Há semanas as chuvas marcam presença em diversas partes do Brasil e, além de causarem transtornos no dia a dia das cidades, prejudicam as plantas e jardins. Apesar de servir como condutor dos nutrientes que mantém a seiva alimentada, o excesso de água deixa o solo encharcado e também os varre para longe das plantas. Além disso, a umidade é campo fértil para a proliferação de bactérias, fungos, pulgões e cochinilhas, que se alimentam de folhas, flores e frutos.
Excesso de chuva encharca o solo do jardim e pode prejudicar as plantas.
“As plantas, de uma forma geral, suportam muito melhor a falta de água do que o excesso. Quando o solo não consegue absorver a totalidade da água de chuva, as raízes são as primeiras a sofrer e, em casos extremos, apodrecem. É como se o encharcamento atacasse o coração da planta e ela morre”, alerta o paisagista Eder Mattiolli.
As espécies que mais sofrem nessas circunstâncias são as que têm a capacidade de reter líquido, caso dos cactos e suculentas. “Os canteiros de flores também são bastante delicados e poderão ficar condenados com uma semana de chuva sem trégua”, completa.
Prevenção e tratamento
A morte do jardim em períodos de chuva, no entanto, só acontecerá se ele não tiver uma boa drenagem. O ideal é agir preventivamente, preparando o solo. “Antes do plantio prepara-se o espaço com tubos corrugados, específicos para drenagem, manta bidim e pedra brita”, aconselha Mattiolli.
Um paliativo muito usado é a instalação de sombrite, tela usada em estufas, que permite a incidência de raios solares e a passagem controlada da água da chuva. O artifício não é efetivo no caso de precipitações constantes, mas funciona bem para um dia de chuva intensa.
A tela sombrite, usada em estufas, é uma boa opção para proteger as plantas nos dias de chuva.
Um cuidado essencial nos dias após as chuvas torrenciais é evitar regas e observar manualmente o solo e as plantas, em especial as folhas. Quando elas amarelarem ou ficarem com aspecto estranho, talvez seja necessário poda de contenção e reforço na adubação.
O solo também merece atenção especial no pós-chuva. Em alguns casos será necessário recompor a terra e adubá-la para não deixar a raiz da planta desprotegida e o solo, pobre em nutrientes.
Replantio
Em casos extremos pode ser necessário substituir algumas mudas. O ideal, neste caso, é investir em espécies mais resistentes ao acúmulo de água. Como regra geral, quanto mais “suculenta” for a planta, menos ela resiste à extrema umidade.
Entre as espécies mais recomendadas para áreas ou períodos chuvosos estão o Amor Perfeito, Ixora, Calandiva, Copo-de-Leite, Begônia e Antúrio.
Atualmente, cresce a procura por jardins que possam ter plantas
que tenham alguma função, não se restringindo apenas ao aspecto ou
beleza.
amora preta uma bela cerca viva
Medicinais e frutíferas são muito procuradas. Plantas como a
jabuticabeira (Myrcia cauliflora), ou a nespereira (Eriobotrya japonica) estão sendo cada vez mais freqüentes em bordas de estradas ou canteiros centrais em ruas de mão dupla.
Cercas vivas que impeçam que se olhe para dentro de um jardim ou que
diminuam o impacto do ambiente externo ajudam a criar um clima de
intimidade e diminui o efeito do barulho externo. Essa barreira
psicológica que se cria ao se impedir o contato do interior com o
exterior pode ser feita através de plantas arbustivas com uma poda
adequada, ou com o uso de plantas trepadeiras de folhagem densa
conduzidas no sistema de espaldeiras.
Neste sentido, o maracujá azedo (Passiflora edulis) é uma
ótima alternativa. Possui uma bela e densa folhagem no verão e tem uma
pequena queda de folhas no inverno. Na primavera começa a emitir suas
belíssimas flores e seu cheiro forte, além de nos fornecer frutos
durante um longo período.
A lagarta Dione juno juno é a principal desfolhadora e pode ser controlada pelo esmagamento dos grupos, pois é um inseto gregário na fase de larva.
O maracujá doce (Passiflora alata) pode ser usado em
pequenos aramados ou em pergolados pequenos associado a alguma outra
planta. É mais susceptível a percevejos e possui uma aparência mais
suave e menor quantidade de folhas.
Foto: Dave Italy
Outra planta trepadeira que pode ser utilizada é a videira. Muitas plantas do gênero Vitis
podem ser empregadas para sombra se conduzidas da forma latada ou para
cercas, se conduzidas em espaldeiras. É pouco provável que haja uma
grande produção de uva neste caso. Uma videira produtiva vem acompanhada
de um grande aporte de inseticidas e fungicidas. Porém, com um pouco de
cuidado e adequada adubação orgânica, podemos produzir alguns cachos
com boa aparência e saborosos.
A videira na forma latada pode formar uma densa sombra no auge do
verão, perdendo suas folhas no inverno. Porém, tanto na forma latada
quanto na espaldeira, uma poda adequada e muito mais refinada do que no
maracujá deve ser feita no final do inverno ou na entrada da primavera.
Uma outra planta que pode ser utilizada da mesma forma é o chuchu (Sechium edule).
É mais simples de ser conduzida e no inverno sua parte aérea seca
completamente. Não é muito adequada para locais que necessitem de mais
limpeza ou de plantas mais delicadas, pois é rústica e perde grande
quantidade de folhas. Para a manutenção de um ano para outro, é preciso
que se mantenham alguns frutos no solo para que brotem novamente.
Colaborador: Rafael Meirelles