Fonte site EPAGRI
- Post
publicado:5 de junho de 2025
- Categoria
do post:Florestas / Meio ambiente
À primeira vista, é apenas uma floresta. Mas um olhar com
mais atenção revela que, à sombra de árvores como araucária, imbuia, canela,
guamirim e guaraperê, tem produção de erva-mate. Assim é a agrofloresta de 12
hectares que Eurico Rocha conduz em Ponte Serrada, no Oeste Catarinense, em
meio à mata nativa, seguindo a tradição iniciada pelo avô.
“Além desses 12 hectares, tenho uma área de reserva
com plantas de erva-mate que não mexo – mantenho preservada, como um banco de
sementes. Nunca tive problemas com pragas e doenças e acredito que seja por
conta dessa preservação”, relata. O manejo é simples e Eurico não usa insumos
químicos – apenas esterco suíno para adubação. Com os resultados da análise de
solo, faz a correção da acidez.
À sombra da mata nativa, o
agricultor Eurico Rocha mantém 12 hectares de produção de erva-mate
A colheita acontece a cada dois anos e meio. Na área com
plantas mais adensadas, Eurico colhe cerca de 15t/ha, e nas outras áreas, a
produtividade é de cerca de 7t/ha. “Mas o retorno maior é a preservação: olho
para a minha área de floresta e é um verde só. Cada um tem que fazer a sua
parte: precisamos de mais agroflorestas”, diz o produtor, que também trabalha
com apicultura e planeja destinar parte da propriedade para criar uma reserva
de proteção permanente.
Na sombra da mata
As agroflorestas nativas
como a de Eurico, somadas às que foram implantadas pelos agricultores,
respondem por cerca de um terço da produção de erva-mate catarinense. O Estado
conta com mais de 16 mil hectares de cultivo, do Planalto ao Extremo Oeste, o
que equivale a 20% dos plantios no Brasil.
Em 2023, Santa Catarina produziu cerca de 130 mil toneladas
de erva-mate, movimentando R$176 milhões. A planta, além de dar sabor ao
chimarrão, a chás e sucos, é ingrediente de uma gama cada vez maior de produtos
e compõe a renda de milhares de famílias – para muitas delas, é a principal
fonte de sustento.
Um terço da erva-mate produzida em
Santa Catarina vem de agroflorestas
“A erva-mate é uma planta nativa que se adapta muito
bem às condições de clima e solo da nossa região. Em sistemas agroflorestais,
tem a capacidade de trazer bons rendimentos e ao mesmo tempo fazer conservação
de solo e água”, destaca Paulo Alfonso Floss, pesquisador da Epagri.
Diferencial do Planalto Norte
A maior potência das agroflorestas catarinenses de erva-mate
é o Planalto Norte, que também responde pela maior fatia da produção do Estado.
Nessa região, a planta é cultivada em áreas chamadas de caívas: à sombra de
árvores nativas, como a araucária, sem a presença de espécies exóticas ou uso
de agrotóxicos. O resultado dessa combinação é uma erva-mate mais doce e menos
amarga, com folhas mais verdes e maior teor de cafeína.
As características de clima, solo e da cultura dessa região
tornaram a erva-mate
do Planalto Norte Catarinense um produto único. Em 2022, ela foi
reconhecida por essa singularidade e conquistou a Indicação Geográfica (IG) na
categoria Denominação de Origem (DO), em um processo que teve apoio da Epagri.
O registro, concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade
Industrial (INPI), abrange 12 cidades e, parcialmente, outros oito municípios.
A certificação tem potencial para impactar positivamente toda a economia do
Planalto Norte, porque traz valor agregado aos produtos, aumentando a renda dos
produtores rurais e impulsionando setores como o turismo.
A erva-mate do Planalto Norte
Catarinense é mais doce e menos amarga, tem folhas mais verdes e maior teor de
cafeína
Tradição e tecnologia
A Epagri trabalha para desenvolver e estimular a cadeia
produtiva da erva-mate desde a década de 1980. As pesquisas são
realizadas na Estação Experimental de Canoinhas e no Centro de Pesquisa para
Agricultura Familiar (Cepaf), em Chapecó, que se dedicam à produção de sementes
e mudas, ao melhoramento genético e ao manejo produtivo.
Essas décadas de trabalho já resultaram em uma série de
entregas para os produtores, como o primeiro pacote tecnológico para a
erva-mate no Brasil. Em parceria com a Embrapa Florestas, a Epagri também
lançou o primeiro cultivar de erva-mate do País: SCSBRS Caa rari.
Atualmente, a Empresa desenvolve pesquisas com diversos materiais genéticos,
tanto para plantio em pleno sol quanto à meia sombra. “No próximo ano, vamos
lançar, em parceria com a Embrapa, uma variedade de erva-mate para plantio em
pleno sol e com sabor diferenciado”, revela o pesquisador Paulo Floss.
Em parceria com a Embrapa, a Epagri
está desenvolvendo uma variedade de erva-mate que será lançada em 2026
O trabalho da Epagri também tem contribuído para sombrear
novas áreas de produção de erva-mate no Estado. “Muitos produtores que tinham
plantios a pleno sol estão, gradativamente, adotando o sombreamento. Embora
precise de mais tempo entre as colheitas, a erva-mate sombreada tem mais
qualidade, sabor agradável e é preferida pela indústria”, diz Paulo.
Nesses casos, a Epagri orienta o plantio de 50 a 100
araucárias por hectare. “O sombreamento deve ser de, no máximo, 30%, para não
provocar queda de produção”, explica.
Conhecimento técnico
Em 2024, a Epagri atendeu 955 pessoas sobre a produção de
erva-mate e 430 pessoas sobre produção agroflorestal. Um trabalho de destaque
foi a capacitação de produtores de Passos Maia, Ponte Serrada e Vargeão, que é
um polo produtivo no Oeste Catarinense. O trabalho, que ainda está em
andamento, envolveu um Seminário Regional, uma viagem técnica e um curso de
formação continuada.
Nas capacitações, os produtores
conhecem tecnologias que aumentam a produtividade
“É possível sair de um patamar de baixas produtividades e
alcançar patamares competitivos com algumas técnicas simples de tratos
culturais, adubação e poda correta. Tudo isso está sendo trabalhado nas
capacitações. Alguns produtores que acompanhamos relatam que a aplicação das
tecnologias já começa a dar os primeiros resultados”, diz Leila Tirelli da
Motta, extensionista da Epagri em Vargeão.
Um dos beneficiados é o produtor Eurico, que mantém a
agrofloresta em Ponte Serrada. Aos 56 anos, ele já tem mais de 20 certificados
de cursos da Epagri. “Comecei a participar muito cedo, incentivado pelo meu
pai, que já recebia assistência técnica na propriedade”, lembra.
“Cada um tem que fazer a sua parte:
precisamos de mais agroflorestas”, diz o produtor Eurico Rocha
Mas muito além do conhecimento técnico, Eurico atribui sua
visão de mundo e o forte trabalho na área ambiental ao aprendizado que acumulou
em mais de 40 anos de parceria com a Empresa. “Eu vejo, hoje, que esses cursos
vão muito além da questão técnica. Eles abrem a mente do agricultor. Eu sou
muito grato, porque me tornei empreendedor graças a esses cursos, que me
tiraram da propriedade e me levaram para outros lugares”, diz Eurico, que hoje
também trabalha como consultor ambiental.
Leia outras histórias de sucesso no Balanço
Social da Epagri.
Por Cinthia Andruchak Freitas – jornalista Epagri
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