A fixação biológica de nitrogênio (FBN) é responsável por inúmeras discussões há anos. Ela consiste em uma simbiose mutualística entre as raízes de leguminosas e bactérias fixadoras de nitrogênio do gênero Rhizobium. A FBN é relacionada na maioria das vezes às leguminosas, porém algumas gramíneas como o milho e o arroz também podem realizar esse processo utilizando plantas, algas e cianobactérias. A planta aquática Azolla é responsável pela fixação biológica no arroz trazendo para essa cultura benefícios na fixação de N e fornecimento de outros nutrientes, quando esta é degradada.
A Azolla é encontrada em rios, riachos e lagos de águas calmas, ela possui um pequeno orifício em suas folhas no qual se aloja uma cianobactéria chamada Anabaena que é a grande responsável pela fixação de N. Uma grande vantagem da simbiose entre Azolla-Anabaena se dá pelo fato de que a cianobactéria se encontra em um esporo da planta, dessa forma não há necessidade de haver inoculação.
A Anabaena sp. possui a enzima nitrogenase que transforma o nitrogênio atmosférico em amônia, forma que a planta é capaz de assimilar. Porém, alguns fatores abióticos podem influenciar o seu desenvolvimento e merecem atenção em sistemas de manejo. Nesse sentido, pode-se citar a altura da lâmina de água, a qual é recomendada estar entre 3 a 5cm de profundidade para que a planta não se aproxime demais do solo, o que limita seu crescimento. O pH também é importante e deve estar entre 4,5 a 7,0, além disso, a salinidade não pode ser muito elevada, pois valores acima de 1g.L-1 são tóxicos.
A Azolla é sensível à concentração de fósforo no ambiente, tendo uma resposta positiva ao incremento deste nutriente, portanto, deve-se tomar cuidado com os níveis desse nutriente no meio. A temperatura ideal varia muito conforme a espécie utilizada, por esse motivo a faixa de adaptação é bem ampla (de -5°C — 35°C). O melhor desenvolvimento da planta ocorre com o fotoperíodo de aproximadamente 20 horas. A Azolla pode sofrer também por ataques de insetos, caramujos e fungos.
Em relação ao seu cultivo, a Azolla possui três sistemas: monocultura em pré-plantio de arroz, cultivo simultâneo ou consórcio e sistema combinado. Na monocultura em pré-plantio o cultivo de Azolla ocorre antes da semeadura ou transplante do arroz. No cultivo simultâneo ou combinado ambas são cultivadas conjuntamente, podendo haver competição por nutrientes nos primeiros dias, porém esse cultivo é favorável quando se trata de controle de plantas invasoras. Por último, o sistema combinado consiste na utilização de ambos os sistemas. O sistema que melhor se encaixa dependerá muito de como a cultura do arroz é implantada.
A Azolla é vista como um adubo verde, principalmente pelo fato de fornecer grandes volumes de biomassa, matéria orgânica e ciclar nutrientes. Estudos feitos na China, EUA e Brasil relatam incorporação de 30 a 60 kg.ha-1 ao sistema. Esta planta também pode ser utilizada como alimento fresco, seco ou fermentado para animais como porcos, marrecos, patos, coelhos, peixes e galinhas.
Tendo em vista todos os elementos e vantagens que a Azolla pode fornecer ao sistema orizícola e também como fonte de proteína para animais ou até mesmo para purificação de águas contaminadas com metais pesados, esta planta é vista como uma alternativa para consolidação de cultivos mais sustentáveis.
Referências:
RUSCHEL, A.P.A Azolla e a cultura arrozeira. Goiânia: EMBRAPA-CNPAF, 1990. 16p. (EMBRAPA-CNPAF. Circular Técnica, 25).
MELÉM Júnior, Nagib Jorge. Efeito da época de incorporação de Azolla para o cultivo de arroz irrigado em gleissolo, em várzea do Rio Guamá — Estuário Amazônico/Jorge Melém Júnior; Raimundo Evandro Barbosa Mascarenhas;
Moisés de Souza Modesto Júnior — Macapá: Embrapa Amapá, 2003. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 64.
Autora:
Julia Damiani, Técnica em Agropecuária — IFRS campus Bento Gonçalves — Acadêmica do 4º semestre de Agronomia e Bolsista do grupo PET Agronomia na Universidade Federal de Santa Maria.