Interessantes palestras sobre as mudanças climáticas. O que estamos fazendo para minimizar seus efeitos???
Pesquisadores tentam salvar o café das mudanças climáticas
Pesquisadores tentam salvar o café das mudanças climáticas: O Brasil é o maior produtor de café do mundo, mas isso pode mudar com as alterações no clima
Créditos: DWO café é a bebida preferida do mundo e a commodity
mais requisitada depois do petróleo. Mas ele pode estar ameaçado pelas
mudanças climáticas. Com um quarto da produção mundial, o Brasil é o
maior produtor e exportador de café do planeta, e o consumo da bebida
aumenta cada vez mais. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), a estimativa para o ano de 2013 no Brasil é de colher 47,8
milhões de sacas de 60kg de café, mais de 2 milhões de toneladas.
No entanto, pesquisadores afirmam que as alterações no clima podem
influenciar na produção do grão. Especialmente o café do tipo arábica,
sensível a altas temperaturas, pode ter a produção seriamente
prejudicada. Para evitar problemas no futuro, pesquisadores fazem
simulações e tentam achar uma maneira de manter o cultivo, mesmo em
situações adversas.
Previsões pessimistas
O
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC, na sigla em inglês) estima que as temperaturas ao redor do globo
podem subir de 1,8ºC a 4ºC até o final do século 21. O que, segundo
especialistas, apresenta sérios desafios para a indústria cafeeira nas
próximas décadas.
No Brasil, o tipo café mais ameaçado é o arábica, que representa 73% do
grão colhido no país. A temperatura ideal para este tipo de café é de
18ºC a 22ºC. De acordo com o professor Hilton Silveira Pinto,
pesquisador e professor da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o aumento de 1ºC na temperatura já implicaria na perda de cerca de 25% da produção.
Isso porque se durante o florescimento das árvores houver um único dia
de temperatura acima de 23ºC, a perda de flores é significativa. O
professor comenta ainda que, nos últimos anos, em algumas regiões como
São Paulo, foram registrados até 10 dias com temperaturas acima de 23ºC
no período de setembro a outubro.
Pinto explica que, numa previsão mais pessimista e extrema, em que o
aumento da temperatura fosse de 3ºC -- o que aconteceria entre 2030 e
2040 --, a queda na produção de café poderia chegar a 30 milhões de
sacas. O que significaria uma quebra de safra de 90%, ou seja, 10,6
milhões de hectares de café a menos.
Atualmente são produzidos cerca de 2 milhões de toneladas de café por
ano. Com o aumento de 1ºC, esse número cairia para 1,54 milhão. Com 3ºC a
mais, a produção seria de apenas 840 mil toneladas por ano. E num caso
crítico, com 5,8ºC de aumento na temperatura, a produção cairia para 160
mil toneladas.
Soluções encontradas
Para fugir das altas temperaturas, a solução encontrada pelos
especialistas é ganhar altitude. Pinto diz que já se está perdendo café
nas áreas mais baixas de Minas Gerais e São Paulo. No entanto, o Paraná
está ganhando áreas para os cafezais, já que, com o aquecimento, em
muitas regiões altas praticamente não há mais geadas.
O pesquisador explica que as plantações são feitas agora em áreas acima
de 650 metros, com temperaturas mais amenas, o que favorece também a
qualidade do café.
De acordo com o professor, em uma situação extrema, a saída seria mudar
a região de plantio para Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Mas embora
a temperatura venha a ser adequada, no Sul não ocorre o período de seca
necessário para a secagem do café.
Projeto piloto
Com o objetivo de capacitar produtores de café, sobretudo de base
familiar, para reagir aos impactos das mudanças climáticas, foi criada
em 2010 a iniciativa internacional
Coffee & Climate
(Café e Clima). O projeto está sendo executado em quatro países-chave
para a cafeicultura: Brasil, Guatemala, Tanzânia e Vietnã.
O Coffe & Climate criou uma série de práticas que ajudam os
produtores rurais a buscar saídas contra a falta de água e o aumento da
temperatura. Os produtores locais participam ativamente do projeto.
"Nós desenvolvemos uma metodologia de triangulação de informações entre
produtores rurais, extensionistas de campo, pesquisadores e cientistas
para analisar os pontos convergentes em relação às alterações climáticas
e buscar formas para atenuar ou se adaptar a esta mudança" diz Patrik
Avelar Lage, coordenador do projeto no Brasil pela
Fundação Hans Neumann.
O Brasil é o primeiro país em que o projeto entrou em execução. De
acordo com Lage, foram desenvolvidas no país oito práticas para
monitorar e ajudar na adaptação às mudanças no clima. "A ideia é
estabelecer unidades demonstrativas para colher informações sobre as
novas práticas, como a utilização de mudas de café de um ano, em vez de
mudas de seis meses. Assim, as raízes já estão mais profundas e reagem
melhor às condições adversas do clima, como em períodos de seca", diz.
Segundo o coordenador, produtores rurais e líderes comunitários estão
ajudando a monitorar o clima, ao registrar regularmente temperatura e
precipitação local. "As estações de coleta de dados climáticos
geralmente têm um nível muito abrangente, então nós identificamos
produtores que podem fazer este monitoramento local", diz Lage. Ele
comenta que, pelos resultados obtidos, as oito práticas desenvolvidas no
projeto podem ser uma boa saída para salvar as plantações das
alterações climáticas.
O projeto é desenvolvido em Minas Gerais, nos municípios de Perdões,
Santo Antônio do Amparo, Lambari, São Francisco de Paula, Ribeirão
Vermelho e Cana Verde.
FONTE
Deutsche Welle
Autoria - Kamila Rutkosky
Edição - Francis França
Links referenciados
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticaswww.ipcc.ch
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticawww.ibge.gov.br
Universidade Estadual de Campinaswww.unicamp.br
Fundação Hans Neumannwww.hrnstiftung.org/projects.html
Coffee & Climatewww.coffeeandclimate.org
Deutsche Wellewww.dw-world.de/dw/0,,607,00.html