Citação: Vieira RF, Vieira C & Vieira RF (2001) Leguminosas graníferas.
Viçosa, Editora UFV. 206p. Este capítulo: p. 95-102.
FEIJÃO-ARROZ
Nome botânico
Vigna umbellata (Thunb.) Ohwi & Ohashi (sin. Dolichos
umbellatus Thunb., Phaseolus pubescens Blume, P. calcaratus
Roxb., P. chrysanthus Savi, P. torosus Roxb., P. ricciardianus
Tenora, V. calcarata (Roxb.) Kurz, Azukia umbellata (Thunb.)
Ohwi).
Nomes comuns
No Brasil, o feijão-arroz é, muitas vezes, erroneamente
conhecido por feijão-adzuki, nome de outra espécie do gênero
Vigna. Em espanhol, por frijol arroz ou judía arroz; em inglês, por
rice bean.
A planta
Plantas anuais, com ciclo de vida, dependendo das condições
climáticas, de 90 a ll5 dias (nos cultivares estudados em Minas
Gerais), e apresentam porte quase ereto ou são trepadoras; folhas
com três folíolos ovais, inteiros; a inflorescência é um racimo
axilar, curto, com 10-15 flores amarelas, autoférteis; quilha com
esporão cônico, oco, em um dos lados; uma das asas enrola-se
completamente em redor da quilha; vagens glabras, cilíndricas,
estreitas, com cerca de 7 a 12 cm de comprimento, pouco curvadas,
com curto bico, que ficam enegrecidas na maturidade; elas não
apresentam contração entre as sementes, estas em número de 3 a 12. A semente
As sementes são pequenas, pesando, nos cultivares
usualmente plantados no Brasil, de 5 a 12 g por 100 unidades,
dependendo do cultivar e dos fatores edafoclimáticos e culturais. São
amarelas ou vináceas, porém a literatura estrangeira menciona ainda
outras cores: verde, parda, preta e mosqueada. Apresentam uma
característica que lhes facilita a identificação: duas pequenas
saliências longitudinais, paralelas, brancas, cobrindo o hilo côncavo.
Os cotilédones são hipógeos na germinação.
Pelas informações da literatura estrangeira, a composição
química do feijão-arroz é aproximadamente a seguinte: umidade 10-
13%, proteína 19-23%, gordura 0,6-1,2%, carboidrato total 60-65%,
fibra 4-6% e cinza 4,0-4,3%. Dois cultivares examinados por Vieira
(1989), em Viçosa, acusaram 19,2% e 18,2% de proteína. Contêm
quantidades apreciáveis de cálcio, ferro, fósforo e as vitaminas
tiamina, niacina e riboflavina (National Academy of Sciences,
1979).
Por causa da qualidade nutricional de sua proteína, o feijãoarroz tem sido considerado um dos melhores entre os grãos
comestíveis de leguminosas e, segundo a National Academy of
Sciences (1979), foi altamente recomendado nos programas
nutricionais das Filipinas. Cozinha com facilidade.
Distribuição
Na década de 20, Vavilov (1949/50) verificou que a Índia é o
centro de diversidade genética do feijão-arroz. É cultivado neste país
e em outros da Ásia: Bangladesh, Mianmar, Sri Lanka, Malásia,
Indonésia, Filipinas, China, Japão, Tailândia. Foi introduzido em
outros países, da África e das Américas. Em forma silvestre, ocorre
na Índia, China e Malásia (Jain e Mehra, 1980). No Brasil ainda é
pouco cultivado e foi, provavelmente, introduzido da Ásia por
japoneses.
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Utilização
O feijão-arroz tem sido consumido no Brasil na forma de
grãos secos. Em outros países, as vagens imaturas também são
utilizadas. Comparando-o, em avaliação sensorial dos grãos cozidos
(inteiros, batidos em liquidificador), com o feijão-comum, Vieira et
al. (1989) verificaram que, enquanto este foi tido como entre bom e
muito bom, o feijão-arroz foi considerado entre menos que aceitável
e aceitável. Isso mostra que o brasileiro, acostumado com o sabor
acentuado do feijão-comum, pode fazer restrição ao sabor suave do
feijão-arroz. Contudo, seu consumo entre nós vem, pouco a pouco,
aumentando, sobretudo entre os seguidores da macrobiótica. É
possível que a sua aceitação geral possa ser melhorada pela adição
de outros temperos, além do sal e do óleo utilizados por Vieira et al.
(1989). Seu fornecimento `as crianças, ainda sem o hábito arraigado
de consumir apenas o feijão-comum, seria outra estratégia para
aumentar-lhe o consumo.
O feijão-arroz atinge alta produção de massa verde,
permitindo indicá-lo como forrageira, planta de cobertura ou para a
adubação verde. Em Viçosa, um cultivar de feijão-arroz rendeu 33,7
t/ha de massa verde, enquanto o feijão-de-porco produziu 25,0 t/ha
(Vieira, 1971). Na Índia, o feijão-arroz é considerado forragem de
boa qualidade nutritiva quando cultivado, em fileiras alternadas, com
a gramínea Pennisetum pedicellatum; para carneiros, é bem palatável
quando fornecido no estádio de pré-florescimento (Chatterjee e
Dana, 1977).
Adaptação
O feijão-arroz adapta-se a diversas condições
edafoclimáticas, mas é essencialmente uma cultura tropical, muito
suscetível `a geada. Em geral, considera-se a temperatura média
entre 18 e 30C a mais adequada para a cultura (Kay, 1979). Para
altos rendimentos, requer condições de muita umidade, porém é
moderadamente resistente `as condições mais secas, mais
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apropriadas ao caupi. Na Ásia, é cultivado em altitudes que atingem
1.500-1.800 m. Desenvolve-se em solos de diferentes texturas, mas,
para altos rendimentos, o solo deve aliar fertilidade com boa
capacidade de retenção de água e aeração adequada.
O feijão-arroz é considerado sensível ao fotoperíodo,
exigindo dias curtos para o florescimento. Entretanto, nas condições
de Viçosa, Vieira (1971) plantou sete cultivares de feijão-arroz em
31 de outubro e seis deles iniciaram a floração entre 18 e 20 de
dezembro, sendo colhidos em 10 de fevereiro. O sétimo iniciou a
floração em 11 de março, mostrando-se sensível ao fotoperíodo. No
Havaí, Hartmann (1969) também identificou diversas introduções de
feijão-arroz que se comportaram como neutros em relação ao
comprimento do dia.
Cultivo
O feijão-arroz, em Minas Gerais, pode ser semeado de agosto
(com irrigação) a março. Plantado no começo da estação chuvosa
produz bem, porém há o risco de chuvas continuadas durante o
período de maturação causar prejuízos aos grãos. Em regiões com
inverno pouco rigoroso, pode ser plantado em abril ou maio.
Para Minas Gerais é recomendado o cultivar Viçosa, de
hábito de crescimento determinado, ciclo de vida de 100 dias, 4-9
sementes por vagem e grãos violáceos pesando de 8,5 a 9,8 g por
100 unidades; produção de 2.073 kg/ha já foi alcançada com esse
cultivar (EPAMIG, s.d.).
Recomenda-se o espaçamento entre fileiras de 50 a 60 cm
com 15-20 sementes por metro. Em Gurupi, TO, Miranda et al.
(1997), utilizando o espaçamento entre fileiras de 0,6 m, constataram
que o maior rendimento (1.059 kg/ha) foi obtido com a densidade de
300 mil plantas por hectare.
Não há estudos sobre a adubação mineral da cultura do
feijão-arroz no Brasil; por isso, tentativamente, pode-se indicar a
mesma recomendada para a cultura do feijão-comum.
No verão, a emergência das plantinhas ocorre oito a nove
dias após a semeadura, se houver boa disponibilidade hídrica no
solo. Em Viçosa, o desenvolvimento inicial das plantas foi lento
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quando o plantio foi realizado no final de março, com a utilização de
irrigação suplementar. Porém, depois de três semanas, o
desenvolvimento das plantas foi rápido, fechando o vão entre as
fileiras aos 45 dias após o plantio, quando as plantas estavam no
início da floração.
A semeadura logo depois do preparo do solo retarda a
emergência da flora invasora. Recomenda-se manter a cultura no
limpo até o começo da floração. O desenvolvimento inicial lento do
feijão-arroz demanda maior cuidado no controle das plantas
daninhas que no caso do feijão-comum. Há carência de estudos
sobre herbicidas na cultura do feijão-arroz; nos EUA, o metribuzin
mostrou-se promissor (Harrison Jr., 1988); no Brasil, resultados
preliminares indicaram bom potencial de uso dos seguintes:
flumetsulam, trifluralin e imazaquin (pré-emergentes) e imazamox,
imazethapyr, fluazifop-p-butil e chlorimuron-ethyl (pós-emergentes)
(Silva et al., 1999).
Embora não inoculado com rizóbio, tem-se notado em
Viçosa que o feijão-arroz apresenta nódulos em suas raízes que, em
número e tamanho, assemelham-se aos do feijoeiro-comum.
As
espécies de Vigna são noduladas por estirpes de Bradyrhizobium e
são consideradas hospedeiras relativamente promíscuas (Giller e
Wilson, 1991).
O pequeno agricultor geralmente planta o feijão-comum em
consórcio, sobretudo com o milho. Por isso, Vieira e Vieira (1996)
procuraram estudar o comportamento do feijão-arroz quando
submetido a esse tipo de sistema de produção. Plantaram
simultaneamente ambas as culturas nas mesmas fileiras espaçadas de
1 m, o milho com cerca de três pés por metro. O feijão-arroz utilizou
o milho como suporte físico para a subida de suas hastes volúveis,
que chegaram a 1,75 m de altura, aparentemente sem causar danos `a
gramínea. O cultivar E-7 de feijão-arroz produziu 1.059 kg/ha,
sofrendo uma redução de rendimento de 70% em relação ao
monocultivo (3.487 kg/ha). O outro cultivar (E-18) rendeu 1.164
kg/ha, uma redução de 58% quando comparado ao monocultivo
(2.747 kg/ha). Os dois cultivares de feijão-comum incluídos no
estudo produziram, no consórcio, 1.231 e 1.100 kg/ha, com quebras
de produção de 44 e 46% em relação ao monocultivo. Tudo isso
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comprova que o feijão-arroz pode ser consorciado com o milho,
embora seja mais sensível que o feijão-comum `a concorrência
movida pelo milho, competidor mais forte.
Colheita e armazenamento
Dependendo da época de plantio, o ciclo de vida (a partir da
emergência) do feijão-arroz pode variar de 82 a 1121 dias, nas
condições da Zona da Mata de Minas Gerais. A maturação das
vagens completa-se num lapso de uma ou duas semanas, mas nem
sempre é uniforme. No consórcio com o milho, a maturação é mais
desuniforme, exigindo mais de uma colheita das vagens maduras.
Estas abrem-se com facilidade quando manuseadas, transtorno que
pode ser minimizado efetuando-se a colheita nas primeiras horas da
manhã.
O tipo de crescimento da planta, a debulha fácil das vagens, a
maturação desuniforme e o fato de as plantas permanecerem verde
mesmo com as vagens secas tornam a colheita mecanizada do feijãoarroz uma tarefa difícil.
Quando é feita uma única colheita, a prática de secagem e
bateção das plantas ou das vagens é feita de maneira idêntica `a
realizada com o feijão-comum. Depois da bateção, os grãos são
beneficiados e, se necessário, novamente expostos ao sol no terreiro,
até que sua umidade atinja cerca de 12%.
Em virtude da resistência das sementes ao caruncho, nenhum
tratamento químico é recomendado antes do armazenamento. Se
guardadas em lugar arejado e seco, podem manter alta
percentagem de germinação mesmo depois de dois anos e meio de
armazenamento (Vieira et al., 1998).
Rendimento
Na Zona da Mata de Minas Gerais, o feijão-arroz pode render
tanto quanto o feijão-comum (Vieira et al., 1992; Vieira & Lima,
2008) ou mais que esta espécie (Vieira, 1971; Vieira et al., 1992),
quanto a semeadura é feita entre outubro e março. A produtividade
máxima do feijão-arroz foi obtida em Viçosa em semeadura feita em
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11 de novembro: 3487 kg/ha (Vieira e Santos, 2000). Semeado em
agosto e irrigado por aspersão, quando necessário, ele rendeu 2000
kg/ha, produtividade semelhante à do feijão-comum (Vieira e
Santos, 2000).
Em semeadura realizada em novembro ou fevereiro, em
Goiânia, GO, e Brasília, DF, o feijão arroz (não irrigado) produziu
tanto quanto o feijão-comum (Nasser e Vieira, 1997) ou mais que
este (Vieira e Nasser, 1997).
Nesses estudos, a produtividade
máxima alcançada pelo feijão-comum foi 1023 kg/ha, enquanto o
feijão-arroz chegou a 1622 kg/ha.
Semeado em abril ou maio em regiões de inverno ameno,
como nos municípios de Oratórios e Leopoldina, a produtividade do
feijão-arroz foi semelhante à do feijão-comum. As produtividades
médias de genótipos de feijão-arroz nesses meses variaram de 1164
a 2261 kg/ha (Vieira e Santos, 2000; Vieira e Lima, 2008; Vieira et
al., 2009). O genótipo GL 401, semeado em 18 de abril, em
Leopoldina, chegou a render 2474 kg/ha (Vieira et al., 2009).
Doenças e pragas
O feijão-arroz é menos atacado por moléstias e pragas que
outras leguminosas produtoras de sementes comestíveis (Rachie e
Roberts, 1974; Kay, 1979). Segundo Sikona e Greco (1990), pode
ser atacado pelos seguintes nematóides: Heterodera cajani, H.
glycine, Meloidogyne incognita, M. javanica e Radopholus similis.
Nos plantios realizados em Minas Gerais, tem-se observado
ataque de nematóides causadores de galhas nas raízes, de
crisomelídeos (Diabrotica speciosa, Cerotoma sp.) e do fungo
Sclerotinia sclerotiorum. Quando o plantio é realizado em fins de
março ou depois, e é usada a irrigação o que proporciona vigoroso
desenvolvimento vegetativo , pode ocorrer ataque desse fungo
causador do mofo-branco, doença favorecida por alta umidade e
baixa temperatura. No Paraná, não se constataram moléstias foliares
sérias, mas pequenas perdas ocasionadas por fungos do solo;
crisomelídeos podem causar problemas (Khatounian, 1993). Em
Leopoldina, Zona da Mata de Minas Gerais, não se observou
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sintoma de doença na folhagem do feijão-arroz nas diferentes épocas
de plantio (Vieira & Santos, 2000; Vieira et al., 2009).
De acordo com Chatterjee e Dana (1977), as sementes do
feijão-arroz são resistentes ao caruncho. De fato, armazenadas em
Viçosa sem tratamento químico, elas não foram atacadas pelo
caruncho, enquanto o oposto ocorreu com o feijão-comum, com o
guandu, com o caupi e com o feijão-mungo-verde.
Em Janaúba,
Minas Gerais, coletou-se amostra de feijão-arroz exibindo ovos de
caruncho aderidos ao tegumento das sementes, mas nenhuma delas
apresentava perfuração.
Vieira, R.F. & Santos, C.M. dos (2000). Comportamento de
cultivares de feijão-arroz em Ponte Nova, Minas Gerais. Rev.
Ceres 47:573-578.
Vieira, R.F. & Lima, R.C. (2008). Desempenho de cultivares de
feijão-arroz em Coimbra e Leopoldina, Minas Gerais. Rev. Ceres
55:131-134.
Vieira, R.F.; Paula Júnior, T.J. & Lehner, M. da S. (2009).
Viabilidade do cultivo do feijão-arroz no outono-inverno em
regiões de inverno ameno. Ciên. Agrotec. 33:2075-2077.

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