por Fabiana Frayssinet, da IPS
Tudo o que se produz na Fazendinha Km 47 é “ecologicamente correto e muito rico”. Foto: Fabiana Frayssinet/IPS
Seropédica, Brasil, 21/6/2012 (IPS/TerraViva) – Uma fazenda agroecológica integrada funciona como centro de experimentação para cientistas e técnicos brasileiros, empenhados há 20 anos em demonstrar que é possível obter frutos da terra de forma barata, eficiente e sem prejudicar o meio ambiente nem a saúde humana.
Batizada de Sistema Integrado de Pesquisa em Produção Agroecológica (Sipa) e mais conhecida como Fazendinha Agroecológica Km 47, o estabelecimento ocupa 60 hectares no município de Seropédica, a 47 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro. Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Universidade Fluminense Rural do Rio de Janeiro, entre outras instituições governamentais, realizam desde 1993 estudos de campo em agroecologia nesse local.
A produção integra a atividade agropecuária sem utilizar químicos sintéticos, como agrotóxicos para os vegetais nem remédios químicos para os animais. A base do sistema é a “diversificação de cultivos” e se destina fundamentalmente à agricultura familiar, que no Brasil emprega 75% da mão de obra do campo.
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A grande Joaninha |
“A agricultura de base ecológica busca de alguma forma reproduzir as condições do meio ambiente natural, e, em um ambiente natural, o que proporciona o equilíbrio dinâmico é a biodiversidade de espécies”, explicou ao TerraViva o engenheiro agrônomo Ernani Jardim, da Embrapa.
“Quando essa diversidade diminui abre-se a possibilidade do desequilíbrio, do surgimento de uma praga, de uma enfermidade ou de uma condição ambiental que provoca o desequilíbrio”, acrescentou.
A biodiversidade e o manejo da água e do solo de maneira sustentável transformaram a paisagem de pastagens do passado em um pomar 50 espécies de plantas cultivadas, como frutíferas, hortaliças, cereais e forragem, além de adubos naturais. A fazenda, que surge como um paraíso em uma área degradada como é a Baixada Fluminense, alterna espaços preservados da Mata Atlântica, uma área de agrofloresta e uma horta botânica.
O adubo é obtido a partir do esterco das vacas que, por sua vez, produzem leite orgânico. Mas também é produzido com vegetais. Em um hectare conseguiu-se uma renda bruta por ano equivalente a US$ 30 mil, explicou Alessandra Carvalho, também da Embrapa. Para evitar pragas é dada ênfase à prevenção. São utilizadas espécies resistentes, escolhidas as melhores épocas de produção, controla-se a água de irrigação para evitar fungos e os cultivos são diversificados.
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Físális ou tomate capote |
Também são utilizados os chamados inimigos naturais, como o é um canteiro de coentro, por exemplo, que é uma armadilha para atrair insetos nocivos.
Em casos extremos, as pragas são combatidas com extratos botânicos ou substâncias permitidas na agricultura orgânica. A cobertura de resíduos vegetais tem por finalidade afastar ervas invasoras e evitar a erosão do solo.
A área leiteira também é orgânica. Em lugar de remédios químicos é usada a homeopatia, e os currais são mantidos com ventilação e Sol. O objetivo é o “bem-estar do animal”, porque não sendo maltratados ficam menos doentes, disse a veterinária Mônica Florio, da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro). Segundo a médica, em apenas um ano foi melhorada a saúde das vacas e controladas as infecções parasitárias e os problemas reprodutivos. A produção foi “excelente”, ficando entre 13 e 14 litros por animal, e sem custo de ração, porque o alimento é o pasto ou a forragem da agrofazenda.
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sitio 5 irmãos - Montenegro RS |
Em outro setor da fazenda, o pesquisador Daniel Carvalho, da Universidade Fluminense Rural do Rio de Janeiro, desenvolve sistemas de energia solar e irrigação com tecnologias simples que empregam desde canos de bambu até peças velhas de lava-roupas. Uma mesa com sanduíches, bolos e sucos preparados com hortaliças, leite e frutas orgânicas é o melhor resumo da agrofazenda. “É apenas ecologicamente correta ou também rica?”, perguntou o TerraViva à jornalista argentina Laura Chertkoff. “Ecologicamente correto e muito rica”, assegurou.
Envolverde/IPS