Um sistema compatível com a realidade amazônica, adaptável às
comunidades ribeirinhas, que utiliza plantas no pós-tratamento de esgoto
doméstico. Em pleno funcionamento em uma casa sobre palafita na
comunidade Sagrado Coração de Jesus, no Careiro, o projeto denominado
Filtro Raiz, parceria entre a Fundação Centro de Análise, Pesquisa e
Inovação Tecnológica (FUCAPI) e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa),
entra na terceira fase de execução apresentando resultados promissores.
“Chegamos a 99,99%, até 100 % de remoção de coliformes fecais, o que
garante que a água pode ser devolvida ao rio”, comemora a coordenadora
do projeto pela FUCAPI, engenheira ambiental Andréa Asmus. O
pós-tratamento do esgoto doméstico é feito num sistema denominado wetland,
(terra úmida – em inglês), ou Filtro Raiz. De acordo com o projeto,
outro protótipo será instalado numa casa flutuante, na mesma comunidade.
A unidade que trata o esgoto resultante da casa tipo palafita é fixa,
e alagável no período das cheias. Os protótipos são construídos de
forma que apenas a água resultante do tratamento tenha contato com o
rio. O líquido sai da fossa séptica, entra pela parte inferior do
tanque, passa por camadas de areia e chega à superfície, onde é plantada
um tipo de braquiária (gramínia) que auxilia na remoção de nutrientes
presentes no esgoto.
O assunto foi tema de reportagens no jornal A Crítica on-line (http://goo.gl/gUoGr) e impresso do dia 8/11/2011; e foi exibida no Jornal da Band do dia 17/11/1011 (http://goo.gl/XortZ).
Uma questão de saúde pública
Segundo Reinier Pedraça, engenheiro sanitarista e supervisor da
pesquisa pela Funasa, o projeto tem o objetivo de melhorar a qualidade
de vida da população que vive em áreas de várzea. “Em muitas dessas
áreas é factível a implantação de um sistema de coleta de esgoto,
entretanto, a maior dificuldade encontrada refere-se à aplicação dos
tratamentos convencionais, visto que a subida das águas inibe ou
dificulta essa etapa. Assim sendo, cabe um estudo para verificar a
aplicabilidade e adequação do WETLAND (filtro raiz) à situação
de áreas de várzea, sujeitas a inundações periódicas. O produto esperado
com essa pesquisa é verificar a factibilidade da aplicação desse tipo
de solução às características regionais”, explica.
De acordo com o infectologista Rodrigo Leitão, a falta de saneamento
básico e o uso da água poluída podem trazer uma série de conseqüências
graves à população. “A falta de saneamento básico é um grave problema
que, infelizmente, ainda atinge grande parte da população. Doenças como
febre tifóide, leptospirose, disenteria e hepatite são transportadas
pela água e adquiridas por meio do uso e ingestão de água ou alimentos
contaminados por organismos patogênicos. Diarréias e infecções de pele
como sarnas e fungos também são doenças decorrentes da falta de
saneamento básico”, completa o médico.
Enquanto monitoram os resultados do projeto, os técnicos realizam
ações de educação ambiental para conscientizar a comunidade da
importância do sistema para o meio ambiente. “Com os resultados, podemos
afirmar que esse tipo de sistema pode ser a solução para o tratamento
de esgoto doméstico em comunidades ribeirinhas”, diz a engenheira
ambiental.
A situação no Brasil
No Brasil, segundo o IBGE, dos 50,3% de esgoto coletado, apenas 31,3%
é tratado. Ainda segundo o IBGE (2007), cerca de 23,59% dos domicílios
do Amazonas são atendidos por rede coletora de esgoto, sendo que o
tratamento de efluentes é praticamente inexistente. Nas comunidades
ribeirinhas, situadas em área de várzea ou próximas de rios, a situação é
ainda mais precária. Essa situação induz o descarte do esgoto nos rios,
lagos e igarapés, em valas a céu aberto, e a contaminação dos lençóis
freáticos, através dos sumidouros, favorecendo a ocorrência de doenças
de veiculação hídrica. Doenças como a leptospirose, hepatite “A” e febre
tifóide são associadas à ausência de tratamento de esgoto.
Segundo dados disponibilizados pela empresa Águas do Amazonas (http://goo.gl/Fbgn4), na cidade de Manaus a coleta de esgoto cobre 11,6% da população, sendo que apenas 2,9% é tratado.
Confira os dados do saneamento básico no Brasil no Atlas IBGE de saneamento: http://goo.gl/jzmJi
Sobre os wetlands
Wetland é a denominação inglesa genérica dada às áreas úmidas
naturais onde ocorre a transição entre os ambientes aquáticos e
terrestres, reconhecidas como um rico habitat para diversas espécies e
capazes de melhorar a qualidade das águas. Os pântanos, brejos, charcos,
várzeas, lagos muito rasos e manguezais são exemplos desse tipo de
terreno.
Já as wetlands construídas são sistemas naturais de tratamento de
esgoto que utilizam plantas para o pós-tratamento de efluentes. Além da
melhoria da qualidade do esgoto, a vegetação proporciona apelo estético
ao sistema colaborando para a redução nos índices de rejeição ao sistema
de tratamento de efluentes por parte da população.
O sistema de wetland permite algumas variações em sua concepção
dependendo da orientação do fluxo principal de escoamento, da posição da
lâmina d’água em relação ao sistema e o tipo de vegetação utilizado.
No Brasil, segundo artigo de Eneas Salati, Eneas Salati Filho e
Eneida Salati, do Instituto Terramax – Consultoria e Projetos Ambientais
LTDA, disponível em http://goo.gl/3qzLt,
a primeira tentativa de utilização de sistemas de wetlands construídas
foi em 1982, com a construção de um lago artificial nas proximidades de
um córrego altamente poluído em Piracicaba/SP.
http://www.fucapi.br/blog/2011/11/da-teoria-prtica-projeto-utiliza-plantas-no-tratamento-de-esgoto-domstico/
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