Aplicação de um composto com
urina, água e outros produtos naturais somente é realizada quando não
há frutos nas parreiras: adubo foliar garante maior produtividade. Foto:
Carina Ribeiro/OP
Líquido é usado diluído e fermentando para não contaminar as plantas e aumentar acidez do solo
O uso de urina animal como biofertilizante tem se solidificado
cada vez mais em Marechal Cândido Rondon e região devido aos resultados
obtidos em produtividade na agricultura orgânica.De acordo com as engenheiras agrônomas do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (Capa), Simone Grisa e Elisângela Belandi, atualmente em torno de 50% dos produtores atendidos pela entidade fazem aproveitamento do líquido na composição de biofertilizantes para solo de hortas, fruticultura e pastagens. O Capa atende uma área que abrange Nova Santa Rosa, Mercedes, Maripá, Quatro Pontes, Missal, Ramilândia, Foz do Iguaçu, Diamante do Oeste e São Miguel do Oeste.
O casal de produtores orgânicos rondonense Hildegart e Herbert Bier aplica o composto que contém urina na produção de uvas há cerca de sete anos. Segundo eles, esse manejo tem garantido um rendimento cerca de 40% maior do que se não houvesse o uso.
Conforme as agrônomas, o uso de urina de vaca é reconhecidamente eficiente, no entanto, requer seguir uma série de recomendações. “É usada uma concentração baixa de urina, que representa somente em torno de 2% a 5% de uma composição com água, devido à alta concentração de nitrogênio que possui”, informam.
Segundo elas, em geral, é usada a urina de vacas em lactação devido à questão hormonal do animal. “Nessa fase a vaca recebe uma alimentação mais completa e a quantidade de nitrogênio na urina é maior, além de outros componentes que a tornam mais eficiente como biofertilizante”, explicam.
A aplicação é realizada no solo para a produção de mudas e outros cultivos, também como adubo foliar nas plantas em fase de dormência ou brotação. “Para as flores o líquido pode ser abortivo”, expõem.
A urina é usada em maior concentração como isca para pragas.
Percevejo
Como neste ano houve uma infestação atípica de percevejos na região, muitos produtores fizeram as iscas com urina de vaca misturada com sal. “Após a colheita de soja houve um período em que havia poucas plantas verdes, com isso surgiram muitos percevejos nas propriedades orgânicas”, relatam.
As agrônomas mencionam que o líquido é colocado em recipientes como garrafas pet com vários orifícios. “O inseto é atraído pela coloração amarela e pelo cheiro e acaba morrendo em contato com a urina. É importante para amenizar a reprodução do percevejo”, enfatizam.
Sustentabilidade
Elisângela lembra que a urina já era usada desde a agricultura primitiva e somente foi sendo esquecida por muitos produtores a partir da revolução verde que trouxe os adubos comerciais. “Ela possui grande quantidade de minerais e é fonte de nitrogênio”, afirma.
Apesar de antiga, a técnica é considerada importante, tendo em vista a proposta de sustentabilidade das propriedades agroecológicas. “É um produto natural e, portanto, contribui para a redução do uso de químicos; e está acessível ao produtor na propriedade, favorecendo um menor gasto tanto de energia como financeiro”, salientam.
As profissionais afirmam que o uso do produto animal é uma experiência consolidada em outras regiões e aplicada por meio da transferência de tecnologia. “Não dispomos de estudo científico para mensurar o potencial do uso da urina, mas constatamos visivelmente a eficácia”, garantem.
Cautela
Elas alertam que o composto com urina não pode ser usado indiscriminadamente, já que pode representar resultados negativos. “Somente deve ser usado quando necessário, pois o uso em excesso provoca acidez no solo”, exemplificam.
A urina ainda precisa ser usada fermentada, caso contrário produz nitrato que pode ser prejudicial à saúde humana.
Também não há um incentivo de se realizar coleta, já que demanda tempo e trabalho do agricultor. “Somente é feita coleta em pequenas quantidades para o uso em iscas”, comentam.
Já nas pastagens opta-se pela fertilização natural. As vacas ficam em piquetes, que são alternados com certa frequência. “Essa prática permite a distribuição da urina em diferentes locais da área de pastagem e quebrar o ciclo biológico do carrapato”, afirmam.
Venda
Em algumas localidades há produtores que já vendem urina entre si para uso como biofertilizante, no entanto, indagadas sobre a prática, as agrônomas do Capa afirmam que não é recomendada a negociação. “Os produtores orgânicos também não devem adquirir urina de propriedades convencionais, tendo em vista que ela pode conter resíduos de medicamentos químicos, por isso evitamos fomentar a comercialização”, salientam.
Em todo caso, o recomendado aos produtores é procurar orientação técnica.
Qualidade
Na propriedade da família Bier, a urina de vaca é um ingrediente a mais na formulação de caldas como o composto chamado por Herbert de “supermagro”. Para prepará-lo, o produtor mistura vários produtos, incluindo urina, soro de leite, caldo de cana, sangue animal (frango), plantas medicinais, entre outros. “É um composto de vários minerais que fica fermentando para ser usado nas culturas e na horta”, conta. Os resultados comprovados pela produção de uva posteriormente são degustados em belos cachos da fruta e vinho orgânico dos quais Herbert Bier garante a qualidade.
fonte: http://www.opresenterural.com.br/noticias.php?n=3013Cached
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