Antônio Roberto Mendes Pereira
Em muitas visitas que fiz durante o período do curto inverno que vem
acontecendo este ano às propriedades de alunos, percebi que em muitos
roçados havia ataque de lagartas. Em algumas propriedades pequenos
ataques, em outras intensos, podendo gerar safras de baixa qualidade.
Mas também percebi muitos enganos no manejo dados aos roçados que de
forma direta contribuem para aumentar os desequilíbrios do
agroecossistema facilitando que algumas espécies de insetos venham a
causar ataque as estas plantas cultivadas. Conversando com alguns
agricultores pais destes alunos investiguei qual seria para eles a causa
destes surgimentos de pragas nas suas lavouras. Para a maioria destes
agricultores o problema é do tempo, não conseguem relacionar estes
ataques a problemas de fertilidade de solo, de manejo errado utilizado
por eles no plantio. Sempre as causas são de outra natureza. Uns até
alegam que Deus quer assim, logo ele não pode fazer nada. Outros alegam
que ele resolve facilmente “é só colocar veneno que tudo se resolve”.
Quando falo que os insetos são indicadores de problemas que estão
acontecendo no solo ou em outros extratos, me olham com olhos de espanto
e de descrédito.
Os insetos precisam ser entendidos e compreendidos como aliados e não
como inimigos, eles são responsáveis por uma infinidade de funções nos
ecossistemas. Os insetos são também um dos responsáveis pelo equilíbrio
saudável dos agroecossistemas. Nos nossos cultivos sua presença em pouca
quantidade e em grande diversidade nos é favorável, mas quando sua
quantidade aumenta descontroladamente de forma única, estes com certeza
vão causar problemas irreparáveis. Todo excesso ou escassez trás
conseqüências que muitas vezes são desagradáveis.
Os insetos exercem várias funções nos ecossistemas naturais, porém
algumas nos chamam mais atenção. Em muitos momentos os insetos podem
ser indicadores de situação. Situações estas que nos mostram como se
encontra o ambiente, quer seja do solo, da planta, do clima, entre
outros onde possa se desenvolver formas de vida relacionada a produção.
Em
muitos momentos servem como fonte de alimento para muitas espécies de
animais inclusive o homem, servindo como grande fonte de proteína
altamente digestível. Esta função aqui no Brasil é pouco explorada,
poderia ser mais utilizada pelo menos nos ecossistemas cultivados como
fonte de alimento para muitos animais domésticos, mas a cultura do povo
termina por não aproveitar tal presente da natureza.
Entender e encarar os insetos como aliados exige conhecimentos que
muitas vezes nas escolas não são ensinados, quando se fala neste assunto
é de forma muito superficial dependendo da série. Fala-se em cadeia e
teia alimentar mais não se consegue trazer exemplos do nosso dia a dia,
ficando meramente uma idéia muito distante e vaga da compreensão de
muitas pessoas. É como se aquilo só acontecesse na floresta, na mata,
mas nunca nas nossas casas, nas nossas hortas. E este comportamento
termina por passar a idéia de que os insetos são os vilões das
plantações, são os responsáveis pelos danos nas lavouras e nos
prejuízos. Não consegue entender que os insetos são uma conseqüência de
erros ou desequilíbrios causados pelos seres humanos. Eles aparecem na
tentativa de concertar estes erros, e logo pode nos servir dependendo do
conhecimento que se tenha como indicadores, são como um sinal amarelo
de um semáforo nos chamando atenção. É como se quisesse nos dizer “Psiu,
você esta cometendo erros utilizando este manejo, repense”. Saber
entender estes sinais pode ajudar, observando e não repetindo mais tal
ou tais enganos.
Este texto tem a pretensão de mostrar algumas formas de se criar
obstáculos para que estes insetos não consigam efetuar ações nefastas e
tão devastadoras, até que você entenda e descubra os erros e enganos
cometidos, amenizando-os a tempo e evitando reincidir estes mesmos erros
nos próximos plantios. Que estas propostas sejam entendidas não como
soluções, mas como meros paliativos emergenciais e nunca como soluções
repetitivas de forma permanente. Procure descobrir as causas, os
porquês, o que vem contribuindo para que este desequilíbrio esteja
acontecendo. Seja o pesquisador da sua área de intervenção.
O QUE DEVEMOS OBSERVAR PARA ENTENDER AS POSSÍVEIS CAUSAS DE ATAQUE DOS INSETOS
· Local não adequado para a planta;
· Clima não tolerável para aquela espécie;
· Solo com desequilíbrios de nutrientes, ou excesso ou escassez de algum mineral;
· Falta de umidade suficiente para a espécie;
· Muita radiação solar para a espécie;
· Solo compactado, muito duro;
· Sementes provindas de outros espaços, climas e solos diferentes;
· Falta de matéria orgânica no solo;
· Superpopulação de plantas em um pequeno espaço;
· Monocultivo facilita o ataque de insetos;
· Área anterior de monocultivo;
· Sombreamento excessivo;
· Repetição da mesma espécie no mesmo local sem fazer rotação nem de área e nem da espécie da planta;
· Área com excesso de ventos inibe ou diminuem a fotossíntese.
CRIANDO OS OBSTÁCULOS
A diversidade de alimento provoca a diversidade dos insetos – logo com
toda certeza irá surgir insetos que tem a função de controlar possíveis
descontroles de qualquer outra espécie. Um dos grandes obstáculos para o
não crescimento demasiado e ou sem controle de vários insetos é
aumentando a biodiversidade de vegetais nos cultivos.
Tudo junto e misturado – É outra forma de aumentar os obstáculos, pois
quanto mais aleatório e disperso for o plantio mais dificuldade os
insetos irão ter para encontrar outra planta da mesma espécie para se
alimentar. O plantio em linhas com plantas da mesma espécie contribui
enormemente para a disseminação dos insetos com mais facilidade.
Plantas aromáticas – Muitos aromas também criam obstáculos para alguns
insetos, afugentando e ou afastando algumas espécies dos plantios.
Pode-se utilizar esta estratégia nos plantios, fazendo bordas ou
barreiras vivas com estas plantas aromáticas. Muitas plantas de cheiros
ativos e facilmente podem ser utilizadas, como exemplo podemos citar
arruda, determinadas hortelãs, entre outras.
Plantas trampas ou atrativas – É outra estratégia bastante interessante
para criar obstáculos para os insetos, tirando a atenção da cultura
principal. Estas plantas são escolhidas e plantadas no meio dos cultivos
ou até nas bordas atraindo os insetos como fonte principal de alimento,
deixando a cultura de lado. Estas plantas podem ser encontradas com
muita facilidade quando andamos pelos plantios fazendo inspeção
observamos plantas que não são as culturas sofrendo ataques intensos de
insetos. Este pode ser um grande indicativo para a escolha desta para
ser uma planta trampa.
Lâmpadas atrativas – Muitos insetos são atraídos pela luz, logo esta é
outra estratégia que pode ser utilizada nos plantios principalmente
durante as noites, como medida de controle através deste obstáculo
atrativo com morte certa. Pois próximo desta lâmpada ou luminosidade
deverá existir um recipiente com água para o controle de parte destes
insetos que foram atraídos. Precisa-se ter cuidado com este sistema,
pois podemos colocar em risco atraindo também insetos predadores tão
necessários nos ambientes de cultivos.
Iscas atrativas – Pode-se também utilizar-se de iscas de fácil montagem
para servir de controle nos cultivos. Estas iscas podem utilizar desde
açúcares, aromas, ou até feromônio atrativos. No comércio já existem
muitos elementos comerciais com estas características.
Barreiras verdes de vegetação nativa – Ótima estratégia deixando-se
entre uma faixa de plantio uma faixa de vegetação nativa, criando
avenidas de plantios alternadas com mato nativo, como fonte de alimento
para os insetos. Porém também pode correr o risco de estas faixas
servirem de abrigos para os insetos dificultando o controle nas faixas
de plantio. Logo, é uma ótima estratégia, porém exige certos cuidados e
observação atenta.
Pulverização com cheiro de insetos mortos – O cheiro de morte da mesma
espécie afugenta os indivíduos. Coletando-se certa quantidade de
insetos que estão causando transtornos nos plantios e fazendo-se um
macerado com os mesmos pode-se ter um ótimo espanta insetos.
Embalando os frutos – É uma estratégia de obstáculos muito eficiente,
porém trabalhosa dependendo da espécie que se está cultivando. Evita o
uso de agrotóxicos e necessita de alguns conhecimentos sobre a cultura
para saber em qual é o momento ideal para se fazer o ensacamento dos
frutos e com que material. A dificuldade de ter acesso aos frutos
diminui e impede o ataque.
Rotação de área e de cultura – Esta com certeza é uma das melhores
formas de controles de insetos/pragas. Pois a troca de área e de
cultivos quebra o ciclo não só dos insetos, mas também de problemas com
determinadas enfermidades. Lembre-se de quando for utilizar a troca de
cultura não escolher plantas da mesma espécie e da mesma família, este
procedimento facilitará a ataque dos insetos, que quando da mesma
família tem mais ou menos as mesmas preferências alimentares.
Disseminando predadores naturais criados – Atualmente muitas empresas
optaram pela biotecnologia. E muitos produtos estão sendo projetados
para serem industrializados como é o caso de predadores criados de forma
comercial. Já existe no mercado várias espécies de predadores para
algumas variedades de cultivos, principalmente para as commodities.
Funcionam bem, mas continua a mesma lógica apresentada anteriormente, se
estes insetos tão causando problemas é porque algo de errado está
acontecendo, necessitando-se descobrir as causas para sanar as mesmas no
mais curto período de tempo, pois de outra forma a compra destes
produtos vão se prolongar.
Como podemos ver existem muitas estratégias para criar obstáculos para
os insetos, porém a melhor forma de controlá-los é através de um manejo
ecológico dado ao ambiente em especial ao solo. Um solo com uma boa
bioestrutura, e com um permanente retorno de matéria orgânica
diversificada, cria um equilíbrio onde os insetos são aliados no manejo
saudável dos cultivos. Crie formas de dá alimento para este solo, o
ciclo deve ser: animais inclusive o homem alimenta solo, solo alimenta
planta e planta alimenta animais.