Fonte: jornal da USP
Projeto na Cidade Universitária, em São Paulo, ajuda a reconhecer a importância das plantas
Por Larissa Lopes - Editorias: Universidade
As tipuanas são exemplos de árvores que podem ser encontradas na Cidade Universitária – Foto: Marcos Santos
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Quem
entra na Cidade Universitária, um dos campi da USP na cidade de São
Paulo, logo se depara com um ambiente bem distinto do resto da capital
paulista. Toda a extensão da Avenida da Universidade é dominada por
tipuanas, árvores que se destacam na paisagem, mas estão longe de ser as
únicas. Para conhecer algumas das centenas de espécies vegetais
presentes no campus, desde 2015, alunos do Instituto de Biociências (IB)
da USP se organizaram para identificar aquelas que estão mais próximas
dos frequentadores da Universidade.
Entre eles está o estudante Matheus Colli. Ele tem analisado amostras
de árvores do fitotério do IB, um “jardim botânico” destinado a
pesquisa e ensino de biologia. Estima-se que haja cerca de 750 espécies
nativas e exóticas no local, das quais 70 foram identificadas com a
ajuda de colegas do curso.“Demos preferência às árvores porque plantas menores podem morrer e não ser repostas. Além disso, selecionamos as que estão próximas a trilhas, com as quais as pessoas têm mais contato”, explica Matheus.
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.A iniciativa dos estudantes integra o projeto Árvores USP, coordenado pelo professor José Rubens Pirani, do Departamento de Botânica do IB, e já se expandiu para o Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, onde foram identificadas 30 árvores.
Com o financiamento da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU), foram fabricadas 100 placas de inox com informações básicas sobre as árvores e um QRCode que dá acesso a mais curiosidades sobre as espécies. A previsão é de que todas as placas sejam fixadas em rochas e pequenos totens próximos das árvores até o mês de agosto.
Cegueira botânica
A ideia do projeto foi inspirada numa ação dos moradores de Alto de
Pinheiros que procuraram o Departamento de Botânica para analisar as
árvores das praças do bairro. “A identificação de espécies é uma etapa
básica para fazer pesquisas de genoma, de fisiologia ou do uso
econômico”, diz Pirani. “Ela é necessária também para reparar erros do
passado. Há algumas nomenclaturas que precisam ser revistas.”Para reconhecer espécies com segurança, o herbário do IB conta com um acervo de 220 mil exemplares coletados e preservados desde o início do século 20. As plantas são desidratadas e mantidas em ambiente seco com até 20ºC.
Com a identificação das árvores, se tornou fácil observar como a Cidade Universitária tem seus trechos de mata preservada e de arborização artificial. Por isso, é possível encontrar no IME, por exemplo, árvores brasileiras como o palmito-juçara, o ipê-amarelo e o cedro dividindo espaço com a Markhamia stipulata, originária do Extremo Oriente.
“É bom lembrar que as plantas nativas dão os frutos que os nossos passarinhos gostam e possuem as ramificações mais adequadas para a construção de ninhos”, avisa o professor. “Por isso, está havendo uma mudança no modo de arborizar a cidade, se preocupando mais em introduzir espécies latinas.”.
Além das aplicações práticas do projeto, o Árvores USP trouxe outros resultados para os estudantes. “Ele me aproximou da botânica e da pesquisa, acabou basicamente influenciando a minha carreira”, afirma Matheus. Após participar do projeto, o estudante acredita que perdeu sua “cegueira botânica”, a insensibilidade que a maiorias das pessoas possui em relação ao meio ambiente.
“Também me ajudou na relação que eu tenho com a Universidade, a questão de pertencimento e ocupação do espaço, porque, com essa identificação e emplacamento das árvores, todo mundo pode aprender ao ar livre. A sala de aula não é o único espaço possível”, conclui.
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