Ao comprar ovos de chocolate,
ninguém lembra da derrubada de florestas para novas plantações de cacau,
que destroem a biodiversidade e os solos. Tampouco a exploração de mão
de obra infantil
por Redação RBA
publicado
20/04/2019 18h25,
última modificação
20/04/2019 18h30
Wikimedia Commons
Comemorada pela indústria e o comércio, a Páscoa baseada no chocolate é ameaça socioambiental
São Paulo – O comércio mundial transformou a Páscoa
em um evento lucrativo, em que os ovos de chocolate reinam absolutos.
Muitos fabricantes contratam mais trabalhadores para atender à demanda
que aumenta no período e lojas e supermercados destinam ao produto os
espaços mais estratégicos.
No entanto, não há o que comemorar em termos de produção do
cacau, a matéria-prima do chocolate. Sustentabilidade e ética ainda são
artigos de luxo em uma cadeia marcada pela derrubada de florestas
nativas e exploração de trabalho escravo e infantil.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), há em todo o mundo um contingente de 5 milhões a 6 milhões de produtores de cacau, sendo que 70% deles são pequenos agricultores.
A Costa do Marfim, na África, é atualmente o maior
produtor de cacau do mundo. É lá também que estão a quase totalidade dos
pequenos produtores.
Conforme a agência ligada à ONU, a carência de
recursos e informações técnicas impede as boas práticas de gestão dos
cacaueiros, em geral pouco produtivos. A derrubada de florestas, para
novas plantações, regadas a agrotóxicos, é uma constante nessa tentativa
equivocada de ampliar a produtividade.
De 1990 a 2015, houve perda de 64% das árvores nativas
naquele país. De acordo com o Pnuma, se essa tendência continuar, a
Costa do Marfim poderá perder toda a sua floresta tropical até 2030.
Há ainda a destruição de ecossistemas, perda da
biodiversidade, a erosão do solo e o assoreamento de córregos quando a
produção de cacau é praticamente o único meio de subsistência para milhões de pessoas no oeste africano.
O oficial de programas para Sistemas Alimentares e
Agricultura Sustentáveis da ONU Meio Ambiente, James Lomax, defendeu o
engajamento da indústria e de governos para transformar o setor cacaueiro em um modelo sustentável e uma agricultura livre de desmatamento.
“Empreendedores podem desempenhar um papel fantástico não
apenas na oferta de chocolate de qualidade para que os marfinenses
aproveitem, mas também na educação e na conscientização da atual
situação na Costa do Marfim”, disse Lomax.
Em nota, o Pnuma destacou que fabricantes de chocolates da
região estão cientes dos desafios na indústria e apoiam cada vez mais os
pequenos agricultores locais a produzirem sementes orgânicas de cacau.
Trabalho infantil
Em novembro, o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) lançaram relatório sobre trabalho escravo e infantil na cadeia produtiva do cacau.
Entre os dados, "a violação de direitos humanos na cadeia
do chocolate por meio de grandes empresas processadoras de cacau e
marcas de varejo", conforme afirmou o pesquisador Marques Casara,
diretor-executivo da organização Papel Social, durante o lançamento do
relatório.
Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD) completa, de 2014, pelo menos 8 mil crianças e adolescentes de 10
a 17 anos trabalham em plantações de cacau no Brasil.
Segundo dados do IBGE, os números de trabalho infantil
aumentaram 5% entre 2000 e 2010 nas regiões produtoras de cacau, apesar
da tendência de queda de 13,4% no uso de mão de obra de crianças e
adolescentes na soma geral das atividades.
O documentário O lado negro do chocolate, produzido pelo jornalista dinamarquês Miki Mistrati, afirma
que empresas como a Nestlé, Hershey, Mars, ADM Cocoa, Godiva, Fowler’s
Chocolate e Kraft utilizam matéria-prima vinda do trabalho infantil.
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