segunda-feira, 26 de setembro de 2016

As leguminosas por fora e por dentro. Como funciona a adubação verde.

As plantas leguminosas, recentemente classificadas pelos botânicos como fabáceas, são espécies fundamentais, quer pelo seu valor nutritivo (saiba mais), quer pela fixação biológica do nitrogênio em simbiose com a bactéria do género Rhizobium.

produção agrícola e a agricultura biológica (saiba mais) em particular devem fomentar este mecanismo natural como alternativa à síntese química de amoníaco no fabrico de adubo nitrogenado, uma reação que consome muita energia e que torna o "nitrogênio do saco” o fator de produção agrícola mais dispendioso em energia e mais poluente, com muitas emissões de gases com efeito de estufa. Recentemente chegou-se à conclusão que o fabrico de adubos químicos (azotados e outros) tem uma emissão de gases poluentes quase tão grande como as dos combustíveis nos diversos transportes com motores de combustão.

Figura 1 – Fava-ratinha ou faveta (Vicia faba var. minor), semeada para adubação verde (Ferreira do Zêzere, Outubro 2015)
cultura de leguminosas pratica-se pelo menos desde a antiguidade egípcia e desde então que se reconhece que estas plantas melhoram o solo. O grego Teofrasto escreveu que as leguminosas tinham "um carácter regenerador do solo mesmo semeadas bastas e produzindo muito fruto”.

Mas só em 1886 Hellriegel e Wilfarth demonstram que as leguminosas noduladas fixam nitrogênio, ou melhor que as bactérias rizóbio presentes no interior dos nódulos transformam nitrogênio gasoso em amónio (N2 + 3H2 -> 2NH3). É um processo com resultado semelhante ao da fábrica de amoníaco (saiba mais), mas em que a fonte de energia é mais limpa – os açúcares produzidos pela planta através da fotossíntese. Na produção industrial, para transformar a molécula gasosa de N2 em amoníaco, é preciso uma temperatura da ordem dos 500ºC e uma pressão de 200 a 400 atmosferas. Já na fixação biológica a enzima nitrogenase(identificada e isolada em 1966) presente na bactéria, faz o mesmo à temperatura e pressão ambiente.

Existem diferentes espécies de rizóbio que fazem simbiose com diferentes espécies de leguminosas, produzindo nódulos na raiz também diferentes (fig. 2 e 3) e que não devem ser confundidos com as galhas provocadas por nemátodos, que são doença.

Nos chícharos (género Lathyrus), ervilhas (gén. Pisum), ervilhacas e favas (gén. Vicia),lentilhas (gén. Lens), o rizóbio é a espécie Rhizobium leguminosarum bv.Viceae, que é das maiseficientes a fixar azoto. É por isso que quando semeamos estas plantas não precisamos nem devemos aplicar adubo azotado (saiba mais), seja químico seja orgânico, pois se o fizermos, para além de estarmos a aumentar os custos da produção, reduzimos a fixação biológica de azoto. É também por isso que quando enterramos as plantas na sua floração para adubar uma cultura seguinte, já não precisamos de aplicar estrume (saiba mais), pois estamos a fazer uma "estrumação” verde, também chamada de adubo verde ou sideração.


Figura 2 – Nódulos de rizóbio em fava, brancos por fora e avermelhados por dentro, sinal de funcionamento do mecanismo de fixação de N, uma fábrica natural de adubo (Reguengos de Monsaraz, Maio 2011).

rizóbio da figura 3 é doutra espécie (Bradyrhizobium spp.) um pouco menos eficiente que o anterior mas melhor adaptado a solos ácidos e arenosos, onde a tremocilha cresce melhor que a fava ou a ervilhaca.

É também pela fixação biológica que se produz o azoto que vai formar as proteínas na planta e em especial nas sementes, algumas delas com possível uso na alimentação humana.

Desta forma, a natureza, e o homem com um cultivo mais ecológico, produzem alimentos mais proteicos que a carne, com muito menor consumo de recuros naturais (solo, água) e de baixo impacte ambiental.

Figura 3 – Interior dos nódulos de rizóbio em planta de tremocilha (Lupinus luteus) com uma coloração avermelhada, sinal de boa atividade fixadora de azoto (Évora, Abril 2009)

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