de cientistas apresentou um
contra-argumento: pulverizar um produto químico pode motivar a evolução
de um sistema de reação a todo tipo de estresse, capaz de defender a
planta contra mais de um herbicida.
David Mortensen, biólogo da Universidade Estadual da Pensilvânia e
especialista em ervas daninhas, previu que essas plantas criariam uma
nova geração de ervas resistentes.
Ele e seus colegas estão investigando o controle das ervas daninhas
por meio do plantio de cultivos como o centeio de inverno, capaz de
matar as ervas bloqueando a luz solar e liberando toxinas. “Você espalha
a pressão da seleção em vários pontos e tenta evitar a criação de
resistências.”