O homem descarta mais resíduos do que a Terra suporta e ameaça a própria sociedade humana.
O homem já movimenta volume de material na mesma quantidade que a Terra, em seu ciclo normal, o que é muito mais do que o meio ambiente pode suportar. Se há exageros no planeta, o mesmo ocorre no Brasil, aonde a população equivale a 2,7% do total mundial, o Produto Interno Bruto (PIB) corresponde a 3,5% da riqueza global, mas os habitantes descartam 5,5% dos resíduos planetários.
Esta é apenas uma das avaliações feitas pelo geógrafo e sociólogo Maurício Waldman, autor, entre outros, do livro “Lixo: cenários e desafios” (Cortez, 2011), ao repórter Manuel Alves Filho, do Jornal da Unicamp, cuja matéria o Correio Riograndense foi autorizado a reproduzir.
Se a humanidade vive a era do conhecimento, vive igualmente a era do lixo. Do ponto de vista quantitativo, a natureza movimenta, em seu ciclo normal, 50 bilhões de toneladas de materiais por ano. Os homens, por seu turno, movimentam 48 bilhões de toneladas no mesmo período, sendo que 30 bilhões são de resíduos. “Isso é muito mais do que o ambiente pode suportar”, sentencia o geógrafo e sociólogo Maurício Waldman, especialista no tema. Ele é o autor, entre outros, do livro Lixo: Cenários e Desafios, indicado como um dos dez finalistas do Prêmio Jabuti 2011 na categoria Ciências Naturais. A obra é resultado da pesquisa de pós-doutoramento de Waldman, desenvolvida no Departamento de Geografia do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, sob a orientação do professor Antonio Carlos Vitte e com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq).
O lixo, conforme o pesquisador, tem sido um problema recorrente em todo o mundo, inclusive no Brasil. Não bastasse a humanidade estar crescendo e gerando cada vez mais resíduos, o quadro vem se agravando graças à inércia das autoridades públicas, que pouco têm feito para reciclar ou dar destinação adequada aos rejeitos. Além disso, a sociedade também não faz a sua parte ao aumentar exageradamente o consumo de bens e produtos e ao descartar, sem a mínima cerimônia, seus detritos em qualquer lugar. “O Estado não age e o cidadão não se movimenta. O resultado dessa combinação é dramático. A continuar assim, o lixo pode vir a inviabilizar a sociedade humana, pelo menos tal como a conhecemos”, adverte Waldman.
Aos que possam considerar as suas previsões apocalípticas, o pesquisador rebate com números. De acordo com ele, o Brasil, um dos países que mais sofrem com a problemática, é um grande gerador de lixo. Embora sua população seja equivalente a 2,7% do total mundial e seu Produto Interno Bruto (PIB) corresponda a 3,5% da riqueza global, os brasileiros descartam 5,5% dos resíduos planetários. “Quer outros dados? Pois bem, entre 1991 e 2000 a população brasileira cresceu 15,6%. No mesmo período, o país ampliou seus descartes em 49%. Em 2009, o incremento demográfico foi da ordem de 1%. Entretanto, a geração de rejeitos aumentou 6%. Trata-se de uma expansão perversa”, afirma.
Questões - Questionado sobre o que deve ser feito para que não ocorra o triunfo do lixo sobre a humanidade, o geógrafo e sociólogo faz algumas ponderações. Para alívio daqueles que estão preocupados, ele inicia respondendo que o problema tem solução. Depois, afirma que há três questões a serem pensadas. A primeira delas é a necessidade de as pessoas adotarem um consumo mais consciente de bens e produtos. “Atualmente, cada brasileiro gera 3,5 quilos de lixo proveniente de equipamentos eletroeletrônicos por ano. É muita coisa. O cidadão tem que ter maior consciência de que não vale a pena trocar o celular X pelo Y apenas porque a versão mais recente do aparelho tem uma luz que pisca durante a ligação”, diz.
A segunda questão está no imperativo da mudança de postura da indústria, que trabalha com o conceito da obsolescência precoce, modelo de produção e consumo classificado pelo pesquisador como “pornográfico”. “Havia uma série de TV nos anos 70 intitulada Missão Impossível, na qual uma voz avisava ao personagem que a mensagem que ele estava ouvindo se autodestruiria em cinco segundos. O que a indústria faz é dizer aos consumidores que seu televisor ou lavadora de roupa se autodestruirá em 12 meses. Isso precisa mudar”, defende.
Por último, mas não menos importante, o pesquisador avalia que o Estado também tem que dar sua contribuição à causa do controle eficiente do lixo, formulando políticas públicas sérias e consequentes. “Tem gente idealista que tem trabalhado nesse sentido, como pesquisadores em universidades e institutos de pesquisa, mas isso infelizmente ainda não é regra geral”, lamenta. Deixar de dar aos resíduos tratamento e destinação adequados, conforme Waldman, não representa apenas um desrespeito ao ambiente e à qualidade de vida das pessoas. Significa também desperdício de dinheiro e oportunidades.
No entender do especialista, o Brasil poderia ampliar significativamente o índice de reciclagem do lixo, tanto o seco quanto o orgânico. “Aliás, muita gente costuma cometer um erro gravíssimo ao citar unicamente a reciclabilidade do lixo seco. O úmido também é reciclável, visto que pode ser recuperado pelo ciclo da natureza. Algumas estatísticas apontam que a taxa de reaproveitamento dos resíduos no país poderia ser ampliada para 52% ou 59%. Além de menor agressão à natureza, isso representaria a geração de renda e trabalho. Um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que, na linha do tempo, nós já desperdiçamos US$ 8 bilhões por não reaproveitarmos o lixo. É um dinheiro que poderia ter sido aplicado na saúde, na educação e em programas de inclusão social”, imagina Waldman.
Sobre a solução para o problema dos rejeitos, o pesquisador assinala que a questão não é somente brasileira, mas mundial. “Como dizia o geógrafo Milton Santos, de quem sou admirador, qualquer problemática global nos dias atuais não pode ser tratada por um grupo de ‘iluminados’. Os problemas globais precisam ser pensados coletivamente. É necessário unir conhecimentos e competências, além, obviamente, de envolver nas discussões os diversos segmentos da sociedade civil organizada. Sem essas iniciativas, dificilmente haverá saída”, alerta.
Produção de lixo
Qual a quantidade de lixo produzido em todo o mundo? Esta é uma pergunta difícil de responder. Os números variam muito. A única coisa que dá para dizer, com certeza, é que a quantidade é grande e varia de país para país e de cidade para cidade.
Os maiores consumidores do mundo, os norte-americanos, produzem 1,8 kg por dia. A cidade de São Paulo tem números de primeiro mundo em relação ao lixo: cada paulistano produz 1,2 kg por dia de lixo (Fonte: Web-Resol). Países pobres e ricos têm estimativas diferentes para a quantidade de lixo. Os pobres produzem de 100 a 220 kg de lixo a cada ano ou de 0,27 kg a 0,6 kg/dia. E os ricos produzem de 300 kg a uma tonelada por ano ou de 0,82 kg a 2,7 kg/dia, segundo a ONU. Nova York, provavelmente, é a campeã com 3 kg de lixo por pessoa/dia.
Fonte: correio riograndense
E você o que faz com seu lixo??
Qual a quantidade de lixo produzido em todo o mundo? Esta é uma pergunta difícil de responder. Os números variam muito. A única coisa que dá para dizer, com certeza, é que a quantidade é grande e varia de país para país e de cidade para cidade.
Os maiores consumidores do mundo, os norte-americanos, produzem 1,8 kg por dia. A cidade de São Paulo tem números de primeiro mundo em relação ao lixo: cada paulistano produz 1,2 kg por dia de lixo (Fonte: Web-Resol). Países pobres e ricos têm estimativas diferentes para a quantidade de lixo. Os pobres produzem de 100 a 220 kg de lixo a cada ano ou de 0,27 kg a 0,6 kg/dia. E os ricos produzem de 300 kg a uma tonelada por ano ou de 0,82 kg a 2,7 kg/dia, segundo a ONU. Nova York, provavelmente, é a campeã com 3 kg de lixo por pessoa/dia.
Fonte: correio riograndense
E você o que faz com seu lixo??