Um grupo de assentados de Pinhal da Serra (Nordeste do RS) está inovando no aproveitamento do butiá, uma fruta nativa abundante na região. A safra, que vai até o final deste mês, é utilizada na produção de doces, geleias e polpas que estão ganhando o mercado local.
A estimativa é de que a produção atinja uma tonelada, ultrapassando os 700 quilos da safra passada. Usada principalmente para sucos, a polpa é comercializada em restaurantes e lanchonetes do município. Hoje já são oito pontos de venda, incluindo dois estabelecimentos da cidade vizinha de Vacaria. Os pacotes de 140 gramas são vendidos entre R$ 1 e R$ 1,50 cada, e rendem até cinco litros de suco.
A iniciativa surgiu há dois anos como complemento dos hábitos alimentares das famílias. Porém, com o grande volume da produção o excedente passou a ser uma alternativa de renda. “Até nós ficamos surpresos com tanta procura, porque suco de butiá não era comum aqui. As pessoas só comiam a fruta, mas ao provar o suco nas lanchonetes gostaram muito”, comenta Gilberto Possamai, do assentamento Nova Esmeralda.
Ele conta que a experiência está no início, e o processamento da fruta ainda é artesanal. A máquina despolpadeira é emprestada pela prestadora de assistência técnica, e a armazenagem é feita na câmara fria da cooperativa do município. “No começo sempre é difícil, a gente depende de apoio. Mas já vimos que o negócio pode dar certo e pretendemos nos estruturar”, salienta Possamai.
Técnicas de despolpa
O grupo – formado por oito famílias – participou de quatro oficinas para aprender técnicas de despolpa e fabricação de derivados do butiá. As capacitações foram organizadas ao longo de 2009 e 2010 pelo Centro de Tecnologias Alternativas Populares (Cetap), entidade contratada pelo Incra para prestação de assistência técnica.
Em princípio, a atividade seria voltada às mulheres, mas hoje envolve toda a família, especialmente na colheita. Agricultores vizinhos também já ofereceram aos assentados a produção de cinco hectares da fruta para serem transformados em polpa. O Cetap está articulando junto a agroindústrias familiares da região a inserção da polpa de butiá em seus canais de comercialização, bem como a possibilidade de uso de suas estruturas.
Aproveitamento sustentável
De acordo com um levantamento feito pelo Cetap, na área de 700 hectares do assentamento existem entre 600 e 700 plantas de butiá. O técnico, Adilson Roberto Bellé, conta que a produção era tanta, que a fruta era dada aos animais. “Vimos então uma possibilidade de aproveitamento, tanto para autossustento como para incremento de renda. Passamos a conscientizar os agricultores, demonstrando como funciona o processamento do butiá”.
O trabalho de extrativismo ainda está em fase de sensibilização dos assentados, mas já foi incluído no Plano de Recuperação do Assentamento (PRA), com o objetivo de ampliar a participação das famílias. “É uma forma de preservar espécies nativas, que muitas vezes são cortadas para fazer lavoura, quando poderiam ser usadas de forma sustentável”, justifica Bellé.
O assentamento Nova Esmeralda é estadual e foi reconhecido pelo Incra/RS em 1998, beneficiando 35 famílias.