(Extraído do site Nó de Oito – autora: Lara Vascouto)
Em 1521 ficaram prontas o que é
considerado hoje o primeiro pedaço de legislação ambiental do Brasil: as
Ordenações Manuelinas (de D. Manuel I). O código versava sobre todas as
áreas do Direito, com as partes sobre meio ambiente espalhadas ao longo
do texto, sem uma seção específica. Ainda assim, é de se admirar
os pontos tratados no documento (para a época, claro) – como a proibição
da caça de determinados animais com instrumentos capazes de lhes causar
dor e sofrimento; a restrição da caça em determinadas áreas; e a
proibição do corte de árvores frutíferas, com a atribuição de severas
penalidades e multas para os infratores.
As coisas mudaram, obviamente. A Mata
Atlântica, que abrange toda a costa nordeste, sul e sudeste do Brasil e é
uma das áreas mais ricas em biodiversidade do planeta, já teve cerca de
93% de suas extensão desmatada. Infelizmente, com a devastação, foi-se
também um conhecimento que deveria fazer parte da vida de mais de 70% da
população brasileira que habita a faixa de Mata Atlântica.
Conheça a seguir algumas das frutas mais
comuns da nossa incrível Mata Atlântica (e, se possível, empolgue-se o
bastante para cultivá-las!).
Cabeludinha
Também chamada de café cabeludo, fruta cabeluda, jabuticaba amarela, peludinha e vassourinha da praia. Doce, pode ser aproveitada in natura,
ou em sucos, sorvetes e doces entre o final do inverno e o começo da
primavera. Se você é de São Paulo e quiser ver uma árvore de cabeludinha
ao vivo, fique de olho no Parque do Ibirapuera e no jardim do Instituto
de Biociências da USP. A árvore é ornamental e ideal para arborização
urbana. E, olha só, é fácil encontrar mudas para cultivar!
Cereja-do-rio-grande
Também conhecida por cerejeira-da-terra, cerejeira-do-mato, guaibajaí, ibá-rapiroca, ibajaí, ibarapiroca, ivaí e ubajaí,
a cereja-do-rio-grande dá numa árvore absolutamente linda (que ficaria
mais linda ainda na sua calçada). O fruto é carnudo e docinho – muito
parecido com a cereja cara e importada que a gente compra no
supermercado em época de ano novo. Você a encontra no pé no começo da
primavera (e dá para caçar umas sementes na esquina do Palácio Nove de
Julho com a rua Abílio Soares, se você for de São Paulo).
Ameixa-da-mata
Mais encontrada na faixa de Mata
Atlântica litorânea entre o Rio de Janeiro e a Bahia, a ameixa-da-mata é
pequenininha, mas carnuda e com sabor agridoce. A árvore é um
espetáculo à parte, com tronco avermelhado e copa que alcança até 6
metros de altura. A ameixa-da-mata dá no verão, mas é bem rara. Você vai
ter que se empenhar para encontrá-la.
Pitangatuba
Típica da restinga do estado do Rio de
Janeiro, a pitangatuba é daquelas frutas docinhas e azedinhas ao mesmo
tempo, e dá em uma “árvore” tipo arbusto. O incrível da pitangatuba,
além do gosto excepcional (que não carrega aquele amarguinho
característico da pitanga), é o tamanho – algumas podem alcançar até 7
cm – e a sua suculência, dado que ela só tem uma semente bem
pequenininha no meio de um monte de polpa. Muito adaptável, pode ser
plantada em pomares, vasos e jardineiras, sem problemas. Infelizmente, a
pitangatuba é extremamente rara na natureza, mas se você encontrar uma
mudinha para cultivar, prepare-se para colher os frutos na primavera.
Araçá
Mais conhecido, o araçá dá também em um
arbusto – ideal para jardins residenciais. O fruto tem um sabor parecido
com o da goiaba (com a qual compartilha parentesco), mas um pouco mais
azedinho. É ideal para a recuperação de áreas degradadas, pois tem
crescimento rápido e atrai muitos passarinhos, que se encarregam de
espalhar suas sementes. É bastante comum no litoral de São Paulo, por
isso fique de olho durante as férias de fim de ano, pois ela frutifica
no verão.
Cambuci
Todo paulistano deveria conhecer o
cambuci, tão abundante na cidade antigamente que emprestou o nome a um
de seus bairros. Azedinha no nível do limão. é rica em vitamina C e pode
ser consumida in natura (para os fortes), ou em sucos,
compotas e doces. Sua árvore tem uma madeira de excelente qualidade –
fato que quase a levou à extinção. Sua presença em uma floresta é sinal
de que a mata está bem conservada. Aproveite no verão – que é a época
dela – para andar no bairro do Cambuci, em São Paulo, que ainda tem
alguns exemplares por lá espalhados.
Cambucá
Como a jabuticaba, o cambucá dá direto
no tronco da árvore e sua polpa também tem que ser sugada da casca. Há
quem diga que é uma das frutas mais saborosas do Brasil, mas, apesar de
ter sido muito comum em toda a faixa litorânea da Mata Atlântica até a
primeira metade do século XX, hoje em dia é uma árvore rara, limitada à
pequena faixa que restou de seu ambiente natural, jardins botânicos e
pomares de frutas raras. Se algum dia passar no verão pela cidade de
Santa Maria do Cambucá, em Pernambuco, dê uma paradinha para saboreá-la.
Uvaia
Encontrada principalmente nos estados de
Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo, a uvaia é uma
fruta azedinha que pode ser consumida in natura (para quem
gosta de coisas azedas) ou em sucos e compotas. Sua árvore é bastante
utilizada em projetos de reflorestamento, pois a uvaia atrai muitos
passarinhos, que espalham as suas sementes. Sua época vai de setembro a
janeiro.
Guabiroba ou guariroba
Natural da Mata Atlântica e do Cerrado, a guabiroba – ou gabiroba
– é encontrada principalmente nos estados de Santa Catarina, Minas
Gerais, Goiás, Paraná, Espírito Santo e Rio Grande do Sul. É uma fruta
saborosa e azedinha, rica em vitamina C, que lota o pé entre os meses de
dezembro e maio. Além de consumida in natura, é bastante utilizada em sucos, sorvetes e licores.
Grumixama
Parecida com a cereja-do-rio-grande, a
grumixama é uma frutinha arroxeada e suculenta que dá na primavera. Sua
ocorrência vai do sul da Bahia até o estado de Santa Catarina e
seu gosto é um misto de pitanga com jabuticaba. Quem mora em São Paulo,
pode ver dois pés enormes na frente da Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da USP.
Cambuí
Nome de bairro, em Campinas, SP, e de
cidade, em Minas Gerais, o cambuí é uma fruta roxa, vermelha ou amarela
saborosa e perfumada que lota os pés durante o mês de janeiro. Sua
árvore é muito bonita e bastante delicada, levando bastante tempo para
crescer – o que a coloca em risco.
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