Há oito anos, Francisco Militão Matheus Brito começou a ter
problemas com morte súbita de pasto em suas propriedades em Alta
Floresta (MT), onde cultivava braquiária brizanta, conhecida como
braquiarão. “No início era um ponto que secava aqui, outro ali, formava
uma reboleira, mas o problema se agravou”, diz.
Passados quatro anos, o pecuarista precisou intervir. Iniciou um
processo de reforma de pastagens quando já tinha em torno de 70% da área
sob estresse. De acordo com o que se apurou na época, a morte súbita de
pasto tem causas múltiplas, entre elas a ação de fungos, encharcamento
da terra, superpastejo e mudança de uso do solo. Segundo o Instituto
Centro de Vida, ONG que presta entre outros serviços assistência técnica
a produtores que precisam reformar a pastagem, diante do
comprometimento de 60% da área é necessário iniciar a substituição do
capim.
No caso de Francisco, outra motivação para trocar o brizantão pelo
mombaça, capim do gênero Panicum, mais resistente, foi a intenção de
aumentar a produtividade. Nos piores estágios de degradação, seu pasto
não suportava mais de 0,7 unidades animais/ha. Hoje, ele conta que já
alcança a média de 2,5 UA/ha nas áreas ainda em processo de reforma.
Feita gradativamente, a implantação do mombaça custou R$ 2 mil por
ha, incluídos custos com adubação e calcareamento. Não estão
contabilizados aí gastos com infraestrutura. “O mombaça é mais exigente
quanto aos nutrientes do solo, mas nos trouxe bons resultados e, agora,
queremos seguir investindo no uso sustentável da pastagem”, afirma. O
plano do criador é fazer testes com consórcios das gramíneas humidícola e
estrela africana com amendoim forrageiro. O objetivo é diversificar as
opções de pastagem e não ficar refém só de um capim.
“Consórcios de leguminosas com gramíneas são velhos conhecidos de
produtores do Acre”, comenta o pesquisador da Embrapa, Judson Ferreira
Valentim. No Estado, o surto da morte do braquiarão veio há mais tempo
e, hoje, o amendoim forrageiro já é adotado em mais de 138 mil hectares
de pastagem. A puerária, outra leguminosa, em mais de 450 mil ha. “Temos
que estar preparados para o ataque seja de fungos, cigarrinhas ou
lagartas. Fazer isso é ter alternativas para não perder todo o capim”,
diz o pesquisador da Embrapa Acre.
Os benefícios do consórcio vão além. “Ele reduz o risco de ataque por
pragas e doenças, mas também aumenta a qualidade da forragem, é
suprimento nitrogenado para o capim e ainda encurta o tempo de
terminação dos animais, diminuindo suas emissões de metano”, afirma
Judson. Com a implantação de consórcios assim, o aumento na produção de
carne e leite por hectare pode chegar a 40% em relação ao manejo
tradicional.
A principal explicação é a melhora na nutrição animal. Por mais bem
manejado que seja, o capim mombaça não apresenta teor de proteína bruta
maior que 14%. Nas condições ambientais do Acre, o amendoim forrageiro
cultivar Belmonte tem teor proteico entre 20 e 25%. Os animais engordam
mais rápido e são abatidos mais cedo. “Enquanto em pasto puro o criador
abate um boi Nelore após 36 meses, a pasto consorciado consegue abater
aos 30. Se for cruzamento industrial, o tempo cai de 30 para 24 meses na
média”, afirma Judson.
A alta digestibilidade da leguminosa reduz as emissões de metano em até
30%/kg/carne produzida e influencia no ganho de peso dos animais, diz o
pesquisador. Na safra 2013/2014, com o amendoim forrageiro presente em
10% da área de pasto de humidícola, observou-se um incremento de
produtividade de 18% no rebanho que ficou em pasto consorciado em
relação àquele que ficou em pasto puro, só de gramínea. Em termos reais,
o valor saltava de 278 kg/ha, em 101 dias de experimento, para 330
kg/ha. Já na safra 2014/2015, com a leguminosa tendo ocupado 25% da
área, o incremento de peso foi de 45% na comparação do primeiro com o
segundo grupo. O recomendado pela Embrapa é que a proporção entre capim e
leguminosa seja de 70% um, 30% outro, respectivamente.
As combinações de espécies são muitas. Judson explica que o amendoim
forrageiro, por exemplo, é mais indicado para a prática da pecuária
intensiva do que a puerária. Por ser rasteiro, o amendoim resiste mais
ao pisoteio e vai bem em sistemas rotacionados com taxas de lotação de 2
a 2,5 UA/ha. Também é uma planta que gosta de sombra e se desenvolve
melhor nos períodos de seca quando consorciada ao capim. “A puerária já é
diferente. Mais indicada para sistemas de pastejo contínuo com lotação
de 1,5 UA/ha, é uma trepadeira e, se não resiste tanto ao pisoteio, por
outro lado, pode ser consorciada com capins mais altos”, diz o
pesquisador.
Para fazer a manutenção do pasto, principalmente na pecuária intensiva,
o manejo do consórcio depende muito mais da altura do capim que de um
tempo fixo de descanso dado aos piquetes (ver tabela abaixo).
Indicadores para uso consorciado de gramíneas com o amendoim forrageiro em sistemas de pasto rotacionado
Tipo de capim |
Altura para entrada
dos animais
|
Altura para saída
dos animais
|
Brachiaria humidicola |
30 cm |
10-15 cm |
Brachiaria brizantha |
40-45 cm |
20-25 cm |
Estrela africana |
40 cm |
20 cm |
Massai |
60-70 cm |
30 cm |
O uso de variadas espécies é um trunfo com vantagens ilimitadas na mão
do pecuarista. “O capim humidícola aguenta bem o pisoteio, o solo
infértil, mas é menos nutritivo. Pode, então, ser uma boa opção para
colocar vacas secas. No caso de uma boiada de terminação, vale a pena
investir num
Panicum, seja tanzânia, mombaça, ou cultivares novas, como zuri ou tamani”, indica Judson.
|
amendoim forrageiro |
Quanto aos cuidados com o solo, as leguminosas acabam fazendo a maior
parte do trabalho. Fixadoras de nitrogênio, adubam o pasto e promovem
uma economia considerável. “Em uma pastagem com 30% de amendoim
forrageiro consorciado você consegue incorporar até 60kg/N/ha/ano, o
equivalente a 133 kg de ureia por ha”, afirma Judson. “Sem falar que
elas não trazem despesas extras com máquinas ou operadores para fazer
essa aplicação”, completa.
Custos
Corrigido pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), o custo de um
hectare de pastagem consorciada (implantada em 2012) seria hoje de
aproximadamente R$1.500. O valor compreende gastos com correção do solo,
adubação, mão de obra e insumos.
Plantio das leguminosas
Em se tratando do amendoim forrageiro, o mais comum é que o produtor
adquira as mudas e faça o cultivo em pequenos viveiros e sua posterior
distribuição na pastagem.
Espécies comumente dispersadas por sementes podem ser plantadas a lanço
ou direto no solo. Outra possibilidade é fazer a implantação com a
ajuda do gado. “Para o produtor que não tem máquinas ou quer diminuir
custos, uma prática válida é misturar sementes na ração. Ainda no rúmen
dos animais acontece a quebra da dormência da semente e quando o gado
defeca faz a distribuição delas ao acaso”, explica o pesquisador.
Havendo um pastejo uniforme das áreas, a técnica se mostra eficiente.
Fonte: Portal DBO