Revista globo rural
Produção de azeite, já consolidada em países da Europa, na Argentina, Uruguai e Chile, começa a ganhar fôlego no Brasil
por
Luciana Franco
Na Grécia, a importância do
azeite é tamanha que a
erradicação de uma oliveira já foi sentenciada com pena de morte. Não é à toa que o país europeu se tornou nos últimos séculos o
maior consumidor mundial de azeite,
com 21,6 litros por habitante ao ano. Com uma produção de 400 mil
toneladas e consumo de 250 mil toneladas, a Grécia se posiciona como
terceiro maior produtor mundial.
No país estão 120 milhões de oliveiras – dos 750 milhões existentes em
todo o mundo. E o grande destaque para a capital mundial do azeite é a
qualidade de sua produção, integralmente de extravirgem: o azeite de
melhor qualidade que existe.
A história da Grécia se confunde com a da
azeitona,
que começou a ser cultivada na Ilha de Creta. O azeite é tão importante
para o país que responde pela renda de 13,5% da população. O produto,
que já foi usado na
fabricação de perfume e de
pomada com fins medicinais, foi utilizado por Hipócrates, o pai da medicina, para a cura de cólicas, surdez e queimaduras.
Inspirados na antiga tradição grega, vários vizinhos europeus iniciaram o
cultivo de oliveiras e investiram na produção de suas próprias marcas de azeite. Hoje, a
Itália ostenta o título de
maior produtora do mundo,
seguida pela Espanha. A qualidade da produção desses dois países serve
de modelo para quem quer iniciar o cultivo de oliveiras e extrair um
azeite de primeira. Na América do Sul, Chile, Uruguai e Argentina já
colhem gordas
safras de azeitonas e têm a qualidade de seus azeites reconhecida no mercado internacional.
No Brasil, a oliveira chegou há muitos séculos, trazida por
imigrantes europeus. Apesar disso, o cultivo se manteve restrito no
país. Mas essa situação começa a mudar, com iniciativas espalhadas por
diversos estados brasileiros. O
Rio Grande do Sul é
atualmente o polo mais desenvolvido, graças, entre outros fatores, à
iniciativa do empresário José Alberto Aued, que implantou, em 2005, um
centro de produção de 12 hectares de oliveiras no município de Cachoeira
do Sul. Após cinco anos testando diversas variedades, o empresário
realizou neste ano a primeira extração de um azeite brasileiro: o Olivas
do Sul.
José Aued colhe a quinta safra e produz neste ano o primeiro azeite brasileiro
Além do Rio Grande do Sul, o cultivo se expande também nos estados do
Paraná, Minas Gerais e São Paulo. Em Minas, a
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig)
ajudou a disseminar pequenas lavouras em diversas regiões do estado. Já
em São Paulo, um grupo de estudos foi criado para pesquisar a cadeia da
oliva. O aumento das ações nessa área reflete a crescente demanda pelo
produto, já que o Brasil gasta anualmente
R$ 400 milhões na importação de azeitonas de mesa
e azeite. O volume de compras dobrou nos últimos cinco anos, e a
maioria das aquisições é feita na União Europeia (85%) e na Argentina
(13%).
Como ainda é uma atividade nova no país,
são poucas as estatísticas disponíveis sobre a cadeia, no entanto, os
recentes cultivos mostram que as variedades utilizadas – oriundas da
Europa – são aptas ao clima e solo brasileiros. “Trouxemos seis
variedades, sendo que a mais cultivada é a arbequina, originária da
Espanha”, avalia Gabriel Bertozzi, da Agromillora, única empresa que
importa mudas
de oliveira para o Brasil. Pelos cálculos de Bertozzi, são cultivadas
cerca de 130 mil mudas por ano no país. A maior parte dessas lavouras
vai render sua primeira colheita no próximo ano. “Acreditamos que o
Brasil tem grande potencial para produzir um azeite de qualidade”, diz
Fernando Rotondo, produtor e consultor, que cultivou em sua propriedade,
em Santana do Livramento (RS), 12 mil mudas.
A oliva deve ser processada até 12 horas após a colheita
Alguns
entraves, porém, ainda precisam ser solucionados, entre os quais
destaca-se o espaçamento do plantio. “O cultivo muito adensado eleva os
custos, pois requer a poda das árvores, que é uma operação cara. Os
menos adensados também têm se mostrado mais produtivos”, afirma
Bertozzi. Os pomares de Aued contam com 300 plantas por hectare,
enquanto que na Europa alguns plantios contabilizam até 1.800 árvores
por hectare. Outra questão ainda em estudo se refere ao clima. As
variedades cultivadas no Brasil
foram trazidas da Europa, onde o clima é temperado, e estão sendo
cultivadas em áreas de clima similar. “Mas existem azeites excelentes em
Marrocos, na Grécia e em
Israel,
regiões quentes, e isso nos leva a crer que também poderíamos testar
variedades dessas regiões“, avalia Angélica Prela Pântano, pesquisadora
do
Instituto Agronômico de Campinas (IAC).
O IAC, em parceria com o
Instituto
de Tecnologia de Alimentos (Ital), o Instituto de Economia Agrícola
(IEA), a Coordenadoria de Assistência Técnica Integrada (Cati) e a
Agência de Serviço Settore Agroalimentare Marche (Assam), da
Itália, está realizando um zoneamento em São Paulo para descobrir quais
áreas são indicadas para o cultivo no estado. “Municípios próximos à
Serra da Mantiqueira e no sul do estado apresentam boas condições de
cultivo de oliveiras”, diz Angélica.
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