Os efeitos positivos de áreas verdes e corpos d’água na redução do calor urbano em todo o mundo são apresentados em estudo internacional com participação da USP. A partir da revisão de 202 artigos científicos, os pesquisadores verificaram que é possível conseguir um resfriamento de até 5 graus Celsius da temperatura do ar com as chamadas Áreas de Infraestrutura Urbana verde-azul-cinza (GBGIs), que incluem jardins botânicos, parques verdes, rios e lagos, entre outros. Os resultados do trabalho foram publicados em artigo da revista científica The Innovation.
“Esta pesquisa teve origem em uma
colaboração com a Universidade de Surrey [Reino Unido], por meio do professor
Prashant Kumar, que coordenou o estudo”, relata a física Maria de Fátima
Andrade, professora do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
(IAG) da USP, uma das autoras do artigo. “O trabalho integrou instituições de
diferentes países, em vários continentes, que têm desenvolvido projetos em
temas ligados à poluição do ar e outras questões da urbanização, como a ilha de
calor urbana.” Nas cidades com elevado grau de urbanização, onde a temperatura
é mais alta do que em regiões rurais próximas, o local é classificado como ilha
de calor.
“Em trabalhos anteriores, foram
analisadas emissões em diferentes tipos de cozinhas em diferentes partes do
mundo, e a exposição a poluentes produzidos por diferentes modais de
transporte, como carros, ônibus e trens”, explica a professora. “A pesquisa atual
teve o objetivo de fazer uma revisão de trabalhos publicados em diferentes
países sobre o impacto da presença de vegetação ou água na mitigação do calor
urbano”.
Maria de Fátima Andrade -
Foto: Lattes
Resfriamento do ar
Estes itens de vegetação e corpos
d’água são classificados como áreas de infraestrutura urbana verde-azul-cinza
(GBGIs). “A infraestrutura verde reúne parques, florestas urbanas, paredes
verdes, telhados verdes e árvores”, afirma Andrade. “A infraestrutura azul está
relacionada com rios, lagos e corpos d’água em geral.” A infraestrutura cinza
inclui construções feitas pelo homem, como calçadas, edifícios, estradas e
sistemas de drenagem. O trabalho de revisão abrangeu 202 artigos, a maioria
originária da Ásia (51,1%), em especial da China (29,95%), seguida pela Europa
(30,4%), Austrália (7,5%), América do Norte (7,0%), América do Sul (1,8%),
África (1,8%) e Nova Zelândia (0,4%).
A pesquisa analisou 51 itens,
divididos em dez categorias, comparando os dados de resfriamento do ar. O maior
impacto foi verificado em jardins botânicos, com máxima de 5 graus e mínima de
3,5 graus Celsius (°C), seguidos pelas áreas úmidas, entre 3,2 e 4,9° C,
paredes verdes, de 4,1 a 4,2° C, árvores nas ruas, 3,1 a 3,8° C, e varandas com
vegetação, de 2,7 e 3,8° C.
Pesquisa analisou 51
áreas de infraestrutura urbana verde-azul-cinza (GBGIs), em dez categorias,
comparando os dados de resfriamento do ar; maior impacto foi verificado em
jardins botânicos - Imagem extraída do artigo
“O principal benefício ambiental
dos GBGIs é o resfriamento de áreas urbanas, em especial as já afetadas pelas
ilhas de calor urbano”, destaca a professora do IAG. “Mas outro ponto
importante é o papel da vegetação na absorção de gás carbônico [CO2] através da
fotossíntese. Esse papel da vegetação pode ser determinado com medidas em
superfície.” O CO2 é um dos principais poluentes atmosféricos presentes nas
cidades, originário principalmente da queima de combustíveis fósseis.
Entre as recomendações que são
feitas para os governos, a pesquisadora inclui novos códigos para construções
nas cidades, criação de campanhas mostrando a importância da vegetação e
disponibilização de recursos financeiros nos planos de ação oficiais para a
recuperação de áreas verdes. O artigo “Urban heat mitigation by
green and blue infrastructure: Drivers, effectiveness, and future needs“,
elaborado por pesquisadores da Austrália, Brasil, China, Estados Unidos e Reino
Unido, foi publicado na revista científica The Innovation.
Mais informações: e-mail
maria.andrade@iag.usp.br
*Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado