Pesquisas em desenvolvimento no país buscam
aprimorar a técnica de rochagem, que utiliza o pó de rochas como
substituto dos fertilizantes químicos nas plantações
Quando ouve falar em rocha, a maioria das pessoas imagina um obstáculo,
um objeto de estudo geológico ou mesmo ornamental. O que poucos sabem,
no entanto, é que essa "pedra no caminho" pode ser também um potente
fertilizante para a agricultura, rico em nutrientes capazes de
desenvolver plantas mais fortes e saudáveis para o consumo humano. E
isso tudo a um custo bem mais baixo que o dos produtos usados
atualmente.
O Brasil precisa importar 90% dos fertilizantes utilizados na
agroindústria, todos químicos. Isso porque o solo tropical é muito
antigo e, por conta do processo dinâmico e natural do tempo, acabou
perdendo importantes nutrientes, como potássio, fósforo, cálcio e
magnésio, considerados a "base alimentar" das plantas. Uma alternativa
para essa escassez e ótimo substituto para os produtos importados é a
rochagem, técnica que utiliza o pó de rochas - especialmente das
vulcânicas - para fortalecer o solo (veja arte).
As vantagens do método são muitas. Além de dispensar o uso de produtos
químicos, a rochagem exige uma recarga de nutrientes do solo a cada
quatro anos apenas, enquanto na adubação tradicional ela é feita
anualmente. "É a fertilização da terra pela terra", resume Suzi Maria
Córdova, pesquisadora da Universidade de Brasília (UNB). Segundo ela, o Brasil tem uma geodiversidade imensa, que pode suprir a demanda de fertilizantes importados.
O grande desafio está em identificar as rochas que contenham os
principais nutrientes necessários à agricultura, assim como apontar
aquelas com metais que possam contaminar o meio ambiente e, por isso,
precisam ser evitadas no processo. "As rochas utilizadas devem ser
fontes naturais de fósforo, potássio, cálcio e magnésio, além de possuir
uma série de micronutrientes indispensáveis à nutrição vegetal",
explica Suzi.
As que apresentam maior potencial para virarem fertilizante são as ricas
em minerais silicáticos de solubilidade moderada. De acordo com Éder
Martins, pesquisador da Embrapa Cerrados, unidade da Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária, se o pó de rocha for muito solúvel seus
nutrientes se espalham pelo solo e a planta não consegue absorvê-los.
"Esse é um dos problemas dos fertilizantes químicos. Eles são tão
solúveis que os nutrientes se perdem na terra." Entre as rochas mais
utilizadas na rochagem estão a biotita, flogopita, feldspatoides e
zeólitas, encontradas em abundância nos estados de Goiás, Minas Gerais,
Bahia e Tocantins.
Investimento
Segundo Martins, os estudos sobre a rochagem são uma demanda do governo
federal, preocupado em reduzir os gastos com a importação de
fertilizantes. Em 2008, o país gastou US$ 10 milhões com esses produtos.
A adoção da nova técnica pode representar uma economia de até US$ 7
milhões por ano para os agricultores brasileiros. "A intenção não é
acabar com a importação, mas diminuí-la", informa o cientista.
A rochagem ainda consegue aliar dois setores que, tradicionalmente, não
possuem interação e são considerados grandes vilões ambientais:
mineração e agricultura. O problema do primeiro (excesso de resíduos)
pode se transformar em solução para uma necessidade do segundo
(fertilizantes). "Os subprodutos ou rejeitos gerados em muitas
minerações já se encontram, em sua maioria, triturados ou moídos, o que
facilita a incorporação desses materiais aos solos", explica Martins.
Suzi Córdova ressalta que a técnica incorpora vários princípios da
agroecologia, uma vez que não tem um foco exclusivo na produção, mas,
também, na sustentabilidade ecológica e socioeconômica do sistema de
produção. "A rochagem é uma técnica de baixo custo e acessível ao
pequeno agricultor, o que viabiliza sua inclusão no mercado."
O Sul do país é a região que mais utiliza o método, por conta da
diversidade de rochas ricas em nutrientes na região. Para Martins, é
importante analisar a viabilidade econômica de transporte dessas rochas.
"A utilização dessa técnica só é vantajosa se as rochas estiverem a uma
distância de, no máximo, 200km da fazenda." Isso porque, para cada
hectare de plantação, são usadas 2t de pó de rocha. Os cientistas
esperam ainda a normatização da tecnologia pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento. "É preciso estabelecer uma
regulamentação comercial e classificatória dessas rochas, além da
criação de créditos para financiar o uso da rochagem", diz Suzi.
O número
US$ 7 milhões
Valor da economia que a disseminação da rochagem pode representar por ano ao país.